Volume 5

Capítulo 189: As chaves

— Parabéns Senhorita Fran. Você ganhou o direito de participar do evento principal.

— Nn.

Fran acabou tendo que visitar o que parecia ser mais uma sala de espera depois de vencer a partida. Lá, ela foi recebida por um funcionário que explicou como as coisas funcionariam daqui em diante.

O torneio não estava marcado para começar até depois de amanhã, mas mesmo assim, amanhã seria um dia agitado. As partidas e as chaves deveriam ser postadas de manhã e uma cerimônia de abertura aconteceria ao meio-dia. Na verdade, os participantes do torneio não precisavam participar da cerimônia de abertura. De fato, o tom do funcionário fazia parecer que estávamos sendo mais ou menos desencorajados, o que, para ser sincero, fazia sentido. Colocar um bando de guerreiros de sangue quente em um mesmo local soava como uma péssima ideia, não importa como você a analisasse.

Eles reforçaram ainda mais a ideia, afirmando que cópias das chaves seriam entregues na pousada em que estávamos, para que nem precisássemos sair para verificá-las.

Para nós, não ter que comparecer à cerimônia era uma bênção. Fran não era o tipo de garota capaz de ficar quieta enquanto nobres e outros figurões apareciam com seus longos discursos e outros enfeites. Além disso, a presença do Lorde das Feras era certa como um tipo de VIP, e estar perto dele não parecia algo que poderíamos chamar de a melhor ideia de todos os tempos.

Também fomos informados de que os participantes do torneio principal receberiam tratamento preferencial em todas as ferrarias da cidade durante o evento. Lesões poderiam ser curadas no local com facilidade. Tudo o que seria necessário para restabelecer a saúde perfeita era engolir uma ou duas poções ou alguém usar alguns feitiços de cura. No entanto, o equipamento não poderia ser consertado, a menos que você o levasse para a manutenção.

Felizmente, não havia muita informação nova para absorver, então acabamos saindo da arena não muito tempo após a nossa vitória — apenas para encontrar Judith.

— Ei Fran. Parece que eu não tinha mesmo a menor chance.

— Não machucou?

— Haha... só porque você se conteve o suficiente para isso não acontecer.

A maneira como ela falou deixou claro que a garota estava se sentindo um pouco triste. Fran não tinha ideia do que dizer, dadas as circunstâncias, e assim, acabou não dizendo nada. Em vez disso, ela só olhou para a outra garota com uma expressão um pouco preocupada.

— Ó, desculpe, não se incomode comigo. Eu só queria lhe desejar boa sorte e lhe dizer para dar tudo de si, em parte por mim.

— Nn.

— Ó, e não deixe de ganhar a primeira rodada! Apostarei todo o dinheiro que tenho em você!

— Posso lutar contra Lydia se ela ganhar as preliminares.

— Isso não importa! Ainda vou apostar em você de qualquer maneira.

Judith sorriu alegremente enquanto nos ajudava.

Com isso, partimos, nossas mentes e corações cheios com as palavras de encorajamento, meio sinceras e indecentes de Judith.

— Darei meu melhor.

"Você deveria mesmo, pelo bem da carteira de Judith."


As chaves do torneio nos foram entregues na tarde seguinte.

Começamos a examiná-las no momento em que as adquirimos. As chaves foram divididas em quatro blocos distintos, rotulados como A, B, C e D, respectivamente. Cada uma continha 16 dos 64 participantes do torneio.

Fran foi colocada na posição A-11, o que... sendo sincero, não significava muito para nós. Isso nos dizia contra quem estávamos disputando, mas não nos dizia nada a respeito de quão forte ele ou ela deveria ser.

"Parece que estamos enfrentando alguém chamado Zefmate...?"

— Não reconheço.

"Ele não é cabeça de chave, então acho que isso significa que ele deve ter sido pelo menos forte o suficiente para vencer as preliminares."

Decidimos deixar Zefmate de lado por enquanto e investigá-lo um pouco mais tarde. Imaginei que pelo menos seríamos capazes de aprender um pouco sobre o estilo de luta dele se apenas perguntássemos a Erza.

Depois de guardar esse pensamento e colocar algo em nossa lista de tarefas, Fran e eu examinamos todos os combatentes que eram cabeça de chave.

— Forrund e Amanda.

"Royce e Goldalfa também estão aqui."

Os quatro aventureiros rank A pareciam ser os principais cabeças de chave do torneio, pois seus nomes foram colocados nos quatro cantos da página. Embora alguns torneios que envolviam cabeças de chave fizessem com que eles disputassem menos partidas, este não era assim. Havia exatamente 64 participantes, por isso era justo no sentido de que cada indivíduo teria que lutar o mesmo número de batalhas para vencer o evento.

Como estávamos no Bloco A, o primeiro grande cabeça de chave que encontraríamos, se vencêssemos tudo, teria que ser Goldalfa, um dos acompanhantes do Lorde das Feras. Ele estava no mesmo bloco que nós, e havia sido colocado na posição A-1. O segundo cabeça de chave do bloco A, Colbert, havia sido colocado do lado oposto ao do anterior, na posição A-16.

Ter 16 combatentes como cabeças de chave significava que, de forma natural, havia quatro em cada bloco. Todos pareciam bastante fortes, mas Goldalfa e Colbert, os que teríamos que enfrentar, pareciam mais intimidadores ainda. Ambos eram capazes de deixar Fran à beira da morte com um único ataque. Por sorte, conhecíamos as habilidades de ambos até certo ponto, assim poderíamos pelo menos começar a pensar em como lidar melhor com eles com antecedência.

O primeiro dos dois que enfrentaríamos seria Colbert, o que, por sua vez, significava que deveríamos ser capazes de fazer algo sobre os oponentes que faziam uso das Artes Marciais. Porém, ele não era a única pessoa que precisávamos derrotar. Havia tantas pessoas que precisávamos procurar e pesquisar — um fato que me preocupava tanto que comecei a dar voltas mentais.

— Kufu.

Fran, no entanto, não ligava. A possibilidade de ter que enfrentar um dos guardas do Lorde das Feras não a assustou ou a preocupou. Na verdade, isso fez o exato oposto. Ouvir que ela poderia lutar contra Goldalfa havia incitado seu desejo de batalha ao limite e a fez sorrir.

"Então, se vencermos a primeira rodada, provavelmente teremos que lutar com... espere, sério? Ele?"

— Cruz Ryuzel? Não me lembro.

"Não estou surpreso por você não se lembrar dele, mas ele era aquele cara de rank C que estava lá quando fomos nos aventurar no calabouço com Amanda."

— Nn?

"Ó, por favor. Ele era o cara que funcionava como guia e examinador ao mesmo tempo. Cara meio bonito, mas quase parecia lamentável, dado o quão sofrida a vida dele era. Ele deve ter visto muita merda."

— Talvez lembrando vagamente.

Ééé... não parecia que eu seria capaz de despertar a memória dela, então desisti. Achei que ela poderia se lembrar se o visse. Eu estava bastante confiante que o próprio Cruz a reconheceria na hora, pois a impressão que ela deixara nele foi bastante profunda. Seria estranho se Fran acabasse tratando-o como um total desconhecido, então decidi fazer uma anotação mental para me lembrar de lembrá-la de que ela o conhecia no momento em que o encontrássemos.

Mesmo assim, a nota mental que fiz não era realmente uma que eu classifiquei como algo próximo de alta prioridade. De qualquer forma, havia uma boa chance de não acabarmos enfrentando Cruz. Ele teria que vencer o indivíduo colocado na posição A-9 para nos ver na arena.

"Parece que Cruz vai ter que lutar contra aquele velhote, Radyer."

— Disse que ele era rank C?

"Sim, mas ele parece ser tão forte quanto um rank B e até costumava servir como mago da corte."

Radyer como cabeça de chave parecia razoável. Eu meio que senti um pouco de pena de Cruz; eu não o via vencendo contra o velho mago.

— Radyer vai ganhar.

Fran declarou sua concordância.

Bem, acho que teríamos que descobrir a melhor maneira de combater magos se quiséssemos derrotar Radyer.

"E se conseguirmos superar Radyer, teremos que enfrentar Colbert."

— Nn! Será necessário se esforçar. Animada.

Colbert era muito mais experiente do que nós e até tinha um truque ou dois na manga. Ele tinha algo que disfarçava seus atributos, então nem sabíamos se os valores que vimos naquela época eram os verdadeiros. Tudo o que eu sabia era que ele possuía uma habilidade misteriosa do tipo artes marciais, conhecida como Artes Marciais do Estilo Dimitris, que era outra coisa que teríamos que investigar.

"E se vencermos Colbert, teremos que lutar com Goldalfa."

— Nn.

Goldalfa, assim como Colbert, parecia bastante forte, portanto, não duvidei que ele venceria seus três primeiros confrontos. Eu não estava tão confiante de que poderíamos derrubá-lo; havia uma boa chance de que ele fosse capaz de nos destruir e vencer sua quarta partida também.

— Vencerei!

"Isso aí, vamos sim!"

Se o derrotássemos, eu diria que tínhamos mesmo uma chance justa de ganhar o maldito torneio. Ele, como um aventureiro rank A, era alguém forte o suficiente para abalar sozinho o equilíbrio do poder militar de um país, por isso não é preciso dizer que ele era um provável candidato ao título do campeonato.

"Porém, derrotá-lo não vai nos poupar das lutas com todos os outros aventureiros rank A."

Se tudo desse certo, Fran teria que lutar contra Amanda nas semifinais e Forrund nas finais, cuja realização praticamente a deixou tremendo de empolgação. Ambos davam a impressão de serem ainda mais fortes que Goldalfa, em especial desde que testemunhamos seu poder em primeira mão em Barbola.

— Mas ainda vou ganhar.

"Iremos sim."

Eles eram extremamente formidáveis, mas eu me recusei a desistir. Não havia sentido em fazer isso se Fran pretendia dar tudo de si. Afinal, a vitória era algo que exigia a mentalidade certa; não havia como vencer, a menos que lutássemos com esse exato objetivo em mente.

"Isso mesmo! Vamos fazer isto!"

— Mestre?

"Eu só estava me animando porque nós vamos vencer esta merda!"

— Nn!

Identificamos o que pareciam ser nossas principais ameaças, mas isso não significava que poderíamos baixar nossa guarda. Como havia muitos outros concorrentes fortes, havia uma chance de sermos pegos desprevenidos e destruídos por completo por alguém que não esperávamos lutar se não ficássemos vigilantes.

Chegando a essa conclusão, decidimos olhar de novo as chaves para identificar nossos conhecidos.

O primeiro nome que nos chamou a atenção foi o de Fermus. Ele estava no Bloco D, junto com Royce.

O segundo nome que notamos era o de Erza. Parecia que o torneio era bastante flexível e seus gerentes estavam dispostos a acomodar as necessidades das pessoas, pois não o haviam listado pelo seu nome real. Erza, como Amanda, foi colocado no Bloco B. Eu meio que queria ver a luta entre os dois, mas ao mesmo tempo não queria, pois esse seria um confronto que determinaria qual era a “mulher” mais temível.

O terceiro nome que chamou nossa atenção foi o de “Phillip Krysten”, que estava listado ao lado de Forrund no Bloco C. Fiquei um pouco inseguro sobre se ele deveria ou não estar aqui, dado o status quo de Barbola, mas achei que ele devia ter suas razões para participar. Além disso, ele parecia bastante forte, dado o que ele foi capaz de fazer com Rynford, então eu estava ansioso para ver toda a extensão de suas habilidades; Phillip vs Forrund era uma partida que eu não queria perder.

Nossos olhos se moveram um pouco mais pela página e localizaram o nome de Charlotte. Me lembrei dela no mesmo instante. Ela era a jovem Dançarina de Guerra que nos ajudou em Barbola. Ela me pareceu o tipo de pessoa que lutaria através dos rituais que executava com sua dança, em vez de se envolver em combate direto... o que não a ajudaria, já que sua primeira luta seria contra Erza. Me senti muito mal por ela, então pelo menos, em minha mente, ofereci a ela minhas sinceras condolências.

O nome dela foi o último familiar que encontramos.

A pessoa que estávamos procurando não entrou na lista.

— Lydia faltando.

Espere, ela não pediu a Fran para não a machucar muito se as duas se encontrassem durante o evento principal e tudo o mais? Como ela não conseguiu vencer depois de dizer algo assim?

Pelo amor de Deus Lydia! Que diabos!?



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