Chamado da Evolução Brasileira

Autor(a): TheMultiverseOne


Uma Cidade Pacata – Olhos Voltados para Mim

Capítulo 149: Arma Biológica, Ato 4

— Que insanidade é essa?! — gritou o comandante da operação. — Estamos sendo atacados por nossos próprios aliados…!

A intensa troca de tiros e granadas mandou para o espaço os planos de fazer uma operação oculta.

— Senhor…! — chamou um dos homens, oculto atrás de um carro. — Não consigo contato com eles! Nem respondem aos meus chamados!

A população já começava a se acumular ao redor e as câmeras ao longe acumulavam múltiplas perspectivas, prontas para cair na internet quando a energia fosse restabelecida.

Eles só podiam cogitar o número colossal de teorias da conspiração e o tamanho do escândalo nascido dos poucos minutos de sobrevivência dos relatos na internet.

— A gente tá finalizado… A missão já é um completo insucesso…

O objetivo, agora, era o de sair vivo contra os antigos colegas de profissão, tomados por movimentos loucos e posturas bizarras.

“Alguma coisa tá acontecendo com eles…! Não é possível!”

Quando a atenção pareceu mais dividida entre seus homens e os soldados ladinos, o líder deixou seu esconderijo na esquina da rua, pronto para um golpe tático.

— URGH…! — Um disparo passou perto, formando um buraco na cerca da casa à esquerda.

Quase em reação reflexa, ele rolou pelo chão e se ocultou atrás do carro estacionado a cinco metros, seu coração a saltar pela boca.

“Eu subestimei o senso de atenção deles…!” pensou, tentando tomar ar.

Como esperado, o agente de comportamento diferente não desistiu — uma mulher, chamada Madelyne — e logo surgiu em busca dele, arma em mãos.

— Maddie…! — chamou, apontando de volta a própria pistola.

PAH! PAH! PAH!

Os três disparos rasgaram o torso da mulher em trajes táticos, sangue vivo a escorrer pelo tórax.

— Urrrrgh… — Ela gemeu, se debatendo no asfalto.

Dois outros tiros foram disparados contra seus ombros, em estratégia de contenção, provados inúteis.

— Santo Deus…! — O homem recuou, assombrado com a visão.

— HAAAGH…!

Mesmo atingida em locais-chave, Madelyne pareceu pouco incomodada, mostrando a ele o cano da pistola, dando um tiro.

— AAH…! Maddie…! — desviou por pouco da morte certa. — Aaaah…!

A visão frente a ele, vinda de um filme de terror, ficou pior quando, como se não houvesse o menor dano, ela se reergueu.

Uuuuuurg… — marchou em direção a ele, arma pronta para outro tiro.

— Não é… possível…

Ela tentou disparar, errando o alvo e acertando o chão, graças à bala fincada no ombro direito. Por um breve instante, a musculatura cedeu ao osso esfarelado, deixando-o vivo.

— Mas que porra é que tá rolando aqui?!

Ele aproveitou do curto intervalo e acertou um soco em cheio no rosto da colega, desestabilizando-a por tempo o bastante para permitir se livrar da arma com um chute.

— O que tá acontecendo com essa merda de cidade?! — questionou ao vento, fechando uma chave de braço em torno de seu pescoço.

— HAAAGH…! HAAAH…! — Ela gemeu como uma besta ao ter o pescoço prensado e a circulação de ar, bloqueada.

MADELYNE…!  — chamou, sem usar a forma carinhosa de antes. — SAI DESSA! SOU EU, O EDWARD…!

— HAAAAGH…!

Com um mero movimento do corpo inteiro, ela se desfez do peso completo do homem, fazendo-o cair de cara no chão.

— URGH…! — reclamou ao colidir. — Não é… normal…!

— GAAAAKH! — Ela caiu sobre o tórax dele, usando as duas mãos para sufocá-lo.

Surpresa maior veio quando os meros dedos ameaçaram esmagar a carne do pescoço, pois o ataque em questão não podia ser chamado de “estrangulamento”.

“De onde vem… essa força…?! HAAAAAAHH…!”

Edward podia tentar, mas qualquer força de suas próprias mãos sequer movia os braços de Madelyne, fincados tais quais duas estacas metálicas pesadas.

Era uma exibição de força sobrenatural, que, de tão intensa, bloqueou o fluxo sanguíneo e em questão de segundos, sua visão ficou turva.

”Ugh… Eu vou… morrer…”

Deixou de sentir as pontas dos dedos e os braços foram os próximos a ceder, os olhos se fecharam à força e a consciência se afastou.

PAH!

Até um tiro ressoar bem na frente dele.

— Senhor, eu vou te resgatar!

O agente de menor patente chutou Madelyne para longe, atordoada pelo tiro na cabeça. 

Massa encefálica sujou a estrada e o capô do carro, e o rapaz aproveitou o pouco tempo para puxar a arma e usá-la.

— Parece que o único jeito de lidar com eles… É destruindo com vontade!

A extrema mudança de temperatura foi a única coisa percebida, em meio à falta de oxigênio.

”Maddie…”

O estado mental desacelerado retardou suas reações, mas, eventualmente, Edward notou se tratar de fogo e os barulhos ao fundo, dos gritos de Madelyne, conforme queimava viva.

[...]

“São tiros…!”

O coração de Emily saltou pela boca com o pensamento de um novo risco a cair sobre Elderlog. 

— Eu preciso ir lá…!

No fundo, o pressentimento dizia se tratar de algo horrível e resolveu seguir sem questionar. Alerta, a jovem se encheu de ar, revigorada de forma estranha pela nova impressão.

— Tenho que descobrir o que tá acontecendo!

Ela correu apressada até a bicicleta deixada no outro lado da pequena estrada de terra; o combate não valia à pena, tampouco perder mais tempo parada.

— Droga… Droga! Droga…! — pôs o pé no pedal, quase caindo.

A segurança de sua família foi o primeiro pensamento. Mesmo em um dia de domingo, sua mãe gostava de sair e fazer compras e o mero pensamento de estar presa em algo inimaginável a abalou.

— Eu tô chegando…! — disse para si mesma, em máxima velocidade. — Eu não vou deixar nada de mau acontecer!

A pequena cidade já viveu tragédias demais, e com determinação renovada, ela se comprometeu de que iria impedir o surgimento de mais delas.

“Eu vou proteger esse lugar nem que seja com a minha vida!”

O barulho dos pneus aos poucos sumiram à distância, deixando para trás um traço de confusão, a recair nas feições do manipulador de fogo.

— Hein…? Mas…

Steve não entendeu coisa alguma dos últimos segundos. Primeiro, os dois trocam olhares e ela apenas o ignora, e depois…

— Ela vai embora… assim…?! — engoliu a saliva, em pânico mental. — Uuuh…!

Ele se sentia grato por não ter sido atacado; o Evans não confiava em sua capacidade de vencer, em especial depois de Emily ter socado uma bola de fogo.

Porém, até sobre isso ele tinha de admitir que existia estranheza, afinal, para onde foi todo o ódio e a determinação de vê-lo destruído pelo incêndio na escola.

“Quando ela me olhou, é como se tudo tivesse ficado diferente”, refletiu, lembrando da rápida troca de olhares. “Ela ainda tinha suspeitas de mim, mas…”

O verde dos olhos da Attwood nem de longe lembrou a vontade de matar presente antes de desfalecer.

“É como se eu tivesse olhando para uma pessoa diferente.”

Ainda ansioso demais para se mover direito, Steve focou os arredores da cidade e os distantes helicópteros.

— Fogo?! — exclamou, ao notar os arredores do hospital.

Uma pequena explosão deu à luz a uma cortina de fumaça escura. Mesmo se proporções pouco alarmantes, conseguia se destacar entre os coloridos das casas, chamando atenção ao perigo.

— Droga! Será que ela…!

— … Steve…!

O agarro firme no braço do rapaz o convidou a olhar para a esquerda, onde viu Ann, sentada e ativa.

— Eh?! Ann?! Não se levanta agora! Você desmaiou e…

— É, eu sei! — interrompeu de seu jeito característico, com a mão na testa e mau-humor típicos. — Minha cabeça tá doendo que nem presta…! URGH!

Bruta, ela balançou a cabeça algumas vezes e chacoalhou o cérebro, analisando os arredores ao fazê-lo.

— Cadê a Emily?! — perguntou, em estado de alerta. — Steve, cadê a Emily?!

— Ela saiu…! — disse o rapaz em resposta, levantando os braços para se defender. — Ela acordou um pouco antes de você, olhou para a cidade e… só foi embora! Nem eu entendi!

Tão logo ele terminou, a garota prendeu atenção no miasma escuro, quase invisível, vindo do centro de Elderlog, e sem perder tempo, saltou.

— Steve, a gente vai para lá — falou, séria. — Vamos, para o carro, agora!

— Ei, ei…! — segurou a jovem pelo braço. — Tem certeza?! Você acabou de acordar e…!

A GENTE NÃO TEM TEMPO, CARAMBA!  — esbravejou, ao topo dos pulmões. — Agora só vem comigo para a porcaria do carro e me ajuda ao invés de só atrapalhar…!

— Tch! — Ele mastigou outros argumentos, de punhos trancados para a súbita pancada. — Ah, tanto faz…!

Os dois entraram no carro e só ele se incomodou com colocar o cinto de segurança; não importava quantas vezes passasse por isso, nunca se acostumou com o jeito carrasco dela de conduzir.

— Então… — puxou a porta, certificado de estar fechada. — Se lembra de alguma coisa?

A marcha rangeu e quase quebrou ao engate.

— Não — respondeu, seca.

O volante girou em ré e a força colossal gerada o fez pensar que seria jogado para fora, caso a janela estivesse aberta.

— A Emily só saiu do nada… não disse nada, mal olhou para a gente… Uh… alguma ideia?

— Não.

O terreno irregular da Rota da Serragem fez o carro sacolejar e tremer, em relação à alta velocidade, tornando-o um pouco nauseado em questão de segundos.

— Uh… Ann…

Ele sabia não se tratar da pergunta certa a ser feita, tampouco se havia ficado louco demais para o próprio bem, mas quis fazê-la mesmo assim.

Então, o manipulador de chamas acumulou toda a pouca coragem, e…

— Tem algo que eu possa fazer para te ajudar com essa raiva…?

A ideia de morrer pelas mãos de Emily soou maravilhosa, em comparação à encarada massacrante que recebeu de resposta.

[...]

— Hehehe! Eu fiz muitos pontos! Adoro esse jogo!

Os corpos dos funcionários, pacientes e combatentes caídos sangravam em pilhas, espalhados pelos corredores antes brancos do hospital.

— Hmmm… Se bem que acabou um pouco rápido demais… Eu queria ter me divertido mais!

As luzes apagaram há algum tempo, mas isso não a impedia de seguir em frente, na busca pela dita pessoa pela qual devia procurar.

— Deve ser por aqui pertinho… — olhou as placas nas salas com curiosidade. — Ele disse o terceiro andar, que é onde eu estou, quarto 193, enfermaria 17… Vejamos, vejamos… Ah, ali!

Saltitou sobre a poça de sangue, vinda de um agente eviscerado. O rifle não adiantou da menor coisa, e depois de morto, menos ainda.

— Eu achei! Ehehehehe! — pulou até a porta e espiou para dentro. — Ah! Minha nossa, é você!

O quarto em questão era único, dotado de só uma pessoa. As janelas abertas deixavam entrar um pouco de luz, fazendo clara a presença jogada na cama.

— Isazinha! É você mesma…!

Anastasia correu até a menina de cabelos mais escuros que a noite, parando ansiosa do lado da maca.

— Minha amiguinha…! Senti tanto a sua falta, Isazinha! Eu tenho muitas novidades, sabia?! Tipo, eu matei um montão! E além disso…

Mas Isabella permanecia catatônica, admirando o teto com os olhos escuros, murmurando algo particular sob os lábios secos.

— … ly… Emily… Emily… 

— Hmm? Disse algo, Isazinha? — chegou mais perto. — Deixa eu ouvir melhor…

— Minha Emily… Emily… Minha amada Emily… — falava, sem parar. — Emily… Emily…

— Ah… entendi. — O semblante de Anastasia derreteu em certo desgosto. — Ela já passou aqui antes, né?

— Emily… Minha Emily… Só minha… minha Emily…

— Ugh… nojento. — disse ela, ao alto. — O poder dela me dá calafrios…!

Bastou admirar um pouco as condições e a menina de cabelos róseos entendeu o que necessitava ser feito, e sua missão ali.

— É uma pena que ela tenha derretido o seu cérebro… Sabe, eu bem que queria conversar sobre o nosso passado! Você não ia me reconhecer, mas, nós fomos grandes amigas, Isazinha!

As contenções e medidas paliativas para impedir movimentos excessivos a mantinham presa na maca, desconfortável.

— Deve ser cansativo ficar parada aí, né? Eu imagino! — sorriu. — Mas, deixa eu te ajudar! Hmm… o que será que vai bastar?

Anastasia se colocou para pensar, até a primeira possibilidade surgir.

— Ah, já sei! Isso vai bastar!

Ela mordeu o dedo mínimo da mão esquerda e o arrancou.

— Ótimo! É a quantidade perfeita! — comemorou. — Agora, Isazinha…

— Emily… Emily… Emi… — Foi interrompida pela súbita pressão ao redor de suas bochechas.

— Abra bastante e engula direitinho!

A rosada enfiou o dedo decepado garganta abaixo em Isabella, desaparecido com facilidade para dentro do sistema da menina.

— Missão completa! — bateu palmas contentes, espalhando sangue pelo coto do dedo arrancado. — Agora, é hora de voltar e…

Barulhos vieram de um ponto afastado do andar, em forma de batidas rítmicas; eram passos ágeis, subindo as escadas.

— … Eles querem um round 2…! — lambeu os lábios e sorriu, ansiosa. — No tempo certo…! Eu já tinha ficado entediada!

Depressa, eles chegavam mais rápido, como se cientes por instinto de sua localização, instigando-a a sair do quarto para recebê-los.

— Descanse bem para o remedinho fazer efeito, Isazinha! Agora, eu vou me divertir!

— Eu escutei algo! — disse uma voz masculina. — Naquela direção!

“Esses caras…!”

Ela saltou para fora da sala em imenso ânimo, carregando um sorriso largo para a trupe de homens no fim do corredor.

Yahoo! Eu tô aqui…! Me peguem se puderem!

— Alvo identificado! Homens, obliterar cada célula!

Os cinco agentes apontaram suas armas, bem diferentes de rifles, muito maiores e cheias de compartimentos. Juntos, eles pressionaram o gatilho, e uma grande labareda viajou pelo corredor.

“... Eles vão ser um desafio de verdade!” pensou ela, em êxtase.



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