Filho das Cinzas Brasileira

Autor(a): Hiore


Volume 1

Capítulo 10: Cães do inferno

De repente, o som dos passos ferozes da matilha de cães do inferno alcançou os ouvidos de todos do grupo. No entanto, mal ele tiveram tempo para reagir ao som, e o monstros já surgiam em sua visão, correndo com uma velocidade incomparável.

Inconscientemente, todos do grupo deram passos para trás intimidados, menos Sophia que avançou de forma imprudente. Sentindo o perigo iminente, a garota extremamente confiante decidiu enfrentar como de costume: batendo de frente.

A tatuagem em suas costas brilhou, então ela acelerou desviando da mordida de um dos monstros e, em seguida, acertou um dos seus oponentes no pescoço, derrubando-o imediatamente. Ainda que o animal fosse resistente, ele não tinha qualquer forma de se defender contra o imenso poder de ataque da loira.

Seguindo com sua investida brutal, ele invocou suas esferas roxas, porém dessa vez duas delas se moldaram na forma de espadas, as quais ela empunhou rapidamente. Por fim, ignorando os avisos de sua professora que pedia por cautela, a garota avançou de forma agressiva mais uma vez.

Os cães responderam prontamente se afastando um pouco, era quase como se apenas instintivamente eles já soubessem do perigo que estavam enfrentando. Mais receosos, os bichanos observavam de longe, esperando o primeiro movimento de sua oponente.

Não tiveram que esperar muito, afinal a passividade não era uma das características de Sophia, quem novamente partiu para uma investida agressiva. Acelerando ao máximo que podia, tentou cortar um dos monstros a sua frente, mas ele desviou por pouco. 

Em seguida, dois lobos correram pelas laterais e lançaram bolas de fogo nela . A loira tentou se virar para eles, lançando uma de suas esferas de energia na direção deles, contudo aquilo era uma distração…

Booom!

Antes que ela pudesse reagir, outro ataque veio pelas suas costas, mas ela conseguiu escapar por pouco graças a sua incrível velocidade. Ainda assim, os inimigos não estavam dispostos a dar um segundo sequer de trégua, então mais ataques vieram.

De forma extremamente coordenada, os animais pareciam conseguir prever para que lado ela desviaria, para preparar ataques de acordo. Dessa forma, prendiam a garota num infinito ciclo de esquivas que rapidamente drenavam suas forças.

Diferente de todos os monstros e inimigos que tiveram que enfrentar até aquele momento, aqueles cães eram extremamente organizados e fortes. Pela primeira vez, a loira sentiu como se estivesse enfrentando algo perigoso. 

Então ela sorriu para o perigo.

Repentinamente, uma onda de adrenalina se espalhou pelo seu corpo rapidamente, suas pupilas dilataram, seus músculos ficaram tensos e uma onda de energia se espalhou pelo seu corpo. Rapidamente, a tatuagem em suas costas cresceu e ficou mais brilhante, seus olhos ganharam um brilho azulado, seus dentes e unhas ficaram levemente mais afiados e pequenas asas surgiram em suas costas. Todo o seu corpo estava pronto para a batalha em sua frente.

A quanto tempo ela não sentia essa emoção? O coração acelerado, a mistura de medo e excitação. Sophia só conseguia ativar suas habilidades ao máximo quando se sentia realmente tensa. E, ainda que negasse, ela amava o sentimento de poder que recebia quando usava suas habilidades até o limite.

Ela respirou profundamente e acelerou. Correndo ainda mais rápido do que os lobos podiam reagir, avançou. Com um corte giratório desintegrou a barriga de um inimigo; ao mesmo tempo, aproveitou o impulso para acertar um chute em outro lobo, quebrando seu pescoço imediatamente.

Os animais tentaram reagir se reorganizando, mas antes que tivessem qualquer oportunidade, a loira tinha lançado três de suas esferas matando mais inimigos. Ela sabia que tinha pouco tempo, por isso não poderia dar um segundo de trégua sequer.

Mantendo a ferocidade, ela derrubou mais dois inimigos, antes que os lobos fossem forçados a recuar um pouco. Em seguida, eles lançaram bolas de fogo a longa distância, desesperadamente tentando manter a garota afastada.

Infelizmente para eles, Sophia já estava muito acostumada a lutar contra chamas, por isso já tinha desenvolvido várias técnicas para evitar se queimar, além de naturalmente ter ganhado uma grande resistência ao calor.

Atravessando a parede de fogo como se ela nem existisse, parecia que absoluta nada podia parar a loira, que se mantinha com um sorriso relaxado no rosto. 

Então ela seguiu com o abate por mais algum tempo e ainda que a resistência dos animais fosse feroz, nem sequer conseguiram ferir. Depois de alguns minutos intensos de batalha, ela tinha derrotado mais 4 e, ainda que estivesse cansada, não mostrava nenhum ferimento grave.

Já ao longe, a plateia de humanos não sabia como intervir. Diferente da Sophia, nenhum deles era poderoso o bastante para resistir aos ataques contínuos de fogo. Além disso, como a garota destruía tudo ao seu redor enquanto lutava, seria necessário, para entrar no meio da luta, resistir tanto aos ataques dos lobos, como aos eventuais ataques da Sophia. Ou seja, restava a eles ficar olhando.

Então quando a loira já estava em meio de território inimigo e sentindo a exaustão retardar seus movimentos, mais um grupo de cães do inferno desceram pelas escadas. Ainda que ela já tivesse matado duas dezenas deles, ainda tinham muitos reforços e estava claro que ao longo do tempo ela seria derrotada pelos números.

Para piorar, os animais não dariam a chance dela descansar, aproveitando o pequeno instante de hesitação da garota para retomar a liderança. Em uma sequência incessante de ataques, os lobos conseguiram aos poucos cercar mais e mais Sophia.

Um pouco desesperada, a expressão da loira se tornou mais apreensiva, conforme ela tentava agressivamente retomar o controle do combate. Infelizmente, seus ataques mais lentos, já não eram tão eficazes e ela se sentia cada vez mais contra a parede.

Se vendo sem opções, a garota respirou fundo por um instante, então permitiu que seu poder fosse usado ao máximo. 16 esferas feitas de energia circularam, então giraram rapidamente destruindo tudo ao redor, uma técnica parecida com a qual tinha usado contra os monstros das sombras antes.

Naturalmente, os lobos foram forçados a recuar depois de perderem vários dos seus, ficando a uma distância segura. Aproveitando que os inimigos tinham se afastado, Sophia reduziu a intensidade da sua técnica para não se desgastar de mais.

A garota não era uma grande fã de táticas e costumava resolver os problemas de forma mais simples, por isso seu plano inicial tinha sido apenas tentar matar todos os inimigos de uma vez. Dado que isso não deu certo, ela tentou enganar os lobos, basicamente ela diminuiu muito o poder de suas bolas de energia, que continuavam a girar não para causar danos, mas apenas para assustar as criaturas.

Por sorte, a solução acidental que ele encontrou era bastante funcional, afinal os animais ficaram receosos de atacar tendo visto o resultado disso antes. Ao mesmo tempo, como a loira estava gastando pouco energia, ela conseguia descansar um pouco e se recuperar.

Ao mesmo tempo, a técnica era pelo menos forte o suficiente para se defender contra as bolas de fogo disparadas pelos cães, por isso a garota estava a salvo. Seria um pouco demorado, mas era possível se recuperar assim.

Sendo impaciente como de costume, assim que se sentiu recuperada o suficiente para atacar, Sophia partiu para cima. Talvez houvesse outras formas de acabar com aquilo, por exemplo, assustando os monstros, mas não era o estilo da garota.

Novamente com enorme ferocidade, ela começou a matar um atrás do outro. Já mais acostumada ao estilo de luta coordenado do grupo, ela conseguia com certa facilidade prever seus movimentos, o que facilitava a chacina.

Tentando se adaptar à situação, um dos cães, um que era um pouco maior, rosnou alto, então latiu passando alguma forma de instrução. Toda a troca demorou poucos segundos, então o combate intenso voltou ao normal.

Sophia ficou mais atenta de primeira, mas não notou nada de diferente na estratégia de seus inimigos, por isso apenas continuou matando um de cada vez. Depois de tanto tempo lutando, ela já estava cansada e queria acabar logo com aquilo, por isso exagerava um pouco esmagando tudo ao redor.

Ana, por outro lado, observando cuidadosamente a luta notou algo: convenientemente, os lobos pareciam escolher morrer numa posição específica. Para ser mais específico, eles repetiam um mesmo padrão de ataque, que resultava em um deles sendo morto por um chute e caindo um próximo do outro. Já os outros mortos no ataque, eram em grande medida desintegrados pelos cortes da Sophia, por isso não importavam.

Alguém poderia supor que eram apenas os instintos dos animais, que só sabia atacar de uma forma, mas isso seria subestimar a inteligência que eles já tinham demonstrado de forma clara.

Então o que poderia ser?

Naquele momento, uma possibilidade passou pela mente de Ana. Era muito improvável, mas ela não conseguia escapar da possibilidade, por isso reagindo de forma quase instintiva ela ativou sua habilidade, fazendo seu corpo invisível correr na direção da Sophia.

Poucos instantes depois, o líder dos monstros soltou um ruivo ensurdecedor, então todos os animais atacaram ao mesmo tempo a loira. Frente a isso, a garota sorriu, então Rapimanede lançou todas as suas esferas de energia para matar os monstros em sua frente.

No entanto, ao mesmo tempo, ela sentiu algo atrás dela: era a aura da Ana, junto com alguns cães que ela já devia ter derrotado, mas que se levantaram da morte para um último ataque.

Obviamente a garota não poderia simplesmente virar para trás ignorando os inimigos em sua frente. Pior do que isso, mesmo se tentasse, ela não conseguiria virar rapidamente para matar o animal que quase alcançava o seu pescoço.

Ainda assim, aquele estava longe de ser um desafio com o qual ela não podia lidar. Mesmo que já exausta, ela fez mais uma de suas bolinhas surgirem exatamente atrás da sua nuca, então desintegrou a cabeça do monstra que a atacava. 

O ataque tinha sido no último instante, o que permitiu que o lobo, com suas garras, ainda conseguisse fazer um pequeno arranhão nas costas da Sophia, o único dano direto que um deles tinha conseguido causar.

— Sophia, cuidado! — Finalmente a voz da Ana chegou aos ouvidos da garota, mas tudo já tinha sido resolvido.

Seguindo com sua implacabilidade, ela avançou com tudo, acabando de matar os inimigos em sua frente além de matar, em um instante, o líder deles que tinha se auto anunciado com seu uivo. 

Já os mostos que tinha se levantado ainda a perseguiram, mas eles não tinham qualquer capacidade de pensamento, atacando de forma simplista. Em instantes, ela conseguiu acabar de matar todos.

Por fim, a ameaça tinha sido neutralizada por apenas uma pessoa. Com certa facilidade, a garota demonstrou a diferença entre um gênio e pessoas comuns.

Então, mostrando seu grande sorriso de confiança, a loira fez um “V” com os dedos e disse:

— Acabou.

— Quantas vezes preciso te pedir pra ter prudência. — Obviamente, a professora não estava nada contente com sua aluna quase morrendo em um combate suicida.

— Relaxa, relaxa, não tem como eu ser derrotada. Só me deixa em paz ok. — Sophia seguiu andando e tocou levemente no ombro da mulher antes de seguir seu caminho a ignorando. — Vamos buscar os outros logo?

— Não me ignore, garota! — Michele tentou reforçar sua autoridade com um tom de voz mais firme e irritado.

De repente, a loira puxou sua professora mais perto pela roupa, então a encarou por alguns instantes antes de falar em seu ouvido em um tom baixo só para ela ouvir:

— Sabe muito bem que só teriam me atrapalhado, então me agradeça por salvar a vida de todos aqui. Não ligo de brincarmos de lutar em timinho quando a situação está controlada e segura, mas esse não era o caso. Então cala boca que estou tentando manter todos aqui vivos e não tenho porque obedecer alguém com a mesma patente que eu.

— Ei! Não brigue, por favor! — Assustada e tímida, Ana tentou intervir na situação.

Rapidamente a loira soltou sua professora, então sua expressão mudou em um instante de um olhar mortal, para um grande e animado sorriso. Tocando gentilmente no ombro da Michele, ela ofereceu um aperto de mão.

— Não precisamos brigar agora, né? — seu tom era amigável, mas suas palavras carregavam quase que uma ameaça. 

— Sim, a situação já está complicado o suficiente, podemos conversar sobre isso melhor mais tarde. — Sem muitas opções, a mulher aceitou o gesto.

 — Viu, já nos resolvemos, não precisa se preocupar. — Sophia gentilmente fez um cafuné na cabeça da Ana, que, por um instante, se assustou. — Não precisa ter medo de mim, eu não mordo.

— De-desculpa. — A garota desviou o olhar, o que fez a loira sorrir.

— Sabe, você é muito fofa, não consigo te odiar — Sophia pensou alto, — além disso, obrigado por tentar me salvar, aquilo foi impressionante, como conseguiu prever que aqueles trecos iam levantar de novo.

— Eu só supus que esse fosse o caso pelo jeito que eles estavam se organizando, não conseguia pensar em outro motivo, mas não fiz nada demais, no fim eu fui lenta demais, desculpa. Mais importante, como está seu ferimento?

— Já me recuperei, olha — Sophia virou de costas mostrando suas roupas rasgadas, não havia mais nenhum corte em suas costas, apenas uma pequena cicatriz que logo desapareceria. — Só é uma pena que aquele bicho estragou meu look.

Então o grupo estava pronto para seguir buscando os outros, então poderiam completar sua missão.



Comentários