Asas ao Vento Brasileira

Autor(a): Akarui K.


Volume 1

Capítulo 22: Ironia do destino

Bruna fugia dos pensamentos que a faziam se perguntar se era melhor rever seus objetivos, não queria se lembrar de nada que pudesse prendê-la em uma vida cercada de pessoas que a odiavam. 

Apoiava-se no que considerava um motivo óbvio: Leonardo fizera questão de estragar um ano de amizade com aquele beijo e era até desgostante se lembrar dos bons momentos com ele, como se nunca tivessem de ter acontecido de verdade. 

Se forçava a pensar positivo, ao menos quanto ao próprio destino. Estaria bem de lá em diante, não precisaria se preocupar com a sociedade ao redor e poderia adiar os assuntos inacabados focando em si mesma. 

Mas mesmo com tamanho esforço, não entendia por que sentia tanta falta dele, apenas dele. Afastar a saudade continuava bastante difícil e as palavras de Lukas boiavam em seus ouvidos a todo momento. Amaldiçoava a própria incapacidade que a dominou no momento em que queria dizer tantas verdades. 

Mais uma milésima vez cansada de idealizações desnecessárias, voltava ao livro que Lucas, o tutor, sabe-se lá como conseguira arranjar.  Toda vez que lia, não conseguia evitar espiar a magia que circundava ao redor. 

Em certas vezes, seu dedo chegava a doer de tantos petelecos que dava no abajur para que ele se acendesse. Era incrível ver quantos pigmentos reluziam daquele prisma pequenino e vê-lo se apagar era como um pôr-do-sol em um segundo. 

As fadas, graças ao Tratado de Herthoda, há muito tempo trabalhavam com a matéria-prima do Mundo de Cá aplicando magia nas carcaças metálicas que davam tantas utilidades. 

Bruna jamais iria associar o trabalho nas minas com a fabricação dos carros, minas estas localizadas em demasia em Xiaghe. O reino que, ironicamente, travava uma guerra com Nayrrah — o lar das fadas e da magia. 

“Que idiotas. Podiam estar lucrando se não estivessem brigando — qual é mesmo o motivo da guerra?” 

Esta se estendeu por tanto tempo que de gerações até então que ninguém mais sabia — ou seja, não fazia sentido. Se Bruna pudesse, mesmo que por uma semana, reinar reinos tão grandiosos, faria um trabalho tão bom que passariam séculos sem se preocupar. 

Ou isso era apenas algo que Lukas diria para ela, portanto, irreal em meio a um objetivo que nem sabia se era mesmo seu ou algo implantado secretamente pelas circunstâncias. Ou por Vanessa. 

De novo, empurrava à força qualquer coisa que remetesse a suas memórias e principalmente dúvidas. Tinha outras coisas para pensar agora, não em futuros que provavelmente nunca iriam existir.

A viagem parecia eterna, tudo porque Vigdra era lotada demais, pois assim que saíram dela enfim alcançaram a liberdade. 

Corriam por estradas livres e desertas, acompanhados de campos de plantações a se perder de vista. Depois de um tempo, o cheiro de laranja e morango foi ficando enjoativo e Bruna só queria chegar o mais rápido possível. 

Foi como no primeiro dia: Lucas abriu a porta do carro e a chamou de dorminhoca, desta vez zombando da baba seca no canto da boca. Só havia prédios e casas coloniais com árvores a cada dez metros, não mais aquela bagunça toda de placas, gesso, pedra e uma absurda quantidade de pessoas apressadas. 

Era um lugar calmo em que se sabia perfeitamente a diferença de calçada e rua, e que havia a certeza de que a direita era mesmo direita e não um sudoeste torto — e, de modo inusitado, facilmente incendiável para uma capital de um reino tão grande. 

Quase não se viam carros; podia ouvir, bem distantes, sons de galope trotando nos paralelepípedos. Calgguns. Não imaginou que teria chance de vê-los tão de perto em qualquer esquina. 

— Onde estamos?

— Sei lá, quero conhecer a cidade. — Aquilo vindo de Vanessa soava milagroso. Explicava porque não tiraram as malas do carro. — O que acha, Bruna?

Era um lugar ótimo, mas já estava começando a sentir falta daquele movimento todo de sua antiga cidade. 

Conforme andavam, as pessoas os olhavam com estranheza; pareciam saber exatamente quem eram. Talvez pela ausência de caos, as pessoas conseguiam reparar melhor nas outras e, com isso, guardar bem os rostos que viam — rezaram para que a língua não fosse do tamanho dos olhos. 

Entre cada árvore ficava um banco de madeira, cada um deles exatamente igual ao que costumava a usar na escola em Vigdra — uma cascata de remorso invadiu Bruna, mas ela a fez evaporar.

Guiada por Lucas, ela se mantinha tão enfeitiçada pelo ambiente ao redor que quase não reparava no que os dois conversavam. A aparência daquela cidade fazia parecer impossível que a maldade existisse no mundo. 

— Foi pro céu, olha só... — zombou Vanessa enquanto tapeava seu ombro pra fazê-la acordar. 

— É... Admito que achei que fosse pior. — disse a menina. — Você faz parecer pior, na verdade.

— É uma pena, brasa, mas nosso passeio está acabando. Caramba, primeira vez que quero conhecer uma cidade e meu dia começa corrido...

Bruna só entendeu quando seus ouvidos detectaram um som mágico. O tilintar tornou-se nítido quando, depois de vasculhar a bolsa, a mão de Vanessa voltou acolhendo sem toque um cristal flutuante, que brilhava e oscilava como se a chamasse.

A loba apressava o passo conforme Lucas desviava o curso, sem deixar que Bruna entendesse o que era aquilo.

— Pra onde ela vai?

— Ah, ela tem seus problemas. Qualquer coisa, nos encontramos no carro. — guiou-a para uma padaria. — Vou te mimar um pouco. Não conta pra ela que te deixei comer pão doce.

— Onde nós iremos morar?

— Fica mais ou menos perto, não seja ansiosa.

— Como não? Sequer uma palhinha você me dá sobre minha própria escola…

Depois de uma gargalhada, Lucas se rendeu e explicou brevemente o que se sucederia. Pelo que ele explicava, parecia similar a um quartel, com a diferença que não poderia usar armas até determinado período e moraria fora de lá, numa casa comum. 

Apenas em saber que lá havia tanto enerions quanto pessoas comuns, seu coração teve a certeza de que o que passara anteriormente jamais existiria ali.

— Nossa casa fica um pouco afastada daqui, talvez precisemos ir a pé. Onde moramos, não existe nenhum carro que não seja terminantemente necessário. 

— E o que faremos com o Furgão-da-Morte?

— Vender, claro. Não o usarei pra mais nada. Tudo que precisamos está aqui, além de que a casa não fica muito longe da academia. E mesmo se ficasse, eu não te levaria.

— Você disse que não há carros lá, mas acho que não há carros em lugar algum. O Furgão era praticamente o único daquela rua.

— Aqui não é como Vigdra. Aquele lugar mais parecia um formigueiro de tanajuras.

Uma estranha nostalgia invadiu Bruna. Já ouvira aquela palavra em... “ah, sim”. 

As formigas gigantes. Elas não eram colossais, apenas um pouco maiores que uma polegada. Já as vira reunidas numa cuia, imóveis como batatas e temperadas com sal e um pouco de azeite. 

Lembrou-se que elas tinham um sabor peculiar similar a amendoins. Era um dos estranhos costumes solanos, comer insetos. 

Acordou das lembranças quando percebeu que ele continuava a falar:

— ... Só que aqui, as pessoas preferem respirar ar puro, além de que as ruas têm de estar livres pra que a guarda civil possa circular. 

— Por que aqui tem guarda pra caramba e em Vigdra não? Lá parecia bem mais provável precisar de um policial...

— Vigdra e os distritos mais distantes não são responsabilidade do castelo. É mais complicado enviar segurança aos mais distantes, então são essas próprias civilizações que se fortificam sob o comando dos duques. Isso não significa que são menos protegidas ou mais vulneráveis; muito pelo contrário. O contato com outros reinos é pelas fronteiras, ora.

— Então todas as cidades da fronteira são...

— Ducados e máquinas de guerra. Digo, se estivéssemos em guerra. E as cidades em torno da capital são principados, governados pela própria realeza. Os campos, são condados.

— Vanessa é condessa?

— Não, apesar da rima.

— Por que não? Ela é dona de uma fábrica, isso não seria quase um condado?

— Condados são terrenos, propriedades rurais. Fábricas já são de outro escalão, o de serviço. Vanessa é baronesa.

— Espera, nunca perguntei que tipo de fábrica ela é dona.

— Na verdade, não é uma fábrica. É uma forja. Mas eu prefiro chamar de fábrica porque lá são produzidas armas em massa, além dos milhares de ferreiros que trabalham lá.

Agora fazia sentido ela ter mantido segredo, a loba sabia da obsessão da menina por armas. Vanessa poderia facilmente presenteá-la com uma belíssima espada direto do forno, mas duvidava que ela fosse ser tão carinhosa. E tão maluca.

— ... Apesar do título considerado baixo, ela é bastante conhecida entre a realeza, pois é nessa forja que se fazem as armas dos exércitos em geral. Provavelmente até os punhais e espadas que os policiais usam sejam de lá.

— Então se ela é baronesa...

— Eu sou barão.

— Mas você não faz nada, seu inútil.

Ele fingiu ofensa enquanto ela gargalhava. Era uma tarde ensolarada quando saíram rumo ao seu novo lar. A área em que estavam era similar a uma feira: as pessoas circulavam pelo meio da rua, ocupando qualquer tipo de espaço. 

De tanto olhar tudo feito uma criança, reparou até nos costumes, diferentes demais do que estava acostumada a ver. Não conseguia imaginar como as damas se moviam com aquelas saias enormes e arqueadas, sem mencionar o calor infernal que predominava. 

Ao menos, era de encher os olhos. De fato, era belo ver roupas tão elegantes, sendo que até seus rostos pareciam mais bonitos do que em sua antiga cidade. 

Vira uma garota que devia ter sua idade, parecia uma boneca de tão enfeitada e quase não pôde disfarçar que boquiabriu para ela, se perguntando se ficaria tão bela assim caso usasse as mesmas roupas.

— O que está olhando?

— Nada, não. — disfarçou o encanto com timidez, amaldiçoando os pensamentos. Em tal disfarce foi que acabou pousando o olhar numa estranheza na multidão, tão sinistra que demorou para discernir bem o que era. 

Parecia uma rata ou um gato pelado como Leonardo. Porém, a pessoa tinha longos cabelos que lhe escorriam pelos ombros, em parte cobertos por um capuz também similar ao do amigo.

Antes que pudesse prestar mais atenção, esbarrar em alguém tirou seu foco, e ao olhar novamente, a criança sinistra já havia desaparecido.

Apressando o passo para ignorar os calafrios, mais umas outras — malditas e infinitas — curvas os levaram a uma área residencial, onde agora podia ter ideia de onde iria viver.

— Estamos chegando... — A loba cantarolou, dançando passos suaves ao caminhar. Antes, a raposa achava que Vanessa só tinha como disfarce aquele par de saltos, mas com o tempo descobriu-se enganada. 

Suas calças escondiam as barras de ferro de seus não-pés calçados com sapatos de cano alto. Enganaria qualquer um, pois os movimentos — sabe-se lá como — passavam um ar de naturalidade.

Provavelmente nelas existiam mais daqueles tais “amortecedores” e mais coisas que não lembrava o nome, deviam ser criação de algum xiagho e seu desdém contra magia. 

Bom, ser curiosa com isso não lhe parecia nada útil. Nunca entendeu por que Vanessa decidia fingir que era normal. Qual era o problema de saberem que não tinha pernas?

— Chegamos. — cantarolou ele, continuando a canção da irmã. — O que acha?

Era um sobrado diminuto, bem similar aos outros ao redor. Não tinha quintal, apenas uma breve estradinha de cascalho que levava à porta, com algumas plantas envasadas por perto. 

Era simples e bem diferente do que esperava. Mas continuava sendo suficiente e apenas isso. Que não fosse mais nada além do que precisava.

— Obrigada pelo capuz. 

Veronicca entrou atirando-a no rosto do preguiçoso residente no sofá, que acordou de súbito com o acerto.

— Ei, aonde você foi? E esse não é meu capuz...

Ela respirou fundo, pela milésima vez contendo respostas brutas diante da plena tranquilidade do irmão. 

— Eu só quis conhecer a cidade. Já que ainda estou me acostumando de novo.

Fazia um tempo que não se mudavam, mas não era natural que o máximo que ficaram em um só lugar fosse só seus três últimos anos. 

Quem sabe por isso Leonardo não gostasse de criar afeto por amigos — e Veronicca, obviamente, nunca aceitava as novas imposições. O irmão tentou consolá-la: — Pense pelo lado positivo.

Pelo menos desta vez havia um, mas não que ela fosse acreditar que era uma salvação.

Quando seus “pais” souberam a verdade oculta sob as luvas da gatinha, não demonstraram desespero, embora seus olhos o denunciassem. 

Praticamente não disseram nada no momento da descoberta, a “mãe” apenas mandou-a terminar de se vestir depois do sexto banho diário e esperar o irmão voltar da tal festa. E prometeu que no dia seguinte, conversariam mais sobre isso.

Veronicca estava tão aterrorizada que quase não dormira à noite, não se permitindo chorar porque isso literalmente pioraria sua situação. 

Apesar de todo o incômodo que seus braços emanavam, dormira abraçada com o titã quentinho que era Leonardo, tentando esquecer-se que um problema maior poderia estar por vir. 

Graças a isso, a gatinha teve sonhos com as memórias dele; viu a perfeita imagem de Bruna sorrir para o irmão apaixonado, um par de sinistros olhos verdes em meio à escuridão, a estranha presença da cor vermelho-sangue em tudo, o sorriso ameaçador do tal de Lukas, e o pai dando as costas pro filho enquanto caminhava para a luz forte que vinha da porta. 

Tudo que seu irmão sofria, mas que em sonhos não tinham tanta intensidade assim. Parando pra assistir, era compreensível que Léo sempre acordasse de mau-humor. 

Quando a noite do baile se fora, Veronicca acordara com as órbitas dos olhos escurecidas como a mancha das amoras. Às vezes, lhe apreciava se parecer com o que realmente era: uma doente. 

Estava à espera de uma reunião, mas em vez disso acordou com um sacolejo que a mandava arrumar as malas. Antes de se desesperar ao achar que iria ser deportada, seu “pai” lhe disse que enviara contato com alguém que iria ajudá-la.

— … Eu só espero que ninguém decida me abandonar até lá.

— Veronicca, ninguém vai te abandonar...

— Talvez não abandonem mesmo. É mais provável que “discretamente” “me” “esqueçam” naquele quartel de gente sobrenatural e se mudem para outro reino. Vai me dizer que não tem vontade de sumir daqui?

A dor que ele sentiu era bem familiar. Pensava nisso às vezes, que suas asas nunca seriam tão perigosas quanto as pequenas mãos da irmã e que poderiam levá-lo muito mais longe do que ela jamais chegaria.

— Você tá enlouquecendo. — ronronou, deixando o sofá pra ir até a figurinha desamparada diante de si. — Mesmo que nossos pais nunca tivessem nos amado de verdade, jamais nos largariam pra morrer. Seria imperdoável. E é impossível.

— Se é impossível, por que ainda sinto esse medo? — Ele abraçou-a sutilmente, contra a vontade dela. — Por que ainda tenho maus pressentimentos?

— É normal sentir isso antes de qualquer mudança. Eu senti o mesmo que você depois que... — Abanou a cabeça. — Bem, eu estou aqui agora. Estamos bem. 

— E como você fez pra acreditar que tudo iria ficar bem?

Leonardo olhou a janela, a uma amoreira no novo quintal. Era impressionante como uma simples árvore lhe trazia tantas lembranças. 

Desta vez, uma boa memória veio: quando era pequeno, escalava amoreiras muito mais altas todos os dias só para encher os bolsos e encardi-los de roxo. 

Devia ser minúsculo na época, pois hoje conseguia alcançá-la só em esticar o braço. E, como sempre, teria de ajudar a pequenina Veronicca a subir também.

— O mesmo que você sempre fez. Apenas acredito.

Num outro ducado, um amigo da juventude de sua mãe biológica estudava para lidar com tais anormalidades, sendo que atualmente já devia estar firme em seus conhecimentos. 

“Um especialista em enerions” — Veronicca pensara, lembrando-se das memórias que não eram suas. “Mas acho que nem enerion eu sou. Talvez algo muito pior.” 

Seu “pai” continuava dizendo como se não fosse, como se não sentisse horror da criancinha mortal diante de si. Continuava lhe explicando que esse fulano de anos atrás seria capaz de resolver todos os seus problemas — problemas dos jovens, ele quis dizer.

Era mais fácil dizer logo que iria empurrar para um estranho a tarefa de criar duas crianças, sendo um deformado e a outra doente. 

Não havia nem como saber se suas intenções eram verdadeiramente boas como ele parecia dizer. O papo terminou à tarde, quando Veronicca se cansou de explicar tudo de novo e de novo. 

Leonardo tomou coragem para assumir que sempre soube, ao que pelo menos seus “pais” não o julgaram. Ao chegar a carta de retorno do tal amigo, já estavam a zarpar. 

Sabia que a coisa toda era definitiva: um professor de uma academia de gente bizarra iria ser seu novo “pai”. Já nem sabia mais o que a palavra significava. 

Foram dias de viagem até a casa do fulano. Um rico casarão que os recebeu calorosamente mesmo tão cedo. “Ambos têm um problema” foi como a conversa se iniciou. 

Leonardo segurava sua mão enluvada por debaixo da mesa conforme seguia-se. A única coisa que conseguira distinguir com clareza era a afirmação do gato mais velho, explicando que seu trabalho era nada mais nada menos que lidar com as reações dos enerions que não eram capazes de se controlar.

Dizia ele que os ensinava a manter a calma e tentar continuar, ou também aceitar caso nunca conseguissem — soaria perfeito caso isso servisse de algum modo à gatinha. 

A ideia de viver o dia todo numa escola a assustava, já que nunca pisara em uma. Todos iriam olhá-la com pavor, pois era incapaz de se controlar e incapaz de conviver normalmente depois que todos soubessem disso. 

Tudo estava soando irreal e difícil. Quase não tinham trocado uma palavra com o velho e Veronicca sequer se preocupou em saber seu nome, já que não tinha certeza se ficaria mais que três meses. 

Nada ajudava a criar um pingo de confiança ou mesmo positividade na garota. Após o encontro, diversas vezes observou o velho sair e voltar sem horários específicos. Durante dias observou o comportamento dele esperando o pior de sua pessoa. 

Demorou para aceitar que essa seria sua nova realidade e sabia que teria de confiar nele de um modo ou de outro. Não era como se tivesse opção desde o início. 

Agora os irmãos estavam ali, deitados em camas diferentes, cada um olhando para seus próprios pensamentos, ao que a gatinha raciocinava algo de seu dia que a intrigou. 

Um melancólico sorriso se estampou em seus lábios. Ver aquela raposa recém chegar às ruas de Sialeka não era nenhum tipo de casualidade, pois não havia como confundir aquela raposa.

Foi depois de vê-la que não conseguia parar de imaginar o tão sonhado reencontro de seu irmão. Mas não contaria nada a ele, nem que precisasse costurar a própria boca.

Não contaria que a mesma escola na qual o velho dava aula era a mesma academia em que a paixão de Leonardo entraria para, enfim, realizar seu sonho.

A mesma academia que iriam visitar daqui a alguns dias, já que o ano letivo estava para começar. Porque, afinal, não podia mesmo estragar a surpresa nem se quisesse. Não era divertido pensar que poderia perder mais alguém para outra ironia do destino.



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