Volume 6

Capítulo 246: O Algieba zarpa

Um marinheiro levou Fran a um quarto não muito longe do seu, um rotulado como o Alojamento do Capitão.

— Ouvi dizer que você conheceu os outros aventureiros e que parecem se dar muito bem. Você acha que pode trabalhar com eles?

— Sem problemas.

— Fico feliz ao ouvir isso.

O capitão pareceu aliviado ao saber que Fran era capaz de se dar bem com os outros aventureiros. No começo, não entendi direito o motivo, mas depois lembrei dos rumores. Parecia que ele estava preocupado que ela pudesse começar uma briga com uma das outras pessoas que ele havia contratado.

Fran era forte e, falando de forma sincera, provavelmente uma das melhores escoltas que ele conseguiu. Portanto, como capitão, ele precisava considerar quais eram suas opções. Jerome tinha que estar pronto para fazer uma escolha entre o poder de Fran e a experiência de Mordred, caso ela acabasse antagonizando-o.

— É provável que encontremos feras demoníacas e talvez até alguns piratas. Mas até que isso aconteça, você pode repousar, relaxar e fazer o que quiser.

— Nn. Entendido. Quero explorar navio.

— Explorar? Quero dizer, não me importo, mas não vejo muita graça nisso.

— Tudo bem fazer isso?

— Não deve ser um problema desde que você não entre nos aposentos particulares dos marinheiros sem a permissão deles. Também vou pedir para você não mexer no item mágico que usamos para propulsão.

— Sem problemas.

— Ah, e não bagunce o armazém. Para começar, não temos nada a esconder, então isso deve ser tudo para as áreas fora dos limites.

— Tudo bem mesmo? Sem medo de roubo?

— Você está vinculada ao contrato que assinou com a Guilda de Aventureiros, e estamos bastante inclinados a supor que ele se manterá. Além disso, nada do que temos é valioso o suficiente para garantir que você arrisque sua reputação.

Conseguimos a permissão do capitão para explorar o navio, mas não saímos olhando todos os cantos na mesma hora. Nós estávamos a bordo do navio por um bom tempo, então decidimos aproveitar o tempo e explorá-lo pouco a pouco à medida que a viagem prosseguia.

— Ó, é verdade, você pode me mostrar o ID do País dos Homens-Fera que você tem?

— Isto?

— Isso é magia de espaço-tempo? Com certeza parece conveniente.

— Nn. Muito.

— Estou com inveja. Isso é algo que qualquer comerciante gostaria de ter. De qualquer forma, é melhor verificar a autenticidade disto.

A voz do capitão mudou lentamente para um tom mais sério enquanto ele falava. Embora ele próprio não pudesse ser chamado de comerciante, a função que ele possuía era bastante semelhante. Para esse fim, ele compartilhou muitos de seus sentimentos.

Ao que parecia, o anel do capitão tinha uma espécie de função que lhe permitia verificar se a identidade que recebemos era legítima, enquanto ele pressionava os dois itens um contra o outro.

— Interessante, então era mesmo real.

— Nn.

— Devemos zarpar em algum momento da tarde. Por enquanto, vou ter que pedir para você falar com Mordred.

— Entendido. Quarto de Mordred, onde?

— Deve estar ao lado do seu. Você precisa de alguém para ajudá-lo a encontrá-lo?

— Não preciso.

Quando o capitão disse logo ao lado, ele quis dizer que o quarto de Mordred estava a apenas duas portas do quarto de Fran. Ele estava dividindo um quarto triplo com dois subordinados.

A razão pela qual tivemos que nos encontrar com Mordred de novo foi para que pudéssemos entender como lidaríamos com os turnos. O Mago da Lava já havia resolvido todos os detalhes, então ele nos disse que teríamos que ficar de guarda durante a noite uma vez a cada quatro dias.

Ele então examinou alguns outros fundamentos da missão de escolta, pois Fran tinha muito pouca experiência com esses detalhes. A coisa mais importante que ele destacou foi que quaisquer feras demoníacas que derrotássemos acabariam pertencendo às pessoas que nos contrataram.

Para compensar isso, o grupo de escolta receberia um bônus com base no número total de inimigos derrotados. Esse cálculo seria feito com base no grupo todo, em oposição a um cálculo individual, a fim de impedir que os aventureiros discutissem entre si.

Em alguns casos, os indivíduos ainda poderiam receber recompensas adicionais se eles se sobressaíssem, mas era isso.

Um dos funcionários da guilda já havia nos contado todas essas informações quando aceitamos o pedido, mas Mordred queria reiterá-las apenas para garantir que todos estivessem de acordo com as regras, pois havia muitos casos em que os aventureiros mais tarde se queixavam de que estavam sofrendo injustiça.

— Eu acho que é tudo. Estou ansioso para trabalhar com você.

— Nn. O mesmo.

Fran apertou a mão de Mordred e voltou para o seu próprio quarto. Não havia muito o que fazer além de esperar pela partida.

Felizmente, não tivemos que esperar muito tempo para algum tipo de evento, pois um marinheiro logo veio e nos informou que o almoço estava pronto. Hoje ainda era nosso primeiro dia, e não tínhamos ideia para onde ir. O marinheiro parecia ciente disso, pois acabou nos mostrando onde a comida estava sendo servida.

Lá, Fran comeu tudo antes de voltar para o quarto e se sentar na cama mais uma vez. Eu tinha que dizer que a missão de escolta em que estávamos tinha alguns benefícios interessantes. Ela incluía as três refeições e as porções eram grandes o suficiente para satisfazer até Fran. O fato de ter ocorrido em um barco só serviu para aumentar a sensação de quão novo e fresco isso parecia.

Eu estava prestes a fazer à missão outro elogio, mas meus pensamentos foram interrompidos por uma súbita sensação de oscilação. Também não parecia ser apenas a minha imaginação, pois Fran se sentou e começou a examinar o ambiente de forma inquieta.

— Mestre, balançando?

"Só um pouco. No entanto, não parece um terremoto, então... acho que isso significa que enfim partimos."

O barco era imenso, por isso não tremia em resposta às pequenas ondas que o atingiam de forma constante. O mesmo, contudo, não podia ser dito quando ele levantou a âncora.

— Vou checar.

"Parece uma boa ideia para mim."

Nós saímos correndo do quarto e olhamos em direção ao porto, apenas para descobrir que estava um pouco mais longe do que lembrávamos. Fran e Urushi acabaram correndo até a borda do navio e olharam para baixo.

"Hum, então estamos mesmo nos movendo."

— Nn.

Au.

A paisagem urbana começou lentamente a se afastar de nós. Nossa partida não estava sendo vista por uma multidão de pessoas com serpentinas e outros enfeites, mas o motivo devia ser o fato de estarmos em um navio mercante em vez de um destinado a transportar civis. Além disso, dezenas de navios deixavam o porto todos os dias. Não havia como todos receberem uma festa de despedida.

"Este navio é mesmo rápido."

O navio estava se movendo muito mais rápido do que eu esperava. Eu não ficaria surpreso se a velocidade atual fosse a que ele teria com as velas içadas, mas elas ainda estavam dobradas.

Comecei a ficar curioso sobre o item mágico que impulsionava o navio. Tinha que ser realmente poderoso para poder mover um navio tão grande com tanta rapidez.

Uma das primeiras coisas que considerei foi sua forma. Eu queria muito saber se ele usava uma hélice, um jato de água, o vento ou talvez alguma outra coisa.

"Vamos dar uma olhada depois que você se acalmar um pouco."

— Explorar!

"Isso aí!"

Jerome, o capitão do navio, se aproximou de nós enquanto continuávamos a olhar além do convés.

— Ei. Você viu algo de interessante aí?

— Movimento.

— Hum? Ó, imagino que você não passa muito tempo no mar.

— Nn. Primeira vez em navio grande.

— Faz sentido então.

— Se movendo usando item mágico?

— Você acertou. Na realidade, este navio tem o mais novo sistema de propulsão mágica do mercado. Isso também não é tudo. Ele também está equipado com uma barreira e oito torretas¹ para ajudar a afastar monstros e outras ameaças.

Acontece que eles estavam usando uma série de itens mágicos. Embora o navio parecesse algo da idade média do meu mundo, na verdade ele tinha uma tecnologia muito mais avançada. O sistema de motor mágico que ele usava permitiria continuar se movendo mesmo sem a ajuda do vento.

Espere, eles ainda têm uma barreira para ajudar a manter as coisas longe deles? Por que eles precisariam contratar escoltas se tivessem esse tipo de item?

Fran transmitiu minha pergunta ao capitão, ao qual ele reagiu informando-nos que a barreira não era perfeita. Sua principal função era esconder o navio de feras demoníacas maiores e, portanto, tinha muito pouco efeito em qualquer uma das pequenas ou medianas, o que, pelo menos para mim, fazia muito sentido. O mar estava cheio de monstros enormes, e muitos deles afundariam o navio se atingissem seu casco.

Havia um segundo dispositivo de barreira que também atuava contra as feras demoníacas de menor escala, mas tudo o que fazia era deixá-las menos inclinadas a se aproximarem de nós.

Um dos maiores motivos pelos quais os navios contratavam escoltas era porque precisavam de mais mãos no convés para combater piratas. A maioria dos piratas evitava navios que trabalhavam sob o comando direto de uma nação, porque eles estavam preocupados com o fato de serem destruídos depois de chamarem a atenção do país. Em outras palavras, isso significava que os únicos ladrões interessados em atingir o HSS Algieba eram piratas infames confiantes em suas próprias habilidades.

O acesso do Algieba ao mais novo modelo de mecanismo mágico o tornava capaz de superar a maioria de seus atacantes, mas às vezes ele ainda era interceptado, forçado e alvo de um ataque.

— Estou contando com você, Princesa do Raio Negro.

— Nn. Pode contar.

— Hahaha. Você com certeza soa confiável. Parece que chegaremos ao nosso destino sem problemas.


Nota

[1] Torreta é um tipo de montagem (plataforma de armas) habitualmente cilíndrica e com capacidade de rotação, de metralhadoras ou canhões (estes de menor calibre), acoplado a veículos, aviões e embarcações de guerra.



Comentários