Volume 6

Capítulo 238: A bronca de Gamud

— Próxima, Naria.

— Huah!?

A terceira pessoa que Gamud escolheu foi a arqueira que se juntou a Rashid para tirar sarro de Dewfo. Usamos o tempo que ela gastou se aproximando para olhar para o homem que derrotamos em questão de segundos.

— Minha nossa, que belo corte!

— Maldição, isso dói.

— Vamos, pare de se debater. Se acalme logo. Você não deveria ser um homem?

— Gyaaaah! Pare de me bater, caramba!

— E agora você está apenas exagerando. Nossa.

A impressão que tive da tia aldeã me fez sentir que ela era do tipo que dizia aos aventureiros que suas feridas sarariam desde que cuspissem nelas ou algo do tipo, mas esse não era o caso. Ela estava fazendo seu trabalho de forma apropriada e os tratou com a Cura Superior.

Para ser honesto, o braço de Rashid era uma visão terrível. O sangue escorria sem parar. A tia aldeã, no entanto, permaneceu sem se incomodar. Ela apenas fez seu trabalho e tratou a ferida com um sorriso. Suas ações serviram para evidenciar que, apesar de sua aparência, ela tinha o coração de uma ex-aventureira de rank B.

Naria virou a cabeça na direção de Red, como se lhe pedisse para verificar os resultados de sua avaliação, aos quais ele respondeu balançando a cabeça da esquerda para a direita. Sua expressão demonstrou clara surpresa. Ele simplesmente não entendia por que as habilidades de Fran diferiam tanto do que estava escrito na página de atributos dela.

— Chamada Fran.

— Uhm…

— O nome dela é Naria. Comecem!

— Espere! Merda!

Apesar de confusa, Naria conseguiu pular para trás no momento em que a partida começou. Parecia que testemunhar Fran demolindo Dewfo e Rashid havia sido suficiente para pelo menos levá-la à ação. Ela levantou o arco e tentou apontá-lo na direção da Princesa do Raio Negro, mas seu ataque foi rejeitado antes que pudesse ser desencadeado.

A distância entre as duas lutadoras já havia sido apagada.

— Droga! Ela é tão rápida! Gyaah!

Naria, como Rashid, perdeu em um instante. Ela também perdeu o braço direito em um único e momentâneo combate.

Em seguida foi um homem maior chamado Miguel. Ao contrário de seus colegas, ele estava mostrando uma expressão bastante sincera. Ele devia ser o primeiro do grupo a levar a sério a luta contra Fran.

Ele também olhou para Red para uma verificação, mas o avaliador não era mais capaz de fornecer nada além de um aceno de rosto pálido.

— O nome é Miguel.

— Nn. Fran.

— E comecem!

— Haaah!

Embora Miguel tenha encarado Fran mais a sério do que o resto de seus amigos, seu ataque ainda parecia estar faltando em sinceridade. Ele reconheceu que Fran tinha algo que impedia Red de ver suas estatísticas reais, mas ainda deve ter se contido porque julgou a garota com base em sua aparência. Dessa forma, seu ataque quase parecia estar sem poder.

Me parecia que dar a Red e Miguel um bom choque era o que precisávamos fazer para nos livrarmos da hesitação dos aventureiros.

— Nn!

— Impossível!

Para isso, Fran me ergueu e desafiou de frente o golpe que Miguel havia dado com sua espada grande. Ela bloqueou as lâminas com o oponente e me segurou no lugar sem se mexer, independentemente de quão forte ele empurrasse.

Ela começou a recuar depois de uma breve pausa, fazendo-o voar pelo ar. Ele não foi capaz de resistir a ela. Tudo o que ele pôde fazer foi cair de bunda no chão.

Nem Miguel nem Red podiam acreditar no que viam. Eles não pensaram que seria possível para ela bloquear o ataque de frente, muito menos dominar Miguel e empurrá-lo para trás, dadas as estatísticas que apareciam no status da garota.

Claro, isso não foi tudo. Ainda havia muito mais por vir.

— Raio Atordoador.

— Guaah!

— Isso é impossível!

Ao ver a garota lançar Magia do Relâmpago, Red soltou um grito surpreso. A habilidade não apareceu na página de estatísticas de Fran, então, pelo que ele sabia, não havia como ela poder lançá-la.

— Hah!

— Garrgghh…

Fran chutou Miguel; ela atingiu sua perna no rosto dele e fez o corpo paralisado voar vários metros para trás.

E isso foi tudo. Miguel parou de se mexer. Ele nem mesmo se contraiu. Red, no entanto, levantou-se. Ele estava atordoado, mas ainda conseguiu fazer uma pergunta com a garganta agora seca.

— Como…?

— Qual o problema Red?

A resposta de Gamud veio em um tom muito mais claro do que o do rapaz. A situação parecia ter se desenvolvido da maneira exata que ele queria.

— Di-diga-me, Sr. Gamud. Quem diabos é essa pirralha!?

— Não tenho certeza de como você quer que eu responda isso.

— Mi-minha Avaliação parece estar ativada. Ela está me dizendo que o nível dela é baixo, que não pode usar magia e que não tem força nenhuma. Como diabos ela é tão forte!?

Ao ver Red expressar sua confusão, Gamud abriu um sorriso.

— Então você não sabe quem ela é?

— Por que eu deveria!?

— Ela é uma Gata-Negra que pode lançar magia do relâmpago e é forte o suficiente para derrotar Dewfo, Rashid, Naria e Miguel em um instante. Você realmente não tem ideia de quem ela é? E o resto de vocês? Vocês têm alguma pista?

— …

Silêncio.

A única resposta que Gamud obteve foi o silêncio. Ele tinha dado uma dica bem grande, então eu esperava que pelo menos um deles adivinhasse que Fran era a Princesa do Raio Negro, mas isso não aconteceu. Nenhum deles foi capaz de responder à pergunta do mestre da guilda.

Percebendo isso fez Gamud dar um longo suspiro.

— Haah... é por isso que vocês ainda estão presos onde estão.

— …

— Vocês começaram a ficar convencidos no momento em que adquiriram um pouquinho de força. Vocês nunca mais reuniram inteligência e apenas deixaram seu sucesso à sorte ou ao acaso. Vocês confiam demais na Avaliação, não têm capacidade de julgar o quão forte alguém é sem essa habilidade. E o pior de tudo, vocês não podem nem se preparar para a batalha, mesmo quando há um sinal claro de uma.

Gamud imediatamente começou a apontar as falhas compartilhadas pelos aventureiros que ele mantinha sob suas asas. Todo o motivo pelo qual ele se preocupou em fazer nos juntarmos a ele hoje foi para que pudesse deixar uma marca no orgulho do grupo, então podíamos dizer que foi esse exato momento que serviu como o clímax de toda essa sessão.

Ele reintroduziu Fran aos aventureiros, cujas expressões silenciosas não revelavam nada além de uma espécie de desagrado constrangedor.

— Fran é mais conhecida pelo apelido de Princesa do Raio Negro. Ela é uma rank C que participou do torneio deste ano e conquistou um lugar no pódio ao derrubar vários ranks A.

Embora o apelido de Fran não tenha significado muita coisa para eles, o grupo pareceu bastante surpreso. A razão para isso parecia ser que eles sabiam o quão difícil era subir no pódio.

— E sim, estou falando sobre o mesmo torneio do qual todos vocês foram eliminados há alguns anos. Sei que nenhum de vocês conseguiu superar as preliminares.

— Ehhh!?

— Você só pode estar brincando!

— É verdade, eu me lembro de ouvir alguns rumores sobre algo assim acontecendo.

— Sim, mas ela não é uma Gata-Negra?

— Eu não posso acreditar em vocês. Vocês seriam capazes de reconhecê-la imediatamente se apenas reunissem informações conversando com alguns comerciantes locais.

O tom exasperado em que Gamud reclamou levou os aventureiros a abaixarem suas cabeças em vergonha. Eles sabiam que ele estava certo. Eles mesmos se sabotaram porque não se deram ao trabalho de manterem-se atualizados sobre os eventos recentes.

— E, mais uma vez, não confiem na Avaliação. Algumas habilidades permitirão que as pessoas disfarcem suas estatísticas ou neguem por completo a funcionalidade da Avaliação.

— Tudo bem…

— Nunca se esqueçam, o mundo é vasto. Sempre há alguém mais forte que vocês em algum lugar. Se vocês não estiverem prontos…

Gamud continuou a falar sem parar. Ele não parou até a curandeira começar a bocejar com absoluto tédio.

Pessoalmente, eu achei a palestra dele bastante útil. A maioria das coisas que ele disse era óbvia, mas mesmo os fatos mais óbvios costumavam ser ignorados, a menos que fossem colocados em palavras e expressos de forma clara. Afinal, a situação atual desse grupo não era uma em que nunca nos encontraríamos.

As batalhas que travamos na arena de Ulmut nos ensinaram a ter cautela. A palestra abordou tópicos semelhantes, mas, além disso, parecia estar centrada nos princípios básicos de se aventurar.

— Ufa. Desculpe por fazer você esperar.

— Nn. Tudo bem.

— Eu cobri a maior parte do que eu queria falar, mas você poderia continuar lutando com eles? Eles poderiam usar a experiência, em especial contra alguém tão forte quanto você.

— Sem problemas.

Fran sorriu de forma destemida.

Os aventureiros contra quem ela lutaria haviam perdido a capacidade de rir e zombar do jeito que fizeram quando foram apresentados a ela. Na verdade, suas expressões foram distorcidas pelo medo. Para os jovens aventureiro, deve ter parecido que eles foram jogados direto na mandíbula de uma besta.



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