Volume 1
Capitulo 2: Sombras da Origem
O intervalo continuou ao redor de Seth, o calor do sol, as vozes animadas dos alunos, mas tudo parecia distante, até mesmo a voz de sua irmã que tentou o chamar várias vezes. Ele permanecia paralisado, tentando processar o que havia testemunhado.
Laly, ao perceber que o irmão não respondia e sem entender por que ele mantinha o olhar fixo no terraço, começou a perder a paciência por estar sendo ignorada. Para chamar sua atenção, gritou:
— Ei, tá surdo ou só tá me ignorando?
Então Seth piscou várias vezes, como se despertasse de um transe, voltando à realidade de repente. Os sons ao redor irromperam de uma só vez, quase ensurdecedores, depois de minutos perdido em seus próprios pensamentos.
— Você viu aquilo? — perguntou com a voz ainda embargada.
— Aquilo o quê? Você agindo de um jeito estranho?
— Um dragão! — respondeu, se aproximando de Laly e baixando a voz — Ele era gigante! Feito de sangue… Além disso ele tava saindo de uma garota de cabelo laranja! Eu juro!
— Um… Dragão? Tá me zoando né?
— Não!
Laly tentou segurar a risada. Mas não conseguiu após ouvir as falas de Seth, então explodiu em gargalhadas:
— Sério isso? Um DRAGÃO saindo de uma garota no terraço? Tá bom Tolkien, viu Hobbits também?
— Ei! Eu tô falando sério! — corando, com uma mistura de frustração e embaraço.
— É claro que tá… Seth também olhei pro terraço, pra tentar entender o que aconteceu, mas não tinha nada lá.
Vendo que seria inútil tentar convencer Laly, Seth desistiu. Sabia que ela não o levaria a sério até que conseguisse provar o que tinha visto. O intervalo seguiu normalmente, embora Seth não parasse de repetir aquela imagem na cabeça, buscando entender o que foi aquilo. De vez em quando, Laly fazia piadas sobre o que ele havia dito, o que só aumentava sua frustração.
Durante a volta para a sala, após o fim do intervalo, Seth seguia em silêncio, andando no automático. O mundo ao seu redor parecia desfocado, naquele momento, nada importava além do dragão e da garota. Algumas perguntas passavam pela sua mente:
"Quem é ela? Eu tava alucinando? Não! Eu já vi ela antes!"
— Quer saber de uma coisa? Vai sozinho na frente! — disse Laly, com os braços cruzados e o cenho franzido. — Já que vai ficar me ignorando assim, não tenho por que continuar aqui. Na sala a gente se fala se você tiver normal.
— Ah… desculpa, não percebi que tava falando comigo. Mas tudo bem, na sala a gente se fala…
Então, Laly saiu irritada de perto de Seth, cansada de ser constantemente ignorada pelo irmão.
Ele seguia pelo corredor, sozinho, em passos lentos e ainda imerso em pensamentos, até que algo chamou sua atenção, trazendo-o de volta à realidade. Uma garota de cabelos laranja vibrantes, usando o uniforme escolar vinha pelo lado oposto do corredor. Ele a reconheceu imediatamente: era a mesma garota que tinha visto no terraço.
Ao se cruzarem, Seth não resistiu e a encarou. Seus olhares se encontraram, pois assim como ele, parecia querer olhá-lo nos olhos, o que deixou Seth nervoso, mas aumentou sua certeza principalmente pelo vermelho sangue dos olhos, que transbordavam agressividade.
Ainda em choque, Seth correu para a sala, agora certo de que não estava imaginando coisas. Ao chegar, permaneceu imóvel em sua mesa, esperando que a irmã retornasse. Precisava da ajuda dela para confirmar quem era a garota e talvez provar a ela com um nome de que não estava ficando louco.
Ao passar de poucos minutos, que pareceram horas para Seth, Laly finalmente voltou para a sala e foi novamente tentar falar com seu irmão, na esperança de não ser ignorada de novo:
— E ai? Como você…
— Eu descobri quem é a garota, mas não sei o nome dela!
Laly deu um suspiro cansada pela insistência do irmão no assunto, mas ao mesmo tempo não conseguia ignorar sua curiosidade em saber quem seu irmão acreditava ter visto.
— E então? Só descrever, eu te falo caso eu conheça.
— Bom, ela tem cabelo de tamanho médio, a pele bem branca, o cabelo laranja vibrante e os olhos vermelho-sangue, e…
— Espera! A Mirror? Do terceiro ano?
— Mirror… Isso! Agora que você falou, me ajudou a lembrar! O dragão tava saindo dela no terraço — disse Seth, sorrindo.
— Uau!
Laly arreganhou os olhos, enquanto um sorriso malicioso surgiu em seu rosto e continuou:
— Eu sabia que você andava meio estranho ultimamente… e sei que ela é bonita.
— O que você tá tentando dizer?
— Que alucinar com ela já é outro nível, você tem um gosto peculiar pra delírio.
Seth corou de vergonha após a fala da irmã, mas nem teve tempo de responder, o professor já estava na sala e as aulas estavam prestes a continuar.
Enquanto a aula seguia normalmente, Seth não conseguia se concentrar. Mas, desta vez, o motivo era diferente: ele tinha um nome e um rosto, mas ainda precisava descobrir o que estava acontecendo. Repetindo mentalmente o encontro no corredor várias vezes, tentando perceber algum detalhe estranho.
Depois de alguns minutos, alguém bateu firmemente na porta, chamando a atenção da turma. A porta rangeu ao se abrir, e lá estava ela: Mirror.
Seu sorriso era calmo e doce, iluminando o rosto delicado. O olhar, antes agressivo, agora transbordava paz e gentileza.
— Com licença, professor — disse ela, com sua voz melodiosa e encantadora. — Fiquei responsável por organizar uma das salas para o evento que vai ocorrer na semana que vem. Mas é muita coisa para fazer sozinha, então gostaria de saber se poderia levar algum aluno para me ajudar.
— Claro, Mirror!
O professor fez uma breve pausa, encarou a turma e continuou:
— Seth! Vai você!
— O que? Por que eu? — protestou Seth, que estava tenso e analisando o comportamento de Mirror.
— Porque você foi o único que ficou distraído desde a última aula.
— Mas eu…
— Mas nada, anda logo!
Seth bufou, levantando-se da cadeira relutante, olhando novamente nos olhos de Mirror, que sorria para ele com aquela feição meiga. Notando a tensão nele, disse para tentar aliviá-lo um pouco: :
— Relaxa! Eu não mordo! Agora me segue.
No caminho até o salão onde iria acontecer uma parte do evento, os dois foram sem trocar uma palavra ou olhares, apenas um silêncio absoluto que deixava Seth extremamente desconfortável.
Ao chegar no salão Seth foi o primeiro a entrar, vendo a bagunça que a sala se encontrava: cadeiras empilhadas, mesas fora do lugar, decorações jogadas por toda a sala, então para tentar quebrar o silêncio, disse em um tom casual:
— Isso vai demorar né?
Porém não obteve resposta. Até que de repente, ouviu o som metálico da porta sendo trancada, que ecoou por todo salão.
Seth se virou lentamente com seu coração acelerando aos poucos. Ao encarar completamente a sala, viu Mirror parada em frente à porta, ainda com a chave em suas mãos. Seu semblante, antes meigo, agora estava novamente agressivo, olhando ele de cima a baixo, como se o analisasse.
— Mirror…? — Perguntou Seth, sentindo seu coração quase saltar do peito.
— Eu tive muita sorte do professor ter escolhido logo você pra vir comigo…
Ela ergueu lentamente a mão, com uma precisão perfeita, mantendo-a alinhada ao corpo, e disse:
— Mauna!
A partir de Mirror, o salão foi tomado por um brilho dourado que rapidamente se espalhou, pulsando em pura energia. Em seguida, ela começou a caminhar em direção a Seth, em passos curtos e precisos.
— O que é isso? — gritou Seth, a respiração irregular e as mãos tremendo levemente. Cada passo de Mirror parecia amplificado em sua mente, e ele não conseguia desviar o olhar daquele semblante agressivo.
— Pronto. Assim ninguém vai ouvir nada do que acontecer aqui dentro…
A voz de Mirror estava fria, desprovida da gentileza anterior.
— Ei, do que você tá falando?
— Para de fingir que não sabe. — Ela parou no meio do caminho. — Eu tô realmente surpresa… Mandaram um Aeternis na tentativa de me eliminar, e ainda por cima alguém que não sabe nem disfarçar ao perceber uma pequena liberação de Etheryn… Mas, ao menos, se deu ao trabalho de mudar a cor do cabelo e dos olhos. Nota 1 pra você.
— Aeternis? Te eliminar? Etheryn? — Seth recuou levemente. — Do que você tá falando Mirror…?
Mirror suspirou profundamente, então com um movimento fluido e deliberado, fez um corte preciso na palma de sua mão usando a unha afiada. O sangue escorreu pela mão dela, deixando Seth boquiaberto, perplexo.
Então, desafiando tudo que Seth acreditava e conhecia, o sangue começou a brilhar e flutuar ao redor da mão de Mirror, se moldando como uma argila viva. Em segundos, o líquido escarlate tomou a forma sólida de uma adaga.
— Mas…? O que é isso? Como você fez isso!? — perguntou Seth, a voz falhando, enquanto recuava em passos involuntários.
Seus olhos não conseguiam se desviar da adaga formada pelo sangue de Mirror, brilhando com uma energia carmesim própria.
— Não finja que não sabe!
Antes que Seth pudesse reagir, Mirror avançou com uma velocidade sobre-humana. Quando finalmente percebeu, ela já estava à sua frente, a adaga erguida pronta para desferir um corte descendente.
Por puro instinto, como se seu corpo se movesse sozinho, Seth pulou para trás. A lâmina passou raspando seu peito, e ele caiu de maneira desajeitada, quase torcendo o tornozelo no impacto.
"O que tá acontecendo? Ela realmente fez uma adaga de sangue?" pensou Seth, o pânico evidente em sua face enquanto recuava, suas mãos tremiam, ele suava frio enquanto, as batidas de seu coração estavam mais rápidas e fortes, como se ele fosse pular para fora de seu peito.
Mirror avançou sem hesitar, agora mirando em seu pescoço. Ele rolou para o lado, desviando de outro ataque, mas acabou colidindo contra uma pilha de cadeiras, que caíram ao chão
Sem dar tempo para respirar, Mirror avançou novamente, mirando uma estocada direta no coração dele.
Em desespero, Seth agarrou uma das cadeiras caídas e golpeou com toda força o braço dela. O impacto, somado à força de Mirror, fez a cadeira se partir ao meio, desviando parcialmente a trajetória do golpe. Aproveitando o momento de desequilíbrio, ele se esquivou rapidamente, escapando por um triz da lâmina.
Em uma tentativa de conter a fúria dela disse:
— Mirror! Eu não sei do que você tá falando… Vamos conversar, por favor!
— Aeternis mentem. Todos de seu mundo são treinados pra isso! — disse, em um tom frio e cerrando seus punhos. — Eu não sei quanto meu pai te pagou, mas não importa. Ele não vai ver meu fim tão cedo!
— Eu nem sei o que é um Aeternis! — disse Seth, enquanto se levantava.
— Pare de mentir!
Mirror continuou avançando contra ele, mas algo a deixava pensativa, confusa. Seus golpes, antes certeiros e violentos, começaram a perder ritmo e força, refletindo sua hesitação:
"Por que ele não me ataca de volta e insiste nisso, vendo que não vou acreditar…? Por que não os poderes de seu Kor? Será que… Não!"
Resistindo aos próprios pensamentos e cansada de sua resistência, Mirror decidiu encerrar a luta de uma vez por todas. Então, como um passe de mágica, desapareceu e reapareceu atrás dele. Mas, quando Seth percebeu, já era tarde demais.
Assim que ele se virou, Mirror desferiu um chute giratório que acertou em cheio seu rosto. O impacto foi tão forte que ele sentiu o ar sair de seus pulmões, uma dor aguda percorreu seu crânio, e tudo ao redor pareceu girar. Lançando-o para longe, fazendo-o bater com violência no chão, enquanto mal conseguia manter os olhos abertos.
A visão de Seth estava turva enquanto permanecia caído, apenas escutando os passos de Mirror se aproximando. Aceitando que lhe restava apenas aguardar a morte, mas ainda sim, não conseguia conter a expressão de desespero.
Mirror, ao chegar em frente a Seth, se preparou para finalizá-lo, mas, ao notar sua expressão desesperada, começou a refletir:
"Em nenhum momento ele me atacou de volta… Apenas se esquivou e se defendeu. Nem mesmo liberou suas habilidades…"
— Anda logo… — interrompeu Seth, impaciente, quase perdendo sua consciência. — Acaba com isso logo…
— Aeternis… me diga. Por que não usou nenhum ataque? Parece que nem sequer tentou liberar seu Etheryn, nem mesmo seu Kor agiu sozinho para te defender… Por quê?
— Aeternis, Etheryn, Kor… Que diabos é isso? Eu não sei de nada!
Mirror ficou paralisada por alguns instantes, incapaz de compreender. Após analisar toda a situação desde que entraram na sala, disse, perdendo sua postura fria e agressiva:
— Não… Não é possível. Você realmente não sabe nem sobre si mesmo…?
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