Asas ao Vento Brasileira

Autor(a): Akarui K.


Volume 1

Capítulo 6: Um adeus incolor

Dispensava a ideia de esquecê-la o quanto antes e poupar seu próprio sofrimento. Ela ainda não sabia do problema e tinha de dar logo um jeito de prepará-la para aquilo. 

Fingir estar feliz até que funcionava, mas aquelas risadinhas atrapalhavam seu objetivo e o esfaqueavam triplamente quando tentava não ser sentimental, acabar com o apego. Não funcionaria.

— Não façam nada estúpido, temos visita!

Sempre que olhava o pequeno cubo sobre a mesa, tentava se forçar a vê-lo como algo bom. De novo, outra coisa que não funcionava: as lágrimas sempre vinham num momento ou outro. 

Seus olhos não largavam o objeto, sua mente, um grande nada, somente pensando o quão aquela mesa iria ficar vazia quando ele desaparecesse dali. 

A aula de Isadora era um pequeno chiado que preenchia a segunda-feira preguiçosa. As crianças repetindo frases simples, a voz dela ecoando enquanto lhes fazia perguntas… Só agora raciocinava que Bruna nunca falara aquelas frases. 

Devia tê-la deixado experimentar pelo menos um pouquinho do que era ser um cidadão antes que aquilo viesse. Era mesmo muito cedo: ela só tinha oito anos. Outras pessoas iriam criá-la e ela se esqueceria de tudo. Se esqueceria dele. E nunca retornaria. 

Talvez Bruna estivesse zanzando por aí com o seu jeito estranho de analisar tudo. Lucian não iria procurá-la. Os fulanos viriam hoje e qualquer papo muito inteligente com a menina o faria querer matá-los quando chegassem.

— Onde está Giovanna?

Ela não tinha o costume de conversar enquanto dava seus rolês, então sempre estava sozinha. Gostava de espionar o que os outros estavam fazendo. Não era fofoqueira: só uma delatora secreta que fazia suas ocorrências apenas a uma pessoa. 

Mas, estranhamente, naquele dia não tinha nada que pudesse fofocar. Nenhum fugitivo da aula de Isadora, nenhum menino danado que escapou da visão de Marieta, nenhum ladrão de comida, muito menos um que escapou pro quintal dos fundos. 

O orfanato estava quieto, algo surreal. Bruna espiou do topo das escadas a porta da frente se abrir com o ato de Alva. Aquela porta nunca se abria, sempre usavam as laterais. O que estava pra acontecer?

— Bem-vinda, Srta. Volkers.

Logo após a fala da anfitriã, uma perna esbelta se esticou para dentro, depois um rosto e um corpo, trajando vestes escuras. Uma loba. 

Era a primeira vez que Bruna via alguém com aquela aparência. Poderia confundi-la com um homem por conta da falta de madeixas, mas isso não era coisa que trouxesse algum humor. Queria saber o que aquela adulta estranha fazia ali. 

A mulherzona era tão mais alta que Alva que parecia até mais velha que ela. Seus olhos eram piores que os de Giovanna, varrendo todo o salão como se caçasse algo. 

E como isso dava medo. Mais medo que os olhos malignos de Marieta. Mais medonhos que o porão de Juan durante a noite. Bruna não sabia por que aquele amarelo todo a assustava tanto.

Alva devia estar tão abismada quanto a menina: sob o costume de pessoas tão coloridas, era mesmo assustador ver alguém tão sombrio.

Ambas conversavam em voz baixa, quase sussurrando. Bruna não entendia porcaria nenhuma e praguejou contra isso. Mas logo a porta da frente se abriu de novo e outro pé se esticou para dentro, até com mais delicadeza que a estranha.

— Bom dia, Sra. Alva, desculpe o atraso. — A pessoa fechava a porta para conter o frio.

— Olá, Sr. Volkers, seja bem vindo. Fique à vontade.

Outro lobo. Era grande como uma porta e provavelmente mais novo que sua, talvez, irmã. O fato de também trajar preto fez Bruna se perguntar se aquela família era daltônica. 

— Perdão por comparecermos neste horário — dizia a voz da loba, agora muito nítida. Para a menina, isso era ainda mais suspeito do que se continuassem cochichando.

— Sem problemas — respondeu Alva. — aliás, Giovanna está atrasada, eu é que devo me desculp...

— Esperaremos o necessário — completou o homem, apressado. — aproveitando este tempo, poderia nos dizer o que tanto aguardamos?

O sorriso de Alva se fechou um centímetro. A cena plantou tamanha raiva em Bruna que seu punho se cerrou por conta própria. Ninguém nunca foi capaz de fazê-la fazer aquela cara. 

O silêncio se manteve por pouco tempo antes da gata finalmente desviar seu olhar e tornar a dizer, em tom cabisbaixo:

— Pode ser difícil para ambos aceitarem sua oferta. Lucian a ama do fundo do coração, igualmente dela.

Bruna não estava gostando nada daquilo. Ninguém sabia o que seu pai passava, ninguém podia falar dele. Não iria aceitar que aqueles cães do inferno trouxessem estranheza para sua casa.

Não iria permitir que chegassem perto de Lucian de jeito nenhum.

O baque súbito da porta o fez saltar de susto. Sem azo a perguntas, Lucian sentiu-a se atirar sobre ele num abraço poderoso, tão forte que parecia ser a última vez.

A aguda pontada na costela passou despercebida sob tanto sentimento. Ao retribuir o abraço, pôde ouvir o que ela repetia aos murmúrios:

— Eu não vou deixar que te tirem de mim.

— B-Bruna... — Lucian tentava afastá-la. — V-você tá me machucand... O que aconteceu?

— Vem, vamos fugir! Eles não podem nos achar! — Ela tentava arrastá-lo para fora da cama.

— Bruna, o que raios aconteceu? O que você quer?

— Quero ficar com você pra sempre!

Seus olhinhos lacrimejados alcançaram o efeito esperado. Antes que ela notasse mais alguma coisa, deu um tranco em seu braço e a obrigou a parar de ser tão impaciente. 

Sentou-se e tocou seus ombrinhos quentes, quentes até demais. Fitando-a no fundo de seus olhos, proferiu, grave: — Chega. Agora você vai me dizer o que está acontecendo.

— Eu não quero ter que me afastar de você, pai. — Não parava de chorar. — Eu não vou embora! Não vou sair daqui!

Sem saber o que dizer, abraçou-a antes que começasse a chorar também. Bruna não precisava saber que já tinha conhecimento de tudo, então permaneceu em silêncio sentindo seu corpinho magricela e o cheiro ruim do seu cabelo. 

— Eu também não quero que você vá, filha — murmurou. — mas…

— Então vamos ficar! — gritou ela entre soluços. — Você pode ficar comigo, não pode? Você pode mandá-los embora!

Três toques leves na porta a fizeram soluçar de pavor. A dor da costela de Lucian não era mesmo nada diante daquilo. Descobriu que também não queria soltá-la quando ouviu a voz de Alva vir de fora:

— Lucian? 

Parecia a coisa mais medonha do mundo. Implorava para que fosse só um sonho ruim. 

Mesmo assim, deixou a menina e se ergueu, resignado.

— Alva. 

Joia precisava encarar os caras sinistros — em compensação, sua experiência com pirralhos de todos os tipos a fazia se virar bem na situação. 

Os sentia calmos, pacientes, era fácil driblá-los nas palavras. Xingou a si mesma por invejar a vida boa que Bruna levaria, a julgar pela burguesia que fediam. 

Até que conversar com eles não estava sendo tão ruim: com isso, distraía-se do fato de que não queria se desfazer de seus novos hábitos, já que desde que começaram a conviver, cada vez mais se afeiçoava pela menina.

Bruna se encaixava bem como uma substituta para sua sobrinha: a insanidade de ambas era igual, consequentemente com o fato de Giovanna gostar de, literalmente, brincar com fogo. 

“Ah, já estava difícil de ignorar.”

Quando entendeu o que o maldito fantasma quis dizer, enganou-se de novo quanto aos próprios sentimentos. No momento, só podia rezar para ver a menina de novo um dia e fingia não sonhar com aquele papo que tivera em língua nativa. Não podia esperar dela uma grande solução tão mágica quanto ela mesma, afinal.

Por falar nisso, a conversa girava em torno da anomalia: a fogueira que ardia em palmos infantis. Certamente, os lobos sabiam muito mais sobre o assunto e Giovanna se pegou desejando perguntar mais.

Se era uma doença, uma bênção, maldição, se alguém botara aquilo em Bruna ou se ela de repente inventou que podia queimar coisas. 

Se viveria bem, se seria amada, odiada, idolatrada... 

Se ao menos seria feliz. 

Era uma sensação estranha. Fazia tempo que não pensava nos outros daquele modo. Parte de si não queria que ela partisse.

E ao acordar para a realidade, acabara de fechar a porta nas costas dos cães cinzentos, desejando que este fosse o ato final daquele  debate.

Mas eles voltariam assim que a decisão fosse tomada. E Giovanna não sabia por que isso incomodava tanto.

Quando Lucian se deu conta, novamente encarava o cubo. 

A menina repousava em seu peito e provavelmente tentava sonhar com algo legal. Ele sabia que a gata tinha sido dura com ela. Era um assunto muito delicado que estava sendo resolvido às pressas. Não havia como estar em paz diante de tudo aquilo.

— Tô com fome.

Ou havia.

Bruna tinha de agir normalmente se não quisesse passar o tempo todo entrouxada sob as cobertas. 

Os lobos logo voltariam e ela não teria aproveitado um instante de diversão sequer com seu pai. Sim, sabia que eles voltariam; algo lhe dizia que não tinha como escapar daquilo, que o jogo sequer começara... 

Sua nuca latejava e cada passo era um tamborilado diferente. Uma voz silenciosa dizia que seus problemas nem começaram e que não iriam terminar tão cedo. Queria que isso sumisse. Só precisava martelar algo com os dentes pra funcionar.

“Se ficar aqui, vai se arrepender de ter pedido pra amar.”

Não esperava aquilo dela. De Marieta, sim, mas Alva nunca. Ela era a mulher mais doce daquela floresta, a mais gentil, a mais... Bem, agora já não era nada — não pra Bruna. 

Ela estava deixando aquilo acontecer, ela estava forçando o laço a se romper. Uma mãe nunca jogaria um filho na roda da matilha. Não iria perdoá-la nunca por isso. Muito menos gastar seu tempo pensando nisso.

Durante o curto período até o retorno dos lobos, praticamente não saíram do quintal. 

Vez ou outra Giovanna aparecia por lá pra se juntar à conversa e se distrair um pouco do que, para eles, era até que bem fatal. 

Bruna notou que a serpente parecia mais alegre, suas escamas brilhavam mais. Ela era mesmo uma coisa estranha, contente onde todo mundo deveria estar triste. 

E não que estivesse julgando-a, era bonito vê-la daquele jeito e sabia que iria se lembrar bem daqueles poucos momentos. Até então, nunca soube se a palavra “serpente” era seu sobrenome ou o que ela era, — talvez carregasse essa dúvida para vida toda.

Quando se deu conta, mais uma vez o céu ia ficando cinza. A janela não era suficiente para iluminar o quarto, logo, as lâmpadas amareladas se pareciam com um verdadeiro pôr-do-sol, daqueles que nunca vira e sempre sonhava. 

Em vez de pensar nisso, olhava o cubinho; nunca reparara o quão o entalhe era escuro, mas associou este fato ao dia do forno. Suas faces eram ásperas, as bordas eram falhadas e um dos cantos meio arredondado. 

Bruna podia dizer que era essa imperfeição que o tornava tão lindo. Um cubo que era pra ser um lírio, e graças a um memorável imprevisto, continuou sendo um cubo — soava até engraçado.

— Teria coragem de se livrar dele? — Lucian citou, do nada, tirando-a do pensamento.

— Ah, depende.

— Ah, depende?

Sacrifício por glória.

Uma frase da última história que Lucian lera para ela. Ele saboreou a dor que aquilo causou, já que fizera uma pergunta tão arriscada. Estava a ponto de se desculpar quando ouviu-a sibilar:

— Eu... Eu vou sentir sua falta, pai.

A partir daí, Lucian se pegou pensando se haveria alguém para se orgulhar dela em seu lugar quando os lobos viessem — eles pareciam tão frios, pelo que Joia disse. Não queria pensar no quanto isso podia ser ruim.

— Eu também. — Acariciou sua cabeça, dizendo em triste rispidez. — Eu também.

Pela primeira vez, ele não seguia a rotina. Todo mundo já tinha entendido que era um momento delicado demais para ocupar com trabalho, até mesmo a montanha com pernas chamada Juan, que num momento sensível se oferecera para trabalhar por ele durante os dias longe dos lobos.

Depois de um longo suspiro sonolento, Bruna finalmente abriu seus olhos. Um pingo de surpresa a fez se afastar dele. 

— Você achava que não ia poder me dar bom dia. — ele sussurrou, sorridente. — Mas eu ainda estou aqui. Bom dia, menina.

Recebeu um soluço como resposta. 

Tentou conversar mais um pouco antes de virem buscá-la, mas o clima não estava para isso: ela concordava tanto que com certeza não havia nada criativo naquela cachola. Preferiram ficar abraçados e ela só disse algo realmente natural quando ele estava prestes a cochilar:

— Nossa, como você é preguiçoso. Nem eu estou com sono.

— Ah, não é todo dia que se tira folga de um trabalho pesado. — coçava os olhos enquanto espreguiçava o outro braço. Automaticamente, uma asa se esticou para fora da cama, bela e extensa, brilhante e macia.

— De onde você veio, pai?

— Hm? Mas que pergunta.

— É que cada um de vocês é diferente. Quando notei isso fui perguntar: Alva disse que veio de Oliphia, onde há muitos cães e gatos bonitões como ela. 

Ele gargalhou, zombando:

— Se há tantos, agradeço o inferno de onde saí. O que acha disso?

— Nada. Eram coisas que eu sempre quis saber. Tipo, Isadora é de Aatsui, um lugar quente em que todo mundo tem saltinhos nos pés, listras no corpo ou cor de areia.

— E voz de gripe.

— É, voz de gripe! E só falta você agora.

— Não perguntou à Carmela? — enrolou mais um pouco.

— Não. Não quero saber. Juan tinha dito que ela veio do mesmo lugar que ele, então acho que lá é um covil de monstros gigantescos com cara de mau.

De novo, ele estourou numa risada.

— Faz muito sentido. — Olhou pro teto. — Tudo bem, então. O inferno de onde eu vim na verdade é tipo um paraíso. Ou era pra ser. Vim do céu, das terras que ficam sobre as nuvens, onde todas as aves vivem. Dizem que lá é onde os mortais vão ao encontro de deus, mas tô pouco me lixando pra isso. Não teve deus na minha vez e não o garanto a ninguém.

— Todos lá tem penas bonitas como as suas?

“Talvez não tão indignas”, ele pensou.

— Sim. Espero um dia poder te mostrar.

— Vai voltar para lá?

Ele parou e pensou, por tanto tempo que ela continuou a falar:

— … Ah, desculpa. Achei que você estava pensando bobagens de novo, achando que é meio inútil aqui e balela. Sempre que tem briga, a Fera sai chiando dizendo que você é covarde, mas eu não acho isso. Queria ver quando eu soubesse brigar. Iria rasgá-la no meio.

Ele soltou um riso morto só pra descontrair. De forma inacreditável, até concordava com a ursa maior. Desde que chegara ali, era um elemento supérfluo pro orfanato, para não dizer mesmo inútil.

Bruna podia ter existido muito bem sem ele, talvez com um pouco mais ou menos de espaço, ainda assim a mesma coisa.

— É, Bruna. Eu penso nessas porcarias, sim. É melhor que eu vá embora também. Mas não por eles, só por mim.

— Como assim?

Ele olhou a janela, esperançoso e sorridente. Seus olhos tinham alguma coisa nova, como se uma chama se acendesse dentro deles.

— Digamos que ainda tenho assuntos pendentes.

Duas batidas suaves vieram da porta, a qual se entreabriu logo depois. O rosto hediondo de Alva apareceu, acenando a cabeça com calma. Ela acompanharia Bruna para impedir que a menina grudasse na águia, o que tinha uma alta porcentagem de acontecer.

Quando a raposinha surgiu no topo da escada, tornou-se alvo de muitos olhos. Alva desceu primeiro, indo ao encontro da loba e iniciando uma recepção. 

Pela primeira vez, Bruna suava de nervosismo e sentia-se como se estivesse numa casa prestes a desabar. Lucian tocou seu ombro.

— Não sinta medo. — Ele sorria. — Vá conhecê-los. 

Respirando fundo, ela arrastou o pé para o primeiro degrau. Fechou a cara para esconder tudo que sentia e foi em frente — aparentemente, era boa nisso. 

Ao chegar perto, Srta. Volkers se ergueu lentamente, indo em sua direção também. A moça “volqui” era estranha, tinha pernas longas e magras, dava pra ver o outro lado entre elas mesmo com as esvoaçantes calças de voal. 

Ao que parecia, quanto mais lento caminhava, mais desequilíbrio tinha, por isso ela lembrava uma cadeira bamba — e como Bruna queria ter coragem pra rir disso. 

A grande mulher agachou-se diante dela, seus olhos dourados como chamas em vidro penetrando fundo em sua alma.

— Bruna Henriqueta.

Seu nome inteiro sem tom de bronca soava estranho. Tudo ali era estranho, até a cara da moça, desfigurada por cicatrizes que faziam falhar os pelos — e talvez fosse esse o motivo dela não ter cabelos. Não tinha muita propriedade para opinar, mas ela era medonha. 

— Me chamo Vanessa. — Ela tamborilou os dedos nos joelhos, tentando ser dócil. — Ele é o Lucas. 

Ele as encarou, também sorridente. A graciosidade combinava mais com ele, por mais estranho que fosse. 

— Quero que entenda que não somos seus inimigos, menos ainda temos a intenção de te machucar.

— … Tudo bem. — Bruna se ouviu dizendo. Foi a única coisa que lhe veio à mente e nem soube por que a disse. Sabia que estava sendo antipática, o rosto de todo mundo dizia isso, mas não ligava muito para isso. Não era obrigada a gostar de ninguém.

— Você é bem séria pra uma menina de sua idade. — A mulher comentou. 

— Ninguém tem minha idade. Sou a mais nova.

— E a mais brava. Não deveria baixar a cabeça.

Era uma coisa boa de ouvir, mas não era Lucian que dizia aquilo.

De repente, como numa virada de página, a mulher estava com a mão em seu queixo e olhava em seus olhos, no mais profundo que podia como se pudesse ler mentes. 

Sua lucidez se esvaía e a raposa não prestava atenção em mais nada — tudo surgia em imagens breves de um filme melancólico que não gostaria de recordar depois. 

Só se lembrava de ter fechado as garras de seu pai em torno do cubo, devolvendo o seu adorável presente para que ele pudesse se lembrar dela. 

E a porta batendo e ele assistindo o carro preto ir embora — achava que se lembrava de vê-lo sorrir e não sabia se tudo fazia parte de uma espécie de sonho ruim. 

Rezou para que as coisas que a voz em sua cabeça lhe sussurrava não fossem verdade e que iria acordar em um lugar melhor com um novo início. 

Rezou, principalmente, para que não fosse tão ruim quanto parecia.

 



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