Volume 1 – Arco 2
Capítulo 138: Quebrando Regras
Transbordou... O limite chegou.
Mentir para alguém de quem tanto gostava. Esconder algo tão íntimo da pessoa que jurava ser sua melhor amiga. Manter um segredo nas sombras por puro egoísmo e prazer individual. Nathaly cansou... cansou de mentir, ocultar e fingir. Não aguentava mais ver Nino agindo de uma forma em público e de outra quando estavam a sós.
O como ele parecia não se importar na escola, mas o como a amava enquanto estavam no mesmo lugar, sozinhos, se amando. O como era um excelente ator. O como não deixava-se sair do personagem e olhá-la. Dar um sinal. Um sorriso só para ela...
Não.
Nino, na escola, era Thales e Nino, Nino e Thales. Nos poucos momentos de permissão para banho de sol que recebia todos os dias, eram todos gastos inteiramente com Thales. Nem Nina, por mais que a Primordial não se importasse, podia aturá-lo em casa; já era suficiente.
Deitada na cama, desde que chegou da rua, não havia trocado de roupa. O terceiro esquadrão não recebeu outra missão no dia. Teve outra missão, mas foi no mesmo tempo, e o quarto esquadrão assumiu. O dia continuou normal. Os planos de ir à academia para trocar experiências com a amiga com menos conhecimento se seguiram... uma das coisas que a fez chegar ao limite.
Mais uma vez, precisou deixar Nina de fora. Precisou inventar uma desculpa para que não a acompanhasse na academia. Ficou mal. Notou que Nina tentou esconder um pouco da sensação de "troca", "substituição", tristeza.
Abraçava seu grande travesseiro com braços e pernas. Rosto triste. Olhos caídos em confusão, indecisão e medo... medo de também ser trocada, substituída e rejeitada, caso fizesse o que se ergueu para fazer.
ZrrTac
Tirou o suporte de velcro que prendia o coldre de sua pistola no seu suspensório de perna e colocou a arma sobre um criado-mudo ao lado da cama. O sobretudo já estava jogado no chão. Segurando o máximo de coragem que conseguia, parecia uma bateria de celular velho, viciada.
A cada passo, a coragem diminuía. Não tinha tempo... e não perdeu.
Segundos depois estava no elevador, subindo até o andar dos dois. Via os números mudando: 3... 4... 5... 6... Seu coração ficava mais rápido. Era quase um coral. O maestro era o número do andar; seu coração obedecia à ordem da velocidade dos instrumentos cardíacos.
A ansiedade chegou quase como um soco. Uma pequena ânsia de vômito que reprimiu fechando os olhos e tentando respirar... O andar chegou, a porta abriu e já conseguia ver a porta dos dois. Foi. Passos frouxos. Rosto medroso. Chegou. Mão trêmula...
Toc... toc...
Duas batidas hesitantes... não conseguiu apenas colocar a senha e entrar.
Segundos depois, a porta abriu. Seu coração parou e a alma quase saiu... Nina viu-a e entendeu tudo.
"Fudeu..." pensou, tentando disfarçar ao máximo seu nervosismo. — Nathaly, como va...
Nathaly, mesmo apreensiva, já não tinha mais volta. Entrou no apartamento sem responder à amiga, passando direto por ela e notando Nino no sofá, olhando na sua direção. Parou ao vê-lo, e logo escutou-o perguntá-la:
— Nathaly, aconteceu algo? — Nino levantou-se do sofá e foi até elas.
Nathaly não conseguiu encará-lo. Virou-se para Nina e, quase engasgando nas próprias falas nervosas e trêmulas, revelou:
— Nina, eu e o seu irmão estamos ficando há anos!
"Fudeu... Fudeu..." Nina ficou paralisada, sem saber o que dizer.
— Quê? Cê bateu a cabeça ou algo assim? — perguntou Nino, confuso.
Nathaly lançou o rosto na direção dele, as lágrimas já transbordando como uma represa sendo destruída.
— Vai negar na frente dela?! — exclamou com a alma.
— Não estou fic...
Pá!
Nino sentiu o impacto e manteve a cabeça inclinada, ouvindo os passos de Nathaly e seu choro enquanto ela se afastava. Decepcionada, saiu do apartamento sem fechar a porta com "calma". Nina tinha os olhos arregalados. Fez merda. Sabia desde quando tocou o celular dele pela primeira vez. Observou Nino em silêncio... mas não conseguia aguentar aquele silêncio opressivo.
— Nino? — chamou, mas ele a ignorou completamente.
Ainda vestia o sobretudo, espada e pistola. Mesmo que fizesse tempo que não usava nada na prática, era obrigada a usar aquilo assim como os outros. Mas, desde que chegou do campus, não havia tirado-os por preguiça do corpo. Mas o ódio e o desejo de sangue humano que corriam em suas veias eram insanos demais.
Arrancou do corpo aquela peça irritante prateada. Manteve a espada nas costas e saiu irritado na direção do quarto... Quando Nina pisou na porta do cômodo, Nino já havia desaparecido sacada à fora.
Não ficou sozinha. Tinha sua culpa lhe acompanhando "admirar" a vista da noite que sua sacada lhe fornecia. Fez besteira... Fez... Fez uma imensa. A brisa da noite balançava levemente seus cabelos.
Se virou, fechou a porta de vidro e decidiu dar um tempo para seu irmão. Sem saber o que fazer, deitou-se de costas na cama, tentando dormir... fechou os olhos (lado errado.) Sabia, mas também dormir sem as testas próximas era estranho demais.
Vrrrrrr! Vrrrrrr! Vrr...
Na manhã seguinte, não acordou antes do despertador como de costume. Forçou-se a um desmaio para conseguir dormir. Foi a forma de lidar com a culpa que conseguiu arrumar. Aquilo vibrando chacoalhava minimamente seu sangue. Era estranho, mas não gerava dor, só irritação.
Desligou.
Sentou-se na borda da cama. Não ver seu irmão ao seu lado era inquietante. Saiu do quarto. Passando pelo corredor iluminado pelo filtro das cortinas brancas, não via nada no sofá e muito menos a televisão ligada, como deveria estar. Chegou na cozinha e olhou na direção. Seu irmão não havia voltado.
Entrou no banheiro. Abriu a portinha do espelho e pegou uma escova de dentes. Seu rosto mostrava apatia, preguiça e um tom de irritação que aumentava a cada instante. Tocou o móvel, fechando-o lentamente.
"Ele passou a noite toda na rua..." — Que MERDA!
Bam!
Quase quebrou ao fechá-la. Colocou seu sobretudo e saiu do apartamento. Cuidou de seu hálito com magia. Fingir ser humana não lhe transformaria em uma.
Chegou à escola. Caminhava pelos corredores quando deu de cara com Alissa, que, ao vê-la, foi diretamente em sua direção. Nina ficou meio receosa do que Nino poderia ter feito, mas era o que ele não havia feito o problema.
— Sabe onde o Nino está? — perguntou Alissa, visivelmente irritada.
— Ele não veio? "Também não apareceu na escola..."
— Mandei mensagem para ele vir cedo hoje — resmungou, impaciente.
— Ele não é muito de usar o celular. Hehe...
— ...Vou ver o que faço — Alissa saiu, dirigindo-se às salas infantis.
Nina entrou na sala onde seu esquadrão aguardava por Alissa. Não olhou para ninguém, embora todos tivessem olhado para ela com cumprimentos de cabeça e rosto. Passou como se estivesse sozinha naquele ambiente. Foi direto ao fundo e se sentou justamente na cadeira que Nino usava antes de se tornarem oficiais, antes de ter que trocar de lugar com Thales para poder ver o quadro e Alissa.
Abaixou a cabeça. Deitou-se sobre a mesa e ficou assim.
Os outros não entenderam seu comportamento. O esquadrão era formado por seis pessoas, mas naquele momento apenas cinco estavam presentes; as cadeiras ao redor permaneciam vazias. Por que se sentar tão longe?
Nathaly tinha um tom triste em seu rosto. Viu a amiga se isolando e viu-se naquele lugar. Ainda sentia medo de ter estragado tudo, tanto sua amizade como seu amor. O combinado era manter segredo sobre tudo até que Nino revelasse à irmã. Quebrou isso e ainda bateu no amado.
Arruinou tudo?
Ergueu-se de sua mesa. Um ruído do metal arrastando-se de forma abrupta roubou um pouco a atenção dos outros, que olharam-na e acabaram piorando um pouco a situação da jovem, que não gostava tanto de chamar atenção. Ignorou de certo modo e foi até Nina.
Chegou.
Sentou-se na cadeira ao lado e arrastou a mesa, juntando-a com a dela. Nina sentiu o cheiro. Sabia que era Nathaly se aproximando. Mas quando ergueu os olhos, percebeu que era egoísmo demais esse "luto" e "sentimento de culpa" que estava impondo a si mesma. A culpa era sua (Óbvio.) mas quem estava sofrendo de verdade era Nathaly, não ela.
Era nítido pelos olhos cansados, manchados de tantas lágrimas derramadas durante toda a madrugada. Não dormiu, mas levantou-se e foi até lá, fingindo estar bem e provando a Nina que aquela humana era realmente muito forte. Não só de magia ou força física, que provou em treinos e encontros secretos.
— Ele não vai aparecer hoje, né? — perguntou Nathaly... a culpa exalava em sua voz.
Nina perdeu-se por um momento. O sussurro era para que os outros não escutassem. Quando os lábios da amada tremelicaram para começar a silabar, sentiu um aperto no coração ante a sentença que aquela menina iria lhe dar.
A culpa aumentou.
— Depois de ontem, ele saiu e até agora não sei onde está.
— Desculpa por não ter te contado antes; ele disse que falaria com você, mas estava demorando muito. Quando me negou ontem, acabei explodindo — Nathaly encostou-se na cadeira, olhando para baixo. — Desculpa mesmo. Eu sempre consigo estragar tudo.
"Eu é que deveria me desculpar."
Olhava-a, mas não conseguiu colocar em palavras. (Medrosa.) Seu ponto fraco, justamente algo que seu sangue mais desprezava. Não era por mal. Blacko se envenenou da mesma bebida, não bebeu tanto, mas queria. Nina bebeu muito e agora estava perdida. Nino lembrava o pai na juventude. Que juventude? Nascer querendo espalhar a desgraça por todo lugar?
Alissa entrou na sala junto com o professor Natanael.
— Então vocês dois estão juntos? — brincou Thales.
— ATÉ VOCÊ, MOLEQUE?! NÃO ENCHE MEU SACO! — Alissa gritou, olhando irritada para Thales.
Natanael riu levemente e depois ajudou a instalar o projetor para a aula de Alissa, que mostraria mais algumas ameaças foragidas por slide, agora com um foco maior em Calamidades.
Depois que Natanael instalou o projetor e saiu, Alissa mostrou uma imagem de uma anomalia e começou a falar sobre a Calamidade batizada de "Fênix", uma criatura semelhante a um pássaro de fogo que pode se transformar em uma figura humanoide.
— Não são apenas os Errantes que têm aparência humanoide? — questionou Samanta, intrigada.
— Não. Já mencionei antes, eu acho, mas as quatro classificações de anomalias padrão são apenas as mais conhecidas. Podem haver outras por aí. Esta, por exemplo, parece com um Errante, mas é uma anomalia capaz de se transformar; ela fugiu de mim em 2005. Matei outras duas Calamidades semelhantes, mas uma era de metal e a outra, elétrica. Esta, no entanto, dispara fogo. Não tenho imagens das outras, já que as destruí, mas esta foi fotografada enquanto fugia sem que eu percebesse.
— Tem mais algum exemplo? — perguntou Nina, com a voz um tanto erguida por estar distante. Alissa olhou-a diretamente e respondeu:
— Sim — trocou a imagem e mostrou Blacko. Nina olhou para a imagem, e Nathaly a observou de soslaio. — Esta é conhecida como "Espada Negra"; a única foto que temos é essa. Ela está em cima de um obelisco em uma praça de Belo Horizonte. Como podem ver, tem braços e pernas semelhantes aos humanos; uma Calamidade disfarçada de Errante. Mas relaxem, já foi morta.
A imagem não era muito boa. O sol atrapalhava, e também o equipamento datado da época. Mas mostrava os traços apresentados por Alissa, além de ser possível ver a espada sobre a qual Blacko estava agachado, embora não desse para ter certeza absoluta de que aquilo era de fato uma lâmina.
— Foi essa coisa que matou meu pai — murmurou Arthur, com o rosto sombrio, olhar meio caído.
Todos o olharam... mas Nina olhou-o diferente. Quase como se buscasse uma desculpa para ceifar aquela vida. Uma possível desculpa para eliminar quem tinha raiva apenas por ser apaixonado pela mesma menina que ela.
Vila Romana. R. Fábia. Nino continuava puto. Sua diversão noturna não supriu seu ódio. Matar insetos criminosos era prazeroso, mas havia virado entretenimento, e não algo que conseguia suprir sua sede... que só aumentava. Havia acabado de entrar na rua em questão. Caminhava anteriormente pela R. Cláudio. (Tanto nome pra rua...)
Uma manhã movimentada. Tudo aberto. Muitos carros estacionados, algumas pessoas fazendo suas corridas matinais sob a sombra das grandes árvores, que deixavam aquela rua um espetáculo para ser admirada por baixo. Prédios altos, outros mais baixos, um verde exuberante e seus típicos postes de luz com uma alta parte pintada de branco em suas bases. Quase um cigarro invertido gigante.
As pessoas o reconheciam, mas, com uma cara tão fechada, nem chegavam perto. Sem o sobretudo, aquele garoto com uma espada nas costas parecia muito hostil. Quase bufava. Mãos, como sempre, nos bolsos; olhar afiado em cada canto... menos um. Analisava cada inseto, procurando algum fazendo uma merda inaceitável para executá-lo... não achou... mas uma coisa — curiosa — o achou.
O sangue do Primordial vibrou um pouco mais do que sentia toda vez que o alarme do celular disparava. Um incômodo um pouco mais forte que o que fazia-o acordar antes do som irritante. Era curioso. O Pi... Pi... do micro-ondas causava essa mesma sensação, mas muito mínima, quase inexistente. Não foi o caso deste dia. Um grunhido agudo, quase como se um pássaro estivesse tocando flauta, ressoou pela rua.
— Screeee!
Vinha do telhado de um prédio alto, branco. Entre duas árvores, um tantinho espaçadas, Nino viu, sobre aquele prédio vizinho de um com uma estranha parte cilíndrica em tijolos laranja, um pássaro grande, duas vezes maior que o Herdeiro. A envergadura das asas passava dos quatro metros. Aquilo queimava. Suas penas... aquilo parecia metal esquentado ao limite.
Nino olhou na direção da Calamidade rancorosa. Fênix o olhava de volta, curiosa com aquele ser. Nem humano, nem anomalia. O que era aquilo? Sentia uma curiosidade para devorá-lo e adquirir poder, conhecimento, mais inteligência. Nino olhava-a com ódio, mas um pequeno sorriso se formou por ter um brinquedo para se divertir... deixou-se levar.
Todos saíram correndo. Uns, de medo do grunhido; outros, por terem visto a anomalia; já a maioria, por todos estarem correndo e não quererem pagar com a vida por serem curiosos de caçar o motivo do pânico.
Nino ficou parado, olhando-a diretamente, e a viu mover-se em uma velocidade alta. Uma que beirava a sua. Seu sorriso cresceu ainda mais, e viu-a lançar um golpe de asas no ar, disparando diversas penas queimando em vermelho quase neon.
Tchin...
Com calma, sua mão direita tirou a espada da bainha posicionada em suas costas, atrás do ombro direito... Caiu no bait. Sua lâmina foi na mesma velocidade, tocou a primeira pena, queria cortar aquele ataque no meio.
BOOM!
Ao toque... explodiu.
Crrchshcch! Bum!
A explosão do ataque assustou ainda mais moradores e civis que ainda estavam nas ruas vizinhas ao embate. Pessoas que não haviam visto Nino começaram a ligar freneticamente para a ADEDA, mas, com uma quantidade tão excessiva de ligações, Louis estava perdido tentando cuidar da barulhada em seu escritório. Mas não adiantava. Pessoas ligavam achando que ele era um adivinho. Como alguém não conseguia informar o nome da rua da própria casa? Nunca pediram comida? Sério?
Nino foi lançado com violência para trás. Varou todas as paredes e objetos até ir parar na divisa de Vila Romana com Água Branca, na rua de trás, na R. Coriolano. Nino parou seu voo forçado somente quando colidiu e entrou em um lugar cheio de bonecas estranhas.
Um lugar perfeito para algum diretor de cinema escolher qual seria o próximo boneco (Patético.) assassino dos cinemas mundiais. Não estava vazio. Claro, estava cheio de coisas estranhas, mas também de humanos. Adultos e crianças visitando o lugar, que abriu em um horário que não costumava, para uma excursão escolar de uma escola infantil.
Caído, sentado em meio aos escombros, Nino olhava na direção do buraco que fez em uma linha de diversos metros, como se nada tivesse acontecido. Não soltou a espada, segurava-a firmemente. Os civis do lugar estavam paralisados, com muito medo e assustados. Uma sussurrou "papai", queria-o para protegê-la. Queria o alicerce da segurança dentro e fora de casa... Nino também.
— Não é seguro. Saiam daqui — resmungou com muita indiferença.
Obedeceram.
Saíram do local e foram para onde faziam apresentações. Nino começou a se levantar com calma, mostrando para aquilo que as coisas ainda estavam começando... mas um negocinho fez o início calmo ser mais abrupto.
— Screeee!
Seu sangue deu uma pequena agitada novamente, e seu ódio ficou à flor da pele. Puto, soltou a espada quando viu que a força que fechou o punho a destruiria. A anomalia avançava em um rasante na sua direção, entrando no lugar em um ataque com as garras... ela viu, mas não teve tempo de desviar.
BAAM! CRASH!
Nino avançou com um soco queimando em uma intensidade maior do que o fogo daquela coisa e a acertou no meio da cara. Bum! Nino causou uma explosão de chamas no chão, onde sua espada estava, e arremessou na sua direção, recebendo-a em sua mão direita, ainda de costas. Guardou-a na bainha.
Abriu um sorrisinho.
— A vovó iria adorar provar esse frango frito. Vou provar por ela — resmungou, sua provocação arrastada. Rosto soberbo, empinado, com as mãos no bolso, olhando aquela coisa se erguer dos destroços que seu corpo deixou na parede do prédio em que colidiu.
— Grrrann...
A anomalia grunhiu, mas não foi em um tom agudo. Nino não sentiu nada, e então aquilo avançou em sua direção... mas o pássaro gigante que via mudou de forma, agora parecia um humano queimando. Nino ficou curioso. Aquela coisa avançou com um soco na direção do seu rosto, da mesma forma que ele fez com ela... Nino não fez nada... (Tsi...)
O soco acertou o rosto do Primordial, mas aquilo não passava de uma sombra, um clone feito com fogo, chamas em uma coloração perfeita usando a luz do sol para replicar o corpo do demônio.
A anomalia caiu.
CRECK!
Nino surgiu nas costas, com um chute no meio das costas da forma humanoide, quebrando a coluna e arremessando-a mais adiante... Regenerou-a instantaneamente. Nino sorriu novamente.
"Uma Ruína ou Calamidade."
Avançou correndo como um doente bêbado. Marcas de queimado eram deixadas pelas solas dos tênis de cano alto. Chegou com um pulo, aquela coisa desviou em uma esquiva para o lado, Nino golpeou com um chute... era um Nino falso.
BAM!
Acertou um chute lateral, a anomalia girou, e Nino desceu mais um chute, desta vez de calcanhar, acertando o topo da cabeça daquela coisa, quebrando o crânio e expondo o cérebro incandescente.
BRRUMM!
Aquilo se autoexplodiu, forçando Nino a ser afastado. Os danos em si próprio com as chamas eram uma melhor opção do que aguentar a pressão que era iniciada. Regenerou-se rapidamente, mas ter feito aquilo fez Nino lembrar-se de uma coisinha que estava com muita saudade de escutar, jogando com seu melhor amigo por tardes inteiras.
— VENHA ATÉ MIM! — o sádico gritou, disparando para frente duas correntes de fogo maciço. Aquilo era sólido e ainda derretia, saindo de suas mãos como parte do corpo. Pingos de lava e uma incandescência que aquela anomalia jamais alcançaria, mesmo sendo extremamente poderosa no sentido elemental e intelectual.
Não deu tempo.
As pontas pontudas, como lanças, pareciam vivas, indo na direção do humanoide, finalizando sua regeneração. Cortou a nuvem de fumaça preta, mostrando Nino do outro lado e o alvo ficando cada vez mais assustado ao perceber que não haveria tempo de sair do caminho.
PLOCH!
O impacto lançou o tronco para trás, o puxão o puxou novamente para frente e quase rompeu novamente seus ossos... Crash! Com um golpe rápido, conseguiu romper a corrente. Seu corpo ainda ia na direção, porém, livre... Livre?
Nino surgiu na sua frente, sorrindo como um lunático, encarando-o nos olhos enquanto vinha com um soco na altura da cabeça... desceu. O movimento sendo uma réplica exata do golpe que viu Thales realizar algumas vezes. BURRRNNN!! Queria o caos. Queria causar a desgraça àquela coisa... mas caiu no próprio bait.
O impacto do seu golpe, realizado para destruí-lo enquanto o humilhava usando o próprio elemento, não funcionou. Uma reação em cadeia imensa se alastrou... mas o tempo parou em seus olhos; tudo se movia com lerdeza. Menos o seu rosto, que virou-se à direita, vendo que uma mulher segurando uma criança no colo seria incinerada instantaneamente.
Nino não acertou a anomalia. Acertou um clone, e aquela coisa surgiu atrás de si da mesma forma que fez com ela... Nino pensava em centenas de coisas. Percebeu que aquela coisa estava aprendendo. Estava estudando e o copiando... mas isso era um foda-se gigante. Sua mente e sangue foram dominados por duas escolhas: deixo ou... salvo?
Não se importava em destruir todos os postes, carros, árvores, possíveis laterais de prédios. Não se importava com os danos que aquelas reações em cadeia criariam. Não sairia do seu bolso o dinheiro para reconstruir tudo. Daria tempo de sair da frente do chute que vinha reto na sua coluna e contra-atacar. Mas a voz de Marta dizia. A voz de Marta gritava, berrava. A imagem de Marta surgia, piscava. Trocava aquela mulher por ela, e a criança, por ele e Nina.
O ódio corroía. Eram só dois insetos. As mortes não seriam responsabilidade dele. Efeito colateral. Precisava acabar com o mal maior. Uma desculpa perfeita, até que, atrás daquela mulher, Nino viu Blacko... olhando-o nos olhos.
Escolheu. Puto... mas escolheu.
Lançou a mão direita, erguendo-a rapidamente, criando uma barreira maciça de pedra ao redor da humana com o menino, prendendo-a e, ao mesmo tempo, deixando uma porta do outro lado para sair após a explosão se alastrar... Mas isso...
CRECK!
...lhe custou a coluna, que dobrou sobre a perna daquela coisa. Nino olhou-a e voltou um chute na direção do rosto. BUM! Fênix não esperava um "humano" capaz de se regenerar. Não entendeu o chute... mas não precisava fazer escolhas como ele. No meio do caos, do mar de fogo que queimou tudo por muitos metros naquela rua, Fênix trocou-se de lugar com um clone, surgindo em sua forma de pássaro.
Ploch!
Surgiu com um ataque baixo, no tempo em que Nino tocou o chão com os pés e se regenerou. Agarrou a perna do Primordial, penetrando suas unhas grosseiras e pontiagudas na carne, carbonizando-a com seu calor corporal absurdo.
FUU!
Com um poderoso bater de asas, agora estavam no céu.
Nino se contorcia, ficou de ponta-cabeça, tentando se soltar com chutes da perna livre, mas a criatura permanecia firmemente presa. Cr-r-reck! À medida que subiam, Nino dobrou a perna presa em um ângulo impossível, quebrando os ossos. Tchin! Tentou um corte lateral na cabeça da Fênix, mas não teve sucesso.
O golpe encontrou o vento. Nino foi solto do nada. Fênix voltou para a forma humanoide, girando o corpo para que ele errasse o ataque; e quando Nino errou, a anomalia terminou o giro, vindo com um chute de cima, igual ao que Nino realizara na cabeça da Calamidade.
BAMCRECK!
Um chute em cheio no meio das costas desprotegidas pelo desequilíbrio repentino. Nino foi lançado com mais ossos quebrados na direção do solo. Sua regeneração o curou completamente antes, BOOM! do impacto tenebroso.
Uuh... Um lugar interessante. Bem espaçoso e grande. Allianz, o campo de treino da ADEDA paulista. Fênix, desde o início, tinha um alvo em mente. Ao ver Nino, deixou-o como alvo secundário e acelerou seu ataque, levando sua primeira presa para o local onde encontraria seu próximo alvo.
O estrondo da colisão ecoou por toda a escola. Foi tudo muito rápido. Louis mal havia acabado de juntar as informações sobre onde o ataque estava acontecendo. Os sons da escola e de sua sala abafavam o que seria possível escutar da rua, já que inicialmente Nino e Fênix não estavam tão distantes do campus.
Alissa continuava sua reunião normalmente, embora estivesse irritada por Nino ter desobedecido e não ido naquele dia. Mostrava uma outra Calamidade, mas foi interrompida pelo barulho e, com um olhar severo para seu esquadrão, ordenou:
— Venham comigo! — Todos pegaram suas armas e saíram correndo atrás dela. Alissa sabia que aquilo não podia ser um som vindo de treino, ainda mais que Katherine também estava em reunião com o quarto esquadrão. Não iria participar, mas iria assistir como o terceiro esquadrão lidaria com o que estava provocando tamanho barulho explosivo.
Fênix vinha com um rasante intenso, vindo certeiramente na direção de Nino, que se ergueu da queda com um rolamento, Tchin! desembainhando sua espada e cortando o ar na direção do pássaro.
Fênix mudou de forma.
Tin-CRASH!
Nino tentou cortar o rosto ao meio na horizontal, mas aquela coisa mordeu a lâmina e a fragmentou usando apenas os dentes. Nino olhava para ela enquanto os fragmentos do metal voavam, Fênix também.
BA-...
A anomalia girou e voltou com um chute muito rápido e violento no rosto de Nino, que bloqueou segurando com uma mão, Creek apertando a ponto de quebrar os ossos do calcanhar e os nervos virarem massinha de modelar.
Cr-r-reck-BUM!
Mas a criatura se dobrou na mesma direção, quebrando partes do próprio corpo e, principalmente, o meio da perna segurada, para lançar um chute impossível atingindo as costas de Nino, conseguindo romper alguns ossos, assim como os golpes do mesmo conseguiam.
Nino não a soltou, mas Fênix sacrificou o calcanhar para baixo, rasgando a carne para se soltar do Primordial e poder regenerá-la rapidamente.
BOOM!!
Nino foi arremessado para adiante, varando tudo em sua frente: um rombo imenso na arquibancada e na parede do estádio. Seu corpo pairava pelo ar de olhos fechados. Não havia desmaiado, mas o impacto colossal o fez ficar na linha tênue entre a lucidez e o imaginário, do sono e do acordado.
Tudo era branco. Nino em pé, em um quarto inteiramente branco. Parecia infinito. Quanto mais andasse ali, mais aquela coisa poderia se expandir. Um universo. Não havia fim... mas Nino não estava sozinho.
Havia uma espada de lâmina preta fincada em pé no chão da imensidão branca. Sobre ela, uma mulher pisava com os pés descalços no cabo da lâmina levemente curvada, maior que a katana que ele usava. Havia uma palavra gravada nela: Pur... Não conseguia enxergar o resto.
Estava na ponta dos pés. Mãos justas nas costas. Unhas pretas, naturais.
A mulher tinha a altura da Nina. Vestia um vestido gótico preto, dilacerado, mas não vulgar, mostrando o corpo. Cortes, rasgados, tiras, fitas. Um vestido grosseiro ao mesmo tempo que era leve. Uma mistura de casual com algo digno da nobreza. Os tecidos eram todos pretos, assim como seu cabelo, que, visto de costas, tinha o mesmo tamanho do de Nina. Embora fosse agressivo, era um bagunçado imponente.
A cor de pele. O corpo. Aquela mulher era igual a Nina. Mas então, a mulher começou a mover a cabeça, virando o rosto na direção de Nino... Era a cara de Nina. Os olhos eram os mesmos que os dela. Íris roxa... mas não era Nina. Era mais madura. Parecia mais, a...
— M-mãe...?
Não... Não era sua mãe. E com aquele olhar penetrando sua alma, obrigando-o a sentir medo de algo que nem sabia o que era, era explícito demais.
ACORDE!
Acordou com um sobressalto no peito. Aquele sorriso sádico era loucura; aquele olhar era perverso demais.
Se encontrava agachado... mas de pé, desafiando a física, estando na lateral de um prédio da R. Palestra Itália. Era como um pesadelo e sonho, mas isso nem fazia sentido. Seu sangue armazenava todas as informações que conseguia captar. Mas tudo que lembrava e sentiu na visão era muito nebuloso, confuso. Não se lembrava de aterrissar naquele lugar, que nem sequer foi arranhado com o suave impacto.
Mas sua paciência com o ser vivo que o esperava no campo já havia acabado. Queria só conseguir deixar sair um pouco do seu ser. Parar de só fingir ser um humaninho de merda que protege outros humaninhos sem poderes.
"Não usar o que você me deu, pai?... Que se foda!" A marca em seu pescoço surgiu, e sangue preto começou a escorrer pelo pescoço, pela intensidade que aquilo queimava dentro de si.
Vrrrrumm!
Antes mesmo de avançar de volta, todo o concreto e as vidraças de uma área de cinco por cinco metros foram arrombados, além de enormes rachaduras se espalharem pela parede do edifício, que não tinha nada a ver com sua raiva descontrolada.
Nino saltou. No ar, perdeu qualquer preocupação com regras. Foda-se Marta, Nina e Blacko. Sentia-se rebelde e com vontade de ser tão assustador quanto o que sentiu com o olhar da mulher em sua mente. O olhar de Alissa era insano, transmitia morte, assassinato, mas o da mulher de preto... era algo primordial, algo enraizado, existencial.
Criou uma espada com seu próprio sangue e girou no ar, deixando um rastro preto e roxo. Com um corte extremamente rápido, atacou Fênix, que desviou assustada pela nova velocidade em que Nino se encontrava.
BRUUMM!
A lâmina passou ao lado do corpo da anomalia, cortando o chão em um profundo rasgo.
Aproveitando a brecha, Fênix contra-atacou com um soco direto na cabeça de Nino.
BAM!
Ele desviou abaixando-se e respondeu com um chute vertical no queixo de Fênix, arremessando-a para cima. Transformando-se novamente em pássaro, a anomalia lançou um sopro de fogo em sua direção.
Ploch!
Sem hesitar, Nino arremessou sua espada, que cortou o fogo em dois, como Moisés no Mar Vermelho, e perfurou o queixo da Calamidade.
Ploch!
Não deu tempo de sofrer com a dor do corte. Nino surgiu com um salto, penetrando com um chute na abertura criada, antes de regenerar-se por completo. Prendeu-se e forçou a criatura a descer, PAH! até colidir contra o chão.
CRUNCH!!
Caída e forçada a permanecer no chão, não conseguia disputar força direta. Não conseguia empurrá-lo para se soltar do peso que o pé dele lhe causava, pressionando-a ao solo. Não podia se explodir. Estavam em contato direto; poderia destruir o próprio coração e acabar em um suicídio acidental... Seria melhor para si.
Prrch...
Nino penetrou os dedos com as unhas, que pareciam garras afiadas, acima do próprio pé penetrado na carne escaldante daquilo e, SCRRAAARRCH! puxou, rasgando a carne, rasgando aquela coisa em dois, separando as duas faces. Mostrando a forma humanoide dentro da forma de pássaro.
Ainda estava viva. O coração batia forte e acelerado; Nino ouvia e sentia fome. Seu rosto, olhar, sorriso. Aterrorizante. Macabro. Longe do da mulher, mas próximo demais da Fênix, tremendo de medo. Ploch! Nino penetrou com a mão esquerda o corpo do humanoide, puxando o coração quase explodindo de tanto bater de dentro, mostrando-o à anomalia, que quase se mostrava humana, começando a chorar por piedade.
Crunch!
Esmagou... rindo, sentindo e vendo a vida sair daquela carcaça. Ainda não se sentia satisfeito. Criou uma nova espada de sangue e ergueu-a para desintegrar aquilo com um só corte... mas o sangue lhe trouxe uma informação, trazendo com ela a lucidez.
Alissa chegou ao campo com o terceiro esquadrão.
Ao ver Nino com uma espada preta em mãos, travou com magia o esquadrão e se escondeu. Nino ouviu os passos próximos que o sangue alertou. Não sabia se alguém havia o visto. Alissa era extremamente rápida, não tinha como saber. Rapidamente desfez a espada e a marca em seu pescoço, voltando a um semblante mais tranquilo, que não combinava nada com toda a destruição deixada nas ruas e no campo.
Pah
Alissa destravou o esquadrão, e Thales caiu de cara no chão. A professora havia travado-o após o mesmo realizar um pequeno salto, para cair direto na entrada e avançar com mais clareza no alvo.
— Por que fez isso? — perguntou Thales, esfregando a cabeça, enquanto Samanta o ajudava a levantar.
— Nino matou a ameaça — "respondeu" Alissa, olhando preocupada para Nino ao lado do corpo da Fênix, agora sem vida.
Não foram apenas os membros do terceiro esquadrão que se dirigiram ao local; o quarto esquadrão e muitos outros alunos também foram e viram Nino diante do cadáver da ameaça Calamidade.
— Nino, você tá bem? — perguntou Alissa, com a preocupação evidente em seu tom de voz.
— Tô de boa, vou ir pra casa descansar um pouco — respondeu ele, tentando sair daquela situação provavelmente de merda em que se colocou com sua irmã mais uma vez.
— Você está coberto de sangue.
— Não é meu sangue — respondeu sem ânimo, virando-se e indo em direção ao buraco que se formou quando foi arremessado. Mãos nos bolsos. Parecia como era todos os dias, embora estivesse preocupado pra caralho com sua irmã. "Merda... Por favor, que ninguém tenha visto." Não ligava para si, não se importava com sua vida, mas com a vida da irmã... sim. Mesmo que tivessem a mesma, fossem a mesma pessoa, o mesmo ser.
Por sua parte, Alissa sentia-se estranha. Queria forçá-lo a abrir a boca sobre o que era aquilo, mas, ao mesmo tempo, não queria machucá-lo mais do que ele poderia estar sentindo no momento, após sua luta.
Nathaly começou a ir em direção a Nino, nem pensou. Só queria se desculpar e tentar consertar o que acreditou ter destruído para sempre, mas Nina segurou sua mão, impedindo-a. Olhou para a amiga; Nina olhava-a com um rosto estranho, embora superficialmente parecesse normal. (Culpa.)
— Melhor deixar ele descansar primeiro. Meu irmão deve estar com a cabeça cheia — sussurrou Nina, enquanto observava Nino se afastar.
Nathaly voltou o olhar ao Primordial de costas.
— Acho que você tem razão... — murmurou, sentindo dor a cada passo de distância que os dividia e aumentava.
Apoie a Novel Mania
Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.
Novas traduções
Novels originais
Experiência sem anúncios