Aspecto da Penumbra Brasileira

Autor(a): Acreano


Volume 1

Capítulo 4: Arranjos

Bem… Eles não são tão interessantes como imaginei.

O pai da fedelha tem os mesmos cabelos verdes que ela, já os olhos azuis vieram da mãe.

A única coisa que me surpreendeu foi a capacidade da mãe de manter o humor, ainda que tenha sido assustada a pouco tempo.

Sorrindo, eu me apresento formalmente, mostrando os estigmas dos meus olhos.

— Prazer em conhecê-los, meu nome é Frey Van Ashe como vocês já devem saber.

— Prazer! Meu nome é Maya Soutien.

— …… Eu sou Gael Soutien.

No fundo, vejo o pirralho perplexo com a revelação que devia ser óbvia. Mas me concentro no casal adulto.

Seguida pela mulher, o homem se apresenta. As suas aparências são bonitas, algo que não vi tanto na cidade enquanto estava no céu. Eles têm cheiros dispersos de muitas pessoas, despertando ligeiramente minha curiosidade.

— Vocês trabalham com o que mesmo?

Gael que escuta a pergunta de Frey, responde com um rosto pálido:

— Somos cabeleireiros…

— Oh! Vocês devem ser muito famosos.

Ele responde minha pergunta com uma expressão miserável, mas a sua esposa complementa minhas palavras.

— Sim, sim! Somos bem famosos na área neutra! Acho que é bom você cortar o cabelo, você tem um rosto interessante para esconder com esses cabelos!

Meus olhos se abrem ligeiramente com suas palavras. Eu nem estou tentando os tratar com gentileza, mas ela tem uma personalidade muito boa.

O pai esboça cansaço, mas não mostra ciúmes, como se confiasse na mulher. Eu já vi casais caindo por ciúmes, por isso é algo interessante ver suas relações.

Entendi como a fedelha conseguiu conquistar o coração que estava quebrado pela perda. Ver sua casa me fez entender que ele não superou a depressão.

Ela entrou para proteger quem ela amava e acabou virando o pilar da vida dele. Aprendendo com uma família gentil, ela cresceu bem. Uma pena que nem sempre é assim.

Sobre o meu cabelo… Tocando nele, sinto que pode ser bom cortar, já que é um pouco abafado, além do mais quero ver de onde vem a confiança dela.

— Então podem começar.

— Você vai se surpreender…

Sua voz cheia de confiança responde minhas palavras calmas, e ela continua suas palavras com coragem.

— Querido, pode começar!

“Hum? Essa foi sua confiança?”

Parece que minha consideração por sua confiança foi inútil. Imaginei que ela mostraria algo que me surpreendesse.

— Pode deixar comigo querida, me dar a tesoura.

— Aqui, ainda bem que trouxe.

Gael, que era um homem calmo até a pouco tempo, expressa sua voz com força de vontade, que faz Frey que o desconsiderou ligeiramente ficar surpreso.

“É como se fosse outra pessoa…”

Com a tesoura nas mãos, ele solta meus cabelos e pede uma cadeira e água para o pirralho, que a busca rapidamente, e ele a usa para umedecer meu cabelo que está seco e começa a cortar com habilidade.

Em alguns minutos sinto o vento refrescar meu couro cabeludo. Incrível a habilidade deste homem, acho que quando eu cortava os cabelos, eu nunca encontrei alguém tão habilidoso.

A voz do homem desperta meu estupor.

— Agora precisamos de um jeito de tirar os…

— Precisa não, eu faço isso.

Antes da conclusão, entendi o que ele queria dizer, então me levanto da cadeira, balanço minha cabeça em alta velocidade fazendo os restos de cabelos se espalharem.

— Pirralho, pega um espelho.

Alisson que ouve as palavras corre para dentro de casa com um rosto chocado e traz um espelho pequeno. Ana também mostra um rosto admirado.

Me olhando vejo uma aparência que lembra o rosto que tinha antes de fugir de casa, contudo existe um toque selvageria na minha expressão que adquiri na viagem.

O corte que ele escolheu foi um corte mais baixo dos lados e em cima maior, dando um estilo que nunca tentei usar antes, mas acho que gostei.

Acho que acabo tirando o crédito dos outros por analisar elas com meus sentidos. São poucas pessoas que se mostram mais do que aparentam, e parece que ele é um desses.

Se ele fosse um guerreiro, adoraria lutar contra ele. Me levantando faço uma proposta para eles.

— Que tal irem comigo no posto de entrada, pode ser bom conversarmos sobre o treinamento da fedelha.

— Uma pergunta! Porque você chama Ana e Alisson de fedelha e pirralho?

Enquanto estava me esticando para relaxar meus músculos, a mulher me pergunta algo, que respondo reflexivamente.

— Isso? Apenas quem recebe meu respeito tem os nomes lembrados por mim.

Não posso usar a minha memória para lembrar de qualquer um que vi. A partir do momento que eles ganharem o meu respeito, eu penso em lembrar dos seus nomes.

É algo relativamente novo, não quero ter dor de cabeça lembrando dos nomes, então chamo por como eles parecem para mim.

Suas expressões são complexas, mas não ligo e começo a falar:

— Vamos.

 

Nas ruas ouço sussurros e sinto os olhares. Eu escuto tudo que eles dizem, mas eles estão espantados com o meu corpo.

Me aproveitando do impacto inicial, eu reduzi a percepção subsequente dos dois casais. Da mesma maneira que usar o medo é válido para fazer inimigos cometerem erros tolos.

Gosto de caçar, já a matar sou indiferente.

Usando o medo dos bandidos, eles ficam mais instáveis, por consequência lutam com menor ênfase na economia e ainda aumentam os efeitos das minhas habilidades.

Se os lobos perdessem mesmo assim, a vida deles seria somente isso.

Tirando proveito do meu espírito fiz meu corpo parecer algo secundário.

O espírito da pessoa é o intangível de uma pessoa, então dificilmente é controlado, no máximo reduzido e ampliado.

Resumidamente, ele mostra algo que já existe. Uma pessoa boa faria alguém se sentir aliviado, já uma mal assustaria os outros. No meu caso eu faço que os outros me interpretem da forma que quero.

Ver o mar pode ser belo ou assustador, depende de quem ver.

— Fedelha, qual seu resultado na balança de Sigrid e Cristal de Urd.

Enquanto caminhava relaxado, eu perguntava para a menina que estava confusa com tudo que acontecia em pouco tempo, mas ainda assim ela dar uma resposta.

— MTG Médio e… Ar.

Ela demora na resposta final, por está envergonhada com seu atributo que é bem simples. A fedelha deve considerar incrível aqueles que têm atributos grandiosos como seus inatos. Entretanto, ser simples, não quer dizer que ele seja fraco.

Tudo depende do talento e criatividade dela. Com um clima leve eu expresso minha opinião.

— Certo. Existem possibilidades, depende de você não ser um idiota que nem seu namorado.

— Como assim sou uma idiota?!

O menino que estava quieto até ouvir minhas verdades levanta a voz, porém eu tinha uma resposta pronta.

— Eu cheguei na cidade e percebi que ela gostava de você e você procrastinou por anos. Ver os pais da fedelha é a prova que eles estavam cansados de esperar.

— Eh?!

Sua voz tola vaza, fazendo a menina que estava receosa se acalmar. Ela só possui uma opção para desenvolvimento, logo digo o seu plano de estudo.

— Fedelha, você vai virar uma maga, quando voltarmos para a casa do pirralho, eu vou explicar como você vai chegar ao extremo.

Os pais da menina que acompanhavam tinham expressões estranhas. Honestamente, acho que é o certo já que mostrei apenas os meus piores lados para eles.

Ao invés de mostrar as qualidades nestas situações, eu mostro o meu pior lado. Conhecendo o pior, a impressão de alguém dificilmente diminuirá mais.

Enquanto nos dirigiamos para o portão, um grupo de mercenários se aproxima, no entanto eu ignoro e um careca cheio de cicatrizes sai do grupo e vem até mim.

Ele é pouco mais baixo que eu, mas é bem alto para a média da cidade, com 1,92, ele se aproxima e fala com sua voz grossa.

— Vermelho…

— Fala careca.

Aqueles que me acompanhavam se assustaram com a aparência do homem. Eles deveriam saber que sou mais forte que ele, entretanto humanos julgam pela aparência. O careca contínua suas palavras sem se importar com minha resposta.

— Você é um mercenário?...

— Não sou mais.

— Ok…

Após suas perguntas, ele sai sem gastar mais tempo. Olhando de perto seu corpo, ele deve dar ênfase no treinamento corporal como eu, então ele se aproximou para me recrutar.

Eu decido explicar para os quatro que me acompanhavam.

— Ele só tem a aparência de mal, ele veio com objetivo amigáveis.

— Porque você respondeu assim?

Alisson que acompanhou toda a conversa, faz uma pergunta, que logo é respondida.

— Primeiro, eu fui mercenário por algum tempo nas minhas viagens, então conheço pessoalmente funcionamento interno deles.

Mostrar fraqueza pode prejudicar sua credibilidade com mercenários. Educação pode ser acompanhada de força, mas ele não parecia alguém tão versado com isso. Um dos seus companheiros que discutem missões apesar dele ser o líder.

Para eles, não é vergonhoso recrutar bons aliados.

Apesar de sermos divergentes, pelo o que vi, eles são um grupo promissor.

Com um sorriso no rosto chegamos no posto de entrada e um dos guardas que está sentados em uma cadeira percebe nossa aproximação e fica alerta, porém ele reconhece as pessoas ao meu lado.

Ele nunca me viu, sendo que dificilmente alguém me esqueceria, a não ser que eu fizesse uma abordagem com esse objetivo.

— Quem é você.

— Eu? Prazer, Frey Van Ashe.

Com um sorriso libero o estigma dos meus olhos, fazendo ele se assustar. Eu quero agilizar o trabalho, portanto coloco pressão sobre ele, para acelerar o trabalho.

Com a voz trêmula o guarda, diz:

— V-vou precisar chamar meu chefe.

— Pode ir, seja breve.

Se levantando da cadeira, ele corre para outro lugar, e eu que fiquei sozinho com os quatro aproveito para sentar na cadeira. Logo o soldado vem com um velho que olha para mim e se curva com respeito.

— É muito bom vê-lo depois de muito tempo.

“Hum? Ele me conhece pessoalmente?”

Sua reação me deu alguns indícios de que nos conhecemos, contudo, não consigo me lembrar dele.

Percebendo minha reação o velho começa a falar:

— Faz muito tempo para você, mas a 9 anos você me ajudou com bandidos no norte.

— Oh! Faz muito tempo em.

O norte do império Reich é um lugar lotado de bandidos, porque eles querem conseguir os metais que as nossas minas possem, e eu treinava com os cavaleiros naquele período.

Pode ser que ele tenha ido comprar um metal mágico de boa qualidade que dificilmente seria encontrado em outros lugares. Eu falo levemente pensando naqueles dias.

— Aqueles eram bons tempos.

Hoje, tenho 21 anos, mas aqueles eram meus dias mais inocentes.

Ao invés de pensar no passado, é melhor focar no presente e futuro, portanto chego direto ao ponto que é importante.

— Pode confirmar a minha entrada na cidade e enviar a mensagem para o diretor da Academia Plíris.

Minha chegada se deu pelo objetivo de entrar na Academia, mesmo que eu não saiba o motivo, eu vou ter que entrar. Invadir é uma opção, mas é melhor enviar uma mensagem antes porque o diretor também é um Mago Rank 7.

Eu derrubei um guerreiro Rank 7 com muita dificuldades e estratégias, ainda assim foi divertido aqueles dias. O vento dos golpes do Henry rasgavam minha pele. A voz do velho me tira dos meus pensamentos.

— Você vai virar um aluno agora?

— Pode ser, me atrasei um ano porque tava fazendo outras coisas.

Em primeiro lugar, nem queria vim para este lugar, mas já que vim, vou tentar aproveitar. Afinal, se eu não chegar logo no Rank 6, este será meu cemitério.

— Vou fazer o que posso.

Com sua confirmação, me levanto da cadeira e começo a sair do lugar acompanhado por um pirralho idiota, uma fedelha apaixonada, um pai caprichoso e uma mãe bem humorada e um gênio louco liderando o caminho.



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