Ascensão Estelar Brasileira

Autor(a): Lótus


Volume 1

Capitulo 1: Ecos na Escuridão

Escuridão.

Era tudo que Seth via, escuridão e uma floresta em chamas.

Entre as árvores queimadas, sob o céu escuro iluminado pelas chamas, surgiu uma mulher de longos cabelos vermelhos. Ele conseguia vê-la com extrema clareza, ela estava intacta, irradiando uma presença serena e reconfortante, apesar da destruição ao redor. O rosto, porém, estava borrado, apenas os olhos se destacavam, cobertos por uma tristeza profunda.

Ela dizia algo, porém, era como tentar ouvir ecos debaixo d’água. Mas ainda assim, ele tentou entender.

— Quem é você? — tentou dizer, mas nada saiu de sua boca.

Então a mulher estendeu seus dedos pálidos quase tocando em seu rosto. Porém, assim que ela se aproximou sua imagem se desfez, como fumaça ao vento.

Além dela, a visão ao redor de Seth começou a mudar. Em um instante, percebeu que estava nas costas de um garoto com cabelos verdes, que corria entre as árvores. Atrás deles, gritos ecoavam, incompreensíveis como a voz daquela mulher.

Conforme o garoto corria, ele se aproximava de uma luz branca e forte. Por cima de seu ombro, olhou Seth nos olhos e, forçando um sorriso, disse:
— Vai ficar tudo bem… A gente tá quase chegando… Ninguém vai machucar vocês.

Porém, Seth não conseguiu responder. Enquanto o garoto se aproximava da luz, ela tomava a visão de Seth, até que não enxergasse mais nada, enquanto um som de alarme soava ao seu redor.

— Hã…?

Então ele despertou. O quarto ainda estava escuro, com a única fonte de iluminação sendo de seu celular, que tocava seu despertador, com roupas espalhadas pelo chão e a cadeira encostada na escrivaninha coberta de cadernos abertos. Seth respirava ofegante, o suor frio colando sua camiseta ao corpo.

— De novo esse sonho? — disse, enquanto se preparava para levantar — Ele tá mais frequente…

Ainda meio atordoado pelo sonho, Seth se levantou e pegou o celular. Após desligar o despertador, viu o horário: 6h42. Percebendo que estava atrasado para a escola, correu para se arrumar, murmurando:
— Droga, a Laly vai surtar!

tropeçando na bagunça espalhada pelo chão, foi até a porta de Laly e gritou:
— Laly, acorda! A gente vai se atrasar!

— Você vai fazer a gente se atrasar seu idiota! — disse ela, abrindo a porta de seu quarto com força — Eu já to acordada faz tempo, eu tentei até te chamar, mas você não respondeu!

— Desculpa, eu tava cansado, tá bom?

— Você dorme demais, mas pelo menos já tô pronta — respondeu Laly, franzindo o cenho — Só não enrola pra se arrumar.

— Eu já tô pronto e eu nem dormi tanto!

— Imagina se tivesse, certeza que fica tendo sonhos estranhos com garotas.

— Ei! Não é isso! — respondeu Seth, levemente corado —  É sempre o mesmo sonho, com uma mulher de cabelo vermelho e depois um garoto de cabelo verde me carregando…

A expressão de Laly, que há instantes estampava raiva, se transformou em preocupação. Ela se virou para descer as escadas sem respondê-lo e após um breve silêncio, questionou:
— Você sonhou com uma mulher de cabelo vermelho…?

— Sim, por quê? 

Ela ficou pensativa por um instante, mas logo balançou a cabeça, como se afastasse um pensamento indesejado.

— Nah, nada não, esquece! Deve ser coisa da sua cabeça mesmo.

— Mas…

— Mas nada! Bora logo, antes que a gente se atrase. Não quero ficar levando bronca do Green por chegar atrasada na escola!

O vento da manhã no caminho para a escola era fresco, carregando o aroma de folhas úmidas e terra molhada após a chuva noturna. A rua estava com uma serenidade maior que o normal.

Laly caminhava com passos leves, os fones de ouvido pendurados no pescoço como um acessório, enquanto Seth parecia alheio ao que acontecia ao redor.

— Ei, Seth! Você tá bem?— ela perguntou, cutucando-o com o cotovelo, tirando ele de seu devaneio — Hoje não quis nem parar pra ver se alguém precisava de ajuda no caminho, ainda pensando no sonho?

— Não…

— Então o que aconteceu? Não é normal você tá assim. Normalmente você tá sempre sorrindo, é estranho te ver perdido em pensamentos assim. 

— É que… É complicado de dizer — suspirou Seth — Eu só sinto que tem coisa que o Green não conta pra gente sabe? Tipo ele nunca quis dizer com detalhes sobre nossos pais por exemplo.

Laly ficou quieta por alguns segundos olhando para o céu, observando as nuvens, como se estivesse pensando em algo até que respondeu:
— Bom, talvez ele só não goste de falar sobre… ou até mesmo acha que seria melhor a gente não saber, pra nos proteger de certo modo. — Laly abriu um sorriso para o irmão — E mesmo que ele nunca tenha nos contado muito, ainda somos uma família. E sinceramente, pra mim isso já tá ótimo! 

Vendo o sorriso e o otimismo da irmã, Seth sorriu de volta. Mas sua mente continuava inquieta, várias perguntas sem resposta ecoavam dentro dele.

Após chegar à escola, Seth e Laly foram para a sala de aula. O dia estava seguindo normalmente para Laly, mas não para Seth, que não conseguia focar em nada. 

Ele encarava o lado de fora pela janela, com seu queixo apoiado em sua mão, apenas imerso em seus pensamentos sobre aquele sonho. O  professor, os colegas, o ocasional arrastar de cadeiras, tudo se tornava mais um ruído enquanto ele se perdia em sua mente.

— Seth! Poderia repetir o que acabei de dizer? — Disse o professor, trazendo-o de volta à realidade.

— Hã… É… Eu me distraí, desculpa.

Alguns colegas riram enquanto o professor deu seguimento à aula normalmente. Já Laly olhava para seu irmão preocupada, mas ao mesmo tempo o julgava por estar tão desligado do mundo. Porém, em sua mente, havia apenas a imagem daquela mulher de seu sonho. E assim seguiu o dia até o intervalo.

Durante o intervalo, os dois se acomodaram em um banco de madeira no pátio externo. Em meio aos risos altos de alguns grupos. Bolas de vôlei quicavam no chão próximo, enquanto alguém deixava uma música baixa escapar do celular.

— Ai, esse curry de frango é mais ardido do que eu me lembrava — reclama Laly, com os olhos lacrimejando.

— Hehe, foi você quem quis pegar o mais ardido.

O clima descontraído e o ar livre, junto aos colegas se divertindo, finalmente deram a Seth um momento de leveza após uma manhã tão pensativa, permanecendo assim por alguns minutos.

De repente, um arrepio percorreu todo o seu corpo e ele sentiu que havia uma presença poderosa e assustadora pairando sobre ele, porém, ele não compreendia o porquê desta sensação.

Então, por puro instinto, Seth se levantou e se virou, olhando diretamente para o terraço. Diante dele, um enorme dragão feito de sangue, perturbador em cada detalhe: seus olhos vazios, seu corpo formado por correntes intermináveis de sangue líquido, gotas desprendendo-se de suas asas e se desfazendo no ar e um tamanho que cobria quase todo o céu acima dele.

A criatura rugiu em silêncio. Seth continuou imóvel, incapaz de desviar o olhar, porém, as pessoas ao redor continuavam agindo como se o monstro não existisse.

Mas, enquanto Seth estava paralisado, algo chamou sua atenção: o dragão estava emergindo de um ponto, de uma garota no terraço. Ela estava com o uniforme escolar e cabelos laranja vibrantes.

Ela permanecia calma, como se nada extraordinário estivesse acontecendo, como se não houvesse um ser mitológico emanando de seu corpo.

Laly, observando a ação estranha e repentina de seu irmão e notando seu olhar vazio, o chamou:
— Seth? O que foi? Você tá bem?

Porém, não obteve resposta. Até que Seth piscou e como se fosse uma miragem, o dragão começou a se desfazer, voltando ao corpo da garota. 

Após o dragão retornar completamente ao seu corpo, ela se virou para entrar na escola, mas, naquele instante, Seth jurou que seus olhos se cruzaram.

Ele sentiu o coração acelerar. As vozes no pátio, até mesmo as da irmã, se tornaram apenas ruídos. Seth não sabia como, nem porquê, mas algo dentro dele lhe dizia que sua vida estava prestes a mudar.

 

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