Volume 6

Capítulo 242: A decisão de embarcar tomada

Começamos a avançar em direção ao navio em que estávamos de olho, o enorme galeão com o brasão da Nação dos Homens-Fera. Seu tamanho fazia com que parecesse o tipo que não teria muitos problemas para atravessar o oceano.

"Hmmm… vamos precisar conversar com o capitão. O que você acha que precisamos fazer para nos encontrarmos com ele?"

— Chamar tripulação?

"Essa com certeza é uma opção, mas não tenho muita certeza se a tripulação saberá algo sobre você…"

Os membros da tripulação não eram comerciantes ou aventureiros, mas marinheiros. Eles passaram a maior parte do tempo no mar, então eu duvidava que eles soubessem muito sobre Fran. Isso, por sua vez, significava que eles não estariam dispostos a chamar o capitão apenas porque ela, uma menininha aleatória, disse que queria encontrá-lo.

Não havia garantia de que eles realmente sabiam que a identificação que Fran tinha era verdadeira. Eles poderiam chamar isso de falso e nos dispensar. O capitão, por outro lado, provavelmente tinha a capacidade de discernir que era um item genuíno.

"O que você acha de ficar sentada até vermos alguém que parece estar um pouco mais alto no nível hierárquico e depois chamá-lo?"

— Nn… vou chamar agora.

"O que estiver bom para você está bom para mim."

O método de Fran era direto, mas ainda funcionou, em especial porque não havia a real necessidade de entrar de cabeça nisso com um plano. Mais importante, Fran queria terminar tudo isso o mais rápido possível. Ela não queria se atrasar para o jantar.

— Indo.

Au!

Os marinheiros pareciam estar em uma espécie de reunião, mas Fran e Urushi seguiram até eles e tentaram chamar sua atenção de qualquer maneira.

— Ei.

— O-olá. Você nã...

— O que vo...

Os marinheiros responderam a Fran de uma maneira alegre, mas acabaram parando e congelando quando avistaram Urushi. Eles então começaram a olhar do lobo para a garota-gato sem continuar o que estavam dizendo antes.

Seus rostos estavam decorados com expressões de choque. Fran não se importava e, em vez disso, passou a perguntar sobre o chefe deles.

— Aventureira, chamada Fran. Quero falar com o capitão.

Eu senti que ela poderia ter sido um pouco mais cuidadosa com a forma como se apresentou. Para ser honesto, não ficaria surpreso se eles a rejeitassem por causa de seus modos ruins.

Mas para minha surpresa, eles acabaram fazendo o oposto.

— Tu-tudo bem! Nos dê apenas um segundo!

— Eu-eu vou trazer o capitão!

Uma parte de mim sentiu que eles devem ter reconhecido Fran.

— Você disse que seu nome era Fran?

— Nn.

— Vo-você por acaso é a Princesa do Raio Negro? Aquele sobre a qual todos estão falando nos últimos tempos?

Minhas suspeitas estavam corretas. Eles sabiam exatamente quem Fran era.

— Hã-hã.

— Sé-sé-sério!? Espere, eu poderia jurar que os rumores diziam que a Princesa do Raio Negro havia evoluído...

As palavras do marinheiro me lembraram que os Homens-Fera eram capazes de discernir se outro de sua raça havia evoluído ou não. Era uma função que funcionava mesmo entre diferentes tribos, uma vez que Fran era capaz de discernir que tanto Aurel quanto o Lorde das Feras haviam evoluído.

Fran, no entanto, tinha a habilidade Ocultar Evolução, o que significava que outro Homem-fera não seria capaz de dizer se ela era apenas um Gata-Negra ou algo mais. Por isso, o marinheiro deve ter se sentido confuso com a discrepância entre o que viu e o que os rumores lhe diziam.

Fran não tinha motivos em explicar suas circunstâncias, então decidiu fazer uma pergunta para levar a conversa adiante.

― Gata-Negra evoluída. Nunca viu antes?

― Eu sou do País dos Homens-Fera e conheço muitos por causa do meu trabalho, mas não posso dizer que sim.

Parecia que Fran era mesmo a única Gata-Negra evoluída, o que fazia sentido. Seria necessário matar mil Seres Malignos ou um único Ser Maligno rank A para desfazer a maldição. Era muito improvável que alguém acabasse cumprindo uma das duas condições sem querer.

E para ser honesto, a segunda maneira era basicamente apenas uma decoração. A única maneira de um Gato-Negro não evoluído "solar" um Ser Maligno rank A era ter um golpe milagroso de sorte.

A outra condição, caçar mil Seres Malignos, era muito menos difícil de alcançar. Havia uma chance de que outro Gato-Negro pudesse evoluir se espalhássemos o conhecimento por toda parte. Os mais fortes poderiam acabar até evoluindo para Tigres-Negros-Celestiais.

Seria possível derrotar um Ser Maligno rank A e desfazer a maldição para toda a espécie, desde que existissem Tigres-Negros-Celestiais o suficiente; havia com certeza a chance da Tribo dos Gatos-Negros um dia remover sua maldição.

Ter toda a raça caçando de forma ativa Seres Malignos era algo que beneficiaria os deuses. Na realidade, o objetivo principal da maldição era fazer com que a Tribo dos Gatos-Negros se arrependesse da batalha, mas os Lordes das Feras de antigamente haviam desaprovado essa penitência.

Por sorte, o atual Rei dos Homens-Fera não se parecia em nada com seus antecessores. A situação acabaria mudando para melhor assim que ele começasse a disseminar informações sobre as atuais condições evolutivas da Tribo dos Gatos-Negros. Claro, não podíamos deixar tudo para ele. Nós também tínhamos que ter certeza de espalhar a notícia quando chegássemos ao País dos Homens-Fera.

O marinheiro que partiu trouxe um homem de aparência importante, enquanto eu continuava a contemplar a situação dos Gatos-Negros. Sua estrutura maciça, que abrangia uma grande área na horizontal e na vertical, era adornada com enormes músculos corpulentos.

Ele usava um chapéu de capitão em cima da cabeça, especificamente do tipo que você esperaria ver no capitão de um navio pirata. A única diferença entre o chapéu dele e o de um verdadeiro pirata era que o crânio havia sido trocado por uma versão com coroa do brasão da Nação dos Homens-Fera.

— Ó? Por acaso você é a Princesa do Raio Negro?

— Nn.

— Entendo, entendo. Ouvi falar bastante sobre você de todos os comerciantes que passaram pela cidade.

Ele começou com uma expressão bastante sombria, mas logo a substituiu por um sorriso amigável depois de ver Fran assentir em resposta às suas palavras.

— Então, o que você precisa de mim?

— Nn. Procurando por navio. Indo para a Nação dos Homens-Fera.

— Você quer embarcar em nosso navio como guarda durante a viagem?

— Nn.

— Hahaha! Ótimo, parece que temos uma baita de uma escolta então.

— Tudo bem embarcar?

— Claro que sim. Eu posso dizer apenas por olhar que você é uma lutadora bem forte.

O próprio capitão parecia bastante decente em combate, vendo como conseguia discernir que Fran era forte com apenas um olhar.

Com todas as gentilezas já realizadas, decidimos mostrar a ele o emblema que havíamos conseguido com Royce.

— Hã. E você tem até uma das identificações de Sua Majestade?

— Genuína.

— Suponho que sim, visto que você é a Princesa do Raio Negro, mas terei que examiná-la mais tarde para verificar se é mesmo real.

— Nn.

— A Guilda dos Aventureiros ficará brava conosco se não tivermos certeza de que o pedido passou por eles, então teremos que lidar com isso também. Você se importa de ir junto?

Parecia que o capitão não podia nos empregar na hora, mas estava disposto a fazer algo equivalente. Fazer a guilda cuidar do pedido também seria benéfico para ele, no sentido de permitir que ele verificasse a identidade de Fran.

— Não ligo.

Também parecia que ele estava planejando contratar alguns outros aventureiros, apenas para que pudesse ter mais mãos em caso de emergência. Nós não vimos nenhum problema com isso, então acompanhamos o capitão até a guilda e aceitamos o pedido no momento em que foi processado.

— Partindo quando?

— Devemos zarpar em três dias se tudo correr bem.

Ele não tinha muita certeza da data exata, porque poderia mudar com base nos avistamentos de feras demoníacas e no clima. As tempestades, em particular, tendiam a ser uma importante fonte para atrasos.

— Entendido. Irei para o navio em três dias.

— Parece bom para mim. Fico feliz em poder trabalhar com você.

— Nn. O mesmo.

Fran e o capitão trocaram um aperto de mãos antes de seguirem caminhos separados. Provavelmente não o veríamos nos próximos três dias. Mesmo assim, eu já estava ansioso para embarcar naquele enorme navio dele.



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