Volume 5

Capítulo 227: Adeus Ulmut

Hoje era o dia em que planejamos deixar Ulmut.

A primeira coisa que fizemos depois de levantar da cama e terminar nossa rotina matinal foi visitar Rumina, para que pudéssemos nos despedir.

— O tempo que passei com você foi ao mesmo tempo agitado e agradável.

— Até.

— Adeus. Divirta-se no País dos Homens-Fera.

— Nn...

— Acredito que vai fazer bastante sol hoje. Parece ser o momento perfeito para partir e, para esse fim, espero que sua expressão brilhe de acordo com o clima.

As duas não estavam se despedindo para sempre, mesmo assim, parecia que Fran não podia deixar de se sentir um pouco triste.

— Obrigada por me informar sobre o paradeiro de Kiara. Eu nunca a localizaria se não fosse por seus esforços. Entendo que não é a primeira vez que faço essa declaração, mas gostaria de reiterá-la para expressar minha gratidão.

— Também grata. Pela evolução.

"É como ela disse. Ajudar-nos evoluir parece ter te enfraquecido bastante. Você sacrificou muito por nós, estamos em dívida com você."

— Parece que nossos sentimentos são mútuos. Nesse caso, não vejo mal em quitar nossas dívidas uns com os outros.

Rumina sorriu de forma alegre enquanto falava, mas Fran acabou franzindo a testa em resposta.

— Por favor, não faça essa cara Fran. Posso garantir que nossos caminhos se cruzarão de novo. Seria um alívio para o meu coração ver você sair deste lugar com um sorriso.

— Nn...

— Parece que você não pode ir sem ser mimada.

Rumina levantou-se de sua cadeira, aproximou-se da Gata-Negra mais jovem e deu-lhe um abraço apertado. Fran respondeu enterrando o rosto no peito de Rumina e devolvendo o abraço.

Elas ficaram juntas por um tempo, mas Rumina acabou deslocando Fran dando um tapinha nas costas dela.

O rosto da garota mais nova tinha uma aparência bastante rara, no sentido de que estava manchado com um leve tom de vermelho. Ela claramente se sentia um pouco envergonhada.

— Sinto muito.

— Fuhaha. Foi muito adorável da sua parte. Sinta-se livre para voltar para o meu lado se você se sentir tomada pela solidão. Estarei disposta a fornecer quantos abraços desejar.

— Nn.

Todo o desconforto deixou o rosto de Fran. Rumina cumpriu um dever pelo qual eu normalmente seria responsável de uma maneira que nunca poderia ter realizado. Eu me senti meio em conflito no sentido de admirar a capacidade dela de fazer isso, e fiquei frustrado por não poder fazer nada por Fran.

— Hora de ir.

— De fato é. Fique segura e aproveite sua jornada.

E assim, Rumina se despediu de nós em seu calabouço com um sorriso.

Fran abriu a boca e falou uma última vez, exatamente quando começamos a nos teletransportar.

— Tchau, tchau.

Quase parecia ser algo que ela não tinha dito de forma intencional, algo que acabou escapando.

"Com certeza faremos uma visita a ela em algum momento no futuro."

— Nn.

"E nós nos certificaremos de crescer o suficiente para causar um choque nela."

— Nn!

Chegamos ao portão de Ulmut cerca de uma hora depois, apenas para nos encontrarmos cercados por um grupo de pessoas de tamanho decente.

— Faça o favor de voltar Fran! Vou recebê-la de braços abertos a qualquer momento!

Erza foi a primeira pessoa a nos chamar; ele pulou em Fran na mesma hora enquanto começava a chorar. Ela acabou soltando um som de "mmrph" quando ele a puxou para seu peito grosso e corpulento, mas a garota não se importou com as ações do homem, embora catarro começasse a pingar do nariz dele. Na verdade, ela acabou dando um tapinha nas costas dele para acalmá-lo.

Funga… obrigada Fran.

— Nn.

— Tenho um presente de despedida que gostaria de lhe dar.

Erza entregou a Fran uma cesta com dez garrafas cheias de líquido.

— Poções?

— Eu fiz um creme de beleza para você. Ele manterá sua pele macia e suave, desde que você aplique um pouco antes de ir para a cama. Você é muito forte Fran, e também é legal, mas certifique-se de nunca esquecer de ser uma garota tão fofa quanto puder, tá?

— Nn?

O conselho de Erza foi bastante sólido, e eu apreciei os sentimentos que o levaram a fazer isso. Para começo de conversa, Fran era muito adorável. Infelizmente, ela estava presa a mim como seu guardião, então ela não fazia uso de sua beleza devido à falta de exposição a maquiagem e a moda.

As dez garrafas que nos foram dadas durariam um bom tempo, então Fran ia começar a usá-las a partir de hoje.

— Passar na pele?

— Mhm. Tudo o que você precisa fazer é colocar um ponto na palma da mão e depois massageá-lo na pele.

— Por quê?

— Escute aqui garota. Eu sei que você pode não entender por que se incomodaria com isso agora, mas apenas faça. Eu prometo que você entenderá quando crescer e se apaixonar.

— Nn? Tá bem…?

Fran assentiu, mas sua expressão entregava o fato de que ela não fazia ideia do que estava acontecendo.

Ah, certo, Fran se apaixonará um dia, isso não sig-... espere um segundo.

Hein Erza, Fran ainda tem apenas 12 anos…

Isso não é, talvez, um pouco cedo demais para ela se apaixonar?

Eu poderia dizer com certeza que Fran acabaria sendo popular com os homens se o creme de beleza de Erza funcionasse para melhorar sua aparência do jeito que estava pensando. Não havia dúvida em minha mente que todos os tipos de caras voariam para ela como abelhas no mel.

Uma parte de mim não podia deixar de se preocupar que alguns dos homens mencionados acabariam sendo tão bonitos que fariam Fran se apaixonar por eles à primeira vista. Eu sabia que seria capaz de acabar com essas pessoas sem hesitar se elas se provassem desprezíveis por dentro, mas não podia dizer o mesmo para as pessoas que acabassem sendo tão boas por dentro quanto por fora. Não pude deixar de imaginar o que faria se realmente julgasse que suas personalidades eram amigáveis o suficiente para valer o afeto de Fran. Eu seria capaz de confiar ela a essa pessoa?

Minha reação imediata foi um grande não. Fran precisava de alguém forte o suficiente para protegê-la, alguém capaz de vencê-la em combate, mesmo comigo equipado. Recusei-me a aprová-los, a menos que fossem pelo menos fortes, financeiramente estáveis, dispostos a se comprometerem com um relacionamento monogâmico e capazes de satisfazer todos os desejos dela.

— E-ei Fran, tudo bem? Essa sua incrível espada amaldiçoada começou a tremer sozinha.

“Mestre?”

Merda, essa foi por pouco. Eu parecia ter perdido o controle de mim mesmo por um instante, quando comecei a lançar de modo inconsciente a telecinesia.

"Nã-não é nada. Você deveria agradecer Erza."

Eu não tinha que me preocupar com o pensamento por enquanto, pois o amor parecia ser algo que Fran não experimentaria por um bom tempo. Não havia sentido em não aceitar o presente de Erza, não havia nenhum dano real em Fran ficando ainda mais bonita do que ela já era.

— Nn. Sem problemas. Obrigada.

— Eu vou fazer você mais quando você ficar sem, então pare por aqui quando precisar!

— Entendido.

As próximas duas pessoas que nos chamaram, Dias e Aurel, vieram como um par.

— Ei. Parece que você escolheu um bom dia para partir. O clima está ótimo.

— Cuide-se lá fora.

Eles se curvaram para Fran e agradeceram a ela por todo o assunto sobre Kiara. Eu esperava que eles nos entregassem cartas, mas nenhum dos dois fez isso.

— Ainda nos lembramos dela tão vividamente como se tivéssemos nos visto ontem, mas o oposto pode não ser verdadeiro.

— Para ela, éramos apenas mais um par de aventureiros não confiáveis. Há uma boa chance de ela ter esquecido de nós há muito tempo.

Para mim, a situação deles parecia um pouco deprimente, mas a dupla não parecia se importar. Os olhares em seus rostos sugeriam que eles achavam isso natural, e, portanto, não estavam planejando enviar nenhuma carta para ela.

— Gostaríamos que você nos mencionasse, mas isso é tudo. Tudo o que você tem que dizer é que alguns dos aventureiros que ela conhecia sentem falta dela.

— Nn. Entendido.

O próximo grupo que abordou Fran era composto por Amanda, Forrund, Fermus e Colbert. A meia-elfa, que estava na frente do grupo, cumprimentou Fran com um abraço.

— Parece que teremos que nos despedir mais uma vez Fran. Eu realmente vou sentir sua falta...

Amanda chorou da mesma maneira que Erza, mas não houve nenhum catarro. Sua beleza e graça a deixaram muito mais jovem que... tá, não, é melhor eu parar por aqui e dizer que Erza era uma exceção.

— Adeus.

Forrund foi curto e direto ao assunto, assim como ele havia feito em Barbola. Em certo sentido, podia se dizer que ele tinha uma ligeira semelhança com Fran.

Para ser honesto, eu nem esperava que ele viesse se despedir de nós.

— Isso não é um pouco franco demais da sua parte, Forrund?

O tom de Colbert mostrou claramente que ele ficou surpreso com a saudação de Forrund.

— Desculpe Fran, Forrund sempre age assim, então, por favor, não pense mal dele.

— Sem problemas.

— Hahaha, eu tenho que dizer, vocês dois são bastante parecidos com seus maneirismos. Forrund tende a gostar de aventureiros fortes, ele está aqui hoje por causa da impressão favorável que você deixou nele.

— Sim.

— Nn.

— Um dia.

— Entendido.

— Tenho a sensação de que reunir vocês dois pode não ser a melhor das ideias.

Colbert estremeceu, e por uma boa razão.

Os dois estavam conversando de uma maneira que ninguém além deles poderia entender. Apesar disso, eles pareciam se comunicar bem.

— Barbola é seu próximo destino Fran?

— Nn.

— Nesse caso, eu gostaria que você ficasse com isso. É um passe que lhe dará uma refeição grátis no meu restaurante. Por favor, nos faça uma visita.

Ó, ótimo. Esse era um presente muito bom. Fran parecia ter gostado muito do que comeu na Mesa do Dragão.

— Obrigada.

—  Vou me treinar do zero mais uma vez, para não perder na próxima vez que lutarmos.

Colbert declarou que desejava duelar com Fran de novo no futuro, o que a levou a responder na mesma hora como uma simples maníaca por batalhas.

— Pode vir.

Amanda enfim soltou Fran depois que conversamos bastante.

— Eu também irei para o País dos Homens-Fera.

Pensando bem, Amanda disse algo parecido quando saímos de Aressa. De forma lamentável para ela, isso não seria algo que ela estaria autorizada a fazer.

— Isso não vai acontecer.

— Duvido muito que você possa fazer isso.

— Isso definitivamente não vai acontecer.

Todos os três homens que a acompanhavam acabaram com a ideia de Amanda no momento em que ela a expressou. Ela continuou afirmando que pelo menos queria nos acompanhar de volta a Barbola, mas tinha deveres a cumprir em Aressa e, como tal, seus três companheiros acabaram arrastando-a para longe.

— Até mais Fran!

O último grupo a se aproximar foi o do Lorde das Feras.

— Certifique-se de se dar bem com minha filha se você a encontrar. Ela é meio moleca, mas é uma boa garota.

Eu estava bem com a ideia de ter Fran fazendo amizade com a filha do Lorde das Feras, mas a forma como ele disse isso me preocupou. Ele, de todas as pessoas, a chamando de moleca fez com que eu não pudesse deixar de suspeitar que ela tinha um lado mais selvagem.

Conversamos com Royce, Goldalfa e Roche nessa ordem, antes de passarmos para Zefmate, que imediatamente ofereceu um aperto de mão a Fran.

— Parece que eu lhe causei muitos problemas.

— Nn.

— Vou ser um dos assistentes do Lorde das Feras a partir de agora. Estou planejando treinar ao lado dele e ficar muito mais forte. Eu juro que vou pelo menos forçá-la a usar as habilidades que você obteve ao evoluir na próxima vez que duelarmos.

Zefmate parecia ter muito potencial. Treinar ao lado do Líder dos Homens-Fera com certeza serviria para transformá-lo em um poderoso adversário.

— Eu e minha tribo planejamos recomeçar. Mostraremos que podemos mudar para melhor.

— Grandes expectativas.

— Isso é bom. Vou me certificar de atendê-las.

Zefmate era um dos membros mais influentes da Tribo dos Gatos-Azuis. Eu tinha certeza de que, no futuro, seu trabalho reduziria o número de Gatos-Azuis envolvidos no comércio de escravos.

Fran segurou com firmeza a mão do Leopardo-Azul e apertou-a por um longo período, uma demonstração de sua confiança no sucesso dele.

— Partindo agora.

— Até.

— Nn.

Fran pulou nas costas de Urushi depois de soltar a mão de Zefmate.

— Urushi.

Au!

Ela se preparou para partir, mas fez questão de dar ao grupo que veio se despedir dela um último tchau antes de sair.

— Até mais tarde?

— Tchaauuu!

— Até breve!

Urushi começou a correr, com as vozes altas de Erza e Amanda seguindo o vento atrás dele, enquanto mais uma vez partimos em uma jornada.



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