Hyouka Japonesa

Tradução: slag


Volume 1

Capítulo 3: As Atividades do Prestigiado Clube de Clássicos.

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Agora que pensei nisso, o que exatamente o Clube de Clássicos faz, afinal? As únicas pessoas que sabiam o que eles faziam não estão mais na escola, e não posso incomodar os professores perguntando sobre isso. Eu poderia perguntar para minha irmã, mas infelizmente, ela está em Beirute. No entanto, considerando que existem tantos outros clubes cujas atividades são um mistério, não acho que seja algo que valha a pena me preocupar.

Já faz um mês desde que o Clube de Clássicos foi ressuscitado. A sala do clube, que é a sala de Geologia, não é mais um espaço privado, mas ainda é um lugar relaxante. É um lugar onde posso passar algum tempo depois da escola, quando estou entediado. O Satoshi pode estar lá dentro. Ou a Chitanda pode estar lá dentro. Ou ambos podem estar lá dentro. Ou talvez nenhum deles esteja. 

Na verdade, isso não importa muito. Podemos escolher conversar ou simplesmente ficar em silêncio. O Satoshi é do tipo que pode ficar confortável em silêncio, enquanto nossa querida Chitanda é graciosamente curiosa, desde que ela não deixe sua curiosidade se tornar uma explosão. Por isso, mesmo que não seja intencional, parece mais um clube de lazer do que um clube escolar.

Dessa forma, não fico cansado, mesmo na companhia deles, já que nunca tive medo de estar perto de outras pessoas, embora às vezes o Satoshi possa se enganar pensando o contrário.

Hoje está chovendo e estou com a Chitanda. Estou inclinado na minha cadeira perto da janela, lendo um livro barato, enquanto a Chitanda está sentada à frente da sala, lendo um livro grosso por algum motivo. Alguém poderia dizer que é uma tarde entediante após a escola.

Olhando para o relógio, percebo que só se passaram 30 minutos. O tempo passou despercebido. Embora eu possa parecer relaxado, na verdade estou nervoso e estressado, enquanto tento conscientemente manter um estado de relaxamento para economizar energia. É só isso.

O silêncio é quebrado apenas pelo som das páginas sendo viradas e pela chuva lá fora.

— ...

Estou ficando com sono. Acho que vou para casa assim que a chuva parar.

Thud. Ouço o som de um livro sendo fechado. É a Chitanda, que está sentada de costas para mim. Ela suspira e diz:

— Que improdutivo.

Mesmo sem olhar para mim, fica claro que ela não está falando sozinha, mas comigo. Embora não saiba como responder ao seu comentário repentino, tento perguntar:

— O que? As colheitas da fazenda da sua família?

— Aquelas são duas safras.

Chitanda responde, como se estivesse lendo, e se vira.

— E elas são semestrais. Então, é quase improdutivo.

— Como esperado da filha de um fazendeiro.

— Não, não precisa me elogiar...

O som da chuva é seguido pelo silêncio.

— Não, não era isso que eu queria dizer.

— Você estava falando sobre 'improdutivo'.

— Sim, exatamente. É improdutivo.

— O que é?

Chitanda olha firmemente para mim e levanta o braço direito como se estivesse apontando para toda a sala.

— Todo esse tempo que passamos depois da escola. Parece que não temos propósito e não fazemos nada produtivo.

É verdade que é apenas uma forma de passar o tempo, não para produzir algo. Fecho o livro e olho na direção dela.

— Bem, estou ouvindo. Existe algo que você gostaria que o Clube de Clássicos fizesse?

— Eu?

Essa é uma pergunta cruel, já que muitas pessoas não têm ideia do que gostariam de fazer quando perguntadas diretamente. De qualquer forma, pelo menos sei que não desejo fazer nada.

No entanto, Chitanda responde sem hesitar:

— Sim, tenho algo.

— Hmm.

Isso é surpreendente. Responder imediatamente com um ‘sim’. Antes mesmo de eu perguntar sobre o que ela está interessada em fazer, ela explica:

— Embora seja por motivos pessoais.

Nesse caso, não há necessidade de insistir.

Chitanda continua:

— Mas estamos falando do Clube de Clássicos. Deveríamos estar fazendo algo relacionado ao clube. Não podemos simplesmente ficar sentados sem fazer nada.

— Bem, estou ouvindo, mas nem mesmo sabemos qual é o propósito desse clube.

— Não, há um propósito.

Enquanto ela fala com a autoridade de uma presidente de clube ou a aura de um membro respeitado, Chitanda declara:

— Vamos publicar uma antologia de ensaios em outubro, durante o Festival Cultural.

O Festival Cultural?

Já havia participado do Festival Cultural do Colégio Kamiyama antes, então estou familiarizado com ele. Resumidamente, é a essência da cultura jovem nesta região. Segundo Satoshi, a Cerimônia do Chá do Festival Cultural do Colégio Kamiyama é altamente recomendada para quem deseja aprender a arte, e o concurso de Break Dance é um celeiro de futuros profissionais. 

Muitos clubes relacionados à arte de qualidade participam. Durante meus três anos na escola, lembro-me de ver minha irmã carregando uma caixa de antologias para a escola.

Podemos dizer que é a cristalização da vida colorida no ensino médio. Quanto à como me sinto em relação a isso, é melhor não dizer nada. Digamos apenas que raramente sinto algo, se é que sinto alguma vez.

No entanto, uma antologia, hein? Pensei um pouco sobre a proposta de Chitanda e fiz uma pergunta que surgiu naturalmente em minha mente:

— Chitanda, fazer uma antologia de ensaios não seria apenas o resultado final, e não o propósito do clube em si?

Chitanda balança a cabeça e responde:

— Não. Se o objetivo do clube é criar uma antologia de ensaios, então, ao alcançar esse resultado, podemos cumprir o propósito do clube.

— Que?

— Como eu disse, se o resultado é o propósito em si, então tudo o que devemos fazer é almejar esse resultado, certo?

Levantei as sobrancelhas, tentando compreender o que ela estava querendo dizer, mas isso não seria a mesma coisa?¹

De qualquer forma, uma antologia não me parece interessante. Mesmo que eu não possa afirmar com certeza que uma antologia, ou qualquer outra coisa que exija que eu escreva algo, seja entediante, seria melhor se eu não tivesse que fazê-lo. 

Tanto o propósito quanto a atividade em si me obrigam a criar algo. Atividades desnecessárias demandam esforço, o que é um desperdício de energia.

— Não vamos fazer uma antologia. É muito problemático. Além disso... bem, três autores é um pouco demais.

Chitanda ainda insistia em sua proposta:

— Não, tem que ser uma antologia.

— Se você realmente quer publicar algo, nós podemos montar uma tenda ou algo assim.

— O Festival Cultural do Colégio Kami tradicionalmente proíbe estandes. Então não, tem que ser uma antologia.

— ... Por quê?

— O orçamento do nosso clube se refere especificamente à 'Publicação de um Ensaio Antológico', isso sim vai ser problemático caso não publiquemos um.

Chitanda tirou um pedaço de papel cuidadosamente dobrado do bolso em seu peito e mostrou para mim. De fato, o orçamento deste ano para o Clube de Clássicos, a pequena quantidade de dinheiro que foi alocada, foi criado especificamente para o propósito da 'Publicação de um Ensaio Antológico'.

— Mesmo assim, Ooide-sensei já havia pedido para nós publicarmos uma. Como se tornou uma tradição há mais de 30 anos que o Clube de Clássicos publique uma antologia a cada ano, ele não quer ver isso terminar.

— ...

Como regra geral, pessoas sensatas tendem a ser inteligentes. Mas isso não quer dizer que pessoas insensatas sejam burras. Chitanda definitivamente não é burra, mesmo que ela seja claramente insensata. 

Para começar, ela apelou para o lado sentimental em vez do lado financeiro e decidiu que as atividades do Clube são baseadas em tradição. Ainda assim, percebi que era inútil argumentar contra algo feito em nome da tradição, então sorri amargamente e cedi:

— Ok, ok. Nós vamos publicar uma antologia.

Assim, sem nenhuma cerimônia, acabaram meus dias despreocupados e sem propósito. Pelo menos ainda tenho boas condições de saúde... eu acho.

A chuva ainda estava caindo lá fora. Como ainda não era hora de ir para casa, decidi perguntar:

— E então, como você pretende publicar essa antologia?

— Como? O que você quer dizer?

— Que tipo de antologias são escritas todos os anos?

Embora fosse improvável, eu já estava resignado a escrever ensaios acadêmicos semelhantes a títulos como 'As Crônicas dos Oito Cães', 'Contos da Lua e da Chuva', com relação ao papel do Imperador em 'Shiramine', ou em 'O Grande Espelho', a respeito das observações das mudanças sociais na novel, como um contra-argumento ao ensaio do ano passado. 

Apenas por segurança, devo inserir um anexo. Eu já estava preparado para o fato de que, provavelmente, eu não iria produzir nada comparado aos padrões dos ensaios anteriores. De qualquer forma, que tipo de formato essa tão renomada tradição adota em seus ensaios, eu não faço a menor ideia.

No entanto, a resposta que recebi foi negativa.

— Hmm, eu não tenho certeza. O que será que devemos escrever?

Era de se esperar. Como ela era a presidente, era fácil esquecer que ela também havia entrado no clube há apenas um mês.

— Tenho certeza de que podemos descobrir se encontrarmos os ensaios anteriores.

— Eles devem estar por perto. Você sabe onde eles estão?

— Na sala do clube?

Entendi.

De repente, senti-me patético por estar seguindo o ritmo dela. Apontei rapidamente para o chão para que ela percebesse.

— ... Oh! Esta é a sala do clube.

Exatamente.

— Embora não pareça uma sala de clube...

Ela está certa.

Dentro da sala de Geologia, não havia nada além de equipamentos padrões de educação. Tudo o que podíamos ver era um quadro-negro, mesas, cadeiras e material de limpeza. A típica aparência de uma sala de aula normal. Não parecia ter um lugar para armazenar livros.

— Os ensaios anteriores não parecem ter sido guardados aqui.

— Parece que sim.

— Bem então... devemos ir à biblioteca?

Pareceu-me apropriado, então concordei. Chitanda pegou sua bolsa e levantou-se.

— Vamos.

Sem esperar pela minha resposta, ela abriu a porta e saiu andando. Ela é muito ativa para uma senhorita elegante. Ah bem, a biblioteca fica no caminho para a entrada da escola, não é tão longe daqui.

Não, espere. Hoje é sexta-feira, o que significa que a responsável pela biblioteca hoje é...

— Oh, se não é o Oreki? Já faz um tempo, embora eu nem tenha sentido sua falta.

Assim que entramos na biblioteca, fui instantaneamente recebido com sarcasmo. Como esperado, a pessoa sentada atrás do balcão era ninguém menos que Ibara Mayaka.

Ibara e eu temos uma longa história juntos. Estamos na mesma sala há nove anos, desde o ensino fundamental. Suas feições infantis continuam bem marcantes desde a infância, e ela cresceu apenas um pouco desde que se tornou estudante do ensino médio. Talvez alguns achem suas feições infantis e baixa estatura fofas, mas não se enganem por sua aparência. Ela carrega uma arma secreta consigo o tempo todo. 

Se você baixar a guarda, será recebido por uma mistura de humor sarcástico que ela possui. Já me disseram para me afastar dela, com base em histórias de caras que foram enganados por sua bela aparência, apenas para serem instantaneamente derrotados. Nem é preciso mencionar que, como ela nunca admite seus erros, a maioria das pessoas acha que ela é insensível.

Embora eu, pessoalmente, não acredite nessa análise sobre ela.

Fiz a expressão mais desagradável que pude e respondi:

— Ei, vim aqui só para te ver.

— Este é um solo sagrado de cultivação, não é para pessoas como você visitarem. — disse Ibara, enquanto permanecia sentada com as pernas cruzadas em sua cadeira atrás do balcão. 

Considerando que todos os bibliotecários tinham que lidar com empréstimos e devoluções de livros, não parecia ser algo que ela deveria fazer. Embora uma de suas tarefas fosse devolver os livros à prateleira, a caixa de devoluções ainda estava cheia. Ibara não era do tipo relaxada, então provavelmente estava tentando fazer tudo de uma vez. Ela segurava um livro grande, que estava lendo para passar o tempo.

A biblioteca estava cheia naquele horário. Cerca de dez mesas, cada uma com espaço para quatro pessoas, estavam ocupadas por estudantes lendo. Provavelmente, algumas pessoas estavam lendo por prazer, enquanto outras estavam apenas passando o tempo até a chuva parar. 

De repente, percebi que um dos rapazes estava olhando em nossa direção. Reconheci-o imediatamente, era Fukube Satoshi.

Satoshi me reconheceu e levantou-se com seu sorriso habitual: — Ei, Houtarou, não esperava te encontrar aqui.

Ibara olhou para nós com uma expressão mal-humorada e disse: — Ainda são bons companheiros como sempre, não é? O melhor casal do Colégio Secundário Kaburaya.

Eu sabia que seria inútil discutir com ela, mas mesmo assim respondi: — Ah, cala a boca.

Ibara respondeu categoricamente: — Você é muito chorão para uma pessoa tão triste.

...Um chorão, hein? Ela então virou-se para Satoshi, com uma expressão séria: — Fuku-chan, você sabe dos meus sentimentos, então deve saber que eu estava brincando, certo?

— Ahh, não se preocupe com isso, Mayaka. Não levei como uma ofensa.

— O quê? Você vai deixá-lo usar essa brincadeira como desculpa para escapar de novo?

Satoshi olhou para mim e depois desviou o olhar. Eu sorri amargamente, sabendo que Ibara estava perseguindo-o há algum tempo. Não faço ideia de quando ela começou a fazer isso, mas Satoshi vinha evitando seus avanços desde então.

Satoshi fingiu tossir, tentando mudar de assunto: — De qualquer forma, o que o Clube de Clássicos está fazendo na biblioteca?

Ah, sim. Não vim à biblioteca apenas para ver Ibara. Fiz um sinal para a Chitanda dizer algo. Ela, nervosamente, disse a Ibara: — Uh, umm, olá. Posso te fazer uma pergunta?

— Claro, como posso ajudar?

— Gostaríamos de saber se existem antologias de ensaios aqui na biblioteca.

— Sim, elas estão naquela prateleira ali.

— Será que elas têm as que pertencem ao Clube de Clássicos?

Ibara inclinou a cabeça e refletiu: — Clube de Clássicos? ... Hmm, desculpe, não tenho certeza. Quer que eu dê uma olhada para você?

Antes que Chitanda pudesse expressar sua gratidão, Satoshi a interrompeu: — Você não vai encontrar nada. Eu estava olhando as prateleiras ocasionalmente, então eu saberia se estivessem aqui. Mayaka, se não estão nas prateleiras abertas, devem estar nos arquivos.

— Arquivos, hum?

Satoshi pensou por um momento e perguntou: — Chitanda-san, por que vocês estão procurando essas antologias de ensaios afinal?

— Nós vamos publicar uma no Festival Cultural, então estávamos pensando em dar uma olhada nos ensaios anteriores como referência.

— Ah, então é para o Festival Kanya, né? Eu não sabia que você estava tão bem informado sobre essas coisas, Houtarou.

Bem informado? Na verdade, fui obrigado a estar ciente disso. Além disso, Chitanda não precisa de mim para se manter informada.

Espera, que festival?

— Satoshi, como você chama o Festival Cultural?

— Festival Kanya. Você nunca ouviu falar disso? É o apelido do Festival Cultural do Colégio Kamiyama.

Um apelido, hein? Como o Festival Sophia da Universidade Sophia ou o Festival Mita da Universidade Keio? Bem, como na história dos quatro 'Clãs Exponenciais', é algo difícil de acreditar.

— Parece suspeito. Isso é verdade?

— Claro que é verdade, mas é um apelido não oficial. Ouvi meus senpais no Clube de Artesanato chamá-lo de Festival Kanya. É o mesmo no Clube de Estudo de Mangá, Mayaka?

Então Mayaka está no Clube de Estudo de Mangá, hein? Embora combine com a imagem dela, ainda parece improvável.

— Sim, todos lá o chamam de Festival Kanya. Até o Comitê do Festival usa esse nome.

— Kanya? Como se escreve isso em kanji?

Satoshi colocou a mão no queixo e disse: — Não faço ideia. Todo mundo apenas o chama assim.

Parece que ‘Festival Kanya’ é um apelido. No entanto, não consigo pensar em nenhuma palavra que combine com essa grafia. Bem, procurar a etimologia de um nome tão bobo provavelmente é uma perda de tempo. 

Enquanto pensava nisso, Satoshi acrescentou: — Talvez tenham abreviado 'Kamiyama' para 'Kanyama', e depois evoluiu para 'Kanya'.

Como esperado de um especialista em conhecimentos inúteis.

Enquanto fugíamos do assunto, Ibara nos puxou de volta firmemente: — Enfim, antologias, certo? Provavelmente as encontraremos se procurarmos nos arquivos, mas a bibliotecária-chefe está em uma reunião agora e não podemos entrar sem permissão. Ela provavelmente voltará em meia hora, vocês querem esperar?

Meia hora, hein? Mesmo Chitanda não estava com pressa para encontrá-las imediatamente. Ela olhou para mim e sussurrou: — O que devemos fazer? Eu estava bem com qualquer decisão, mas percebi que ainda chovia forte lá fora. A previsão do tempo dizia que a chuva pararia em algum momento durante a tarde e teríamos um céu estrelado à noite, mas como a chuva não dava sinais de diminuir agora, não tínhamos escolha a não ser esperar.

— Acho que vamos esperar.

Decidi voltar ao meu livro e retornei à página em que estava lendo. Satoshi puxou a manga de Ibara e disse: — Mayaka, por que você não conta ao Houtarou a história que estava me contando mais cedo?

Ibara ergueu as sobrancelhas e pensou por um momento antes de concordar.

— Ok. Oreki, você gosta de exercitar o cérebro de vez em quando?

Não.

— Que história é essa que você está falando?

Satoshi respondeu à pergunta de Chitanda com seu sorriso habitual:

— É sobre um livro popular que ninguém nunca leu.

— Como você sabe, meu turno é toda sexta-feira, após a escola. Recentemente, descobri que o mesmo livro é devolvido todas as semanas durante esse período. Esta é a quinta semana consecutiva. Você não acha isso estranho?

Enquanto Ibara falava, eu estava ocupado procurando uma mesa onde pudesse me sentar e ler meu livro. Infelizmente, não havia lugar disponível, então não tive escolha a não ser sentar na ponta da mesa ocupada por Satoshi. A mesa estava perto do balcão, então podíamos ouvir as vozes de Chitanda e Ibara de lá.

— Ele é um livro popular?

— Isso se parece com um?

Ibara nos mostrou o livro grosso que ela estava segurando.

— Oh, que livro bonito...

Chitanda disse, com admiração, e então olhou para mim. A expressão encantada dela era como se eu tivesse acabado de comprar um livro maravilhosamente encadernado, especialmente para ela. O livro tinha uma capa de couro decorada com padrões finamente detalhados. Sua cor azul-escura emitia uma aura de solenidade. O título do livro era 'Colégio Kamiyama: Caminhando Juntos por 50 Anos'. Além de ser grosso, ele era realmente grande em comprimento e largura.

— Posso dar uma olhada dentro?

— Claro.

Tirei meu livro da bolsa e comecei a procurar a página em que parei. No entanto, minha visão do livro foi rapidamente substituída por páginas de alta qualidade. Chitanda abriu o livro mencionado antes, 'Colégio Kamiyama: Caminhando Juntos por 50 Anos', em cima do meu livro, querendo que eu visse. Mesmo que eu não estivesse particularmente interessado, não pude ignorar e dei uma olhada em seu conteúdo. Não era nada além de uma descrição da história da escola:

1972

Eventos no Japão e no mundo:

15 de maio: Retorno da soberania de Okinawa. Estabelecimento da Prefeitura de Okinawa.

29 de setembro: Assinatura do Comunicado Conjunto do Japão e da China. Normalização das relações diplomáticas entre os dois países.

Súbito aumento dos preços da terra e produtos agropecuários neste ano.

Eventos no Colégio Kamiyama:

07 de junho: Primeira vitória do Clube de Tiro com Arco do Colégio Kamiyama no Torneio de Novatos da Prefeitura.

01 de julho: Cancelamento da Viagem de Campo do 1º Ano devido a um tufão.

10 a 14 de outubro: Festival Cultural.

30 de outubro: Festival Esportivo.

16 a 19 de novembro: Viagem de Campo do 2º Ano - Sasebo, Nagasaki.

23 a 24 de janeiro: Percurso de Esqui do 1º Ano.

02 de fevereiro: Serviço Memorial para o estudante do 1º Ano Ooide Naoto, que morreu em acidente de carro.

Estava repleto de detalhes. Seria preciso um conjunto específico de habilidades para ler tudo aquilo. Eu não iria tão longe a ponto de pegar emprestado o livro uma vez por semana para ler tudo, mas não ficaria surpreso se alguém realmente fizesse isso apenas para ver o conteúdo.

— Houtarou, você estava pensando 'Não ficaria surpreso se alguém realmente pegasse emprestado uma vez por semana', não estava?

Pare de ler minha mente, seu telepata maldito.

Vendo que eu não o repreendi, Ibara inflou seu peito, particularmente pequeno, e disse:

— Não é tão simples assim. Você não pega livros emprestados, então não sabe. Ouça com atenção, você pode ficar com um livro por, no máximo, duas semanas. Portanto, não há necessidade de alguém pegar um livro e devolvê-lo depois de apenas uma semana.

— E mesmo assim, esse livro volta toda semana.

...Entendo. Isso é, certamente, um acontecimento estranho.

— Há alguma maneira de descobrir quem pegou esse livro emprestado?

— Claro. Existe uma lista detalhando quem pegou o livro emprestado atrás da capa. Dê uma olhada.

Chitanda prontamente virou para a capa e olhou para a lista.

— Hã? — Ela se assustou. 

— O que foi?

A lista continha os nomes, bem como as datas de quem o havia pego emprestado. Poderíamos dizer que eles, de fato, haviam pego emprestado o livro uma vez por semana. Mas esse não foi o motivo de Chitanda ter se assustado, com seu dedo apontando para a lista de nomes.

Esta semana foi Machida Kyouko da classe 2-D. Na semana passada, foi Sawakiguchi Misaki da classe 2-F. Há duas semanas, Yamaguchi Ryouko, Classe 2-E. Há três semanas, Shima Saori, Classe 2-E. E há quatro semanas, Suzuki Yoshie, Classe 2-D.

— Em outras palavras, é emprestado para uma pessoa diferente toda semana?

— Isso não é tudo.

Chitanda me mostrou as datas. Quando eu olhei cuidadosamente, a última data era hoje. E a anterior era exatamente sete dias atrás.

— O livro foi emprestado às sextas-feiras.

— Exatamente. O livro foi emprestado e voltou no mesmo dia. Esta Machida Kyouko pegou o livro hoje cedo, apenas para devolvê-lo mais tarde. A mesma coisa tem acontecido durante cinco semanas consecutivas. Nós também podemos dizer o momento em que elas pegaram o livro, foi sempre na hora do almoço de uma sexta-feira. Para que pegar um livro emprestado durante a hora do almoço e devolvê-lo depois das aulas, quando elas iriam conseguir tempo para lê-lo?

— ...

— E então? Você está curioso?

Depois de devolver o livro a Ibara, Chitanda concordou com a cabeça gentilmente.

— Sim... Eu estou muito curiosa.

Ela disse com um tom mais firme que o habitual. Como da última vez, suas pupilas pareciam que tinham ficado maiores, revelando um forte interesse vindo delas.

— O que é isso?

Graças ao mistério de Ibara, a chama da curiosidade da nossa Madame havia sido acesa.

Satoshi não iria servir como a água que poderia apagar esse fogo, assim como ele, provavelmente, vai se fazer de bobo e dizer ‘Eu não sei nada sobre isso’. Eu decidi voltar ao meu livro.

Mas eu fui ingênuo, pois eu não esperava que a lança fosse ser apontada diretamente para mim. Mais uma vez, Chitanda colocou o livro grosso 'Colégio Kamiyama: Caminhando Juntos por 50 anos.' em cima do meu livro e disse:

— Então, o que você acha, Oreki-san?

— Hã, eu?

Ao invés de seu sorriso gentil de costume, Satoshi agora estava sorrindo ironicamente para mim. Eu, imediatamente, percebi o que tinha acontecido. Ele conseguiu me prender em sua armadilha. Maldito seja ele e seus planos malignos.

— Vamos pensar nisso juntos.

— ...

— Vamos, Oreki-san?

Por que? Por que eu? Mesmo eu estando bem com a vigorosa curiosidade de Chitanda e mesmo podendo admitir que Satoshi pode ter algumas qualidades positivas, mesmo que seja uma brincadeira, por que eu deveria ser obrigado a jogar os seus jogos e aturá-la?

Ainda assim, era verdade que as coisas se desenvolveram a um ponto em que procurar um jeito de escapar dela teria sido tedioso. Então, eu não tinha escolha a não ser responder: — ...Sim, eu acho que é interessante. Vou pensar sobre isso.

Ibara ficou ao lado de Satoshi e perguntou: — Fuku-chan, Oreki é realmente inteligente?

— Nem um pouco. Ele geralmente não é confiável, mas, ocasionalmente, ele pode ser útil.

Seu... está ficando todo atrevido.

E então eu comecei a pensar.

Um livro ser pego emprestado e devolvido no mesmo dia, durante cinco semanas consecutivas, por pessoas completamente diferentes. A possibilidade de isso ser uma coincidência não pode ser descartada, mas eu não vou simplesmente acreditar que isso tudo é obra de algum Deus da Coincidência. Além disso, a Chitanda não vai aceitar uma explicação como essa. Fazê-la aceitar a explicação é mais importante que a verdade.

Então, vamos esquecer a teoria de que isso é apenas uma coincidência. Estava claro que o livro não foi pego com o propósito de ser lido, já que não haveria tempo para lê-lo entre o horário do almoço e o horário em que as aulas terminam. 

Se você pensar assim, não seria mais lógico para alguém levá-lo para casa e lê-lo ou apenas lê-lo na biblioteca, após as aulas. Contudo, neste último caso, não haveria nenhuma necessidade de pegar o livro emprestado. Logo, o livro não foi emprestado pensando em seu propósito original.

— ...Então se o livro não foi pego para ser lido, para que pegaram ele emprestado?

Chitanda respondeu: — Ele é pesado, então talvez tenha sido usado para comprimir vegetais em conserva?

Satoshi respondeu: — Talvez tenha sido usado como um escudo ou algo do tipo?

Ibara respondeu: — Ele é grosso, então provavelmente tenha sido usado como travesseiro.

Eu não devia ter perguntado a eles.

Eu decidi mudar o foco.

Por que o livro havia sido pego por pessoas diferentes toda semana? Apesar de ser uma coincidência, que já foi descartada, havia dois pontos a se considerar: Em primeiro lugar, as meninas parecem não ter nada em comum, mas é claro que elas estavam usando-o durante as tardes de sexta-feira para algum tipo de ritual e se revezaram para pegá-lo emprestado.

Quanto a que tipo de ritual, talvez adivinhação? Algo como 'Seu item da sorte este mês é a História do Colégio. Se você pegá-lo emprestado toda sexta-feira à tarde e devolvê-lo no mesmo dia, você deve encontrar o homem dos seus sonhos'?

...Não, soa muito bobo.

Isso leva ao segundo ponto, que as garotas têm algo em comum.

Basta olhar uma vez para seus nomes que fica claro que todas são garotas. Mas apenas isso sozinho não é o suficiente para estabelecer uma ligação. No Colégio Kami, se cinco pessoas fossem escolhidas aleatoriamente, existe uma possibilidade alta de todas serem garotas, mas é comum que pessoas do mesmo sexo se reúnam em um ambiente misto.

Sua outra característica comum seria que elas são todas do segundo ano, mas suas classes são diferentes.

Hmm...?

Agora que eu penso sobre isso...

— O que foi? Você pensou em algo?

...Talvez eu tenha pensado em alguma coisa, mas meus pensamentos foram destroçados pela interrupção de Satoshi. Agora, onde eu estava?

De qualquer forma, vou começar por onde meus pensamentos começaram a se conectar.

— Deve ser um sinal ou algo do tipo. Por exemplo, talvez elas estejam secretamente se comunicando umas com as outras e devolver o livro virado para cima significa 'sim' e para baixo significa 'não'.

— Para que se comunicar assim?

— Isso é apenas um exemplo. Pode ser qualquer coisa.

Chitanda começou a inclinar a cabeça e começou a pensar. Sim, é isso, apenas absorva tudo isso lentamente.

Mas, desta vez, quem me retrucou não foi a Chitanda, mas sim a Ibara.

— Isso seria impossível, veja, apontou Ibara para a caixa de devolução, onde uma grande quantidade de livros estava empilhada.

Entendi que não havia maneira de saber se o livro havia sido devolvido virado para cima ou para baixo. A única pessoa que poderia saber em qual direção o livro estava virado quando foi devolvido era a bibliotecária de plantão.

Droga, qualquer ideia mal pensada se tornaria uma presa fácil para a astúcia da Ibara.

Eu não conseguia pensar em nada. Elas podem ter uma chave reserva para abrir a caixa, mas eu não tinha como saber. Agora, se houvesse uma pista... Olhei para a capa dura do livro bem decorado nas mãos da Ibara e me perguntei onde poderia encontrar alguma pista dentro dele.

Foi quando, de repente, Chitanda entrou em meu campo de visão. Ela esticou o corpo sobre o balcão e apenas encarou o livro que a Ibara segurava firmemente em frente ao peito.

— Eh? Eeh? — disse Chitanda, deixando Ibara sem palavras. Eu sabia como ela se sentia.

— O que foi, Chitanda? Será que você encontrou alguns símbolos escondidos na capa ou algo assim? — perguntei.

Chitanda permaneceu imóvel e murmurou: — ...Esse livro... parece ter algum tipo de cheiro.

— Sério? Ibara, pode me emprestar isso? ...Eu não sinto cheiro de nada — respondi.

— Não, tenho certeza disso.

— O livro em si não teria qualquer odor. Talvez seja a tinta ou o cheiro da biblioteca? — sugeriu Satoshi.

Chitanda negou com a cabeça, discordando da sugestão de Satoshi. Tanto Ibara quanto Satoshi tentaram sentir o cheiro do livro, mas não conseguiram detectar nada, ficando perplexos.

— Realmente, não consigo dizer que cheiro era, mas era forte, como solvente de tinta — afirmou Chitanda.

— Pare de dizer algo tão perigoso.

— Será? ...Eu realmente não sei dizer.

Eu também não sabia, mas tive a sensação de que Chitanda estava certa. Afinal, nossa querida Chitanda era insistente. E eu nunca poderia imaginar que ela diria que era um solvente.

Se assumirmos que era um solvente... Hmm.

Parece que estou começando a entender algo aqui.

Mas explicar seria muito cansativo.

Enquanto eu pensava no que fazer em seguida, Satoshi já tinha lido meus pensamentos e disse: — Houtarou, seu rosto me diz que você pensou em algo.

— Eh? Oreki, isso é verdade? — perguntou Ibara, olhando para mim com ceticismo. Balancei a cabeça e respondi honestamente: — Mais ou menos. Embora eu não esteja totalmente certo... Chitanda, você se importaria de fazer um pouco de exercício? Gostaria que você fosse a um lugar para mim.

Chitanda provavelmente correria imediatamente, perguntando para onde ir, mas Satoshi a interrompeu com um sorriso.

— Não se deixe enganar, Chitanda-san. Você não quer acabar sendo mensageira para Houtarou, não é? Você só faria exatamente o que ele quer. Então, para onde você queria que ela fosse?

Esse Satoshi... Ele tende a falar demais quando está perto da Ibara. Mesmo assim, ele não estava totalmente errado, o que me deixou um pouco ofendido. Era verdade que eu não faria as coisas se não tivesse alguém para fazer por mim.

— Tudo bem, eu vou junto também. Como não tivemos aula de educação física devido à chuva, ainda tenho um pouco de energia.

Chitanda foi obrigada a vir comigo, como eu havia dito. E então...

— Hmm, acho que vou junto também. Vou ficar um pouco chocada se Oreki realmente conseguir resolver isso... Fuku-chan, você pode cuidar um pouco da biblioteca por mim? — disse Ibara, saindo do balcão. 

Satoshi pareceu surpreso ao responder: — Uh, tudo bem — e ficou em silêncio, enquanto caminhava de volta para trás do balcão. Já fazia um tempo desde a última vez que o vi triste.

Depois de ficarmos satisfeitos com os resultados que obtivemos, voltamos para a biblioteca.

— E então, como foi? — perguntou Fuku-chan.

— Fuku-chan, o Oreki é um pouco estranho.

— Claro que é, achei que você já sabia.

— Como ele consegue descobrir essas coisas...

Ela parecia incomodada, enquanto murmurava ‘Como…?’ 

Era como se ela estivesse olhando para um vencedor com uma aura brilhante, embora eu não pudesse brilhar sem um pouco de sorte.

— Estou realmente surpresa com Oreki-san. Estou muito curiosa para saber o que se passa dentro de sua cabeça.

Uma imagem de Chitanda fazendo uma lobotomia em minha cabeça com uma temática de mansão gótica durante uma tempestade noturna veio à minha mente como um flash. Apenas imaginar isso me deu arrepios. Embora não pudesse dizer em voz alta, a capacidade de Chitanda de sentir um cheiro tão fraco quando ninguém mais podia ainda era um mistério para mim.

— Se for o Oreki-san, então talvez ele possa...

Hã? Então eu possa o quê? Por favor, não me diga que eu poderia ser usado como ingrediente de algum organismo cibernético.

Enquanto trocava de lugar no balcão com Ibara, Satoshi perguntou: — Então, vamos ouvir a explicação. Houtarou, para onde vocês foram?

Apoiando os cotovelos no balcão, respondi: — Até a sala de Preparação Artística.

— A sala de Artes? Do outro lado do campus.

— Por isso que eu não queria ir.

— O que vocês encontraram lá?

— Escutem.

Repeti o que expliquei anteriormente para Chitanda e Ibara.

— Este livro é usado entre o quinto e o sexto período, todas as sextas-feiras, provavelmente durante esses dois períodos, no total. Primeiro, nenhuma garota teria utilidade para um livro tão volumoso durante o intervalo. Lê-lo está fora de questão. Além disso, esse livro é usado durante as aulas que envolvem diferentes classes do mesmo ano.

Meus pensamentos já tinham chegado a esse ponto, antes de serem interrompidos por Satoshi. Era pela mesma razão que Chitanda conseguia se lembrar do meu nome depois de me ver apenas uma vez. E onde ela teria me visto?

— Deve ter sido durante a aula de Educação Física ou Arte. Não importa como se olhe para isso, ninguém teria utilidade para ele durante a aula de Educação Física. Olhem para a capa do livro. Vocês notam algo acumulado nele? Uma tonalidade agradável? Essas cinco garotas o usam para suas lições e decidiram revezar quem o pega emprestado a cada semana.

Satoshi interrompeu e disse: — Mas eu não entendo por que elas o pegam por apenas uma semana. Quer dizer, você pode ficar com ele por duas...

— Pare de dizer a mesma coisa que a Ibara. Vocês dois passam muito tempo juntos, estão até dizendo as mesmas coisas. Satoshi, você conseguiria ficar com um livro que não tem intenção de ler? É claramente mais fácil devolvê-lo à biblioteca do que levá-lo para casa.

— ...Você tem razão. E o que vocês viram lá?

— Certamente você já deve saber. Pinturas feitas pelos alunos das classes 2-D, 2-E e 2-F, que têm aulas de arte juntos.

Lá havia várias pinturas do mesmo objeto, mas em estilos diferentes. Eram retratos dos colegas de classe, sentados em uma mesa decorada com um vaso de flores. E nas mãos das meninas estava nada menos que a elegante capa de — Colégio Kamiyama: Caminhando Juntos por 50 Anos. Era um desenho detalhado e artisticamente encantador.

— Incrível, Houtarou. E o que dizer do cheiro que Chitanda sentiu?

— O cheiro da tinta, é claro. Ela percebeu isso porque a sala de Arte está cheia de materiais de pintura.

Satoshi começou a aplaudir sem qualquer constrangimento.

Chitanda aprovou com um sorriso gentil.

— Sim, foi divertido. O tempo passou voando.

— Não sei quanto tempo se passou desde que começamos... mas não consigo acreditar que esse Oreki conseguiu resolver isso! 

Enquanto todos pareciam surpresos, eu permaneci indiferente. Ibara era a única que achava que tudo aquilo era estranho desde o início, Chitanda decidiu investigar por curiosidade e Satoshi apenas queria aproveitar o passeio. Eles eram todos diferentes de mim. Enquanto eles tinham uma catarse, comecei a me perguntar se eu teria uma reação semelhante ao adotar o Festival Kanya.

Como devo dizer... Ah, não importa.

A chuva parecia estar diminuindo. Acho que é hora de ir para casa.

Quando estava prestes a pegar minha bolsa, Chitanda me parou.



— Ah, nós não podemos ir sem esperar.

— O quê? Tem mais alguma coisa?

Percebi que Satoshi e Ibara estavam me olhando friamente. Será que eu disse algo errado?

— Oreki, por que você veio aqui, afinal?

Para resolver o mistério do livro popular que ninguém lê...

Não, espera. É isso! A antologia. 

Satoshi riu.

— Ah, vamos lá pessoal. Às vezes, o Houtarou fica com alguns parafusos soltos.

— Às vezes? Fuku-chan, você está sendo muito gentil.

Droga, fiz algo estúpido na frente desses dois.

Ibara parecia prestes a continuar quando uma voz veio de trás do balcão.

— Ibara-san, obrigada pelo bom trabalho. Você pode ir para casa agora.

— Ah, sim, é claro. Você também está indo, Itoikawa-sensei?

Era uma professora e, embora eu nunca a tivesse visto antes, sabia que ela era a bibliotecária-chefe. Para uma mulher que estava chegando ao fim da meia-idade, ela tinha uma estatura muito baixa. Bastou olhar rapidamente para seu crachá para descobrir seu nome completo - Itoikawa Youko.

Assim que a bibliotecária-chefe chegou, Satoshi imediatamente foi direto ao assunto.

— Sensei, eu sou o Fukube Satoshi, do Clube de Clássicos. Nós planejamos publicar um ensaio antológico e gostaríamos de ver os ensaios anteriores como referência, mas não os encontramos nas prateleiras. Então, queremos saber se podemos procurá-los nos arquivos?

— O Clube de Clássicos?... Ensaio antológico?

Itoikawa parecia surpresa. Provavelmente achou que o Clube de Clássicos havia sido desfeito.

— Vocês são do Clube de Clássicos? Entendo... Me desculpe, mas, que eu saiba, a biblioteca não possui essas antologias.

— Eh, nem nos arquivos?

— Não, não há nada assim lá.

— Talvez algo tenha sido esquecido...

— Eu não acho que isso seja possível.

Que estranho, ela respondeu com tanta firmeza. Não vejo motivo para a bibliotecária-chefe esconder algo de nós. Talvez os arquivos tenham sido atualizados recentemente?

Depois de receber uma resposta negativa, Satoshi não teve escolha a não ser desistir.

— É isso então? Entendo... O que vamos fazer, Chitanda-san?

— ...Isso é realmente preocupante.

Chitanda me olhou, com um olhar desanimado. Mesmo que você me olhe assim, não há nada que eu possa fazer além de dar de ombros.

— Tenho certeza de que, eventualmente, os encontraremos. Vamos para casa — Eu disse, peguei minha bolsa. 

Ibara disse, friamente: — Para você tanto faz, né? Está relaxado, depois de resolver um problema.

Só porque resolvi um problema, não significa que estou relaxado. Ibara, suas acusações não fazem sentido. Embora seja isso que minha mente está dizendo, é inútil dizer isso em voz alta, então dei de ombros.

— Sim, você está certa. Vamos para casa... Já conseguimos algo de valor.

Chitanda disse algo totalmente incompreensível.

De qualquer forma, nossos assuntos aqui acabaram. Coloquei minha bolsa sobre meu ombro e segui em direção à saída, descobrindo que a chuva havia parado e os raios de sol estavam brilhando entre as nuvens. Quando me virei para olhar ao redor, ouvi Chitanda sussurrando a mesma coisa novamente:

— Isso mesmo, se for o Oreki-san, talvez ele possa…



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