Volume 6

Capítulo 292: Uma noite centrada ao redor de Fran

Três festas noturnas seguidas pareciam um pouco de exagero, então falamos com o chefe da aldeia e pedimos que ele se abstivesse de organizar outro banquete. Em vez disso, Fran passou a noite contando aos aldeões sobre sua jornada.

Tudo começou porque algumas crianças, que enfim se acostumaram com Fran, se aproximaram dela e perguntaram sobre suas aventuras. Ela prontamente começou a compartilhar sua história, embora em sua forma habitual. Ela não era tão boa em exagerar ou apimentar as coisas, então suas histórias acabaram sendo muito mais realistas do que heroicas. Mesmo assim, os aldeões, jovens e velhos, reuniram-se em torno dela. Só demorou alguns momentos para toda a aldeia se reunir ao seu lado. Ela contou-lhes sobre o lich, descreveu suas façanhas no torneio de Ulmut, e então resumiu tudo contando-lhes o que tinha acontecido no navio.

— Então salvos pelo Leviatã.

— Uoahhh!

— Isso é incrível!

A vila inteira prendeu retomou o fôlego de forma coletiva enquanto ela encerrava. Cada membro de sua população estava tão tenso que eles começaram a suar. Mas ninguém tinha notado até que a garota terminou. Isso mostrava quanta atenção eles prestaram a ela.

— Que aconteceu depois?

— Mal posso esperar para ouvir mais!

— Mmph. — Fran franziu o cenho. Ela disse aos aldeões tudo o que estava disposta a compartilhar, então ela estava perdida quanto ao que dizer. Depois de um momento de deliberação, ela decidiu falar um pouco sobre mitologia.

Sendo mais específico, ela decidiu falar sobre a razão pela qual os gatos-negros eram incapazes de evoluir, pois ela decidiu que não haveria nenhum mal em contar aos seus companheiros de tribo sobre a maldição deles.

— Difícil imaginar agora. Mas no passado, gatos-negros tinham alto status.

Os gatos-negros pareciam sentir que Fran estava prestes a mergulhar em um tipo diferente de tópico, mas eles afiaram seus ouvidos e ouviram com interesse. No entanto, quanto mais ela dizia, mais suas expressões mudavam. Aos poucos, eles perceberam a gravidade do conto que lhes foi dito, então começaram a considerar essa palestra de um ponto de vista mais sério.

Embora não estivesse no nível de ser solene, eles ficaram quietos. Eles se certificaram de não falar para não perderem uma única palavra. Eles descobriram que a Tribo dos Gatos Negros tinha, em certo momento, governado sobre todos os outros Homens-Fera como Lordes das Feras, que seu governante tinha perdido o controle depois de descobrir um método para absorver a força do deus maligno, e que a punição divina foi a razão pela qual eles perderam a capacidade de evoluir.

Através das palavras de Fran, eles passaram a entender que seus grilhões existiam por causa da expiação. Eles precisavam matar seres malignos para compensar os pecados cometidos por seus ancestrais.

— Nn. Isso é tudo.

Desta vez, os gatos-negros ficaram em silêncio mesmo depois que Fran terminou de falar. Eles estavam tendo dificuldade em digerir todas as informações que tinham acabado de ser entregues.

O primeiro a se mover foi o chefe.

— Obrigado. Muito obrigado por nos contar sobre nosso passado. — Ele se ajoelhou enquanto falava com ela.

— Nn.

— Temos que aprender com isso! — O chefe virou-se para os aldeões enquanto levantava sua voz: — Ouçam, meus irmãos! Nossos ancestrais cometeram um pecado grave e mortal, um que não podemos perder nosso tempo lamentando! Temos que seguir em frente enquanto compensamos tudo o que fizeram para provar aos deuses que a leniência foi a decisão certa! Pode ser difícil, mas o caminho da recompensa não é um sem benefício, ele também é o caminho que levará nossa tribo à evolução. Enfim podemos mudar! Não precisamos mais ser gatinhos fracos abandonados no escuro! Podemos parar de correr sem rumo, vivendo na solidão, e suportando violência injusta! Devemos seguir nossos próprios caminhos! Devemos esculpir nossa força, dignidade e honra! Nós, gatos-negros, devemos nos tornar mais poderosos! Temos que ser fortes o suficiente para pagar por nossos pecados! Eu declaro que a aldeia apoiará o esforço, não importa o custo! Embora eu não vá forçá-los, eu os encorajo a pelo menos tentarem! Vamos todos trabalhar pela redenção, juntos!

Caramba, podia ver por que o chefe da vila conseguiu sua posição. Eu realmente tinha que admitir, ele era bom em deixar as pessoas animadas.

Toda a aldeia permaneceu em silêncio, mas as intenções dos moradores eram claras. Seus olhos queimavam com a mesma paixão ardente que o chefe tinha acabado de inflamar em seus corações.

E foi por essa razão que o silêncio só durou um instante.

Toda a aldeia tremia como um rugido estrondoso de som explodindo através dele. Cada gato-negro tinha se levantado e começou a bater palmas.

— Eu vou evoluir! Eu juro pelo meu nome!

— É uma pena. Estou velho demais para tentar evoluir, mas isso não significa nada! Me certificarei de dar aos jovens todo o apoio que puder!

— E eu vou usar minhas habilidades para inscrever as palavras da princesa em pedra! Eu vou até fazer um monumento e colocá-lo nesta mesma praça!

Cada um dos moradores reconheceu e aceitou pelo menos uma parte do discurso do chefe. Embora nem todos tenham decidido que eles mesmos buscariam a evolução, pelo menos concordaram em contribuir para o esforço, de uma forma ou de outra. O fato de ambos estarem expiando e trabalhando em direção aos seus próprios objetivos pessoais ao mesmo tempo serviu para elevar a moral.

Uou. Eu não achei que eles iriam acreditar em nós com tanta facilidade. Eles também não estavam zangados com os deuses. Esse foi um conjunto completo de expectativas indo pelo ralo. Quer dizer, caramba, que devoção. Eles pareciam pensar que a culpa era deles, e que não havia nada para culpar os deuses. Mas achei que fazia sentido vendo como os deuses existiam de verdade neste mundo.

Os adultos começaram a celebrar a nova política trazendo o álcool. Eu não queria que Fran bebesse, então eu a fiz se juntar ao resto das crianças.

"Estou feliz que eles acreditaram em nós."

— Nn.

"Parece que a tribo dos gatos-negros está cheia de pessoas bondosas e confiantes." Eu queria acompanhar a declaração dizendo a Fran que não havia nada de errado em fazer a escolha de ficar, de permanecer em Schwarzekatze, mesmo que fosse apenas por um pouco mais de tempo...

— Partindo amanhã.

Mas ela me cortou antes que eu pudesse.

"Já?"

— Nn. Tudo que queria dizer já foi dito.

"Tem certeza que já quer ir embora? Isso é muito repentino."

— Não posso ficar. Confortável demais aqui. Preciso partir.

"Bom, essa não é mais uma razão para..."

— Decisão final. Amanhã.

Parecia que não havia como convencê-la.

"Tudo bem. Acho que podemos sempre voltar em outra hora."

— Nn!

Afinal, não era como se Schwarzekatze fosse desaparecer do nada.


A noite caiu, a festa acabou, e a paz voltou para a aldeia. Como os residentes de Schwarzekatze, Fran e Urushi já estavam dormindo profundamente... ou pelo menos deveriam. Os dois de repente se levantaram em conjunto.

Estamos sob ataque! Não pode ser... eu não sinto nada, e os movimentos de Fran tinham um pouco de letargia, então duvidei que fosse isso...

"Qual o problema?"

— Nn…?

Au…?

Nenhum dos dois entendeu a razão pela qual eles acordaram de repente. Eles não conseguiram identificar ao que tinham reagido. Eles olharam em volta e tentaram encontrar a fonte da perturbação.

"Então?"

— Não sei.

Ão.

Mas suas conclusões foram a mesma que a minha: nada estava fora do comum.

Que diabos? Houve um terremoto em algum lugar ou algo do tipo? Er, espere, é verdade, terremotos não são tão comuns aqui como são no Japão, então todos estariam criando um alvoroço muito maior se houvesse um.

Decidimos dar uma olhada ao redor da aldeia no caso de um monstro ter entrado através do uso de uma habilidade furtiva.

Mas não fomos capazes de encontrar nada muito fora do comum. Tudo o que vimos foram bêbados desmaiados no acostamento da estrada. Não tínhamos ideia de onde cada um morava, então não podíamos levá-los até em casa, mas pelo menos nos certificamos de movê-los para a grama em vez de deixá-los de cara na terra.

Embora nossa busca tenha sido em vão, eu duvidava que poderia haver uma coincidência tão grande quanto Fran e Urushi acordando de repente ao mesmo tempo sem nenhuma razão real.

"Eu sei que não encontramos nada ainda, e que já é tarde, mas vamos continuar procurando."

— Nn.



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