Volume 2

Capítulo 102: Reparo

— Incrível... — murmurou Hikki, ao lado de Colth e Beca, enquanto observavam a cena de alegria contagiosa na oficina do segundo andar daquela pequena construção que os serviam como esconderijo. Ele estava verdadeiramente impressionado: — Aquela garota estava à beira da morte há apenas alguns instantes.

— Honestamente, não sei como isso aconteceu — respondeu Colth, também comovido, seus olhos fixos na cena à frente.

No centro da oficina, Iara repousava no chão desgastado, com a cabeça descansando no colo de Goro. Um sorriso tênue adornava seus lábios enquanto ela trocava olhares cheios de gratidão com Garta, que transbordava de alegria ao vê-la se recuperar. O grande ferimento em seu abdômen havia cicatrizado de uma maneira quase milagrosa, algo que nenhuma magia conhecida parecia ser capaz de realizar até então.

A voz conhecida preencheu a cabeça de Colth:

“Diga a eles, Colth. Conte que a temível guardiã de Rubrum que reside em sua mente, foi quem salvou a garota.” As palavras ásperas de Lashir ecoaram na mente do rapaz, fazendo-o se sentir desconfortável.

— Você sabe que não posso fazer isso — sussurrou Colth em resposta, apenas para si mesmo.

— Você disse alguma coisa, Colth? — perguntou Beca, notando o comportamento estranho ao seu lado.

— Hã? Ah, não, não foi nada — desconversou ele.

Hikki, ao lado deles, soltou um suspiro tranquilo e comentou, maravilhado, com os olhos fixos nos três no centro da oficina:

— Nunca a vi tão radiante assim.

Colth e Beca seguiram o olhar de Hikki e encontraram o sorriso contagioso de Garta, enquanto ela contemplava, com ternura, o rosto de Iara.

A atmosfera na oficina era de alívio e otimismo, Colth não pôde deixar de sorrir diante da felicidade evidente de Garta e Goro. Era impressionante ver Iara se recuperando, uma luz de esperança em meio às incertezas que os cercavam. Mas mesmo nesse momento de alegria, uma sensação de inquietação persistia em sua mente.

Exausto e incapaz de pôr um fim naquela felicidade que permeava o lugar, Colth deixou toda a preocupação para o dia seguinte, assim como os outros fizeram.

Após algumas horas de um descanso essencial, Colth, Hikki e Beca se reuniram na oficina do esconderijo. O calor do fogo crepitante na lareira contrastava com o ar frio daquela manhã. Sentados ao redor da mesa de madeira rústica desgastada, em meio a várias prateleiras de ferramentas e bancadas de serviço espalhadas pela grande oficina, suas expressões traziam uma sensação de alívio, mas acompanhado de uma preocupação constante pelo que estava por vir enquanto esperavam pelos outros dois.

Goro aguardava de pé no canto mais afastado da oficina, próximo à porta do quarto, com as prateleiras obstruindo parcialmente sua visão da mesa central. Ele permanecia imerso em seus pensamentos até que um movimento na porta capturou sua atenção.

Quando Garta adentrou à oficina e fechou a porta com cautela, Goro imediatamente se dirigiu a ela. O rapaz perguntou, com um tom inquieto perceptível em sua voz:

— Como ela está?

— Surpreendentemente, bem — respondeu Garta. — A Iara só está bem cansada. Parece até que vai dormir por uns três dias, mas isso não é nada perto dos ferimentos que sofreu. O que me impressiona, tanto quanto a recuperação de Iara, é você estar preocupado, Goro.

— Ei! Eu também tenho coração, sabia? — rebateu o rapaz, na defensiva. — Além disso, só estamos aqui por causa dela.

Garta demonstrou curiosidade sobre aquelas palavras e o tom agradecido de revelação vindo de Goro. Ele continuou a expressar o reconhecimento sobre a garota:

— Depois que você ficou inconsciente, lá na cratera dos lunáticos, Garta, foi a Iara que me fez continuar. Ela me fez ver o quão importante é seguir em frente. Se ela não estivesse lá, eu teria apenas fugido.

— É, eu sei — concordou Garta.

Um silêncio agradecido e contemplativo veio dela. Não proferiu mais nada, mas Goro sim:

— Só isso?

Garta se surpreendeu com a pergunta:

— A Iara é realmente especial. Se não fosse por ela, nunca conseguiríamos. Quer que eu fale mais o que?

— Não é bem assim também — disse Goro divergindo.

— Ué? — estranhou Garta tentando compreender.

— Sabe, eu também ajudei. Deveria me agradecer e dizer: “Obrigada, Goro, você também foi importante. Daqui em diante vou chamar você de meu herói.” Ou algo do tipo.

— Ah, vai sonhando — finalizou ela, ultrajada diante da inesperada investida de Goro.

O rapaz sorriu ao ver as sobrancelhas de Garta se arqueando em desgosto. Ele adorava o quão fácil a tão poderosa guardiã de Finn se aborrecia com os seus dizeres, e se deleitava ao ver o seu encarar contrariado. Após contemplar a reação dela, Goro voltou a seriedade e complementou sabendo que estava entrando em um assunto mais delicado:

— De qualquer forma, você deu uma bela surra no Bernard, não foi? — comentou, tentando mudar o foco da conversa.

Garta baixou a cabeça, uma sombra de pesar surgiu em seu rosto.

— Eu não tive escolha — admitiu ela, a voz em tons de remorso.

Goro percebeu imediatamente o desconforto dela. Sem hesitar, ele se aproximou, se colocando na linha de visão de Garta.

— Ei, você fez o que precisava ser feito. Tentou de tudo antes de tomar uma decisão tão drástica — disse ele, transbordando sinceridade em suas palavras, com a voz minimamente reconfortante.

— Você não entende, Goro. Desde sempre, eu só cumpro ordens. Eu sou como uma ferramenta vazia — desabafou ela, o tom pesado sobre as palavras, como se fosse difícil de dizê-las.

Goro percebeu a dor nos olhos da guardiã.

— O tal do Gerente ainda te atormenta, não é? — perguntou ele, surpreendendo Garta.

— Como...

— A Iara me contou sobre quando você vivia no restaurante Gato Implacável. Aliás, que nome horrível para um restaurante — brincou ele, tentando aliviar um pouco a tensão no ar.

— O que...? Por que ela...

Garta se sentiu imediatamente vulnerável, não por Goro saber de seu passado, mas sim por ele entender tão rápido que aquilo ainda lhe afetava.

— Ela me contou, pois idolatra você, Garta — evidenciou Goro, continuou com a voz suave: — Não é para menos, a Iara me contou que você salvou a vida dela e dos seus pais, sem quaisquer segundas intenções. Na verdade, contrariando as ordens desse tal Gerente e te gerando vários problemas. Uma ferramenta vazia não sai por aí salvando inocentes por conta própria.

Garta se calou, refletindo sobre as palavras de Goro, refletindo sobre seus iminentes medos. Ainda em incertezas, expôs:

— Eu sei que não. Mas parece que eu estou sempre obedecendo ordens. — Hesitou por mais um segundo, ponderando sobre o que estava prestes a revelar: — Dessa vez foi a espada.

— A espada de Finn? — indagou Goro, com dúvida plena.

— Isso. A espada de Finn fala comigo. Na verdade, é como se várias pessoas falassem comigo através da espada. Acho que são os antigos guardiões de Finn, mas não sei ao certo.

Goro se mostrou impactado, na mesma intensidade que confuso:

— Espera, a espada fala com você?

— Sim, eu tive que convencê-la para que ela me permitisse usá-la — explicou.

— Mas como ela fala? Nem boca ela tem.

Garta se puniu balançando a cabeça negativamente, arrependida da sua própria decisão de contar sobre aquele estranho fato:

— Ah, eu sabia que não devia te contar isso, que idiota eu fui. Esquece o que você ouviu e...

— Não, não — Goro tentou convencê-la do contrário. Mostrou absoluta atenção e seriedade frente a complexa revelação: — Continua, eu acredito em você. Só é um pouco difícil de imaginar isso. E então, o que ela te disse? O que a espada falou?

Garta assentiu e respondeu à pergunta com uma sinceridade que nunca antes pensou em possuir. Confessou:

— Ela me pediu para matar o Bernard... E bom — mostrou-se desconfortável —, foi exatamente o que eu fiz — confessou ela, sua voz carregada de culpa e angústia.

Goro permaneceu em silêncio por um momento, processando a revelação de Garta. Sua expressão era de absoluta seriedade, vindo dele até parecia pura atuação.

— Só isso? — perguntou ele, analisando.

— É... — estranhou Garta, sentindo-se incomodada pelo olhar julgador de Goro. — Quer dizer, a espada falou algo também sobre carregar o fardo de ser a guardiã de Finn e... Ah. Por que eu estou falando isso para você? Você não vai entender mesmo...

Goro a interrompeu antes que pudesse concluir sua reclamação.

— A espada pediu para você salvar a Iara? — indagou ele.

— Hã?

— A espada pediu para você se sacrificar naquela maldita cratera cheia de lunáticos? — Goro emendou a pergunta, com uma imposição sutil, mas perceptível.

— Não, mas...

— É claro que não — interrompeu ele, a voz firme e segura. — Porque é apenas um pedaço de metal frio e sem vida, ao contrário de você, Garta. Você possui um coração bom e quente, não é mais um fantoche do Gerente, e certamente não será um fantoche dessa espada falante. Ela é apenas sua ferramenta para concretizar seus objetivos, não o contrário. Se esse é o seu medo, pode esquecer, não é dessa mulher que eu gosto.

— Como?

— O quê?

— O que você disse?

— Eu disse que a espada não vai te controlar, nunca, e é por isso que a Iara gosta tanto de você, Garta.

— Não. Não foi isso que você disse.

— Foi sim.

— Não. Eu tenho certeza que você...

Goro a interrompeu, se aproximando determinado a colocar um fim naquelas acusações:

— Se quer tanto ouvir o que eu tenho a dizer... — Ele estreitou os olhos, fixando-os na mulher impactada.

Ela se surpreendeu com a intensidade no olhar dele. Goro avançou, em resposta, a guardiã deu um passo para trás surpreendida, mas chocou-se com as costas na parede. O rapaz fez questão de encurtar o espaço entre eles, chegando ainda mais perto, seus olhos encontraram-se em um alinhamento perfeito. Garta tentou:

— Goro, o que você...

Se interrompeu ao ouvir a respiração dele tão de perto. Escutou também o seu próprio ofegar e até o compasso de seu coração. O calor dele preencheu o seu rosto que parecia ferver em intensidade. Goro manteve-se, aproximou seu rosto e, então, o desviou. Levou seus lábios próximo a orelha direita dela e sussurrou:

— Nada mudou, está bem? Você continua incrível, como sempre foi.

O sussurro dele enviou um arrepio pela espinha de Garta, enquanto suas bochechas coravam em resposta. Ela fechou os olhos instintivamente, tentando conter e disfarçar o embaraço pelas repentinas palavras recebidas e pela proximidade do rapaz. Mas ele continuou:

— E mesmo que você deixe de ser incrível algum dia, eu não dou a mínima, continuarei ao seu lado — completou Goro.

Um segundo. O silêncio se fez ouvir aos ouvidos de Garta. Finalmente abriu os olhos e, ao perceber Goro se afastando de costas para ela, respirou fundo tomando novamente o ar que perdeu.

“O que foi isso?” Se perguntou Garta, ainda abismada e com o rosto completamente vermelho.

Sem nem ao menos olhar para ela, Goro a apressou:

— Vamos, estão nos esperando — concluiu ele, caminhando em direção ao centro da oficina, como se nada tivesse acontecido.

— Tô indo — respondeu ela, contrariada. Pareceu até estranhamente emburrada, o que não fez nem sentido para si mesma.

Não sabia se sentia raiva, apreço, ou qualquer outro sentimento. Suspirou, chacoalhou a cabeça para deixar de lado as emoções conflitantes e finalmente seguiu os passos do rapaz.

Após ela se recuperar. Ambos se juntaram aos outros na mesa ao centro da oficina, prontos para discutir os próximos passos do grupo.

A voz assertiva de Beca deu início:

— Agora que estão todos aqui. Queremos saber, o que foi aquilo, Colth? — demandou a pequena mulher. — A Iara praticamente voltou dos mortos.

— Não foi bem isso... — Colth tentou responder, mas logo foi interrompido.

— Vocês não estão curiosos para saber como o Colth fez isso? — perguntou Beca, confrontando Garta e Goro.

— Um pouco — concordou Goro, brando.

Garta permaneceu em silêncio, e então todos os olhos na mesa se voltaram para Colth, aguardando uma explicação. Ele tentou amenizar a tensão rodeando sua resposta:

— Ah, eu apenas ajudei a Iara dentro de sua mente, não foi nada demais.

Beca não se convenceu:

— Eu estudei toda a biblioteca da fortaleza Última. Todo o conhecimento que embasou o progresso fulminante desse mundo reconstruído e nada, absolutamente nenhum dos livros que descrevia as magias dos oito mundos, dizia algo sobre a magia de Anima agir na cura instantânea de ferimentos letais.

— Espera aí, o que você quer dizer? — Colth encurralado — Eu salvei a Iara, só isso.

— Ele tem razão, isso não importa agora — adiantou-se Garta.

— Não importa? — Beca discordou. — Claro que importa. Pelo que entendi, após ter derrotado a Lashir, Colth ganhou a capacidade de absorver a magia de outros guardiões. Quem nos garante que ele não absorveu a magia de Celina? Ela sim, possui uma magia capaz de curar.

— Não. É claro que não. Eu jamais faria isso — defendeu-se Colth. — Fala para ela, Hikki.

O rapaz demandado se posicionou:

— Celina estava bem quando foi capturada e deixada na Fortaleza Última — Hikki respondeu, atraindo a atenção tensa da mesa.

— E você a viu usando a magia de Tera? — Beca questionou, impassível.

— Não, mas...

— Então a dúvida persiste — insistiu a engenheira. — Não podemos confiar em Colth até que ele nos diga de onde veio a magia que curou e salvou Iara.

— Isso é ridículo. — Colth se sentiu atingido.

— Vamos com calma, Beca — interveio Hikki. — Ele salvou a garota.

A tensão na mesa aumentou com as discordâncias.

— Exatamente — pronunciou-se Goro. — Ele salvou a Iara. Então, podemos simplesmente deixar isso tudo de lado para voltarmos para Tera e recomeçar nossas vidas agora.

— O quê? — estranhou Hikki, impactado pelas palavras repentinas do rapaz.

— Ah, não mesmo, Goro — discordou Beca. — Não sei se de onde você veio é comum fugir como um covarde, mas eu não vou simplesmente virar as costas para esse mundo e as pessoas que agora vivem nele.

— De onde eu vim? — murmurou Goro, desgostoso — Eu vim do mesmo lugar que você, sua nanica.

Hikki tomou a frente, tentando opinar:

— Eu bem que acho essa ideia atraente...

— Não, Hikki — interrompeu Beca. — Só está falando isso por estar com a sua irmã segura agora, não é?

— Só estou ponderando. Viu o que aconteceu com a Iara, não? Qualquer um aqui pode ser o próximo, e duvido que tenhamos a mesma sorte dela. Podemos sair desse mundo e recomeçar enquanto ainda estamos vivos.

Beca o fuzilou com os olhos:

— Sabe que eu não vou deixar as pessoas desse mundo para trás, desse modo. Além disso, eu farei aquele homem pagar — declarou Beca, sua voz cheia de determinação, os olhos brilhando com uma intensidade firme.

— Eu não vou deixar a Celina ou o Koza para trás — expressou Colth, também resoluto.

— Eu agradeço o zelo que teve comigo, irmão — disse Garta. — Mas eu não posso abandonar quem tanto me ajudou até agora.

Hikki hesitou por um momento, refletindo sobre as palavras dos amigos, antes de finalmente ceder:

— Ahn, certo. Certo — respondeu ele, sem se opor. — Eu achei que diriam isso. Bom, então podem contar comigo.

— Estão se ouvindo? Vão fazer o quê? — perguntou Goro, com o rosto inconformado, confrontante. — Vão se opor a cidade de Última? Enfrentar o exército que está armado com a mais avançada tecnologia? Atacar o imperador, aquele que foi capaz de subjugar a Deusa Lux?

— Sim — responderam imediatamente uníssonos, Colth e Beca.

— Vocês ouviram o que eu falei? São malucos, só podem — reclamou Goro, recebeu como resposta os olhares determinados de ambos.

Goro suspirou resignado, aceitando a decisão.

— Eu deveria ter esperado isso de todos vocês. Que assim seja, então — concordou Goro. — Mas desta vez, façam um plano melhor, e que não dependa da boa vontade de um guardião alucinado como o Bernard.

— Não se preocupe — estabeleceu Beca. — Temos uma vantagem.

— Uma vantagem? — perguntou Garta, dando voz a dúvida dos outros.

Beca encarou Colth, pensativa, ainda ponderando. Se decidiu e se voltou a todos:

— Bom, se estão tão confiantes com o Colth, então eu não vou me opor — encarou mais uma vez o rapaz com uma intensidade mortal —, mas saiba que se você fizer alguma coisa fora do comum ou mesmo pensar em nos trair, eu mato você.

Colth engoliu seco. Aquela mulher era tão pequena, mas o seu aviso foi tão intenso que o fez lembrar dos piores generais do exército de Albores.

— Tem a minha palavra — enfatizou Colth.

Todos relaxaram as suas expressões tensas.

— Então, tudo bem — concedeu Bertha. Levantou-se: — Bom, voltando a falar da “vantagem”. Eu vou lá buscá-la. Podem me ajudar, Hikki e o cara novo covarde.

 — Quem você está chamando de covarde? — perguntou Goro, também levantando-se junto com Hikki para auxiliar a pequena Beca.

Os três foram juntos em direção ao canto cheio das bancadas de serviço em busca da tal vantagem que Beca parecia se orgulhar ao falar.

Sozinhos na mesa, Colth e Garta permaneceram em silêncio enquanto um clima estranho surgiu entre eles. Colth, desconfortável, tentou puxar assunto:

— Ele fez de novo, não foi?

— O quê? — Garta não entendeu de imediato.

— O Goro, ele fez aquilo de novo — Colth sorriu observando o amigo distante discutindo com Beca enquanto diante de uma das bancadas de serviço.

— O Goro? — Garta imediatamente na defensiva: — Não. Ele não fez nada. Eu não sei do que você está falando.

— O que deu em você, Garta? — estranhou Colth. Geralmente a guardiã não se mostrava tão atrapalhada ou nervosa com as palavras.

— Nada — respondeu mínima ela. Se calou percebendo que estava tropeçando em seus dizeres.

Colth permaneceu desconfiado por um momento, mas logo em seguida se desfez da dúvida. Concluiu o que estava dizendo:

— O Goro, ele fez todos concordarem novamente. Foi a mesma coisa lá no refúgio do Índigo. Ele se opõe a duas ideias divergentes, de uma forma tão destoante que parece até idiota, mas no final faz essas ideias divergentes se unirem para combater a idiotice dele.

— Então ele se fez de estúpido? — perguntou Garta, tentando entender onde Colth queria chegar.

— Não. — Colth soltou um riso quase inconsciente. — Estúpido ele é mesmo.

— Eu concordo. — Garta respondeu, com um sorriso bem humorado.

— Mas o Goro estava blefando na hora que propôs deixar tudo de lado para voltar viver em paz em Tera — complementou Colth, mais sério. — Ele é do tipo que fica ao lado das pessoas que lhe importa até o final.

— “Ficar ao lado” — repetiu ela, em sussurro.

Garta sentiu seu peito arder, mas foi de uma forma tão sutil e leve que pareceu mais aconchegante do que preocupante. Mesmo assim, não pôde deixar de estranhar. Tentou entender aquele sentimento, mas foi interrompida:

— E aqui está! — proferiu Beca, cortando a conversa dos dois à mesa ao se aproximar com os seus dois ajudantes. Apontou para o que estava nas mãos de Hikki e Goro, disse orgulhosa: — A nossa vantagem.

— Isso é... — Garta boquiaberta.

— Beca — Colth completamente atônito —, você é completamente insana.

— Não sou? — perguntou a própria engenheira em concordância. Abriu um sorriso de orelha a orelha, mais do que orgulhosa.



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