Volume 6

Capítulo 287: A aula de magia da Srta. Fran

O banquete evidentemente esgotara Fran. Ela saiu da cama um pouco mais tarde do que o normal no dia seguinte. Não havia nada em particular para ela fazer, então a garota começou a passear pela vila depois de comer o suficiente.

Todo mundo por quem Fran passou se curvou para ela. A ação foi uma indicação clara de sua reverência. Esse respeito era mais óbvio no povo mais velho, pois muitos até se ajoelhavam no momento em que a avistavam.

"Com certeza é quieto por aqui."

— Nn. Apenas campos, nada mais.

Schwarzekatze era uma vila agrícola. Os muitos gatos-negros que moravam aqui passavam seus dias lavrando os campos. Apenas alguns seletos eram caçadores; a maior parte da carne da aldeia vinha de mascates e comerciantes viajantes. E como a vila era pobre, não podia comprar muito, então a maioria de seus membros acabou se tornando herbívora.

Os mais novos eram especialmente magros e frágeis. Suas estruturas eram tão escassas em carne que fiquei preocupado se elas seriam capazes de viver, dado o quão infértil a terra ao redor era. Não me parecia que eles seriam capazes de sobreviver.

A maioria dos gatos-negros mais velhos havia passado pelo reinado do Senhor das Feras anterior. Embora eles ainda fossem covardes, eles sabiam que seriam usados como iscas e escudos de carne, então pelo menos aumentaram sua massa muscular. Eles eram diferentes dos jovens, que sabiam que nunca precisariam pisar no campo de batalha. Isso, combinado com o fato de eles acharem que eram fracos, os havia roubado a vontade de se fortalecerem.

Foi por isso que eles passaram a vida lavrando os campos. E foi por isso que eles nunca aprenderam a ter ambição. Nenhum deles jamais pensou em tentar evoluir antes da chegada de Fran.

Aqueles que queriam evoluir precisavam matar mil seres malignos. Mas é claro que essa não era a única restrição, era apenas a que lhes era aplicada como punição. Eles ainda precisavam atingir o nível 45 antes que pudessem realmente despertar. E pelo que eu vi, nenhum dos membros da tribo possuía a convicção de passar por tanto combate.

Apesar disso, Fran não estava preocupada, e por boas razões. Ao contrário de mim, ela sabia do problema desde o início. Eu tinha certeza de que ela não apenas pensou nisso, como também chegou à conclusão de que era impossível que a atitude da tribo mudasse tão de repente. Parecia que ela não esperava que nenhum outro gato-negro evoluísse nos próximos anos. Era possível que levasse várias décadas até que algum cumprisse todas as condições necessárias.

— Quero fazer uma coisa.

"O quê?"

— Quero ensinar método de treinamento mágico.

“Faz sentido.”

Tudo o que era necessário para evoluir era matar mil seres malignos e atingir seu nível máximo. Mas tudo o que isso faria era transformar mm gato-negro em um Tigre-Negro. Para se tornar um Tigre-Negro-Celestial, era necessário não apenas aprender a magia do relâmpago, mas também aumentar as estatísticas de Magia e Agilidade. Aumentar as estatísticas não era muito difícil.

Tudo o que você precisava fazer era inserir segmentos de treinamento específicos para cada status na sua rotina e ficaria tudo certo. Magia do Relâmpago, no entanto, era muito mais difícil de obter. Lançar magia do relâmpago exigia não apenas uma afinidade com o elemento, mas também um alto nível na magia do fogo e do vento. Seria muito improvável que outro Tigre-Negro-Celestial aparecesse, a menos que a Tribo dos Gatos-Negros treinasse seus membros mais jovens na arte da magia. Fran sabia que deixar para trás as técnicas necessárias para esse ato beneficiaria muito sua espécie.

"Sim, não vejo por que não. Manda ver."

Amanda havia nos ensinado tudo o que precisávamos saber sobre treinamento orientado a magia. Eu estava confiante de que poderíamos transmitir esse conhecimento desde que o agrupássemos com alguns exemplos práticos. E assim, Fran começou a procurar o chefe da vila. A aldeia era bastante pequena, então não demorou muito para vê-lo discutindo algo com um grupo de membros mais jovens da tribo, uma expressão séria decorando seu rosto o tempo todo.

— Chefe. Dia.

— Bom dia, Princesa do Raio Negro.

— Algo errado?

— Está tudo bem, obrigado. Alguns jovens disseram que queriam começar a treinar, então procuraram-me para pedir conselhos, e estávamos conversando sobre isso.

Os jovens em questão eram aqueles cujos rostos eu reconheci. Eles eram membros do grupo que se juntara a Fran em sua expedição de extermínio de goblins.

— Nó-nós queremos ficar fortes! — um disse.

— Não sei se vou conseguir evoluir, mas quero tentar. Estou farto de fugir. —, afirmou outro.

— Quanto a mim, eu gostaria de ser forte o suficiente para pelo menos me proteger e todos os outros ao meu redor. —, acrescentou um terceiro.

Parecia que Fran conseguiu influenciá-los.

Ouvir as opiniões deles levou minha companheira com orelhas de gato a concordar com a cabeça, antes de abrir a boca para falar:

— Entendido. Momento certo. Tive ideia.

— Posso estar apostando nossa sorte aqui, mas você por acaso está disposta a treiná-los? — perguntou o chefe.

— Meio que sim? Vou ensinar como aprender magia.

— Que espetacular!

A Tribo dos Gatos-Negros como um todo havia esquecido as técnicas necessárias para despertar seus talentos mágicos. E por causa disso, seus membros pensaram que ganhar a capacidade de conjurar magia seria semelhante a viver um sonho.

— É-é mesmo possível aprendermos magia? — perguntou o chefe.

— Provavelmente. Nem todos terão afinidade.

— Sim, mas alguns terão, certo?

— Nn. Vento e fogo provavelmente comuns.

A magia do relâmpago era a efetiva especialidade da tribo dos gatos-negros, por isso fazia sentido que muitos de seus membros tivessem uma afinidade pelo fogo e pelo vento.

— Alguém já pode usar magia? — perguntou Fran.

Se essa pessoa existisse, poderíamos facilitar a tarefa, transformando-a no instrutor de magos da vila. Infelizmente, parecia que nossas esperanças foram em vão. O chefe respondeu dizendo que não havia como uma vila tão rural quanto Schwarzekatze abrigar um conjurador de magia. Os magos estavam em alta demanda por todo o lado. Não havia razão para alguém com tanto talento permanecer em uma área cercada por nada além de terras inférteis.

— Tá. Então reúna os moradores.

— A-agora mesmo! Vou pegar todos disponíveis!

— Espe-...

Fran tentou dizer ao chefe que não havia nenhum problema em esperar até que os moradores terminassem o trabalho do dia, mas ele fugiu antes que ela pudesse fazer isso.

Levou apenas dez minutos para ele voltar. Ele acabou reunindo quase 200 gatos-negros. Eles estavam reunidos e sentados ao redor de Fran, com os olhos cheios de esperança e antecipação. Todos os moradores estavam presentes, exceto aqueles que absolutamente não podiam deixar seus postos.

— Ensinarei como treinar magia. —, disse Fran de forma indiferente.

— Sim, senhora! — A maioria dos gatos-negros respondeu ao mesmo tempo. Suas vozes trovejaram por toda a vila em um volume que eu nunca imaginei ser possível de um grupo tão tímido quanto eles.

— Primeiro fogo.

E assim, a palestra de Fran começou. Seu conteúdo praticamente refletia o que Amanda havia dito quando ela estava começando. Ela disse a eles para trabalharem com fogo e chamas todos os dias, para encará-lo, abordá-lo e até tocá-lo enquanto se determinavam até a se queimarem. Ela explicou aos membros da tribo que eles precisavam se acostumar com o fogo, a ponto de vê-lo em seus sonhos, se desejassem lançar magia de fogo.

Ao ouvir sua explicação, toda a tribo ficou em silêncio.

Eu acho que o treinamento deve ter soado muito duro e fanático.

O único a falar foi o chefe.

— E-e fazer isso nos permitirá aprender a lançar magia de fogo?

— Nn. Se tiver afinidade.

— Entendido. Vou preparar um lugar para os membros da nossa tribo treinarem agora mesmo.

Eu pensei que Fran teria que dar um pouco mais de conhecimento sobre a teoria para que os membros da tribo realmente acreditassem nela, mas eu estava errado. Todos foram convencidos com facilidade. Eles não se preocuparam com a possibilidade de tolerar ou não o treinamento. Tampouco se preocuparam com sua eficácia. Eles apenas entenderam cada palavra que ela disse e acreditaram nela.

— Próximo, vento.

Fran continuou explicando tudo em seu tom habitual. A tribo estava ficando animada, apesar do fato de ela mesma não parecer empolgada ou entusiasmada. Eles continuaram ouvindo-a até que sua palestra terminou, seus olhos cheios de uma paixão ardente.



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