Arco 2

Capítulo 39

Seo Dawon contornou Kim Sangyoon, que permanecia curvado no chão, e parou ao meu lado. Ao ouvir os passos, a respiração de Kim Sangyoon congelou. Com Seo Dawon ali, ele não podia mais se atrever a erguer a cabeça.

E Seo Dawon… Ele parecia se divertir com a reação de Kim Sangyoon. Seu rosto irradiava uma animação que eu não havia visto antes.

Que perverso…

Embora perturbadora, a estratégia perversa de Seo Dawon era inegavelmente eficaz: qualquer coisa que eu dissesse agora teria grande impacto. Suspirei e chamei àquele que agora não passava de uma sombra trêmula do homem que fora.

— Sangyoon-nim.

— …Sim?

— Antes de tudo… eu gostaria de esclarecer um mal-entendido.

— … — Kim Sangyoon não descolou do chão, mas eu sabia que ele estava ouvindo.

— Não tenho nenhuma ligação com Bae Jaemin; os Barnázios também não têm nada a ver com ele — continuei, sem esperar por uma resposta. — Os Barnázios que vendi… pertenciam a este cara aqui. Ele é meu… — hesitei, buscando a melhor forma de descrever nosso relacionamento. — …amigo. Por isso, emprestei meu nome a ele. — completei, um pouco estranhado. Seo Dawon pareceu não discordar e permaneceu em silêncio.

Um silêncio se instaurou antes que Kim Sangyoon finalmente respondesse. 

— Ok…

— E esse cara — afirmei, apontando para Seo Dawon — está em PÉSSIMOS termos com Bae Jaemin, assim como eu. Na verdade, a situação é grave o suficiente para querermos matá-lo.

Como Kim Sangyoon estava com a testa colada no chão, não pude ver sua reação. Contudo, ao mencionar “matar” Bae Jaemin, seu corpo estremeceu levemente e sua respiração vacilou por um instante. Como pretendido, ele levou minhas palavras a sério.

Entretanto, as palavras severas acabaram com qualquer coragem que ele tivesse para responder. Continuei, apesar do clima pesado.

— E Sangyoon-nim… Você sabe, né? Não adianta tentar agradar o Bae Jaemin enquanto Ahn Joosung estiver no jogo. Aqueles dois são como as duas faces da mesma moeda.

— …

— Bae Jaemin não vai dar a mínima para alguém com menos do que Ahn Joosung e seu berço de ouro. Não importa o quanto você infle seu ego ou se esforce, Sangyoon-nim, Bae Jaemin nunca dará atenção para você.

O silêncio de Kim Sangyoon persistiu.

— No fundo, você já sabia disso, não sabia? — sussurrou Seo Dawon.

Finalmente, Kim Sangyoon reagiu com um leve aceno de cabeça. Até certo ponto, nossas palavras pareciam ter surtido algum efeito.

— Ahn Joosung está vivendo muito bem graças a Bae Jaemin, não está? Você até pode ter talento, mas ele, por si só, equivale a apenas metade do que dinheiro e conexões podem fazer. Sangyoon-nim pode ser um dos Guerreiros mais famosos agora, mas e daqui a um ou dois anos? — disse, com um pouco mais de confiança.

Soltei quaisquer reclamações que imaginei que ele pudesse ter, tirando várias conclusões de seu breve diálogo com Seo Dawon.

Como um fã que regularmente assistia as streams¹ de Kim Sangyoon, eu sabia o orgulho que ele tinha de suas habilidades.

E como um Usuário prestes a entrar na lista dos ranqueados, ele era extremamente sensível a qualquer detalhe das raids. Depois de ir em uma expedição de dungeon com ele e sua party, pude perceber o quanto ele detestava a ideia de perder tudo para alguém como Ahn Joosung.

Além disso, ele tinha fama de discutir vigorosamente com Usuários que o comparavam a outros nos chats das transmissões ao vivo. Particularmente, se fosse comparado a outro Guerreiro, ficaria de mau humor por toda a duração da transmissão. Os fãs de longa data aprenderam a evitar piadas que pudessem provocar a natureza sensível de Kim Sangyoon…

Percebi que um homem com um ego tão elevado não suportaria alguém como Ahn Joosung, que mascarava sua incompetência com seu status social.

Kim Sangyoon provavelmente odeia Ahn Joosung tanto quanto é odiado por ele.

Ademais, era evidente que Kim Sangyoon temia o homem tanto quanto o odiava. Apesar de seu histórico impressionante, ele era assombrado pela premonição de que Ahn Joosung, um dia, o superaria usando a força avassaladora de seus recursos.

Dominado pela ansiedade e pela sensação de impotência diante de sua situação, ele foi levado a cometer atos absurdos, como invadir a casa de outra pessoa.

— … — Kim Sangyoon nem confirmou nem negou nada depois que terminei de falar.

Suas mãos grandes, porém, tremiam violentamente, arrancando tufos de grama do jardim. Seo Dawon e eu permanecemos em silêncio, aguardando pacientemente até que seus tremores cessassem.

Pouco depois, com a voz rouca, Kim Sangyoon indagou:

— …Vocês também vão matar Ahn Joosung? 

Boa.

Kim Sangyoon havia sucumbido completamente às nossas manipulações. Seo Dawon e eu trocamos olhares significativos.

— Erga a cabeça — ordenou Seo Dawon.

O Guerreiro sobressaltou-se, mas ergueu a cabeça lentamente, como um cão obediente. Quando olhei em seus olhos, parecia que Kim Sangyoon havia envelhecido 10 anos durante o interrogatório.

Com cautela, ele se voltou para Seo Dawon. Seu olhar percorreu minuciosamente cada centímetro e poro do rosto fantasmagórico do Mago, fazendo-o arquejar em assombro.

— S-Seo Dawon…!

Seo Dawon sorriu para o Guerreiro, que estava paralisado pela incredulidade.

— Agora você sabe por que queremos matar Bae Jaemin.

— Isso é ridículo…! Ah, então… não me diga que na Torre de Espíritos…?!

— Bem, podemos discutir isso com o tempo. — Seo Dawon interrompeu o fluxo de pensamentos de Kim Sangyoon e o apresentou um [Voto de Submissão].

Uma mensagem do sistema, na forma de um pergaminho vermelho, flutuou até Kim Sangyoon e se desenrolou diante de seus olhos. Kim Sangyoon começou a ler o contrato, com uma expressão confusa.

— Voto de Submissão…?

— Estabeleci algumas regras básicas que você deve seguir. Leia-as em voz alta. — disse Seo Dawon.

— …Um. Eu, Kim Sangyoon, comprometo-me a obedecer às ordens de Choi Yikyung no futuro próximo e a cooperar ativamente em seus planos…

Após ler a primeira regra, Kim Sangyoon dirigiu um olhar vago e relutante a Seo Dawon. Sob a pressão do olhar fixo do Mago, estremeceu e voltou a atenção para o pergaminho.

— Dois. Eu, Kim Sangyoon, comprometo-me a não divulgar a existência ou os termos deste contrato a terceiros. Três. Em troca, eu, Kim Sangyoon, receberei a proteção de Choi Yikyung…?

— Você pegou a ideia, né? Então assine o seu nome para confirmar seu consentimento. — disse Seo Dawon, como se o contrato fosse justo e trivial. Kim Sangyoon mordeu o lábio inferior, mas, eventualmente, ergueu o dedo.

— Todos os outros membros da guilda Yeonhong também sobreviveram? — perguntou Kim Sangyoon enquanto, hesitantemente, escrevia seu nome letra por letra.

Nem Seo Dawon nem eu nos demos ao trabalho de respondê-lo.

— Pronto. — murmurou ele, finalmente cedendo à nossa persistente reticência.

 

O "Voto de Submissão" está atualmente em efeito.

Através de pura força, você subjugou seu oponente e o obrigou a sucumbir a um contrato humilhante! Essa exibição de poder aumentou sua influência maligna interna, proporcionando um aumento de +0.1% nos ataques de atributos sombrios ou de maldição.

 

Uma mensagem perturbadora apareceu no instante em que Kim Sangyoon assinou o pergaminho. O contrato assinado retornou às minhas mãos antes de desvanecer no espaço do sistema.

Será que, por ser um Necromante — uma classe de natureza maligna — fazer coisas horrendas assim me traz benefícios…? Essa linha de raciocínio foi abruptamente interrompida por um alarme.

 

O tempo de invocação do servente “Seo Dawon” expirou. Há um cooldown de 23:59:59 antes que ele possa ser invocado novamente.

 

De repente, os arredores se iluminaram, enquanto a lua no céu recuperava sua tonalidade amarelada habitual. A atmosfera, antes carregada de sombras, transformou-se completamente.

Enquanto eu ainda podia ver Seo Dawon, Kim Sangyoon já não conseguia mais enxergá-lo.

— Ué? Seo Dawon-nim… Para onde ele foi? — indagou, a perplexidade estampada em seu rosto.

— Parece que o tempo máximo que temos é de 30 minutos. — comentou Seo Dawon, os lábios comprimidos em uma linha fina, parecendo fazer cálculos mentais.

— Por favor, me dê um minuto. Preciso resolver algo… — pedi, desconfortavelmente olhando para Kim Sangyoon.

Afastando-me do Guerreiro, voltei minha atenção para os murmúrios de Seo Dawon.

— Ainda bem que concluímos o interrogatório antes do término da invocação. Vamos para as dungeons com Kim Sangyoon amanhã.

— …hm… — Eu estava agoniado, tentando desesperadamente encontrar a resposta mais adequada para seu comentário e refletindo sobre a maneira estranha como os eventos se desenrolaram naquela noite.

Por ora, resolvi dirigir minhas palavras a Kim Sangyoon, que ainda tremia em meu jardim com um olhar desconcertado. Senti uma pontada de culpa ao contemplar seu corpo pálido, forte e encharcado de suor, acompanhado da mancha de urina em sua calça. Mesmo que os atos tivessem sido feitos por Seo Dawon… de alguma forma, eu também sentia o peso da responsabilidade.

— Com licença… Que tal entrar e secar suas roupas por agora? — sugeri.

— Ahh… Sim. — Finalmente consciente de sua aparência vergonhosa, Kim Sangyoon corou intensamente e me seguiu.

— Você está realmente deixando um cara desses entrar na nossa casa? — protestou Seo Dawon, o responsável por toda essa bagunça.

 


Notas

1 – Vi em algum lugar que era melhor deixar em itálico para termos em inglês. Queria saber a opinião de vocês (se mantém, se melhor não, ou se é irrelevante)

 

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