Volume 6

Capítulo 254: O verdadeiro poder do navio de guerra Dragão da Água

Fran e alguns outros, incluindo Mordred, se reuniram para discutir o plano daqui para frente logo após confirmarmos que estávamos enfrentando um Navio de Guerra Dragão da Água.

— Então, só para confirmar, você disse que poderia acabar com todos os navios que escoltam a capitânia deles?

— Nn. Pode contar comigo.

— Acho que isso significa que a única coisa com a qual teremos que nos preocupar será com o Navio de Guerra Dragão da Água…

Acontece que nem Mordred tinha experiência em combater dragões da água.

— Você se lembra de como venceu Fermus? Acho que você seria capaz de derrubar o dragão da água se você usasse aquilo. Você acha que isso é algo que pode fazer ou precisa de algum tipo de condição que não pode cumprir agora?

— Posso usar.

— Magnífico. Nesse caso, tudo o que precisamos fazer é criar uma contingência no caso de o monstro conseguir sobreviver.

O navio com certeza seria destruído se lançássemos Kanna Kamui e o Advento do Relâmpago Negro no dragão. Sem dúvida, o monstro seria libertado se não conseguíssemos derrubá-lo. Para impedir que essa situação acontecesse, precisávamos de uma maneira mais confiável de ferir o dragão, um método de ataque que era preciso e extremamente alto em termos de poder.

"Catapulta Telecinética?"

"Você estava pensando isso também?"

"Nn. Única opção."

Derrubar o dragão da água preso ao navio não parecia tão difícil assim. Na verdade, devia ser muito mais fácil do que derrubar um dragão da água selvagem. As correntes que prendiam a criatura à carruagem marítima que ela puxava limitavam bastante sua amplitude de movimento.

Golpear seria bem simples. Tudo o que precisávamos nos preocupar era causar dano suficiente para matá-lo passando por todas as suas defesas, o que eu imaginei que não seria muito difícil desde que atingíssemos um de seus órgãos vitais.

— E se apenas atacasse o dragão?

— Essa é provavelmente a solução mais ideal... mas você conhece alguma maneira de implementá-la?

— Nn.

— Então acho que teremos que deixar isso para você também. Deus, eu me sinto patético.

A incapacidade de Mordred de agir o irritou. Ele não teve escolha senão fazer com que Fran, uma aventureira muito mais jovem do que ele, resolvesse tudo sozinha. Para piorar as coisas, ele não estava sendo limitado porque era fraco, mas porque não possuía as habilidades necessárias para fazer a diferença. Sua especialidade, magia da lava, era de curto alcance, mas poderia fornecer excelentes defesas ao navio, mas o foco na defesa não era o que precisávamos no momento.

Um pensamento diferente passou pela minha cabeça enquanto eu contemplava as capacidades de Mordred. O navio que estávamos prestes a atacar era um que tecnicamente tinha um membro de uma família real a bordo. Matar o dragão e afundar o navio-almirante não poderia levar a algum tipo de protesto internacional?

— Tudo bem afundar inimigo?

— O que você quer dizer?

— O país retaliará se o príncipe morrer?

— Hahaha, não se preocupe com isso. A embarcação está hasteando uma bandeira pirata, então afundá-lo é apenas o curso de ação mais natural, mesmo que pertença à marinha de Sheedran. De qualquer forma, estaríamos sob mais escrutínio se não fizéssemos isso.

— Uma bandeira pirata é uma ameaça por si só, ela significa “entreguem tudo o que têm ou morram”, sabia? No que diz respeito aos marinheiros, atacar qualquer pessoa com uma bandeira pirata é apenas parte do senso comum.

Seu argumento fazia sentido para mim, então passamos ao próximo problema: descobrir a ordem em que afundaríamos os navios. Tivemos que escolher entre focar na capitânia ou em suas escoltas. Embora as opções parecessem bastante diferentes, elas resultariam na criação de um conjunto semelhante de desvantagens.

O navio de guerra dragão da água provavelmente perseguiria Algieba se derrubássemos as escoltas primeiro. Da mesma forma, mirar no navio-almirante poderia fazer o resto de sua frota caçar Algieba. Tomar uma decisão teria sido uma tarefa muito mais simples se fôssemos capazes de fornecer estimativas de tempo e outros detalhes relacionados, mas, para ser honesto, não fazíamos ideia de quanto tempo precisaríamos para vencer o dragão.

Jerome acabou resolvendo esse problema para nós, apontando que os outros navios provavelmente iriam fugir se derrubássemos sua capitânia, o que significava que economizaríamos o número de coisas que teríamos que combater se tivéssemos nossas prioridades.

— Eles devem achar suicídio enfrentar algo que conseguiu derrubar um Navio de Guerra Dragão da Água, sabia?


Nós nos encontramos nos lançando do convés do navio uma vez que a reunião foi encerrada.

"Urushi, concentre-se em desviar."

Au!

"Fran, tente provocar o dragão. Faça-o levantar a cabeça da água, se puder."

— Entendido.

Seria muito mais difícil acabar com o dragão se ele ficasse embaixo d'água. O próprio dragão não ganharia nenhum bônus por estar submerso, mas ele estaria protegido pela água do mar ao seu redor. A água era muito mais densa que o ar, e nos faltava algo especializado em combate subaquático. A grande maioria de nossos ataques acabaria perdendo força abaixo da superfície do oceano.

Para isso, pedi a Fran para bombardear o dragão com feitiços mais fracos, na tentativa de irritá-lo o suficiente para atraí-lo para onde poderíamos atingi-lo com mais força.

Flechas, balas de canhão e até feitiços eram disparados do navio. Mas Urushi, rápido como era, evitou todos com facilidade. A proporção de feitiços para outros projéteis era alta e indicava que havia vários magos a bordo do navio. Essa mesma estatística serviu ainda para indicar que as pessoas a bordo não eram apenas piratas comuns.

Como eles não representavam ameaça, Fran ignorou os ataques recebidos e continuou a lançar feitiços contra o dragão da água. Ela não parecia estar machucando o alvo, mas isso não significava que ele não estava ficando irritado.

Foram necessários apenas cinco minutos para irritar o animal parecido com um lagarto que emergiu da água, seu rosto adornado com uma expressão de raiva.

Para mim, o termo dragão da água sugeria algo como um plesiossauro¹, uma grande criatura subaquática com nadadeiras nas laterais e pele lisa e escorregadia.

Claramente, eu estava errado, ou pelo menos errado em grande parte. A única parte precisa do meu palpite era a forma geral do plesiossauro. Ao contrário de um plesiossauro, no entanto, ele era coberto da cabeça aos pés com escamas robustas e até tinha um chifre afiado saindo da testa.

A parte traseira era decorada por uma cauda anormalmente longa, e suas costas com um par de barbatanas parecidas com asas degeneradas. Da mesma forma, seus braços e pernas também eram parte da barbatana e tinham uma forte semelhança com os dois membros da frente de um leão-marinho. A forma como eles foram moldados me levou a suspeitar que os dragões da água ainda seriam capazes de se mover, mesmo em terra.

Todo o corpo da criatura estava coberto por uma camada do que parecia ser água do mar. Ele parecia ter se embrulhado em umidade para impedir a desidratação de sua pele.

— Mestre!

Não havia sentido em pensar sobre o que o dragão estava fazendo ou por que estava com aquela aparência. Tudo isso poderia ser deixado para depois que o derrotássemos.

"Sim, vamos fazer isto!"

Fran me brandiu e me colocou em posição. Eu terminei todos os meus preparativos com antecedência; eu já estava pronto.

— Haaaah!

"Vamoooos Láááááá!"

Eu me reforcei com a Telecinesia e disparei na direção da cabeça do dragão no momento em que Fran me jogou. Apesar de ser um nível de ameaça B, o monstro foi incapaz de reagir, dada a combinação da minha velocidade e a pequena distância entre nós. Tanto minha mira quanto nossa preparação foram perfeitos. Eu me choquei contra o rosto desprotegido do dragão da água.

Oryyyywaaat!?

Um som ensurdecedor ecoou ao meu redor, mas não foi o som da cabeça do dragão da água explodindo, nem o som de um novo buraco se abrindo em seu crânio.

Em vez disso, foi o som de eu estourando a membrana ao redor do corpo do dragão. E isso foi tudo. Havia uma espécie de barreira mágica sob a camada de água do mar. A combinação das duas muralhas defensivas havia eliminado todo o meu impulso e minimizado a quantidade de dano que eu seria capaz de causar.

Minha catapulta telecinética só resultou em um arranhão. Tínhamos pensado que apenas um golpe seria suficiente para derrotar nosso inimigo, mas a esse ritmo, parecia que o dragão ficaria bem, mesmo depois de algumas centenas de ataques.

"Bem, que tal experimentar isso em um alvo desse tamanho? Explosão de Raio!"

Eu conjurei o feitiço que obtive ao aumentar a Magia do Relâmpago até o nível 5, Explosão de Raio. Embora ela tivesse um alcance bastante curto, a magia mais do que compensava com sua alta produção de danos. Eu assumi que usá-la seria uma boa ideia, porque as formas de vida alinhadas à água pareciam fracas contra eletricidade.

"Suas defesas não bloquearão isso se eu te atacar à queima-roupa!"

A energia elétrica atravessou a cabeça do dragão da água; havia tanta energia que nosso ambiente acabou iluminado. Mas, apesar disso, o dragão não sofreu nenhum dano.

Não entendi o que tinha acontecido.

Ele não possuía nenhuma habilidade que o permitisse resistir a ataques elétricos.

— Grooooooooooohhhhh!

"Merda!"

Parecia que o dragão da água estava prestes a tentar me morder, então eu me teleportei de volta para as mãos de Fran.

— Tudo bem?

"Escapei por pouco, mas sim, estou bem. Mas, porcaria, as defesas dessa coisa são sólidas. Ele possui uma barreira mágica, uma camada de água do mar e suas escamas trabalhando juntas para protegê-lo. O monstro não sofreu danos com a Catapulta Telecinética. Também não pareceu sofrer nenhum dano da minha magia do relâmpago."

Eu sabia que estávamos enfrentando um monstro rank B, mas, para ser sincero, não esperava que ele permanecesse ileso, mesmo depois de receber vários ataques diretos.

— Entendi algumas coisas assistindo de longe.

“O quê?”

— Navio fornecendo magia para o dragão.

"Ó…? Verdade, eu não percebi."

— Maior fluxo de mana quando o Mestre usou mágica.

"Espere, então isso significa que o navio tem algo que pode ser usado para aumentar a defesa do dragão!?"

O momento em que considerei a existência de tal dispositivo foi o momento em que percebi que deveria estar esperando por isso, ou algo parecido, desde o início. Era difícil encontrar magos e aventureiros qualificados, mas ainda havia um número decente deles por aí. Algum tipo de contramedida de proteção para dragões deveria ser algo lógico.

O navio deles era grande, grande o suficiente para carregar uma grande quantidade de aparatos mágicos. Além disso, esse era um navio-almirante que pertencia a um país que dominava todas as grandes potências existentes em termos de sua capacidade de combate naval. Itens mágicos com efeitos poderosíssimos e inimagináveis deveriam ter sido uma das coisas que poderíamos esperar deles desde o início.

"Bem, isso é uma enorme dor de cabeça. Não podemos matar o dragão da água, a menos que explodamos o navio, mas esse lagarto estúpido e de grandes dimensões provavelmente ficará fora de controle no momento em que o soltarmos."

— Destruir navio primeiro, caçar dragão depois?

"Não sei, parece algo que pode se tornar muito arriscado."

Seríamos forçados a uma situação bastante difícil se o dragão decidisse mergulhar no momento em que fosse libertado. Eu duvidava que seríamos capazes de persegui-lo e derrotá-lo se fizéssemos isso. Não seria tão problemático se o monstro decidisse fugir, mas seria muito difícil lidar com isso se ele decidisse que queria vingança e começasse a atacar do fundo da água. Não teríamos nenhuma maneira de lidar com isso.

— Dragão vai querer vingança?

"Não sei. Ele é uma fera demoníaca rank B, então as chances são de que seja tão inteligente quanto Urushi."

E qualquer coisa tão inteligente era mais do que capaz de desejar vingança.

— Entendido. Complicado.

"Sim, parece que não temos escolha a não ser embarcar a bordo do navio deles."

Eu não tinha ideia de como eles estavam mantendo o controle sobre o dragão da água, mas suspeitei que fosse um domador ou algum tipo de item mágico. De qualquer maneira, provavelmente seríamos capazes de descobrir e lidar com o que quer que fosse se conseguíssemos levar a luta para a capitânia inimiga.

"Estamos sem opções, então vamos voltar para o Algieba por enquanto."

Não poderíamos vasculhar o navio inteiro por conta própria. Ele era grande demais. Nós precisaríamos de mais mãos no convés se quiséssemos fazer algo concreto.


Nota

[1] Plesiosauria é uma ordem de répteis marinhos fósseis do clado Sauropterygia. O grupo surgiu no Jurássico Inferior e subsistiu durante todo o Mesozoico até ao desaparecimento na extinção K-T no Cretáceo. Apesar de serem répteis gigantes e carnívoros do Mesozoico, os plesiossauros não estavam relacionados com os dinossauros, que formavam um grupo à parte. Dois tipos ecológicos de Plesiosauria podem ser distinguidos, o primeiro é composto por animais de pescoço longo e cabeça pequena, enquanto, o segundo continha animais de pescoço curto e cabeça alongada, sendo que os primeiros se extinguiram somente no evento K-T e o segundo grupo se tornou extinto junto com os ictiossauros durante o Cretáceo Médio, portanto antes do evento K-T. Ambas possuíam o tronco rígido e pesado, membros que funcionavam como remos e as narinas localizadas no alto da cabeça, imediatamente em frente aos olhos.



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