Volume 5

Capítulo 226: O paradeiro do velhote Gallus

Royce nos deu sua identidade, então estávamos prontos para partir para o País dos Homens-Fera quando quiséssemos. Com isso, decidi ponderar se tínhamos algo a fazer antes de partirmos.

"Ó, é verdade, provavelmente deveríamos ir verificar com o Velhote Gallus."

Lembro-me do outro ferreiro nos dizendo que ele voltaria quando o torneio começasse, então imaginei que ele já estivesse na cidade. O ferreiro em questão prometeu nos contar quando Gallus enfim chegasse, mas ele nunca havia nos contatado.

Havia uma boa chance de ele ter evitado fazer isso porque não queria nos incomodar, já que estávamos ocupados com o torneio. Considerando isso, achei que poderíamos também fazer uma visita ao ferreiro.

— Ferreiro?

"Sim, estava pensando que poderíamos verificar se Gallus conseguiu ou não voltar."

O sol tinha acabado de se pôr, então me pareceu estar tudo bem supor que eles ainda estavam acordados. Mesmo assim, parecia um pouco errado visitá-lo a essa hora, então peguei algo para fazer com que nossa visita valesse o tempo deles.

Sendo mais específico, fomos a um bar que estava no caminho e compramos uma garrafa da bebida mais forte que eles tinham. Essa parecia a melhor coisa possível que podíamos oferecer, já que os anões e as bebidas andavam de mãos dadas. Eu estava um pouco preocupado que eles se recusassem a vender o produto para nós, dada a idade de Fran, mas parecia que não havia problema nenhum. Na verdade, foi o exato oposto. O barman até deu um desconto a Fran em troca de um aperto de mão, porque ele a reconheceu à primeira vista.

E assim, fizemos uma visita a Zadoh, um dos companheiros de ferreiro de Gallus, com a bebida na mão.

— E aí. Parabéns pelo terceiro lugar.

— Nn. Obrigada.

Acontece que Zadoh realmente assistiu ao torneio.

Nosso presente pareceu deliciá-lo. Ao que tudo indicava, a bebida era um produto de alta qualidade.

Perguntamos a ele sobre Gallus, mas, de forma lamentável, Zadoh só podia dizer que o velho artesão ainda não havia aparecido em Ulmut.

— Acho que Gallus é o único que não voltou. Até onde sei, todas as outras pessoas que foram ajudar já estão de volta.

— Só Gallus não voltou?

— É. Ele provavelmente está preso em Barbola fazendo algo que só ele é capaz de fazer.

— Tá.

— Porém, é um pouco estranho para ele não enviar pelo menos um aviso de seu atraso, já que ele disse que voltaria quando o torneio começasse.

De qualquer maneira, estávamos voltando para Barbola, então poderíamos procurá-lo de novo depois de nos dirigirmos para lá. Eu com certeza queria pelo menos cumprimentá-lo antes de irmos para o País dos Homens-Fera, já que não havia como sabermos quando o veríamos se apenas subíssemos no navio e saíssemos sem falar com o velhote primeiro.

Não havia muito mais o que perguntar. Nós nos viramos e decidimos ir para casa, mas Zadoh nos parou antes de sairmos pela porta.

— Cer-certo, eu queria te perguntar sobre essa sua espada...

O olhar do ferreiro estava em mim, e parecia carregar as mesmas emoções que ele teve quando primeiro festejou seus olhos no Conjunto da Gata-Negra de Fran.

Zadoh era um artesão habilidoso, então não demorou muito para descobrir que eu era algum tipo de espada mágica. Ele devia estar curioso sobre mim. Ele assistindo o torneio não ajudou muito, já que o comentarista continuava falando sobre o fato de eu ser o motivo para o apelido de Fran.

— Pos-posso vê-la por um segundo? Prometo que não demorarei muito.

“Mestre?”

"Claro, não me importo se ele prometer não demorar demais. Certifique-se de avisá-lo para não me equipar, porque, você sabe."

— Entendido. Aqui.

— Muitíssimo obrigado.

— Não equipe. Vai morrer com maldição.

— Hã?

— Maldição. Só eu posso equipar sem morrer.

Zadoh começou a mover as mãos em minha direção, mas parou no momento em que ouviu o aviso de Fran. Seu rosto refletia uma clara sensação de terror.

Eu não podia culpá-lo. Normalmente, você não gostaria de tocar uma espada que poderia te matar se você tentasse equipá-la. Da mesma forma como as pessoas não gostam de tocar veneno, mesmo que fosse do tipo que só tivesse efeito se ingerido.

Sem querer me gabar, mas, não havia como Zadoh não estar ciente do fato de que eu não era apenas uma espada mágica comum. Como resultado, o aviso de Fran foi ainda mais real.

— A-apenas tocar causaria algum problema?

— Nenhum.

— Tu-tudo bem, bom ouvir isso.

O ferreiro deve ter ficado bastante curioso, vendo como foi ele quem pediu para me ver. Com isso em mente, ele acabou me agarrando depois de ter se decidido.

Um interruptor quase parecia girar dentro dele no momento em que ele fez. Ele deixou de lado todo o nervosismo e começou a agir como poderia se esperar de um ferreiro profissional. Ou seja, ele começou a examinar com atenção minha guarda e minha lâmina.

— Hmmm... posso sentir uma quantidade incrível de poder mágico vindo de dentro da sua espada. Quem quer que tenha feito sua lâmina, fez isso com cuidado meticuloso. Parece ser feito de um metal bem interessante também.

Zadoh começou a murmurar enquanto me olhava.

— Estaria tudo bem perguntar sobre a fonte dessa espada mágica?

— Fonte?

— É. Você sabe quem a fez, ou onde você a encontrou, talvez?

As perguntas de Zadoh eram as que você esperaria de um profissional. Mesmo assim, eu não poderia respondê-las. Eu não sabia quem me criou, e não achei uma boa ideia dizer a ele que eu vim das Planícies Maokami.

— Na verdade, não.

Pensei um pouco sobre isso, mas acabei pedindo a Fran para evitar riscos.

— Isso é muito ruim... de qualquer forma, parece-me que essa coisa pode ser feita de uma liga de oricalco.

— Oricalco? Lâmina feita com isso?

— Para ser sincero, não posso dizer. Ela não é feita de algo que eu estou familiarizado, e é por isso que eu estava pensando que o oricalco parecia ser um candidato provável. Espere um segundo.

Zadoh caminhou até um dos cantos da ferraria e pegou um livro um pouco gasto enquanto falava.

— Isso aqui é algo que acabei de colocar em minhas mãos durante o torneio. Ele contém notas sobre ferreiros do passado.

O torneio faria com que os comerciantes invadissem Ulmut, o que, por sua vez, tornava bastante fácil encontrar uma ou duas barganhas.

— Ao que parece, o texto foi escrito pelo aprendiz de um aprendiz de ferreiro divino. Ele fala sobre os diferentes tipos de metais que os ferreiros da última geração usaram no passado e faz uma menção especial a um chamado oricalco. Na verdade, não sei exatamente o que é esse metal, mas o livro diz que é o único tipo que pode sobreviver ao processo de forja de um ferreiro divino.

Hum, então algo desse tipo existia de verdade? Fiquei um pouco intrigado com o conceito de ser feito de oricalco, mas isso não parecia estar correto.

Oricalco, com base no que Zadoh disse, parecia ser uma espécie de metal lendário muito durável. O motivo pelo qual pensei não ser feito disso era porque ele era durável, eu não. Minha lâmina quebrava o tempo todo. A única razão pela qual eu parecia estar em perfeitas condições agora era porque eu podia me regenerar.

— Para ser sincero, esse palpite foi apenas um tiro no escuro. Há muitos metais que eu não sei muito a respeito, e não há dúvida de que essa sua espada poderia ser feita de qualquer um ou uma combinação deles. Eu só pensei que o oricalco era uma possibilidade, porque a espada parece emitir uma espécie de dignidade. Na verdade, ela quase parece ter uma presença própria. É possível que meus sentimentos venham do fato de ser algum tipo de item mágico de primeira classe.

Dignidade? Caramba, você está dizendo algo muito bom. Eu sou tão majestoso que ele não poderia deixar de me notar? Isso aí! Quer dizer, acho que isso fazia muito sentido. Podia não ser uma lâmina divina, mas havia uma boa chance de eu ter sido feito por algum ferreiro divino.

Zadoh terminou de me examinar, me devolveu a Fran e se despediu de nós.

Não demorou muito para chegarmos à pousada depois.

O sol já havia se posto, mas havia algumas coisas que tínhamos que fazer antes de irmos para a cama. Sendo mais específico, Fran ainda tinha que tomar banho e comer.

Mas não era disso que eu estava falando. Havia algo que eu queria verificar, algo que eu estava adiando.

"Bom, aqui vamos nós."

— Nn.

O problema em questão era verificar os efeitos da minha habilidade Síntese de Doppelganger.

Eu conjurei a habilidade que esperava criar alguns humanos vestindo um simples pedaço de pano, mas fui recebido por uma série de espadas.

"Sim, parece que criei espadas de novo."

— Nn. Muitos Mestres.

A Síntese de Doppelganger parecia ter começado a gerar espadas em vez de humanos por algum motivo estranho.

Tentei usar a habilidade várias vezes, apenas para descobrir que era realmente possível criar doppelgangers humanos, mas apenas se eu me focasse nisso. Da mesma forma, foi possível criar espadas e humanos ao mesmo tempo, uma descoberta que nos permitiu inaugurar toda uma nova onda de estratégias.

Mesmo assim, a habilidade não parecia funcionar da maneira exata que eu esperava. Por alguma estranha razão, os doppelgangers em forma humana que criei não pareciam muito certos. Eles pareciam comigo, mas ao mesmo tempo não pareciam. Algo parecia... estranho.

No entanto, não foi nada muito desorientador, então acabei considerando isso como consequência de me tornar capaz de criar doppelgangers em forma de espada.

A razão pela qual eu estava disposto a usar isso quase imediatamente foi porque, para ser franco, eu não me importava em ter uma forma humana. Eu já tinha me decidido há muito tempo e escolhi que viveria o resto da minha vida como uma espada. Tudo o que importava para mim era que meus doppelgangers em forma de humanos não sofressem nenhum tipo de perda de desempenho.

“Muito bem. Conversamos com todo mundo que precisávamos conversar e já temos quase tudo pronto. Você acha que já está na hora?"

— Nn. Hora de ir para a Nação dos Homens-Fera.



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