Volume 1
Capítulo 4: Perspectiva Externa
NO DIA SEGUINTE à cerimônia de ingresso, saí cedo da minha residência para ir à escola. Pelo caminho, não encontrei nenhum dos meus antigos colegas e cheguei ao campus em silêncio. Bom, já era de se esperar. Saí cerca de 30 minutos antes do habitual. Minha razão para isso não era evitar os olhares das pessoas ou por mero capricho. Minha prioridade máxima neste momento é compreender a fundo a Classe C, ou seja, entender a situação interna desta nova turma.
Não apenas por meio dos dados da OAA, mas vendo e ouvindo tudo com meus próprios olhos e ouvidos, para absorver as informações de forma mais eficaz. Para isso, não posso simplesmente ficar sentado esperando que as coisas aconteçam.
Tenho que tomar a iniciativa. Quem chega primeiro? Quem chega por último? Quem fala muito? Quem fala pouco? Quem sabe ler o ambiente e quem não sabe? Observar essas coisas é meu primeiro passo.
Quando cheguei à sala da Classe C do 3° ano, abri a porta lentamente.
A sala deveria estar vazia, mas...Desde o início, algo inesperado aconteceu. Eu tinha a intenção de ser o primeiro a entrar, mas esse plano foi por água abaixo. Ao olhar para frente, vi uma aluna sentada ao lado da minha mesa. Ela estava olhando para seu tablet. Ao ouvir a porta se abrir, ergueu os olhos com certa surpresa.

Não tinha feito nenhum barulho especialmente alto ao abrir a porta, então seu sobressalto deve ter sido porque não esperava que mais ninguém chegasse tão cedo. Mas sua expressão logo se suavizou.
— Bom dia.
Depois de tomar um pequeno fôlego, cumprimentei a primeira pessoa da classe, que por acaso estava sentada ao meu lado… Asuka Shiraishi.
— Bom dia.
Shiraishi respondeu educadamente.
Asuka Shiraishi
Habilidade Acadêmica: B+ (76)
Habilidade Física: D (34)
Habilidade de Pensamento Crítico: C+ (57)
Contribuição Social: C- (44)
Habilidade Geral: C (54)
Seu nível acadêmico está acima da média, mas sua capacidade física é muito baixa. Não parece alguém especialmente extrovertida, nem me lembro de ter ouvido falar que interagia muito com alunos de outras classes.
Isso é tudo que sei sobre Shiraishi pela OAA dos últimos dois anos.
Voltei a prestar atenção em sua aparência e traços.
O que mais chama atenção é a pinta abaixo do olho esquerdo e seus belos cabelos longos e loiros, presos por uma tiara. Sua expressão tranquila e gentil transmitia a impressão de alguém reservada e pouco exigente. Na verdade, das poucas vezes que a vi nos últimos dois anos, lembro-me dela como alguém que nunca se destacava muito. Essa situação era um pouco diferente do meu plano, mas era melhor me deixar levar pela corrente.
Pode ser que, em algum momento, os assentos sejam trocados, mas pelo menos não em um futuro próximo. Diante disso, dar-me bem com minha vizinha de carteira era essencial para a vida escolar.
Assim como há dois anos, quando minha vida escolar começou falando com Horikita, posso usar o que aprendi nesse período para traçar um caminho aqui também.
O primeiro passo: descobrir como iniciar uma conversa...
A partir dos dados da OAA de Shiraishi, não conheço sua personalidade, interesses ou gostos. Isso significa que terei que descobrir isso no decorrer da interação, sem nenhuma pista inicial. Ao me aproximar da minha mesa, percebo que Shiraishi parece estudar logo pela manhã. Ela segurava uma caneta na mão e resolvia exercícios no tablet, então esperei um momento antes de falar.
Nos cruzamos várias vezes nesses dois anos, mas é a primeira vez que tento conversar com ela.
— Não esperava que ninguém chegasse antes de mim. Você chega cedo.
— Correto. Acabei acordando mais cedo que o habitual. Mas você também é bem madrugador, Ayanokoji-kun.
Simplesmente segui seu cumprimento, e ela respondeu educadamente. Suas palavras foram um pouco hesitantes, talvez porque ainda não me conheça bem, ou talvez porque não quisesse falar de fato, mas sentiu-se obrigada a continuar a conversa já que estávamos sozinhos.
Ainda não está claro.
— Para mim, é basicamente como trocar de escola. Em vez de ser recebido pelos outros, prefiro ser o primeiro a entrar e dar-lhes as boas-vindas.
Essa resposta continha um pouco de verdade. Decidi manter a conversa até que ela demonstrasse um claro desinteresse.
Deixar o silêncio se instalar em uma sala de aula vazia onde estávamos apenas nós dois me parecia desconfortável.
— É uma coincidência bastante curiosa, não acha, Ayanokoji-kun? Dois vizinhos de carteira, sozinhos nesta sala tranquila, e ambos chegando cedo.
— Sim, pode-se dizer que sim.
A palavra coincidência trazia uma sensação estranha. Pelo menos Shiraishi não parecia incomodada, o que já era algo positivo. Agora, como manter a conversa fluindo? Até onde cheguei, não era tão fácil quanto imaginava.
Tinha várias ideias, mas decidir quais eram apropriadas para dizer era outra questão, e eu não me sentia confiante. Se Hirata estivesse aqui, ele manteria a conversa naturalmente, sem perder o ritmo e sem precisar calcular cada movimento.
— Por que decidiu se transferir para cá, afinal, Ayanokoji-kun?
Justo quando eu hesitava, Shiraishi fez uma pergunta que era natural de se fazer. Em seguida, continuou investigando.
— Você trabalhou muito para chegar à Classe A, então é difícil acreditar que tenha vindo para uma Classe C inferior.
— Normalmente, parece ser isso mesmo.
— Então... se não é algo "normal", por que se transferiu?
Os encantadores olhos de Shiraishi estavam fixos em mim, claramente querendo saber meu verdadeiro motivo.
— Hashimoto e os outros devem ter explicado quase tudo. Vim como reforço.
— Entendo essa parte. Mas o que você ganha com isso, Ayanokoji-kun? Ninguém mencionou nada a respeito. Há rumores de que você conseguiu muitos pontos privados... ou, se ainda não conseguiu, conseguirá.
Ela não se conteve, provavelmente porque ninguém mais estava por perto para ouvir. Responder a essa pergunta era bastante simples.
Quero manter o equilíbrio entre as quatro classes, o que exige elevar a Classe C (e a Classe D) para que possam alcançar as duas classes superiores. Se não for possível fazer isso de fora, farei de dentro. Mas como ainda não tornei pública nossa aliança, não posso revelar esses detalhes.
— Honestamente, a maioria dos nossos colegas ainda tem dúvidas sobre o quanto você pode realmente influenciar a classe ou mudar as coisas.
— Estão se perguntando se realmente precisamos de Ayanokoji-kun.
— Embora já seja um pouco tarde para isso. Se tivessem objeções, poderiam ter se recusado desde o começo.
— Doloroso, mas verdade. Nossa classe perdeu a compostura depois que Sakayanagi-san saiu da escola durante as férias de primavera.
Uma das minhas condições para a transferência era que toda a classe tivesse que me aceitar. Sem Sakayanagi, a Classe C não apenas perdeu um ativo valioso, mas também sofreu um grande impacto na moral. Eles estavam desesperados por uma solução.
Deixando de lado se Kiyotaka Ayanokoji tinha ou não alguma habilidade, a proposta em si — introduzir um novo estudante e reduzir o número de alunos da classe A — não era uma má opção. Embora Hashimoto pagasse a maior parte da conta, o custo restante para cada indivíduo ainda era significativo, então, naturalmente, esperavam de mim resultados proporcionais ao preço que pagavam.
— Não muitos estudantes da Classe A se transfeririam para a Classe C.
Shiraishi continuou.
— Katsuragi-kun foi um exemplo, mas ele fez isso porque perdeu a disputa com Sakayanagi-san e queria se vingar.
— Então, você nunca considerou a possibilidade de que eu tivesse conflitos com a Classe A?
— Eu... não vejo dessa forma. Você costumava ser confiável para a Classe A e se dava bem com eles.
Ela fez um elogio cortês, mas parecia que havia algo mais por trás. Por ora, parecia prudente tomar isso ao pé da letra e seguir com a conversa.
— Não me lembro de ter mostrado esse meu lado para as outras classes.
— As pessoas de fora da sua classe ainda podiam perceber. Nos exames especiais finais do primeiro e do segundo ano, você teve um papel crucial. Isso exige segurança e confiança.
— Entendi. Do seu ponto de vista, você aceitou minha transferência?
— Como eu acabei de dizer, tenho uma grande consideração por você e grandes expectativas, Ayanokoji-kun. Além disso, alunos como Hashimoto-kun e Morishita-san, que tanto insistiram para que você se transferisse, te valorizam ainda mais do que eu. Além disso...
— Além disso...?
Os longos comentários de Shiraishi terminaram ali, interrompidos pela chegada de um estudante.
— S-Shiraishi. Bom dia.
— Bom dia, Yoshida-kun.
Seus assentos estavam um pouco afastados, mas ele cumprimentou Shiraishi assim que entrou. Em seguida, olhou para mim, deixou sua mochila sobre a mesa e se aproximou.
— O que é isso, Ayanokoji? Você chegou bem cedo.
— Queria ser o primeiro a chegar, mas Shiraishi me passou na frente.
— Nesse caso, a partir de amanhã, venha assim que a escola abrir. Ser o primeiro a chegar também seria um bom exemplo. Apareça antes de todos até que a turma inteira te aceite.
— Entendi.
A escola abre às 7h15. É bem difícil, mas talvez não seja uma má ideia tentar por um tempo.
— Essa sugestão é um pouco exagerada, não acha?
Justo quando eu estava prestes a assentir, Shiraishi falou suavemente.
— E quando você diz "até que todos na classe te aceitem", o que exatamente quer dizer?
Como mediríamos quando "todo mundo" realmente aceitou ele?
— Para falar a verdade, eu não tinha pensado tão a fundo...
Yoshida foi pego desprevenido pela observação de Shiraishi e não conseguiu esconder sua confusão.
— Se quisesse, poderia continuar se recusando a aceitá-lo independentemente do que aconteça. Isso seria injusto, não acha?
— Eu não quero ser assim!
— Então por que não retira o que disse?
— Tá bom, entendi. Esquece o que eu acabei de falar, beleza?
— Ótimo. Sabia que você veria a razão, Yoshida-kun.
— Sim... acho que exagerei um pouco.
— A propósito, Yoshida-kun, você é bem popular nessa turma. Poderia ajudar Ayanokoji-kun a se enturmar?
— Hã? Q-Quê? Eu? Ajudar ele?
— Você faria isso?
— De jeito nenhum. Não seja ingênua.
Anotei mentalmente: "Yoshida é popular na turma" para referência futura. Mas ainda não sabia se Shiraishi realmente estava elogiando ele ou apenas jogando conversa fora.
— Entendo. Ayanokoji-kun, se me permitir, posso ser uma candidata para ajudá-lo? Talvez eu não consiga fazer muito com os garotos, mas pelo menos posso te apresentar a algumas garotas. Gostaria de te convidar em breve para conhecer algumas amigas... se me acompanhar.
Como diz o ditado: "Deus ajuda quem cedo madruga". Não parecia haver razão para recusar a oferta de Shiraishi.
— Eu agradeceria muito.
— Espera aí! Tá bom, tá bom, eu te ajudo, Ayanokoji.
Yoshida interrompeu, voltando atrás no que tinha dito antes como se estivesse arrependido.
— Tem certeza, Yoshida-kun?
— Bem, sim. Me senti um pouco mal por rejeitar a festa de boas-vindas. Precisa de coragem para entrar numa classe que até pouco tempo era sua inimiga, então algum apoio é necessário. Que tal escolhermos um dia livre? Eu estou disponível quando for.
Ele sorriu para Shiraishi, em vez de para mim.
— Certo. Eu te aviso quando decidirmos um dia.
— Fechado! Enquanto isso, não se esforce demais, Ayanokoji.
Ele estava tão animado que eu apenas assenti educadamente.
Depois disso, os alunos da Classe C começaram a chegar gradualmente à sala, e Yoshida se apressou para voltar ao seu lugar.
— Ele é tão simples.
Comentou Shiraishi, olhando para Yoshida antes de voltar-se para mim.
— Ele gosta de mim, sabia?
— Isso... é bem óbvio.
Era evidente que Yoshida sentia algo por Shiraishi, mas era raro ver que o alvo desse afeto estivesse tão certo disso sem nenhuma dúvida.
— Então, ele não suporta me ver saindo com outro garoto num dia livre. Talvez ele espere que eu acabe namorando com ele. Mas, infelizmente para ele, mesmo se chegasse o dia em que só restássemos eu e Yoshida-kun no mundo, eu não o escolheria.
Shiraishi sabia que era muito querida, mas não parecia nem um pouco lisonjeada com isso. Era compreensível — ela simplesmente não se interessava por homens que não gostava.
— De qualquer forma, você me contará o motivo da sua transferência na próxima vez, certo? — Ela desviou o olhar e sorriu, como se quisesse deixar claro que não havia esquecido. Por enquanto, éramos apenas vizinhos de carteira amigáveis. Mas é provável que minha análise sobre Shiraishi ainda esteja longe de acabar.
*
Sábado. Primeiro dia livre após a transferência.
Embora minha turma e meu curso tenham mudado, o que eu preciso fazer é mais ou menos o mesmo. Depois de terminar o café da manhã, estava pensando em ir à academia quando recebi uma mensagem no celular.
SE ESTIVER LIVRE HOJE, QUER IR À ACADEMIA COMIGO?
Era um convite da minha parceira de treino, Ichinose. Apesar da mensagem, eu já tinha planejado ir à academia, então respondi que sim. Ela leu imediatamente e, após uma breve troca de mensagens, combinamos de nos encontrar lá.
Saí sem demora. Os estudantes que aguardavam a abertura do Keyaki Mall se reuniam em pequenos grupos na entrada.
Não me juntei a eles, apenas fiquei de lado, deixando o tempo passar. Um estudante do segundo ano da Classe D, Kazuomi Housen, se aproximou de mim. Devido ao seu porte físico imponente e sua aura, nenhum dos recém-chegados do primeiro ano se atrevia a chegar perto dele.
No ano passado, quando eu estava no segundo ano, tivemos que interagir com os calouros desde o início. Mas este ano, ainda não tive oportunidade de me relacionar com os novos alunos, então não conheço nenhum deles. Pode ser que entre eles haja alguém com um talento notável.
Enquanto pensava nisso, Housen se aproximou. Ele foi um dos estudantes do primeiro ano mais comentados na primavera passada.
— Ei, Ayanokoji-senpai. Dizem que algum senpai idiota se transferiu voluntariamente para essa decadente Classe C. Tentando alguma manobra estranha, não é?
Ele estava falando de forma casual, mas não havia diversão em seu rosto. Parecia que, na verdade, ele nem estava interessado no assunto.
— Quem sabe? — Respondi, fingindo indiferença. Housen esboçou um leve sorriso e se aproximou ainda mais.
— Heh, tanto faz.
Era óbvio que ele tinha outro motivo para estar ali.
— Ultimamente, sinto que meus braços estão ficando enferrujados, sabe? Então estou procurando alguém para usar como saco de pancadas. Tem alguma ideia? — Depois de dizer isso, Housen girou o braço.
— Sinto muito, mas não pretendo lutar com você.
— Não seja tão frio, cara.
— Se é isso que você quer, por que não pede para o Ryūen?
Housen soltou um grande suspiro de insatisfação, como se eu tivesse acabado de desperdiçar o tempo dele com essa sugestão.
— Aquele covarde não tem coragem para um verdadeiro um contra um.
— Não seria mais emocionante para você ter vários oponentes ao mesmo tempo?
— Uma ou duas vezes pode ser divertido, mas ser incomodado o dia todo seria um saco.
Se Housen iniciasse algo com Ryūen, provavelmente venceria, mas, em troca, teria que lidar com represálias sorrateiras em algum momento ou lugar desconhecido. Ele provavelmente já havia percebido isso.
Os dois tiveram um confronto direto no exame da ilha deserta, mas nada sério o suficiente para que a escola precisasse intervir. Nesta escola, tirando os calouros desinformados, não há muitos que se atrevam a enfrentar Ryūen diretamente. De certa forma, ele se protegeu muito bem.
— A propósito, parece que vocês podem alcançar a Classe C?
Falar sobre brigas não fazia sentido, então tentei conseguir informações sobre a situação do segundo ano. No segundo ano de Housen, não houve nenhuma mudança na classificação das turmas durante todo o ano. No entanto, incluindo a Classe D, todas as turmas ainda estavam em uma posição em que podiam potencialmente vencer.
— Quem se importa? Eu só estou focado em acumular pontos. O resto eu deixo para a Nanase.
— Você deixa para a Nanase? Não é comum alguém com a sua personalidade delegar as coisas, mas é uma escolha sábia. Ela parece mais apta para liderança do que você.
— O que quer dizer com isso? Tá querendo brigar comigo, senpai? Nesse caso...
Housen imediatamente voltou a falar sobre violência.
— Ayanokoji.
Chabashira-sensei se aproximou de nós, parecendo um pouco tensa diante do comportamento agressivo de Housen. Ao ver uma professora se aproximando, Housen estalou a língua e começou a se afastar.
— Até mais, senpai. Vou brincar um pouco com alguns calouros interessantes. Quando eu terminar, você pode ser meu sparring.
— Sinto muito, mas esse não é o papel que planejo desempenhar.
Murmurei em um tom baixo, o suficiente para que Housen não pudesse me ouvir. Chabashira-sensei segurou meu braço.
— Venha comigo.
Com uma autoridade implícita e pressão indireta, ela me conduziu até um canto daquele andar.
— O que foi?
— Só quero falar com você. Como professora... Não, como sua antiga professora, eu não deveria me encontrar com você tão casualmente, mas há algo que preciso confirmar.
Ela parecia estar em conflito, sua expressão carecia da firme determinação habitual. Provavelmente passou a última semana imersa em pensamentos.
— Você tem me seguido desde que saí da residência, não é?
— Então você percebeu.
— Bem, não foi muito difícil.
Suas habilidades de perseguição eram tão ruins quanto as de Morishita. Definitivamente nada profissional.
— Você não tinha nenhuma garantia de que eu sairia do meu quarto esta manhã. Quanto tempo pretendia esperar?
Apesar de o clima estar esquentando, ainda fazia frio tão cedo. Ela poderia ter pegado um resfriado, mas Chabashira-sensei não parecia se importar.
— Isso não é importante. Quero perguntar sobre sua transferência... Por que decidiu isso sem dizer uma palavra...? Por quê...?
— Ah, a transferência de novo. Para ser honesto, ouvi essa pergunta tantas vezes esta semana que já estou cansado dela. Não importa de que ano sejam ou se são homens ou mulheres... todos perguntam.
No entanto, nenhum outro professor tinha me confrontado diretamente até agora. Como professora, ela realmente não deveria se envolver na decisão de um aluno de se transferir ou sair.
— O que está acontecendo? Você poderia pelo menos me dar uma explicação?
Eu não tinha nenhuma obrigação de dar explicações detalhadas. Chabashira-sensei sabia disso e, ainda assim, não recuou.
— Você se transferiu de classe... sem dizer nada. Tem certeza de que nada te obrigou a fazer isso? — Ela insistiu.
— O que exatamente quer dizer?
— Eu... claro, isso...
Diante da minha pergunta, Chabashira-sensei não soube dar uma resposta clara.
— Ah, certo, quase esqueci de mencionar, pode ficar tranquila quanto ao caso da Hoshinomiya-sensei. Ela não vai te causar problemas, nem para você, nem para a escola, nem para os outros professores, se deixando levar pelas emoções.
— Você...!
Dominada pelas emoções, Chabashira-sensei não conseguiu mais se conter. Ela agarrou meus ombros.
— Então foi realmente minha culpa, não foi? Fui pega nos problemas da Chie... e você se sacrificou para resolvê-los?
— Certamente, é assim que você vê as coisas, mas fique tranquila, pois eu já planejava me transferir muito antes de o problema da Hoshinomiya-sensei vir à tona.
Ela me encarou nos olhos, tentando encontrar a verdade em minhas palavras, embora uma parte dela parecesse incapaz de se livrar das preocupações. Ainda assim, ela teve que ver que eu não me arrependia dessa decisão.
— De verdade... não há mais nada que te preocupe?
— Sim. Desde o início, meu objetivo era a Classe C ou a Classe D. Eu não tinha nenhuma queixa sobre você como professora, nem sobre a classe.
— Então por quê? Qual o sentido de fazer algo tão inútil...?
— Se é inútil ou não depende do ponto de vista. Você sabe que eu não sou obcecado por me formar na Classe A, certo?
— Sim.
— Me transferi por motivos pessoais, algo que absolutamente preciso alcançar enquanto estiver nesta escola. Decidi que seria difícil cumprir isso se eu permanecesse na sua classe. Não vou te dizer o que é neste momento.
Ela certamente perceberia agora que foi minha própria escolha. Eu não pretendia dar mais detalhes, pois corria o risco de que ela comentasse com Horikita e os outros de alguma forma inesperada.
— Já está quase na hora do meu treinamento. Eu vou indo.
Do ponto de vista da professora, não seria apropriado continuar insistindo. Chabashira-sensei se obrigou a manter a compostura e assentiu com a cabeça.
— Entendido... Desculpe por ter tomado seu tempo.
Colocando distância entre nós, segui em direção ao ginásio no segundo andar.
*
Na tarde de sábado, o Keyaki Mall estava lotado de estudantes aproveitando seu intervalo para o almoço.
Depois de se despedir de Ayanokoji em frente ao ginásio, Ichinose desceu sozinha pela escada rolante até o primeiro andar.
Ela havia combinado de almoçar com alguns colegas de classe às 12h30.
— Olá, Ichinose-senpai!
No caminho, uma estudante do segundo ano da Classe A, Ichika Amasawa, chamou Ichinose. Elas não eram particularmente próximas, mas se davam bem o suficiente para conversarem casualmente sempre que se encontravam. Amasawa se aproximou com um sorriso brilhante e inocente, e Ichinose a cumprimentou com um olhar amigável.
— Você foi ao ginásio hoje, senpai?
Amasawa olhou para cima, em direção ao ginásio no segundo andar, e pulou direto para a pergunta, ignorando qualquer conversa trivial.
— Sim. Treinei por uma hora.
— Será que eu deveria me inscrever também~? Ultimamente, estou me sentindo meio preguiçosa, sabe? Tá difícil lidar com isso...
— Se estiver interessada, por que não faz uma sessão de teste? Posso ir com você, se quiser.
— Sim, mas eu andei gastando demais esses dias! A mensalidade do ginásio é meio cara para mim...
— Eles têm planos mais baratos disponíveis.
— Sério? Ah, claro... Ayanokoji-senpai também treina no ginásio, não é?
Um brilho repentino iluminou os olhos de Amasawa ao mencionar o nome de Ayanokoji.
— Sim. Ayanokoji-kun também gosta de treinar, então eu o convidei para ir comigo.
— Entendi~. Nesse caso, eu deveria considerar isso seriamente — disse Amasawa, com os olhos praticamente brilhando. Ao ver aquela expressão, Ichinose manteve o sorriso e fez uma pergunta.
— Hm? O fato de Ayanokoji-kun estar lá ou não influencia na sua decisão de se inscrever?
— Claro que influencia! Eu gosto muito, muito, muito do Ayanokoji-senpai — Amasawa formou um coração com os dedos enquanto falava em um tom exageradamente meloso.
— Eh...?
Essa confissão repentina fez os olhos de Ichinose se arregalarem.
— Oh, é amor de senpai, sabe, quero dizer que gosto dele como colega de classe, não de um jeito romântico!
— Entendi.
Ichinose continuou sorrindo enquanto conversava com Amasawa, mas não pôde evitar se perguntar por que a garota trouxe Ayanokoji à tona de uma maneira tão indireta. Havia pouco em suas interações passadas que sugerisse tal conexão, o que fez Ichinose se sentir um pouco desconfortável.
Ao perceber a leve mudança na expressão de Ichinose, o olhar de Amasawa se estreitou brevemente.
— Só estava brincando~. Na verdade, é AMOR-amor.
Ela abandonou qualquer encenação.
— Você quer que eu te ajude... a conquistá-lo? — A ousada declaração de Amasawa fez Ichinose supor que ela poderia estar pedindo ajuda para se declarar a um senpai de quem gostava. Mas Amasawa balançou a cabeça.
— Mas percebi que você e Ayanokoji-senpai andam bem próximos ultimamente, e estou um pouco com ciúmes. Vocês... são um casal?
— Eu? Não tenho esse tipo de relação com Ayanokoji-kun.
Ichinose respondeu calmamente. No entanto, as suspeitas de Amasawa apenas aumentaram.
— Tem certeza? Você é super bonita, Senpai. Se fosse minha rival, com certeza eu perderia.
— É verdade, então não precisa se preocupar.
Amasawa fez um bico como se estivesse prestes a chorar, mas Ichinose manteve a seriedade.
— Você não está... mentindo, está? Não está me enganando, Ichinose-senpai?
— Claro que não. Mas se está tão curiosa sobre a academia, deveria se inscrever. Pode ser sua chance de se aproximar de Ayanokoji-kun.
Apesar de manter a postura de uma senpai responsável, Ichinose começou a sentir que essa "adorável kouhai" estava investigando algo. Enquanto Amasawa continuava falando sobre romance com Ayanokoji, Ichinose percebeu que a garota era diferente do que aparentava. Amasawa seguiu atuando, rindo alegremente e se aproximando de Ichinose.
— Ultimamente, você está meio convencida, não está, Ichinose-senpai?
Amasawa, que sempre fazia o papel de uma boa aluna do segundo ano na frente de Ichinose, agora falava palavras duras em um tom baixo.
Uma pessoa comum ficaria surpresa com essa mudança repentina de atitude e reagiria. Esse era exatamente o objetivo de Amasawa ao descartar sua fachada de "boa aluna". No entanto, Ichinose não pareceu nem um pouco abalada.
— Desculpe se te passei essa impressão. Não era minha intenção...
Amasawa se perguntou se Ichinose realmente tinha entendido. Se não, como ela podia estar tão calma?
— Sabe, percebo as coisas bem rápido, embora seja meio clichê dizer isso... Algo deve ter acontecido entre você e Ayanokoji-senpai, não é?
— Hã? De jeito nenhum... Mas você parece estar estranhamente interessada em Ayanokoji-kun.
— Não te disse o quanto o amo? Justamente porque o amo, vejo a verdade. Você está se empolgando demais por conta própria.
— Empolgando? — Ignorando a resposta de Ichinose, Amasawa continuou.
— Isso é porque você e Ayanokoji-senpai dormiram juntos, não é?
Amasawa lançou essa bomba, aproveitando a promessa anterior de Ichinose de não mentir.
É claro que ela não tinha nenhuma prova de que os dois tiveram uma relação física. Mas, depois de ver como Ichinose, que estava tão abatida após um exame especial, se recuperou rapidamente e parecia tão próxima de Ayanokoji na cafeteria após a cerimônia de ingresso, Amasawa presumiu que houve um ponto de virada em que ele esteve envolvido.
Dessa perspectiva, não era tão absurdo imaginar que os dois tivessem dormido juntos. Independentemente da verdade, ela só queria ver se Ichinose vacilava.
— Bem, talvez isso tenha algo a ver com o fato de eu estar "empolgada demais por conta própria", como você disse.
— Hm...? Você não vai negar? Isso é... chocante.
— Você me disse para não mentir, Amasawa-san. Lembra?
Ichinose percebeu a malícia nas palavras de Amasawa, mas, como senpai e amiga unilateral, ainda tentava não machucá-la.
— Entendo então...
Para Ichinose, era fácil continuar sorrindo até o fim e ser gentil com os outros.
Mas, já que a outra parte tinha intenções maliciosas, Ichinose decidiu encarar a adversária de frente, depois de reavaliar a situação.
— Então você admite que dormiu com ele? — Ichinose sorriu em silêncio. — Isso significa que vocês estão namorando em segredo?
— Não estou namorando Ayanokoji-kun.
— Hã? Quanta contradição. Então estão juntos sem ser um casal?
— Compartilho um forte vínculo com Ayanokoji-kun. Só isso.
— Um... forte vínculo? Pfft, hahahaha.
Amasawa caiu na gargalhada, segurando a barriga e enxugando as lágrimas dos olhos.
— Ichinose-senpai, você está realmente empolgada demais. Está viajando, Senpai. Seja realista.
— Sério? — Repetiu Ichinose.
— Estou dizendo que Ayanokoji-senpai só está obcecado por esse seu corpo incrível. Mas você está aí, achando que tem algum "vínculo profundo" com ele. Como pode ser tão ingênua? Não importa o quanto ele esteja fixado agora, um dia ele vai se cansar. Vai te descartar, vínculo e tudo, assim como fez com Karuizawa-senpai. Não fique assim ou vai se arrepender.
Essa provocação aberta deixou claro o verdadeiro motivo de Amasawa: ela queria avisar Ichinose de que se aproximar demais de Ayanokoji acabaria mal.
— Ei, Amasawa-san, tem alguma comida especial que você adora, algo que raramente pode comer? — Perguntou Ichinose de repente, mudando de assunto.
— Eh? Comida especial? — Amasawa, surpresa pela mudança repentina, respondeu com um sorriso. — Bolo, eu acho~.
Entre várias opções que vieram à sua mente, Amasawa escolheu essa com seriedade.
— Quando você prova um bolo realmente delicioso, quer comer de novo, certo?
— Com certeza!
— Mas se você comer todos os dias, até a sua comida favorita pode enjoar.
— Sim, pode até começar a te dar nojo só de olhar.
Concordaram, assentindo simultaneamente.
— Por isso, não se pode comer demais. Quanto mais você gosta, mais deve guardar para ocasiões especiais. Você tem que se conter até lá. E quanto mais você se segura, mais forte fica o desejo, porque já provou uma vez e sabe que é delicioso.
Ichinose continuava sorrindo para sua colega de classe. No entanto, Amasawa pareceu perceber a verdadeira natureza oculta sob aquela fachada amável.
— Se comparando a um bolo de luxo? Nossa, isso sim é se supervalorizar. Você realmente acha que isso vai funcionar? Estamos falando de Ayanokoji-senpai, você sabe. Está tratando ele como um garoto qualquer. Você é ainda mais ingênua e doce do que eu pensava.
— Então você conhece muito bem Ayanokoji-kun, pelo que vejo.
— Obviamente. Provavelmente melhor do que você, Senpai. Ele é do tipo que guarda muitos segredos.
Pela primeira vez, Ichinose desviou o olhar e observou ao redor. Depois, voltou-se para Amasawa e a encarou fixamente.
— Agora não há segredos entre Ayanokoji-kun e eu.
Ichinose demonstrou total confiança em Ayanokoji. Ao ver isso, Amasawa não conteve a gargalhada, desta vez com um olhar zombeteiro.
— Hahaha! Boa essa, Ichinose-senpai. Você acha que só porque dormiu com ele agora sabe tudo? Você é adorável, pode ser que eu acabe gostando de você também!
— Bem, da mesma forma que dormir juntos não significa que você sabe tudo, a relação que você tem com ele, Amasawa-san, não significa necessariamente que você o entende, não acha?
— Estou te dizendo que, pelo menos nesta escola, ninguém sabe mais sobre ele do que eu...
— Ayanokoji-kun me contou muito mais do que você imagina.
Ichinose a interrompeu, ignorando o olhar cético de Amasawa.
— Certo, por exemplo, sobre a Sala Branca.
— O quê?
Até agora, Amasawa estava conduzindo a conversa com zombarias e provocações. Mas sua expressão congelou instantaneamente. No entanto, ela rapidamente se recuperou e tentou insistir novamente.
— Pare de brincar, Ichinose-senpai. Como se Ayanokoji-senpai fosse falar disso com alguém de fora.
— Talvez.
Normalmente, Amasawa não perderia a compostura tão facilmente, mas "Sala Branca" era uma expressão que não deveria ser mencionada de forma casual.
— Espera, você está falando sério? Ayanokoji-senpai realmente te falou sobre a Sala Branca?
Ela estava 100% certa de que alguém como Ayanokoji, que queria uma vida escolar normal, nunca compartilharia esse assunto com alguém de fora.
— Parece que agora compartilhamos um pequeno segredo, Amasawa-san.
— N-Não, espera! Exatamente quanto ele te contou?
Neste momento, o sorriso de Amasawa havia desaparecido sem que ela percebesse. Enquanto isso, Ichinose permanecia serena como sempre.
— Não saberia dizer. Podem ser as mesmas coisas que você sabe... talvez até mais.
— Isso é impossível. É impossível que Ayanokoji-senpai...
No fundo, Ichinose sorria.
Na verdade, ela só tinha ouvido o termo desconhecido "Sala Branca" uma vez, durante o exame na ilha deserta. Ayanokoji lhe disse que não fazia ideia do que significava, então ela ainda desconhecia a verdadeira história.
Mas pela maneira como Amasawa falava, como se o conhecesse melhor que qualquer um, Ichinose deduziu que Amasawa poderia estar ligada a essa "Sala Branca".
Por outro lado, se Amasawa nunca tivesse ouvido falar do termo, Ichinose poderia usá-lo para se gabar de que estava mais "por dentro" do que Amasawa. De qualquer forma, o resultado favoreceria Ichinose.
"Sala Branca", presumivelmente "alguma escola de alto nível". Essa foi a especulação de Ichinose, que também julgou que Amasawa fazia parte dessa Sala Branca.
E isso significava que ela acabava de aprender um pouco mais sobre Ayanokoji, o que encheu seu coração de satisfação.
— Muito bem, preciso me encontrar com meus amigos. Agora vou indo. Ah, e se tiver mais perguntas sobre como se juntar à academia, sinta-se à vontade para perguntar quando quiser.
Ichinose disse, afastando-se em seguida.
— Ugh, deixei minhas próprias emoções levarem a melhor sobre mim — disse Amasawa, enquanto um leve sorriso surgia em seu rosto e ela beliscava a própria bochecha com força.
Sua intenção era brincar com Ichinose, mas as tornas haviam se invertido.
(N/SLAG: A expressão "as tornas haviam se invertido" significa que a situação se virou contra quem a iniciou. Ou seja, a pessoa que antes tinha o controle da situação agora está em desvantagem.)
— Isso me deu arrepios. Não é de se admirar que Ayanokoji-senpai tenha se interessado por ela. Ela é mais do que apenas uma senpai peituda.
Começou a caminhar novamente, mas de repente parou.
— Ainda assim, ele é um homem. Existe a possibilidade de que ela o tenha enganado com aqueles peitões, que tenha o prendido... Mas isso é improvável.
Pensou Amasawa, descartando a ideia.
Ainda assim, não conseguiu evitar rever sua baixa opinião sobre Ichinose. Essa mudança foi, sem dúvida, devido a Ayanokoji, mas Ichinose definitivamente havia mudado por conta própria também.
— As batalhas deste terceiro ano vão ser realmente interessantes. Muito bem~... Melhor eu também começar a levar isso a sério, para ver meu querido Ayanokoji-senpai feliz.
Com isso, Amasawa saiu, decidida a não perder tempo nesta escola e pronta para perseguir seus próprios objetivos.
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