Volume 1 – Arco 2
Capítulo 137: Aposentadoria
Com o fim da ligação, Alissa guardava o celular no bolso quando Nino voltou a olhá-la de canto. O silêncio dos dois, os sons das crianças escondendo o som do sobretudo sendo movido. Nino olhou-a diretamente e abriu a boca:
— O...
Fush.
Alissa tinha sua mão soltando o celular no bolso, mas virou só um pouquinho o rosto na direção de Nino, e o menino afastou-se, tentando proteger a cabeça o mais rápido que conseguiu. O olhar irritado dela se seguiu, vendo-o duas cadeiras para o lado, quase deitando de costas com receio de deixar a superfície da cabeça vulnerável.
Encararam-se por dois segundos em silêncio... Nino ergueu a mão esquerda timidamente, e Alissa permitiu:
— Diga.
Nino sentou-se normalmente.
— Por que me trouxe aqui? Eu queria ir com a minha irmã.
— Não perguntei nada — respondeu secamente, olhando na direção das crianças.
Nino aborreceu o olhar, encarando-a de lado, mas os lábios da mais forte voltaram a se mover:
— Eu queria ver como estava o treino dos mais novos. Mas não queria ver sozinha, então trouxe você — respondeu com mais tranquilidade, depois de se demonstrar tão fria.
Nino abriu um sorrisinho de canto.
— O que a falta de um namorado não faz com a pessoa, né? — brincou, fechando os olhos e erguendo uma mãozinha debochadamente... Uma sombra imponente tampou seu corpo... Coitado, nem conseguiu sentir o que surgiu diante de si.
— Professor Natanael, trouxe essa criança para treinar com as outras — disse Alissa, apontando para Nino, coberto de machucados e com vários curativos na cabeça, exibindo seu semblante estressado enquanto flutuava com a bunda empinada, devido ao poder de Alissa.
— Boa tarde, Srta. Alissa. Treino?... Parece que ele não está muito animado — observou Natanael, vendo o jovem adulto olhando-o como se fosse matá-lo de tanta raiva que emitia com o semblante aborrecido.
— Ele não precisa estar animado, só precisa obedecer — respondeu Alissa com firmeza.
— Tsc... — Nino virou o rosto, cruzando os braços, ainda flutuando com as pernas esticadas e bunda para cima.
Natanael riu da situação.
— E qual é o treino? — perguntou ele.
— Pensei em um jogo de pega-pega, mas com um alvo: Nino. Todas as crianças contra ele — Alissa sorriu de maneira travessa, como se estivesse planejando algo.
— Mas ele é o melhor classificado da escola. As crianças estariam em grande desvantagem — ponderou Natanael.
— As crianças podem usar magia, mas Nino não pode usar nada. E, se alguém conseguir tocá-lo, ele será penalizado. Vou amarrar seus braços e pernas com fita adesiva, e a cada toque, as crianças poderão escrever no rosto dele com caneta permanente.
— Virei uma cobaia de teste agora, é? — protestou Nino, com um tom de ódio.
— Tá com medo de perder pras criancinhas? — Alissa provocou, sorrindo de forma debochada e quase sádica.
— Óbvio que não! — Nino retrucou com um grito, o olhar irritado pela provocação. Alissa mantinha o sorriso, vendo que tocou com muita facilidade no ego do rapaz, mais uma vez.
Então... o treino começou.
Nino foi solto. Pés firmes no chão. Tédio exalado em seu rosto. As crianças avançavam e pulavam como loucas em sua direção, mas Nino desviava sem o mínimo de esforço. Ninguém além de Alissa o via se mover. Zoava os pequenos sempre sendo visto no mesmo ponto, parecendo um holograma, um fantasma, algo que era intangível.
...Alissa mudou o jogo.
FRUUST!
Invadiu a mente de um menino, analisando e vendo tudo que era possível fazer com o poder que o mesmo tinha. Em um dos avanços, que até então eram crianças brincando sem magia ou com magia bem fraquinha, Alissa intensificou a magia que o menino iniciou, e uma explosão de gelo com o máximo do poder atual do menino — embora fraquíssima — foi disparada no momento exato em que Nino retornava para a posição após desviar de uma menina.
Acertou.
Nino não sentiu dor e muito menos incômodo. Mas seus olhos conseguiam enxergar as entrelinhas daquilo. Aquela criança nunca conseguiria disparar algo tão rápido que ele não conseguisse desviar a tempo. Era tarde. Atingiu-o em suas pernas, prendendo-o em estalactites grosseiras da cintura para baixo.
Uma menina saltou na direção dele. Vinha com o corpo inteiro coberto em chamas, os olhos brilhando, os cabelos na mesma tonalidade daquele brilho branco. Diferente dos outros, ela usava uma roupa especial desenvolvida por Mirlim, após o pedido de Natanael por uma roupa que não fosse incinerada quando começasse a pegar fogo. Não controlava bem seus poderes, logo não conseguia manter suas roupas comuns seguras do próprio poder.
Nino ficou surpreso. Sabia que era Alissa.
"Claro que é ela."
Mas não tinha como provar.
Crash.
Com um salto rápido, desviou da cabeçada que a menina maluca iria atingir no seu peito e voou ao céu, olhando para baixo a mais de 70 metros de altura, continuava subindo. Os planos mudaram.
"Nina aind..."
Tap...
Olhava na direção da rua que ouviu Alissa comentar quando deu a ordem da missão ao esquadrão... Queria fugir e ir até lá, mas uma outra garota surgiu do nada, onde ele se encontrava nas alturas, e tocou-o no braço... Nino moveu seu rosto, com olhos arregalados, na direção da menina.
Desceram... Aterrissaram tranquilamente. A criança "usando sua magia de vento" para planar e Nino pousando sem nenhum fru-fru, somente pisando no chão como se a altura e a velocidade atingida na descida não fossem nada. Olhava profundamente para a menina... o rosto do Primordial não aceitava aquilo.
— O quê...? O-o quê...? De onde você surgiu, CAPEEEEETA?! — gritou raivoso, muito bolado.
Alissa apareceu sorrateiramente, com um sorrisão e olhos brilhando em malícia, atrás dele. Nino foi perceber só depois de surgir inteiramente enrolado em fita adesiva preta. Somente do nariz para cima era possível ver a pele. Virou um casulo. A boca foi tampada; Alissa nem o permitia protestar.
— Crianças... Rodada dois, VALENDO!! — exclamou ela... e do chão, forçando absurdamente para romper aquele material humano, Nino não conseguia. Alissa usava sua magia na fita, impossibilitando-o de sequer conseguir romper aquilo em pensamentos.
Caso fosse um humano, com a força que aplicava em suas tentativas, romperia a carne, fazendo os ossos cortarem a pele antes de se partirem com tamanha pressão. A dor lhe atraía. Sendo o que a causava, não lhe gerava. Poderia se explodir ou decepar-se, mas ali não dava para fazer tal coisa.
— HnumMNunMn!
Ficou no chão, completamente enfaixado, enquanto as crianças se aproximavam, com rostos ficando cada vez mais sombrios. Tentava gritar, mas o som saía abafado pela fita. Gemidos e grunhidos de pânico. Desesperado, se levantou como uma lagarta e começou a saltar, tentando sair de lá...
Pahf.
Não subiu mais que 10 centímetros do chão e caiu de cara. Alissa controlou o corpo dele, fazendo-o cair enquanto as crianças pulavam sobre ele. Logo depois, ela apareceu com 30 canetas, entregando uma para cada criança.
Nino olhava assustado, movendo a cabeça em negação. Testa suando frio, vendo aquelas crianças com semblante de atentadas vindo em sua direção com a ponta das canetas permanentes... Viu-se sendo rabiscado por todos os lados em sua cara, enquanto Alissa ria da tortura.
— Você que fez tudo isso, né? — perguntou Natanael, rindo e tentando disfarçar com a mão no rosto.
— Sim, e ele sabe que fui eu — Alissa respondeu com um sorriso genuíno, transbordando vitória.
Nino foi obrigado a passar por inúmeras "torturas" e atividades para ajudar as crianças no treino do dia. Isso custou horas... Horas... As crianças não quiseram ir embora com a liberação de Natanael e, para o sofrimento do Primordial, Alissa sugeriu mais brincadeiras. A noite chegou e, enfim, decidiu acabar com aquilo... mas, mesmo assim, não liberou Nino.
Na sala da mais forte, ela lia um livro de capa verde, sentada confortavelmente em sua poltrona, perna direita sobre a esquerda, sobretudo bem longe do seu campo de visão. Livro em sua mão esquerda, protegida por sua luva branca. Com a direita, segurava um canecão de café, saboreando cada gole com calma, da bebida que obrigou Nino a preparar.
Enquanto isso, Nino quase rasgava o rosto com uma bucha e detergente, desesperado tentando remover aqueles desenhos e rabiscos de sua pele. Dentro do banheiro, o som da água corrente indo embora produzia distração na leitura da mulher, mas ela não se irritou, pois valia a pena cada segundo que aquela "criança" sofresse.
— Precisava disso? — perguntou Nino, bolado, olhando-se no espelho e vendo que nada saiu.
Alissa riu alto.
— Aaah, para! Foi muito engraçado. Você perdeu para criancinhas — provocou, com o mesmo tom de deboche que aprendeu com ele.
— Seu rabo! Perdi porque você ajudou — resmungou de volta, olhando na direção dela.
— Faz parte, néé...? Acaba de limpar seu rosto e está liberado — respondeu ainda em deboche e nem olhou para ele, mesmo que sentisse que ele a olhava de longe.
— Vou limpar isso em casa. Mas me diz aí, por que quis assistir às crianças? Você não me respondeu sendo sincera lá.
— Não respondi? — perguntou, olhando-o curiosa. Nino ficou um pouco sem jeito quando ela se virou, mas tentou manter o mesmo tom anterior.
— Não.
— Como sabe que não?
— Você odeia gente fraca. E, mesmo que saiba que eu também odeio, você não iria se torturar para me torturar, perdendo horas assistindo aquilo.
— Hããmm? Como assiimm...? Essas crianças são o futuro do Brasil! Só estava vendo como se saíam nos treinos!
Um cego conseguiria ver o rosto surpreso e inocente de não saber mentir direito que aquela mulher estava fazendo. Nino percebeu a clara desculpinha e riu, respondendo:
— Mentirosa! Só quer se aposentar logo.
Alissa também riu.
— É isso que você pensa de mim? — perguntou, a voz embargada de um riso muito divertido.
— Talvez... — respondeu ele, desviando o olhar, estava meio tímido. — Bom, vou vazar, tchau tchau — completou e virou-se, tentando sair o mais rápido dali para que a mulher não mudasse de tom e o forçasse a ajudar na limpeza de toda a escola, sem poder usar magia junto dos zeladores naquela noite.
— Bye-bye — respondeu ela, voltando a atenção ao novo livro de amor bem clichê, que tanto gostava de ler e imaginar-se dentro.
Pouco tempo depois, Nino chegou em seu apartamento e encontrou Nina na cozinha, terminando de preparar o jantar. Ao vê-lo, Nina não conseguiu conter o riso. Nino, então, percebeu que tinha esquecido de limpar o rosto. Sua conversa com Alissa o fez esquecer-se completamente desse detalhe.
Passou a mão na face, limpando os rabiscos com seu sangue.
— O que aconteceu? — perguntou ainda rindo um pouco.
— Digamos que a Alissa não gostou das minhas brincadeirinhas e me usou de cobaia pras crianças — respondeu, fazendo uma careta imitando a professora. Nina riu.
— Já tô terminando, só esperar o arroz secar.
— Uhum... — murmurou preguiçosamente e foi até o sofá. Sentou e deu mais atenção ao jornal das oito, que Nina deixou passando enquanto preparava a janta.
Toc... toc...
Quando se deitou para relaxar um pouco, ouviu duas batidas hesitantes na porta.
Nino se ergueu, olhando na direção.
Nina caminhou até lá... e abriu.
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