Shelter Blue Brasileira

Autor(a): rren


Volume 1

Capítulo 1.4: Mundo ilusório

Enquanto eles caminhavam, se fosse parar para reparar, o parque era praticamente idêntico ao campus, exceto que as calçadas eram de tijolos vermelhos e, também, tinham um musgo que estava começando a se criar pelo local. Mas tirando isso, também valia a pena ressaltar, os diversos brinquedos feitos com tubos roxos, verdes e brancos, onde crianças brincavam acompanhadas de seus pais. Rie até deu um sorriso para elas e seguiu andando.

No entanto, o seu companheiro continuava a olhar para tudo ao redor, boquiaberto, como uma face curiosa, como se tivesse repleto de uma nostalgia que não conseguia conter.

 Jun, era aquele típico garoto bonito que tinha em mangá shoujo, que ela achava atraente. Aliás, o seu cabelo de um vermelho vinho, com mechas afiadas, penteadas para o lado, na quais quase tocavam os olhos, era preso na parte de trás, sendo mais comprido do que os garotos da sua idade costumam usar.

A camisa com gola alta, por debaixo do colete preto, lhe dava um ar de elegância. E por sinal, o blazer escolar branco era a única peça de roupa de cor diferente que usava. Ela, com certeza, se sentia atraída e o achava muito lindo, mas isso se tratava de algo que ela jamais admitiria, ou tentaria expor. Sua vergonha não deixava.

— Eu ouvi que você é a vocalista de uma banda…

— Você ouviu as músicas!? — Ela disse animadamente, em uma questão de instantes, sem ao menos deixar o garoto continuar.

— Bem, sabe… como eu posso dizer… É meio difícil encontrar uma banda que não tem nome…

E ao ouvir isso, não teve como Rie não se sentir levemente envergonhada. Ela até mesmo ficou passando a mão no cabelo para esconder sua expressão.

— É… Isso realmente é algo um tanto esquisito… Mas é bem fácil de achar pra falar a verdade, olha só! — A garota exclamou, pegando seu celular e mostrando para ele.

Rie pegou e mostrou o canal que possuía somente um ícone de flor. Ela pegou e foi deslizando e mostrando os inúmeros videoclipes que tinha animadamente. As pessoas ao redor passaram e soltaram risos em relação aos dois, no entanto, ela sequer se tocou que estava praticamente grudada no garoto e, até mesmo, possivelmente invadindo seu espaço pessoal.

— É uma mistura de pop rock, com eletrônica e um pouco de jazz… Mas em alguma parte também lembra um pouco a música clássica… — O garoto soltou esse comentário enquanto ela trocava entre vários dos seu vídeos, a surpreendendo no processo, pois ele conseguiu reparar nisso tudo sem mesmo conseguir ouvir direito.

— Então, eu realmente amo esses estilos. É tudo tão incrível!

— Tem um estilo bem marcante, até mesmo consegue incorporar as escalas nesses vários contextos juntos. Possui uma fluidez e técnica incrível, sem falar do controle de voz. Você realmente domina a linguagem musical… mesmo assim, é um desperdício…

A garota se afastou dele e então trocou um olhar confuso. Ao mesmo tempo que ela estava em choque com o tanto que ele mostrava saber sobre esse assunto, ela não conseguia saber o que realmente queria dizer. Será que estava falando que era ruim? Que ela era uma completa amadora? Um fracasso como cantora!?

Espera um segundo, ela já estava começando a se desesperar e inventar coisas. Era melhor só perguntar, antes de qualquer coisa:

— Como assim, desperdício?

— É um desperdício uma garota tão linda só postar música com imagens estáticas, quando tem bem mais pra mostrar.

E então a garota de cabelos brancos paralisou. Ela cerrou os punhos e ficou com os braços retos e estáticos, tremendo. Sua pressão sanguínea subiu e ela sentiu como se fosse explodir. Seu rosto estava tão vermelho que parecia estar torrando.

— Ah… Ah bem… obrigada… — respondeu como uma garotinha tímida ao receber um elogio de seu crush, mas esse ainda não era o caso. Ela rapidamente se recompôs e gesticulando seu dedo em círculos entrou em uma pose convencida — É que eu não quero que os outros escutem minhas músicas pela minha aparência, como se fosse uma daquelas idols chatas. Eu quero que escutem pela qualidade das minhas canções. Quero que minhas músicas toquem a todos.

— Essa é uma motivação forte… eu admiro isso… — O garoto então desviou o olhar para o horizonte. Ele olhou para o domo antes do céu, os polígonos trocam de cor e a sombra das nuvens do outro lado, então cobrem os dois. 

Uma brisa cruza por eles e Rie o observa os cabelos do garoto balançarem. Nas últimas palavras dele, de alguma forma, existia um certo peso? Sim, de fato tinha algum peso naquilo, mas por quê? Havia um certo tremor nas mãos dele e isso a tocava.

— Eu tenho que fazer algo antes que meu tempo acabe… — A visão de Rie então vai para mesma direção que a do garoto — É meio difícil de explicar, mas é isso…

— Ué? Eu achei que por causa da existência de academias como a nossa, não teríamos que nos preocupar com o campo de batalha ou algo assim até nos formarmos, não? — Ele a encarou confuso.

— Não. Não é nada disso… — Rie sacudiu as mãos tentando se explicar — Eu só acho que isso é algo preciso fazer logo, caso contrário, vou me arrepender se enrolar, sabe? Eu, pelo menos, penso assim… ou talvez eu apenas esteja parecendo boba demais com isso…

— Só seria se você realmente acreditasse que é bobo. Eu te entendo nisso, pois eu tenho o desejo de ir mais além do que tudo — As sombras deixam os dois e Jun coloca a mão na frente do rosto para se proteger da luz —, mas minha própria incapacidade e a falta de noção até onde posso ir, me atrasam. E no fim, me questiono o que estou fazendo.

— Hm… E o que seria conseguir ir mais além do que tudo?

O garoto de cabelos vermelhos volta seu olhar para ela e a encara fixamente. O vento se torna mais forte e faz suas mechas sacudir, e Rie sente seu coração palpitar em meio a temperatura gélida. Ele coloca a mão no queixo e bate o pé numa pose de quem estava pensando, até que finalmente anuncia o significado daquelas palavras animado:

— Algo como fazer com que esse mundo mude por inteiro. Essa é uma ideia que me anima, de algum modo…

— Cada vez mais enigmático — Rie deixava risos escaparem — Mesmo assim, o que você quer dizer com isso?

— Eu não faço a menor ideia, mas eu te mostro quando descobrir.

Muitas coisas nele a deixavam curiosa e, definitivamente, não havia como Rie negar estar interessada nele. Obviamente, havia outro motivo para ela ter feito aquele pedido de encontro para o Jun, sem falar dos outros mil que faziam o seu interesse. 

Aliás, de alguma forma, os dois eram iguais. 

E, de todo o modo, iria aproveitar esse encontro fajuto ao máximo, uma vez que era o primeiro que ela estava tendo.

— Mas e então? Por que um pedido desses tão de repente? — O garoto se espreguiça e estrala os dedos — Não me diga que se apaixonou à primeira vista por mim?

— O que tem? Uma garota agora está proibida de se interessar por um garoto e chamar ele pra um encontro?

— Respondendo fazendo outra pergunta, hein? Bem, de todo o modo você não negou, então acho que ainda estou no lucro.

— Sai pra lá! — exclamou Rie empurrando de leve o ombro de Jun.

— Hehe.

Desde quando Jun começou a sentir-se tão à vontade pra ficar nessa de provocar ela? Era impossível que Rie se deixasse ser levada por esse tipo de coisa, sem sombra de dúvidas… certo? Uma parte dela estava começando a ter questionamentos.

Por um lado ela entendia a razão dele estar agindo assim. Entretanto, ao mesmo tempo, também não poderia negar que era realmente muito estranho uma pessoa que recém conheceu chame você para sair, portanto, era de se imaginar que ele acabe pensando que haja algo de errado por trás. E nesse sentido estava correto, de fato.

— O capitão pediu para que te levasse até ele — disse Rie decidindo ir direto ao ponto.

— Então, agora mandar mensagens não serve mais. Tem que enviar uma escolta…

— Ué? E qual o problema em ser escoltado por mim? Você me acha feia?

— É claro que não.

— Desse jeito de falar… — O modo como ele reagiu à última pergunta de Rie, como se tivesse escutado algo absurdo, a fez ficar em dúvida — Isso seria um elogio!? — disse ela com um brilho repentino nos olhos.

E Jun permaneceu no mais completo silêncio. Será que ele ainda estava naquela intenção de provocá-la? Rie se perguntava, mas desta vez ficaria sem saber, pois suas fantasias internas foram rapidamente interrompidas por uma fala:

— De qualquer forma, você quer um sorvete?

— Hm… não me diga que você… — E os pensamentos animados ainda não saíram de sua mente.

— Bem, esse falso encontro tem que render pra alguma coisa, não concorda? — falou ele convencidamente, levantando o dedo indicador dando a entender que havia encontrado a incrível solução para esta situação. Rie o achou fofo.

Ela deu um sorrisinho para ele, assim fazendo com que o rosto de Jun ficasse curado, o levando a virar a cara rapidamente para o lado, agindo como quem dizia: “não que eu me importe”. Porém, continuou aguardando pela resposta da garota. Ao ver essa cena não teve como Rie deixar escapar um riso.

— Eu quero, sim. Muito obrigada! — E ela sorriu muito contente.

Ver esse lado mais tímido de Jun, com ele tentando disfarçar o que estava sentido, chegava a ser muito adorável. E ela, definitivamente estava se divertindo horrores com isso. Portanto, faria que nem ele e tentaria tirar o proveito máximo dessa farsa.

 

* * *

 

Após andarem por longos minutos no parque à procura do que desejavam, foi um choque completo ao encontrarem. Ao avistá-los, o vendedor da carrocinha de sorvete saiu correndo espantado.

A garota de cabelos brancos, obviamente, ficou totalmente confusa. Será que ele havia visto algo no rosto dela? Rie seria feia a tal ponto de fazer uma pessoa fugir aos trancos e barrancos? Inúmeras possibilidades absurdas se formavam e cruzavam por sua cabeça. O choque causado por esse acontecimento repentino a impediu de raciocinar com clareza.

Entretanto, todas suas dúvidas estavam prestes a serem respondidas de um instante para outro. Tudo começou com uma sensação de um pressentimento ruim e então, depois, por um som repetido que tomou o mundo à sua volta e começaram a preencher seus ouvidos até a parte mais profunda.

Um arrepio gélido a tomou dos pés à cabeça. Suas pernas começaram a tremer e essa vibração subiu até chegar em seus dedos. Sentiu uma grande tensão se formar em seus ombros, junto de uma força invisível que a impedia de se mover, mas mesmo estando sob esse estado de congelamento, conseguiu se virar para avistar o que tanto ansiava.

— Parados! Vocês estão presos por terrorismo! — Uma exclamação ecoou da boca de um homem que dá a dianteira entre os inúmeros que estavam atrás.

E assim, todo aquele sentimento de impotência de Rie se transformou na mais pura fúria. Estes soldados, nos quais vestiam armaduras negras, extremamente chiques e sofisticadas, empunhando espadas imbuídas por um brilho dourado e armas de fogo que deixava vazar a mesma luz da ponta como uma fumaça, eram quem estavam diante deles.

— Nossa! Como vocês são irritantes… — suspirando disse Jun enquanto dava um passo à frente, em simultâneo levantando seu blazer para o alto que balança no ar e leva a mão na cintura, indo em direção ao cabo da adaga na bainha escondida na parte de trás.

Uma onda de pressão se forma no ar e seguido de um estrondo, um projétil que brilhava na cor do ouro desenha uma linha feroz no ar. No solo ao lado do garoto, os tijolos de partem fazendo estilhaços voarem, assim criando uma pequena cratera onde leves ondulações de fumaça se dissolvem.

— Mova-se mais um mísero milímetro e isso irá acontecer com você! — Furioso advertiu o soldado arrogante que liderava seu exército de dezenas de homens.

Puxando o objeto que crescia conforme saía de dentro de sua proteção, a adaga da cor da noite se transformando. Uma forte pressão de ar se espalha por todas as partes, e o garoto confiante demonstra uma postura de combate apontando sua espada para os inimigos.

— Só vem! — Debochado, disse Jun fazendo o pequeno exército estremecer por alguns instantes.

No entanto, foi quando repentinamente Rie avançou em direção à ameaça. Ela levantou de leve a saia e sacou sua adaga presa nos shorts na lateral de sua perna esquerda, desse modo, revelando um lindo sabre branco com os contornos em prateado. 

Aponta a lâmina para o chão e uma linha de uma energia fosforescente de um azul safira a preenchem, assim, a imbuí e começa a jorrar de forma intensa. O fio toca a superfície e faz um rasgo com um jato de energia voando para o alto. A garota então move seu braço e um arco de poder preenche seu campo de visão e avança em direção aos oponentes.

O som de inúmeros tiros pode ser escutado. Rie sente a vibração dos disparos causados na terra ao redor, entretanto sequer chega a avistar uma bala voar no seu campo de visão. Apenas vê vários dos homens serem arremessados para trás por sua onda de poder e cair de forma lamentável.

— Deixa comigo que eu tomo conta disso — falou Rie entrando em postura de combate com suas ires sendo preenchidas por sua aura de brilho azul feroz.

 

* * *



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