Volume 6

Capítulo 251: Mestre (Sishou) e Professor (Sensei)

— Bem, essa é a Princesa do Raio Negro para você!

O capitão Jerome cumprimentou Fran com um enorme sorriso ao voltar. Ele ficou muito satisfeito ao ver que seu navio permaneceu intacto, apesar do ataque dos piratas.

Da mesma forma, os marinheiros começaram a ovacionar ela. Nenhum deles parecia simpatizar com os piratas, nem com o destino miserável que eles encontraram. Mesmo assim, suas ações não foram anormais. O mundo em que vivíamos era um em que você tinha que eliminar seus inimigos e as pessoas que tentavam roubar de você; era matar ou morrer. Por isso, ter um poderoso aliado era algo que merecia uma honesta gratidão.

Ao contrário dos marinheiros, a maioria dos aventureiros acabou ficando quieta e mansa, mas não por medo. Em vez disso, eles pareciam estar tentando expressar seu respeito. Embora o ranking dos aventureiros se baseasse em mais do que apenas a capacidade de se praticar violência, uma força esmagadora ainda era algo que causava sentimentos poderosos de admiração.

O único membro do grupo cuja expressão era diferente era Mordred. Ao contrário dos outros, ele parecia mais surpreso do que qualquer outra coisa. Ele acabou sorrindo de um jeito meio irônico enquanto chamava Fran.

— Puxa, você é forte. Você é a primeira pessoa que eu já vi cuja força e rank diferem tanto quanto a noite do dia.

Ele tinha um argumento justo. Fran era muito mais poderosa do que qualquer rank C deveria ser.

— Ouçam suas merdinhas! Estamos dando o fora desse trecho do mar o mais rápido possível!

— Sim senhor!

— A batalha acabou sendo um pouco chamativa, né?

Jerome estava preocupado que os sons altos e as enormes ondas de choque atrairiam Feras Demoníacas para a nossa localização atual, sobretudo porque havia um monte de piratas pela área. Eles provavelmente seriam atacados em breve.

Por isso, seria melhor sairmos da área o mais rápido possível.

— Fui longe demais.

— Eu não diria isso. O pequeno risco que acabamos de incorrer foi benéfico por nos tirar dessa situação ilesos.

— Embora eu concorde com o capitão, gostaria de dizer que seria melhor você continuar tentando manter a extravagância sob controle, se possível.

Jerome era todo sorrisos. Ele não parecia se importar com o que havíamos feito. Buphett, por outro lado, adotou uma abordagem um pouco mais razoável para toda a situação. Decidi adotar sua sugestão e ter um pouco mais de cuidado no futuro.

Fran começou a voltar para seu quarto logo depois que terminou de falar com Jerome, mas foi interrompida antes que pudesse deixar a área.

— Nós-nós gostaríamos de pedir um favor!

— Por favor, faça-nos seus aprendizes!

Miguel, Liddick e Naria correram na frente dela, prostraram-se e começaram a pedir seus conselhos.

— A maneira como você luta é incrível.

— Queremos ficar fortes, muito mais fortes do que somos agora.

— Então, por favor, faça-nos seus aprendizes!

Todos os três pareciam sinceros, frenéticos e desesperados pela ajuda dela. Eu queria ajudá-los, mas não sentia que fosse plausível para Fran aceitá-los como aprendizes, pois eles atrapalhariam nossas viagens. O mais importante era que ela não parecia do tipo que seria capaz de ensinar.

Ainda assim, ela parecia ter algo em mente.

— Meus aprendizes?

— Sim Senhora!

— Por favor!

— Estamos te implorando!

Os três pressionaram as testas contra o convés do navio enquanto aguardavam uma resposta.

"Espere, você vai mesmo fazer isso?"

“Não. Mas interessada."

"Mas não podemos tê-los nos acompanhando."

Havia dois problemas principais associados a deixá-los viajar conosco. O primeiro era que eles nos atrasariam, e o segundo era que eles poderiam descobrir o nosso segredo.

"Já sei."

"Só para ter certeza. Mas o que exatamente você está planejando?"

"Nn. Farei aprendizes durante a duração da viagem de barco."

“Certo. Isso parece que poderia funcionar."

A sugestão de Fran parecia que daria certo. Os três tinham seu próprio quarto, então não seriam capazes de descobrir que eu era uma arma inteligente.

"Bem, seja você mesma. Minha única preocupação é: você acha que mesmo poderá ensiná-los de forma apropriada?"

“Nn? Sim. Porque é interessante."

“Tá, tudo bem. Apenas certifique-se de que eles saibam que é sua primeira vez ensinando alguém. Eu vou estar ao seu lado, desde que eles não se importem."

— Nn. Vou tornar aprendizes. Mas apenas durante a viagem.

— Sé-sério!?

— Muitíssimo obrigada!

— Mas nunca tive aprendizes antes. Nenhuma experiência ensinando. Ainda de acordo?

— Está perfeitamente bem!

— Estamos felizes em ter sua orientação, Mestra!

Fran lançou a Liddick um olhar penetrante e o assustou um pouco no momento em que a declarou sua mestra.

— Não me chame de mestra.

— Hum? Por que não?

— Porque não. Não eu. Mestre reservado apenas para o melhor.

Fiquei feliz que Fran me respeitasse, mas me chamar de "o melhor" era ir um pouco longe demais. Mesmo assim, eu não iria detê-la. As coisas começariam a ficar muito confusas se as pessoas começassem a se referir a Fran "Mestra".

— Pode me chamar de qualquer coisa, exceto Mestra.

— Tu-tudo bem.

— Pense em um título diferente.

— Cla-claro.

Os três aventureiros conseguiram acenar com a cabeça, embora Fran os olhasse de maneira séria e intimidadora. Eles se entreolharam e discutiram através de murmúrios algumas coisas antes de enfim voltarem-se para ela.

— E-e se te chamássemos, Srta. Fran, como faríamos se você fosse nossa professora?

— Professora?

— É-é. Isso serve?

— Nn. Professora, aceito.

Ela parecia gostar do título, enquanto assentia e repetia: — Sou uma professora. —, várias vezes.

— Iniciando o treinamento agora mesmo.

— Sim Senhora!

— Sim Senhora!

— Sim Senhora!

A alegria de ser chamada de professora a deixou cheia de motivação.

Eu estava muito curioso para saber o que ela iria dizer para eles fazerem. Embora eu estivesse curioso, não estava planejando me intrometer, independentemente de o que ela dissesse para eles fazerem estar ou não dentro da definição de sensato. Os três pediram para ela treiná-los, não eu. Tudo o que importava para mim era que Fran gostasse da experiência.

— Primeiro é…

Fran fez uma pausa por um momento, o que, por sua vez, fez com que seus três discípulos repetissem suas palavras, como se a instassem a continuar.

— Praticar golpes?

— Praticar golpes? Entendido! Vamos dar tudo de nós!

Embora seu tom parecesse conter alguns traços de confusão, Fran conseguiu conduzí-los a um começo bastante decente. Uma parte de mim começou a suspeitar que ela poderia mesmo ter um talento para ensinar.

Miguel e Liddick cumpriram suas ordens e começaram a praticar no mesmo instante. Miguel balançava sua espada grande para cima e para baixo, enquanto Liddick começou a desferir sua lança para frente e para trás em estocadas.

Naria, no entanto, parecia não fazer ideia do que fazer. As instruções de Fran também foram dirigidas a ela, mas ela era uma arqueira. E, no que dizia respeito a ela, não havia nenhum sentido em balançar o arco como se fosse uma arma branca.

— Umm... eu deveria me juntar a eles? Eu na verdade não uso espadas nem nada do tipo...

— Só carrega arco?

— É, isso mesmo.

— Só usar arco é ruim. Vai morrer em combate corpo a corpo.

— Umm... então isso significa que você quer que eu aprenda a usar algum tipo de arma que eu possa usar de perto também?

— Nn. Recomendado espada curta. Não para atacar. Apenas defesa ou arremesso.

Observar Fran em ação me permitiu confirmar que ela tinha mesmo talento para instruir outras pessoas. Fiquei surpreso com o quão bem ela estava lidando com tudo.

— Tá legal!

— Vai parecer estranho no começo, mas comece hoje.

— Eu com certeza irei!

Fran tirou uma espada curta enferrujada de seu armazenamento dimensional e a entregou a Naria. Eu estava confuso sobre a origem da arma, então a perguntei sobre isso. Ao que parecia, era algo que ela havia saqueado um dos goblins que matamos há algum tempo.

— Aqui.

— Está mesmo tudo bem eu ficar com isso?

— Nn. Enferrujada, não pode ser usada em combate. Mas boa o suficiente para praticar.

— Muitíssimo obrigada.

Fran vigiou Naria em silêncio quando a garota começou a sentir a arma. O rosto dela mostrava uma clara satisfação.

— Ummm… estou fazendo isto direito? Eu continuo a balançando assim?

— Nn.

Embora Fran não tenha dado nenhum conselho direto a Naria sobre como ela deveria usar a arma, eu não discordei de seus métodos. O treinamento repetitivo era algo que melhoraria o manejo de uma arma, e a existência de habilidades apenas tornava esse tipo de treinamento ainda mais valioso. Por isso, Fran não precisava dizer nada a sua aprendiz recém-adquirida. Tudo o que ela precisava fazer era vigiá-la para garantir que continuasse praticando o uso da arma.

E, de fato, foi isso mesmo o que a arqueira fez. Ela continuou a vigiar os três aventureiros sem ficar entediada ou distraída. Quanto a mim, eu estava ansioso para ver se Fran seria capaz de fazê-los melhorar quando a viagem de barco terminasse. Fiquei empolgado ao pensar até onde eles chegariam, se é haveria alguma mudança.



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