Volume 6

Capítulo 283: Heroína ou ídolo

O chefe da vila dançou um pouco antes de se acalmar e nos guiar até a vila. Uma enorme massa de pessoas se aglomerou ao redor da área em frente ao portão. Havia pelo menos duzentos gatos-negros reunidos ao nosso redor. Apesar desse grande número, a multidão estava muito quieta. Ouvimos alguns murmúrios misturados com um soluço ocasional, mas ninguém estava aplaudindo ou gritando. A maioria dos aldeões ficou atordoada e em silêncio.

Um dos gatos-negros à nossa frente ajoelhou-se no chão. Ele juntou as mãos em oração e olhou fervorosamente para Fran, como se ela fosse o Messias. Um por um, os outros gatos-negros ao seu redor seguiram seu exemplo. Não demorou muito para que toda a multidão começasse a orar, com Fran como objeto de sua adoração. A atmosfera bizarra deixou a garota e eu desconcertados.

— Pessoal, pessoal, parem com isso. —, disse o chefe da vila. — Vocês não veem que estão incomodando a Princesa do Raio Negro?

As pessoas ao redor de Fran se levantaram de forma desajeitada, embora ainda continuassem a enviar seus olhares ardentes.

— Sinto muito por isso. —, disse o chefe da vila. — No que diz respeito aos gatos-negros, você pode muito bem ser um milagre ambulante. Todo mundo está agindo assim porque ver você comoveu os corações deles. Você poderia perdoá-los?

— Nn. Sem problemas.

Como se a voz de Fran fosse um sinal, a multidão começou a zumbir.

— Ó meu Deus, ela falou!

— A voz dela é tão adorável!

— Ela é verdadeiramente divina!

— Mamãe, como eu me torno igual a ela?

As pessoas ao nosso redor estavam conversando de forma animada. Eles tratavam Fran mais como um ídolo famoso do que como aventureira ou guerreira. A multidão logo se aproximou dela. Todos estavam tentando dar uma boa olhada nela ao mesmo tempo.

— Chega! — gritou o chefe. Ele acenou com as mãos, afastando a multidão. — Devo mostrar a ela a hospitalidade de nossa vila. Por favor, me siga, Princesa do Raio Negro.

— Nn.

A multidão se separou e permitiu que o chefe nos levasse a uma casa um pouco maior no meio da vila. Um grande grupo de gatos-negros seguiu atrás de nós. A maioria era de crianças, então eu meio que esperava que eles nos chamassem. Mas nenhum deles fez isso. Era óbvio pelo olhar deles que eles estavam ocupados demais admirando Fran para se lembrarem como usar suas vozes.

Quando chegamos à casa do chefe, ele sentou-se e depois preparou em pessoa uma xícara de chá para Fran. Um monte de gatos-negros se amontoou do lado de fora da janela, observando-a beber. Eu podia sentir que muito mais tinham seus ouvidos pressionados nas paredes.

— Peço desculpas por não poder lhe servir nada melhor. —, disse o chefe.

— Nn. Sem problema. Saboroso. — disse Fran, depois de tomar um gole.

— Óóóóó! É bom ouvir isso. Muito obrigado pelas suas amáveis palavras.

As pessoas do lado de fora da casa aplaudiram.

— Essas folhas de chá foram produzidas por esta vila. Todos ficarão honrados em saber que você gostou delas.

— Nn.

Torci para que Fran não estivesse apenas sendo educada. O que eles teriam feito se ela dissesse que era ruim? Provavelmente alguém sairia correndo para comprar um chá caro.

— Muito bem. — O chefe sentou-se. — Posso perguntar o motivo da sua visita?

— Nada demais. —, disse Fran. — Só queria ver a vila dos gatos-negros.

— Ó, entendo! — O chefe sorriu enquanto assentia. — É uma honra ver você mostrando interesse em nós. Por favor, deixe-me oferecer-lhe minha casa para você passar a noite. Não há pousadas nesta vila e minha casa é a maior daqui.

— Não se preocupe. Só alguns dias. Vou acampar do lado de fora.

— Não-não-não-não! Como eu poderia permitir que a Princesa do Raio Negro ficasse ao ar livre? Por favor sinta-se em casa.

— Sério? Obrigada.

— Se houver mais alguma coisa que você precisar, não hesite em me avisar.

Isso era um pouco preocupante. Nós não viemos aqui para atrapalhar a rotina da vila. Em vez disso, viemos para ver se havia algo que pudéssemos fazer para ajudar.

— Diga se houver algum problema. —, falou Fran. — Vou ajudar com qualquer coisa.

— Estou muito feliz em ouvir essas palavras. —, disse o chefe. — Mas não poderíamos pedir isso a você, que já trouxe tanta esperança à nossa tribo.

— Está tudo bem. —, insistiu Fran. — Diga-me. Algum problema com monstros?

— Estamos em uma área isolada que não conta com muitos monstros, — ele explicou, — então eles não são uma ameaça há algum tempo. Agradecemos ao senhor das feras por nos colocar neste local. A terra não é muito fértil e é difícil cultivar, mas pelo menos podemos viver aqui em paz. Mesmo assim, — ele fez uma pausa, — posso pedir uma coisa a você?

— Nn. Feliz em fazer qualquer coisa.

— Você pode mostrar aos nossos jovens o quão forte você é?

— Habilidade de combate?

— Sim. Não é possível para nós, idosos, caçarmos mil seres malignos. Nós somos velhos demais. Mas a geração mais jovem tem uma chance. Eu realmente apreciaria se você pudesse mostrar a eles que é possível para nós, gatos-negros, sermos mais do que apenas a tribo mais fraca. Você pode até inspirá-los a sair e caçar seres malignos por conta própria.

— Nn. Entendido. Agora, tribo um pouco covarde.

— Ótimo! Fico feliz em ouvir isso.

Os gatos-negros do lado de fora da casa começaram a se agitar quando terminamos a conversa. A comoção ficou cada vez mais alta até que eles começaram a gritar com suas vozes entrelaçadas com pânico. E em pouco tempo, alguém começou a bater com violência na porta do chefe.

— Chefe! Chefe, você está aí? É uma emergência! — a pessoa gritou.

O chefe correu para a porta e a abriu.

— O que está havendo? Você está falando muito alto. — disse o chefe.

— Chefe, isso é ruim! Goblins! Avistamos goblins perto da vila!

— Por que você está tão aterrorizado? Temos os guardas. O que eles estão fazendo?

— Isso é mais do que os guardas podem lidar! — gritou o homem na porta. — Há mais de 20 goblins!

— O que você disse? Isso é demais! Schwarzekatze está condenada!

Hmm? Vinte goblins eram demais? Talvez para uma vila pequena, eu imagino, mas a reação deles era muito exagerada.

Fran se levantou.

— Vou lidar com eles. —, disse ela. — Vou mostrar minha força.

— Você cuidará disso para nós? — perguntou o chefe com nervosismo.

— Nn. Peça que algumas pessoas me sigam. Vou dar um show.

— Entendido! Vou mandar alguns camaradas promissores para você.

O chefe assentiu e saiu depressa da casa.



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