Kapakocha Brasileira

Autor(a): M. Zimmermann


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 14: Sem Volta

— Tem certeza de que não quer notificar os membros de seu conselho sobre sua partida, Zaltan querido?

O rei estava com as mãos cruzadas nas costas, continuava a andar tensamente para o grande porto da capital de Arquoia, sendo idolatrado e comemorado nas ruas como sempre, porém como uma expressão diferente de todas as outras já vistas.

— Ainda não, isso é algo que devo resolver sozinho. Você pode vir caso Jasmyne tenha alguma carta na manga

Algo, no fundo da mente de Zaltan o cutucava, implicando com a facilidade da missão, que matar a bebê seria apenas um detalhe. Ele se segurava muito para não sorrir, mas mantinha a expressão fechada.

— Estou lisonjeada, mas, acho que eles poderiam tomar melhores providências pelo reino enquanto você está fora…

— Eu posso notificá-los para tomarem conta dos assuntos de Arquoia enquanto eu estou fora, serão apenas dez dias, afinal

As respostas do homem eram frias e diretas, ele tentava ao máximo contornar as dúvidas colocadas por Nira apenas inventando uma desculpa, mas estava focado demais em seus… objetivos.

E, além disso, ainda esperava por uma resposta da carta, que voltou a brilhar.

Zaltan não podia deixar que ninguém no público ouvisse as conversas com a Elite. Portanto, apertou o passo, direcionando-se a um galpão reservado para a realeza nas docas.

Uma espelunca que era mais comumente usada por seu pai quando saía para pescar, era grande, vazio e com uma segurança pesada do lado de fora, que o deixou entrar de prontidão junto de Nira.

Buscou uma mesa disposta ali e tirou a carta prateada de dentro de seu traje, ela brilhava com muita intensidade, e, num piscar de olhos, o padrão em xadrez retornou no lugar do selo.

— Alô? — perguntou Zaltan antes da carta dizer qualquer coisa

Beep!

A carta piscou em um brilho mais intenso antes de retornar à claridade original, era como se ela tivesse sido ativada duas vezes.

— Hm, hã? É, pode colocar essa aí… — respondeu uma voz grossa e masculina vinda do outro lado, ela parecia não estar prestando atenção na chamada no momento.

— É outro membro da Elite?

— O quê, quem que está aí? Xamã, é você?

— Jasmyne não é a dona desta missão especial de grau nacional… Aqui quem fala é Zaltan Arquois IV

— Ah, o pequeno príncipe… A Xamã me falou de você

— Isso não me importa, estou ainda nessa chamada, pois a tal da Nanavit não quis cooperar com todas as minhas dúvidas

— Espera, cê tá falando da Gi?

“Gi?” Zaltan se pergunta. “Cada novo apelido dela que aprendo, sua identidade me parece mais familiar”

— Ah, claro, Nanavit… É, ela não quis responder? — a voz interrompeu-se por um momento antes de ordenar para outro indivíduo — Não, isso não vai funcionar… Vejam se trabalham direito, caramba!

Zaltan olhou para Nira novamente, a mesma deu de ombros. Agora entendiam que todos os membros pareciam ser um pouco distraídos, ou, ao menos, não levavam nada disso a sério.

— É sobre a bebê, a missão diz que devo matá-la… Por qual razão?

— Desculpa, o quê? Você não matou a bebê, né?!

— Acho que não entendi… É isso que a missão diz, não é?

— Mas que droga, a maldita não explicou pra você isso?

— Eu recebi essa missão e esperava que me fosse esclarecido!

— Argh…! — grunhiu a voz em um tom estressado e cansado

Zaltan estava com a paciência no limite, tinha muitas dúvidas e poucas respostas, não podia desistir tão facilmente assim, mas se quisesse concluir a missão de vez, precisaria se certificar de que Jasmyne não estava um passo à frente, e as melhores pessoas possíveis para se questionar seriam esses indivíduos completamente focados…

— Me dê um segundo, eu preciso fazer uma call… É, sim, coisa d’O Círculo. Falo com você mais tarde

Ouviram-se alguns passos vindo dos sons da chamada, de repente, o barulho de uma porta fechando.

— Certo, vou esclarecer aqui, já que a minha parceira é uma incompetente… Você… não pode “matar” a bebê

— Então o que a missão quer dizer com o objetivo descrito?

— Não se deve matá-la por meios convencionais, apenas um em específico… Um ritual

— Ritual?

— Exatamente, a Xamã concordou em usar um ritual de quarto estágio do xamanismo. Ela disse que garantiria os mesmos resultados do método correto. Além de afirmar que ela desenvolveu o ritual xamânico especialmente para essa ocasião 

— Mas, por que um ritual?

— Escuta, a Elite d’O Círculo não tem o direito de intervir em missões que não nos pertence. Então, antes de mais nada, não podemos ficar aí te guiando o tempo todo, só por meio da carta

— Entendi…

— Veja majestade… Essa bebê… é muuuuito especial, e ela precisa morrer por meio desse ritual também especial.

Ele continuou, acalmando mais sua voz:

— Jasmyne era nossa chance de acabar com a bebê, mas ela falhou, aparentemente. Como você foi escolhido, isso pode significar duas coisas: Ou ela se aliou à bebê de fato, ou ela é incapaz de concluir o objetivo de sua missão de forma independente. Mas essa última não pode ser, já que a Xamã está no quarto estágio…

Zaltan engoliu em seco, suas mãos tremeram e ele começou a suar frio. O que parecia ser uma missão fácil acabava de ficar complexo como um quebra-cabeça “Espera um segundo, eu matei Alessa. Isso significa que a missão não foi concluída por minha culpa?”

— Nos foi “avisado” a importância dessa bebê, portanto, se alguma coisa acontecer e ela não for sacrificada pelo ritual, teremos alguns problemas…

— M-Mas, como eu vou realizar o ritual? Eu sou um feiticeiro…

— Que bom que perguntou! — interrompeu a voz grossa, como se desse espaço para mais alguém

De repente, outro som reverbera através da carta, tentando ajustar seu volume e tom de uma maneira quase que artificial.

— Quem é desta vez?!

Outra pessoa na chamada… Zaltan estava tão preocupado com o objetivo atual que nem perguntou o nome do outro indivíduo — algo que ele considerava uma falta de cortesia.

Atordoado, ele começa a se perguntar o quão complexo seria essa teia de contatos e indivíduos da Elite d’O Círculo. Uma entidade misteriosa, mas conhecida por todos.

A voz robótica pigarrou, antes de perguntar.

— Sua majestade… consegue me confirmar que está em uma cabana no porto da capital de Arquoia?

— O quê?

— Olhe para fora

Zaltan gesticula para Nira abrir uma janela do galpão. A mesma se move em silêncio para um dos parapeitos de madeira e o abre, revelando a visão de parte da guarda real circulando a propriedade da realeza e o céu nublado, que começava a se abrir.

— Você abriu a janela? Acho que consigo te ver…

Nira cerrou os olhos para tentar ver algo, eles de repente tomaram características dos olhos de um réptil e ganharam uma camada para proteger da luminosidade.

Um brilho veio, antes do sentido de perigo da mulher se ativar, e ela agarrou um projétil que chegou como uma lança. A força era tanta que Nira foi arrastada para trás enquanto segurava o que parecia ser uma faca.

— Hã?! — Ela não conseguiu conter a surpresa, mas antes de poder sequer entender o que segurava, a arma ganhou um peso imenso, levando suas mãos escamosas ao chão de pedra, fragmentando-o.

Crack!

— Parece que está acompanhado, majestade… Devo lembrá-lo: isso é uma missão individual, portanto, levar companhia pode ser uma má ideia… Afinal, ingressar na Elite é um caminho sem volta.

— Se é mesmo pessoal, então acho que posso decidir quem levo e o que faço — Zaltan firmou sua voz ao se dirigir à carta dessa vez.

— Muito bem…

— Nanavit foi bondosa o bastante para me falar o “codinome” dela, e quem seriam vocês?

— Eu sou IIsaac, e o outro indivíduo é…

Ele não continuou. A respiração do outro homem ainda era ouvida por Zaltan através da carta, mas era como ele bufasse em negação.

— Não vou fazer isso contra a vontade dele, não importa. Tenho mais o que fazer

— Você já recebeu tudo o que precisa para acabar com essa missão simples de uma vez por todas. Já sabe seu dever, e, como não perguntou aonde deveria ir, imagino que saiba exatamente onde seu alvo está — disse o homem de voz grossa na chamada, antes de se desconectar, ativando o brilho prateado da carta

IIsaac também se retirou da chamada, deixando Zaltan sozinho mais uma vez. Quanto mais ele conversava com os membros da Elite, menos ele entendia a situação em que se meteu.

Infelizmente, aquela sensação voltava, mesmo que superficialmente. O abandono de não saber porque as coisas acontecem em sua vida, e deixar apenas com sua própria mente tentando descobrir tudo por meio dos próprios pensamentos.

“Eu…”

Ele se aproximou da adaga presa aos destroços do chão. Nira, com uma preocupação íntima, colocou a mão sobre seu ombro enquanto ele agarrava a arma vermelha como sangue em chamas.

“... Estou disposto a fazer isso, pelo bem de minha vingança… de meu reino… não é?”

— Zaltan, querido… — Nira se aproximou, agachando — Eu vejo a sua alma, e digo: Faça isso por si, a Elite não parece ter lhe valorizado até agora. Então, por que seguir a missão pelos caprichos deles? Quando você “Ascender” até a mesma posição que eles, acha que eles irão te reconhecer assim?

— Nira…

— Não! Shhhh… Estou apenas dizendo — Nira fez um sorriso pelas costas do rei — Seu objetivo é apenas matar Jasmyne, o que a bebê teria a ver com isso? Eles nem se deram ao trabalho de conceder uma descrição além de “especial”...

— Você… tem razão. — Zaltan se levantou e guardou a adaga dentro de suas vestes brancas.

Estranhamente, a adaga era extremamente leve para Zaltan. Mas Nira mal conseguia movê-la, a mesma pareceu surpresa com a facilidade em que o rei pegou a arma, quando ela se esforçou tanto.

Zaltan parecia preparado agora, sua mente mais decidida, ele anda em direção à porta pela qual entrou, quando é interrompido por batidas.

Ele andou até ela e abriu, dando de encontro com um jovem garoto com boina e uma grande bolsa nas costas, seu olhar era tão inocente quanto Zaltan conseguiria imaginar. O rei volta aos seus sentidos, percebendo que o garoto estendia uma carta normal para ele.

— Telegrama para sua majestade Zaltan Arquois IV!

— Como você?! Os guardas simplesmente…

Zaltan olhou para o colete de lã que o garoto usava, notando um símbolo extremamente familiar, o brasão branco, presente na bandeira de Arquoia — composta por diversos outros brasões e emblemas.

— Ah…

— Eu tenho permissão para passar aqui, vossa majestade! Estou a mando da Duquesa Schweitzer!

— O que. Ela. Quer? — respondeu pausadamente, deixando sua impaciência clara.

— Ela requisitou que eu não lesse o conteúdo da carta

— Me dê isso! — Zaltan agarra friamente a carta da mão do menino, que realiza uma saudação e sai saltitando.

“Os problemas não param de aumentar, o que está escrito aqui?”

“Mais requisições?! Eu já não cedi terras de nobres corruptos o suficiente para ela?!”

Duquesa Schweitzer… do Ducado de Tzoldrich, terra natal de um dos guerreiros mais temíveis que essas terras já viram — agora aposentado.

Quando Zaltan realizou as primeiras mudanças no reino e nos súditos, A Duquesa o ajudou bastante com os processos que não conhecia. Integração de terras, estabelecimento de rotas logísticas…

Mas seus ideais nunca foram muito alinhados, o rei tinha a leve sensação de que conceder mais poder para ela poderia ser um problema.

— Não! — Zaltan gesticulou com a mão direita, transformando uma poça d’água próxima em espinhos, que perfuraram a carta e esmigalharam ela — Não vou deixar os mimos dessa maldita interferirem…

— Zaltan, o que tinha na carta?

— Nira, vamos partir… agora. Por favor, passe no salão do conselho real de Arquoia e notifique a todos que eles tomarão conta dos assuntos, internos, externos do reino e de meus vassalos até eu voltar.

— Quer que eu prepare as embarcações para a viagem?

— Não…Prefiro mostrar para Jasmyne o quanto evoluí. Vamos a pé.

Um brilho determinado e desalmado saía dos olhos de Zaltan, sua Aura se moldava com uma intensidade grande, deixando Nira ainda mais ansiosa pelo que estava por vir.

 


 

Nota do Autor:

Peço mil desculpas pela falta de um capítulo no sábado anterior 6/09/2025

Não foi uma decisão que me deixou muito feliz... Mas foi necessário para equilibrar algumas coisas na minha vida pessoal.

As publicações vão voltar ao normal! Todo sábado ao meio-dia!

Espero que entendam!

 

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