Volume 5

Capítulo 176: Comendo curry em Ulmut

Shara, a camareira, trouxe a Fran e Aurel suas refeições pouco após eles terminarem a discussão sobre a evolução. Ela estava acompanhada por um homem gorducho, que eu presumi ser o chef que Aurel mencionou mais cedo.

— Sinto muito sobre te deixar esperando.

— Não se preocupe Asuto. O prato que você preparou tem um cheiro muito delicioso.

— Este é um dos que aprendi durante meu tempo em Barbola.

Asuto, o chef, ergueu a tampa da panela e começou a mexer o interior com uma concha.

— Ó? Estou ansioso para experimentá-lo.

— Não espere muito. Ainda estou no processo de refinar a receita.

— E você ainda vai o servir apesar disso?

— Estou servindo isso a você porque sei de seu paladar muito afiado. Adoraria que você me ajudasse a descobrir o que está faltando no prato. A versão que experimentei em Barbola era muito mais completa, e também foi a coisa mais deliciosa que já experimentei em minha vida.

— Bom, agora estou mesmo ansioso para experimentar o prato.

— Este protótipo já é bastante delicioso por si só, mas parece que está faltando alguma coisa, então eu apreciaria muito a sua opinião a esse respeito.

— Hah hah hah. Vou te dar quantas opiniões você desejar, contanto que isso signifique que vou apreciar comidas deliciosas.

— Eu também estava me perguntando se seria ou não melhor fazer vários de meus pratos regulares para a convidada. Eu deveria?

— Bom? O que você diz?

— Nn. Não precisa.

— Assim sendo, por favor, me dê sua opinião sobre o prato também.

— Deixe comigo.

Au, au!

Urushi simplesmente não podia deixar uma refeição grátis escapar, então ele se certificou que sua presença fosse reconhecida.

Ó, pelo amor de Deus Urushi, pare de babar! Nós podemos ter que pagar por isso se o estragarmos!

— Alguns para Urushi também.

— O sabor pode ser um pouco forte para um cão.

— Sem problemas. Urushi, Fera Demoníaca.

Au!

— Ó, ele é o seu familiar? Ele parecia tão amigável que nem mesmo percebi. Tudo bem então, vou preparar um pouco para ele também.

Asuto recolheu o conteúdo da panela, um líquido marrom grosso e viscoso composto de batatas e outros vegetais, e o colocou em um prato de arroz.

O prato que o chef criou era algo que eu já tinha visto. Ou melhor, era um que estava com uma quantidade vasta guardado dentro do meu Armazenamento Dimensional. Diabos, não havia como não reconhecer isso. Esse era o prato que eu popularizei quando visitamos Barbola.

Curry?

— Uou, estou surpreso por você o conhecer. Você acertou em cheio, esse é o prato que conquistou o concurso de culinária este ano, curry.

— Ó, verdade, você disse que esteve em Barbola recentemente, não foi Fran?

— Nn.

— Eu assumo que você já experimentou isso antes?

— Nn.

— Ótimo! Isso é perfeito.

É, uh, era mais como se ela comesse isso todos os dias, mas, ao que parecia, isso não importava, vendo como ambos Fran e Urushi estavam olhando para o prato com olhos brilhantes.

— Aproveitem.

— Ele parece um pouco estranho, mas tem uma fragrância deliciosa.

Nom, nom.

Au, au. Late, late.

— Que belo apetite vocês dois têm.

O chef elogiou Fran e Urushi com um sorriso.

— Hmmm… o sabor é… diferente, mas realmente atiça o apetite!

Curry parecia agradar o paladar de Aurel. No começo, ele começou a comer de forma muito lenta, mas logo começou a encher sua boca o mais rápido que podia.

— Mais.

Au.

Fran e Urushi terminaram três pratos cada um no momento em que Aurel terminou sua refeição.

“Está bom?”

“Medíocre?”

Ela acabou comendo cinco pratos, apesar de não estar muito satisfeita com o sabor.

“Nn. Ainda saboroso, mas ruim comparado com o curry do Mestre.”

— Isto é muito bom. Como você disse que ele é chamado?

— O prato se chama curry. Barbola está no momento no meio de uma onda de curry. Todos estão desenvolvendo receitas para pão de curry, massa de curry, e outras coisas que podem usar o prato. Dúzias de dúzias de estabelecimentos também começaram a colocá-lo em seus menus.

— Considerando seu sabor, não estou surpreso. Você disse que esta receita ainda precisaria de melhorias?

— Ela precisa. Ela não chega aos pés da original que experimentei em Barbola.

— A original era tão boa?

— Todos estão dizendo que ela teria vencido se o concurso de culinária não fosse cancelado devido ao incidente.

— Nn! Vitória garantida.

Fran concordou contente com a declaração de Asuto.

Não conseguimos vencer, mas ainda conseguimos fazer aquele cara reconhecer nosso prato¹, o que por si só me deixou muito feliz. Do mesmo modo, o fato de que a receita começou a se tornar mais e mais famosa fez o mesmo. Parecia que as pessoas também começaram a pensar em derivações bem interesses, como a massa de curry, por exemplo.

— Bom, você com certeza parece ter ficado inebriada. Por que a mudança?

— Mestre venceu

— Mestre? Quem é Mestre?

— Ó, você está falando sobre o Mestre que todos tem comentado a respeito? O Mestre do Curry?

Espere. Espere, o quê? Ele acabou de dizer o que acho que ele disse? Ele estava se referindo a mim, não é?

— Foi o seu Mestre de culinária a pessoa que apresentou o curry para Barbola?

— Não apenas culinária. Mestre para tudo.

— Magia e esgrima também?

— Nn. Mestre capaz de qualquer coisa.

— Que Mestre bem impressionante você tem. Espere, você não entrou na cidade sozinha?

— Nn. Mestre elusivo como fantasma.

— Bom, você é tão habilidosa quanto qualquer aventureiro veterano, então não posso dizer que estou surpreso por você estar viajando sem qualquer supervisão.

— Hum? Então você é mesmo a discípula do Mestre do Curry?

Tá legal, ééé, ao que tudo indicava, eu realmente o ouvi direito. Maldição! Por que eu acabei com um apelido tão estúpido!?

“Ei Fran, você se incomoda de verificar o que ele quer dizer com Mestre do Curry?”

— Asuto. Mestre do Curry, quem é?

— Ele não é o seu Mestre?

Aurel ergueu sua sobrancelha; ele estava um pouco confuso.

— Ó, pode ser porque ele na realidade não se referia a si mesmo dessa maneira. A pessoa responsável por inventar o curry permaneceu anônima e só era referenciada por Mestre. Foi por isso que as pessoas começaram a chamá-lo de Mestre do Curry. Eu mesmo escolhi seguir a tendência porque um grupo de aventureiras com quem tenho amizade o chamava assim, e porque eu só consegui colocar minhas mãos na receita através de minhas conexões com o citado grupo.

— Aventureiras?

— É. Há um grupo que atende pelo nome de Donzelas Escarlate. Você conhece elas?

— Nn. Conhecidas.

Ó, pelo amor de Deus! Foram elas? Zzz… aposto minhas fichas que isso foi culpa de Lydia.

— Então, o que você acha do curry que eu fiz?

— Nn. Bom.

— Entendo…

O rosto de Asuto obscureceu; ele logo entendeu o fato de que Fran não estava o elogiando.

“Por que não o damos uma cópia da receita?”

Estávamos em dívida com Aurel, e provavelmente iríamos depender dele muito mais daqui para frente, assim, imaginei que poderíamos também o fazer um favor.

Fran compartilhou com Asuto nossa receita de curry de arroz em troca da dele. Descobrimos que alguns temperos eram bem difíceis de obter em Ulmut, então ele estava usando diferentes para ocupar o sabor que faltava.

Não fui capaz de tentar o que ele fez, mas pelo menos consegui imaginar até certo ponto ao usar a habilidade Culinária. Isso, por sua vez, tornou possível para que eu o desse alguns conselhos.

Como resultado, conseguimos criar um tipo de curry que variava de forma considerável do que fizemos em Barbola, um ulmutiano original.

Não pude deixar de ficar ansioso com a possibilidade de o curry se espalhar por Ulmut como fez em Barbola.


E assim, uma hora se passou.

Durante essa hora, Fran perguntou a Aurel sobre várias coisas, a maioria dizia respeito ao Lorde das Feras que Dias nos falou mais cedo naquele dia.

— E aqui está o que te devemos por terminar o pedido que te fiz, assim como um pequeno bônus como agradecimento pela receita.

— Não preciso, de verdade.

— Por favor, apenas aceite. Você me deixaria com uma sensação desconfortável se não o fizer.

Aurel nos entregou uma bolsa de couro contendo 300 mil Gorudo.

Eu realmente não pensava que merecíamos isso. Ele apenas nos fez o pedido para que pudéssemos conhecer Rumina. Da mesma forma, nós o dando a receita era mais ou menos uma forma de agradecê-lo pelo que ele nos disse, assim, achei que ainda estávamos em débito com o homem. Mesmo assim, dinheiro era dinheiro, e ele estava apenas nos dando, então decidimos só aceitar.

— Obrigada.

— Sem problemas. Nos visite de novo.

— Nn.


Nota

[1] O Mestre está se referindo ao jurado da Guilda dos Chefs que eles conheceram no capítulo 102 e reconheceu sua derrota no desafio pessoal que Fran o propôs no capítulo 137.



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