Volume 1
Capitulo 3: Segredos de Família
O brilho dourado do Mauna pulsava pela sala, abafando cada som para quem estivesse fora. Mirror permaneceu imóvel, encarando Seth caído. A respiração dela estava entrecortada, como se brigasse consigo mesma.
Por fim, murmurou:
— Então é verdade… você não faz ideia de nada.
Seth tentou falar, mas o corpo não respondeu. Cada respiração pesava, a consciência oscilava.
Mirror se ajoelhou ao lado dele, hesitante. Tocou seu rosto, fechou os olhos e inspirou fundo. Um brilho carmesim se espalhou pelo corpo de Seth, devolvendo-lhe firmeza nos músculos, curando feridas e apagando a dor.
Ele piscou várias vezes até conseguir focar nela.
— O que… o que você fez comigo?
— Melhor?
Ainda trêmulo, Seth se arrastou alguns palmos para trás. O olhar era de pura incredulidade.
— Você tentou me matar. E agora pergunta como eu tô?
Ela fechou os olhos por um instante, como se aceitasse o peso daquilo.
— Eu sei. Não é desculpa, mas… se não fizesse nada, ia me sentir pior.
— Então pelo menos me explica. — A voz de Seth saiu mais firme, apesar do cansaço. — Agora!
Mirror ficou em silêncio antes de responder, num tom baixo:
— Se você fosse humano… aquele chute teria quebrado seu pescoço. E, por mais estranho que pareça, fico aliviada. Não quero matar alguém que não tem nada a ver com meus problemas.
— Eu realmente não entendo. Por que fala como se eu não fosse humano? Além disso, como fez essas coisas? Por que matar alguém que está envolvido em seus problemas?
— Sinceramente, não sei o que é pior: você não saber da sua própria raça ou não saber sobre o Kor.
— Ei! Por favor, explica logo!
— Seth, se fosse um humano comum, não teria velocidade pra reagir nem teria sobrevivido aos meus golpes. Você é um Aeternis, a primeira raça humanoide da criação. Talvez até a primeira de todas.
— Calma. Primeiro eu descubro que poderes existem, agora você me diz que eu sou um alien? — Seth riu de nervoso. — Isso tá errado. Eu sou só um humano comum, criado pelo meu irmão porque algo aconteceu com nossos pais.
— Teimoso mesmo, né? Acredite se quiser, não é problema meu. Mas é sério: você, sua irmã e provavelmente seu irmão não são daqui. Assim como eu.
— Então o que você é? Se não é humana.
— Uma Draconiana. Só que aprendi a transmutar pra essa forma porque é mais fácil me esconder.
"Isso explicaria o dragão saindo dela… Então ela tava falando a verdade? E os sonhos…?" — pensou Seth, sentindo a confiança no irmão rachar. — "Não. Primeiro preciso confirmar. Vou perguntar pra ele."
— Mas se esconder de quê!?
— Não é da sua conta. Não se envolva nisso. — a voz de Mirror endureceu. — Bom, e sobre os poderes… eles vêm do Kor, que é…
O som da porta destrancando interrompeu a fala de Mirror. Num estalar de dedos, ela desfez o Mauna: o dourado que cobria a sala se quebrou em pontos de luz que caíam como areia.
Quando a porta se abriu, o diretor entrou. Bastou um olhar para a bagunça e o rosto dele ficou vermelho, as veias saltando no pescoço.
— É SÉRIO ISSO!? — gritou. — Mirror! Eu te dei apenas um trabalho, que você disse que resolveria. Ainda te deixei trazer ajuda. Mas vocês conseguiram deixar a sala pior do que estava!?
— E-eh… desculpa! — Mirror corou, encolhendo os ombros. — Eu prometo que a gente vai arrumar tudo!
— Vou trazer mais gente pra ajudar, pelo menos pra adiantar hoje. E você aí… — o diretor encarou Seth, ainda no chão. — Se não for ajudar, não atrapalhe!
Assim que ele saiu, Seth e Mirror começaram a arrumar a sala em silêncio. Não se olharam, não trocaram palavra: ele digeria tudo que ouvira, ela carregava a culpa de quase ter matado alguém inocente por suposição.
Com a ajuda que o diretor chamou, conseguiram organizar boa parte do salão. Mesmo com alguns amigos de Mirror na sala, ela não falou com ninguém. Seth, por outro lado, tentou interagir aqui e ali, ainda que de forma hesitante.
O serviço se estendeu mais do que esperavam, e quando finalmente terminaram, já tinha passado um pouco do horário normal de saída . O sinal havia tocado há um tempo. Seth foi o primeiro a sair, apressado, correu até sua sala para pegar suas coisas, decidido a contar tudo à irmã.
Ao chegar, encontrou a sala vazia. Todos já tinham ido embora, mas sobre sua mesa estava a mochila arrumada e um bilhete:
Seu idiota! Tá demorando muito e o professor liberou a gente mais cedo. Já arrumei suas coisas, então vem logo enquanto eu ainda tiver paciência pra te esperar no portão!
Seth deu uma risada curta ao ler, reconhecendo de imediato a letra da irmã. Colocou a mochila no ombro e correu pelos corredores, que já estavam quase desertos. Quando saiu, o sol já se punha e o pátio estava banhado pelo tom alaranjado do fim da tarde. Laly o esperava do lado de fora.
Assim que ele chegou, Laly cruzou os braços, arqueou a sobrancelha e bateu o pé no chão num ritmo impaciente.
— Demorou demais! Quase te deixei e ia embora!
— Desculpa, a sala tava uma zona, tá? Queria ver você tentando arrumar aquilo!
— Sei… certeza que aproveitou que ficou sozinho com a Mirror pra fazer coisa errada. — Laly levou os dedos à boca e abriu um sorriso malicioso.
Mas, ao ouvir o nome de Mirror, Seth não reagiu como de costume. Em vez de corar, o semblante relaxado se fechou, os olhos voltaram ao mesmo ar distante que carregava o dia inteiro.
— Seth? — Laly deixou o tom brincalhão cair. — Ei, era só uma piada… você parece preocupado.
— Não é esse o problema, Laly. Vamos andando. Eu te explico no caminho.
Enquanto caminhavam de volta para casa, ficaram um tempo em silêncio, até que Seth decidiu falar:
— Laly… você acreditaria se visse coisas impossíveis e logo depois descobrisse que existem seres de outros mundos… e que a nossa família é um deles?
— Mano, do que você tá falando?
— Que talvez existam coisas que o Green nunca contou pra gente. A nossa origem pode ser uma delas. Hoje eu vivi e ouvi coisas que… mesmo sem dar certeza, me fazem acreditar que vale a pena questioná-lo.
— Pera aí… você tá me dizendo que a gente é alienígena?
— Não tô dizendo que somos. Só que é possível.
Laly levou a mão à boca para segurar a risada, mas não resistiu. Ela ainda ria, mas no fundo o tom soava mais como defesa do que pura zombaria. — Tá bom, tá bom… você precisa de ajuda médica urgente, Seth.
— Pode levar o que eu tô falando a sério?
— Difícil, se existissem aliens e a gente fosse um deles, você acha mesmo que o Green ia esconder?
Seth suspirou, frustrado.
— Então vou te contar tudo o que aconteceu.
— Vai, me convence.
Enquanto andavam, Seth contou tudo: o dragão que viu de manhã, a conversa com Mirror, o que ela disse sobre eles e até o sonho daquela noite. A expressão de Laly foi mudando aos poucos, mesmo que ainda tentasse rir daquilo.
— Tá bom, Seth. Você venceu. Eu continuo achando que você tá maluco, mas vamos perguntar pro Green. Assim você vê que só tá imaginando coisa.
— Finalmente! Mas por que mudou de ideia?
— Nada demais… só quero te provar que tá errado. — Ela forçou um sorriso.
— Espero que eu esteja. De verdade.
— Quando descobrir que tô certa, vai me pagar um lanche.
— Fechado.
— Mas e se o Green realmente souber? Como você vai fazer ele falar?
— Simples: vamos insistir. Se for preciso, até perguntar sobre os nossos pais. — Seth a encarou firme.
Laly suspirou e apenas concordou com a cabeça, então, seguiram de volta para casa, prontos para confrontar Green.
Ao chegarem em casa, o silêncio dominava o ambiente familiar. A sala de estar, a cozinha, os corredores — tudo parecia normal, mas para Seth havia um ar de falsidade.
Ele se sentou no sofá, aguardando. Já Laly se mostrava inquieta, andando de um lado para o outro e mordendo o lábio inferior, mania que trazia desde criança. Seth a observou e, só para provocar, disse:
— Por que tá tão nervosa, se não acredita?
— Bem, eu… eu… Vai que ele se irrita com a gente? Ele nunca gostou de falar dos nossos pais.
— Sei… Mas tenta se acalmar. Faltam alguns minutos pra ele chegar.
— Tá, mas e se você estiver certo? Mesmo que eu ache impossível… e se for pior do que imagina?
— Melhor saber a verdade do que viver na mentira, não?
Antes que ela respondesse, o ranger da porta se abrindo interrompeu a conversa. Era Green, que entrou já sorrindo vendo os dois juntos:
— Que milagre vocês dois aqui na sala! — disse com a voz calma e reconfortante de sempre. — E aí? Vamos comer? Trouxe pizza!
Laly se sentou ao lado de Seth, enquanto Green se aproximava. Logo percebeu a irmã mordendo o lábio e Seth desviando o olhar, manias antigas que denunciavam nervosismo.
— Aconteceu alguma coisa com vocês?
— Então, Green… o Seth tá com uma dúvida, sabe?
— Ah, pode falar. O que foi, Seth? — disse ele, sentando-se na poltrona.
Seth respirou fundo.
— Green… por que esconde de nós a nossa verdadeira origem?
Green arqueou as sobrancelhas, tentando rir, mas a voz soou forçada:
— Que história é essa, irmão? Vocês deviam parar de inventar coisas.
— Não tô inventando nada! — Seth se levantou do sofá, os punhos cerrados. — Então responde: o que é um Aeternis? Quem são nossos pais? O que é o Kor?
O sorriso de Green desabou. Ele desviou o olhar, o silêncio se arrastando.
— Eu… não sei do que vocês estão falando. E sobre nossos pais… já disse mil vezes, não quero falar disso.
Seth avançou um passo, a voz trêmula entre raiva e desespero:
— Não mente pra gente, Green! Se não sabe, por que ficou desse jeito? Se não esconde nada, olha nos meus olhos e diz!
Green passou a mão no rosto, como se buscasse tempo, mas nenhuma resposta.
— Viu Seth? Ele não sabia de nada! Eu falei que você tava imaginando coisa, agora vai te que me pagar um lan…
— Não é bem assim Laly… — disse Green, encarando o chão.
Laly olhou para seu irmão mais velho, sem conseguir acreditar no que ele estava dizendo.
— Como assim Green!? Você tá brincando né?
Green passou a mão no rosto, respirando fundo. O peso da mentira parecia esmagá-lo. Finalmente, murmurou:
— Eu… eu queria contar. Mas não desse jeito, não agora… Mas acho que não tenho mais escolha.
Seth sentiu seu corpo inteiro gelar por alguns segundos, então voltou para o sofá junto de Laly, em completo silêncio, encarando Green.
— Mas antes de qualquer coisa, vocês realmente querem saber?
— Sim! — responderam com firmeza em sua voz.
— Tudo bem… Então eu vou contar…
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