Volume 5

Capítulo 174: Orgulho azul

Um grupo do que pareciam ser aventureiros se reuniu na frente da mansão de Aurel. Não sabia com exatidão quem eles eram ou porque estavam aqui, porém, eu podia pelo menos dizer que o grupo estava mal organizado. Eles meio que lembravam os delinquentes que você encontraria vadiando perto da frente de uma loja de conveniência. Os dois únicos membros do grupo que pareciam ter o mínimo de decência eram os que eu presumi ser os líderes. Havia um homem e uma mulher, com a última tendo a aparência de alguém com 17 ou 18 anos de idade.

Eu não consegui entender o que eles estavam fazendo; os dois estavam de pé diante dos guardas com seus braços cruzados. Parecia que eles estavam esperando por algo, mas não consegui dizer com certeza se esse era ou não o caso.

Olhar um pouco mais de perto me permitiu perceber que a mulher era uma mulher-gato. O mesmo se aplicava ao resto do grupo.

“Mmph.”

“Qual o problema Fran?”

“Todos Gatos-Azuis.”

“Espere, é sério? Todos eles?”

“Nn.”

“Então acho que é melhor ficarmos atentos.”

Au!”

Não imaginei que eles iriam apenas nos atacar do nada, mas, ei, melhor prevenir do que remediar.

Se aproximar do portão parecia ser uma enorme dor de cabeça, mas imaginei que estaria tudo bem. Aurel parecia ser alguém muito influente entre os homens-fera, então não pensei que teríamos que nos preocupar com eles tentando atravessar o portão, mesmo que os guardas permitissem nossa entrada.

“Vamos apenas ignora-los e continuar em frente, independente do que eles digam.”

“… entendido.”

Fiquei um pouco preocupado, porque apesar do fato de Fran concordar com minha sugestão, ela hesitou um pouco antes de responder. Ó, bom, que seja. Imaginei que poderíamos apenas nos teleportar pelo portão se o pior se concretizasse. Aurel parecia gostar de Fran, então era provável que não seríamos tratados como invasores ou intrusos contanto que nos explicássemos.

Fran rapidamente se aproximou do portão enquanto se mantinha em guarda. Ela fez uso das habilidades Isolar Presença e Furtividade para se deixar o mais difícil de se notar possível.

O Gato-Azul era bem fraco, assim, poderíamos evitar de chamar atenção deles se evitássemos qualquer contato visual direto.

Isso, no entanto, estava programado a mudar no momento que tentássemos entrar na propriedade. Teríamos que falar com um dos guardas para ganhar acesso, e, ao fazer isso, seríamos expostos para a garota adolescente e seu companheiro.

Ah, bom. Provavelmente, poderíamos apenas ignorá-lo.

— Olá.

— Hum? Ó, olá Fran. Sinta-se livre para entrar.

— Permitida?

Espere, eles nos deixaram entrar? Eu estava esperando que eles tivessem que falar com algumas pessoas antes para verificar tudo primeiro. Só estivemos aqui uma vez, então não estava esperando receber permissão com tanta facilidade.

— Você sim. Mestre Aurel nos disse para deixar você entrar e te priorizar acima de todos os demais.

— A outra única pessoa que devemos tratar da mesma forma é Erza.

Hã, acho que ele gostou muito mais de Fran do que imaginei. Bom, isso serve para nós, eu acho.

— Nn. Vou entrar então.

— Por favor, faça isso.

— Ei, o que está acontecendo!?

— Ééé, qual o significado desta merda!?

— Nn?

Ambos o homem e a mulher-gato de pé no portão ergueram suas vozes em protesto como resposta ao fato de Fran entrar com facilidade na propriedade.

A expressão da garota se distorceu da que parecia ser a de esperar por algo enquanto ficava perplexa para uma que era mais parecida com um olhar hostil.

— Como é que ela pode entrar assim? Por que temos que esperar mesmo depois de virmos visitar para que pudéssemos apenas dar um rápido cumprimento?

— Você tem ideia de quanto tempo estivemos esperando de pé aqui?

— Eu já falei que vocês não podem se encontrar com o Mestre Aurel a menos que vocês tenham uma reunião agendada. Foram vocês que insistiram que queriam vê-lo, não importava como.

— Vamos lá! Nós somos o Orgulho Azul! Você não sabe o quão famosos nós somos no Continente Khrome?

— Eu sou a representante de nosso chefe. Me fazer esperar é o mesmo que fazer nosso chefe esperar!

A forma como eles estavam se vangloriando soava como se o Orgulho Azul devesse ser um grupo famoso de mercenários cujo próprio nome inspirava medo, o que, considerando o fato de eles serem de um continente diferente, poderia ser possível.

— Eu não ligo.

Entretanto, a influência do grupo falhou em se estender além de sua área de origem. Aqui, o nome deles parecia ser apenas mais um, já que o porteiro apenas sacudiu sua cabeça e negou a entrada da garota, o que por sua vez fez veias em sua testa incharem de raiva. Se eu tivesse que oferecer uma opinião, eu diria que ela estava agindo de forma muito imprópria. Ela acabou ficando muito irritada porque o guarda do portão basicamente ignorou a declaração de quão grande ela deveria ser. A forma emocional com que ela reagiu era uma que você não poderia chamar de nada além de patética.

— Estamos concedendo o acesso de Fran porque ela é uma das honradas convidadas de nosso lorde.

— Haaah? Ela é apenas uma gata-negra, e uma garotinha ainda por cima.

Um momento de ponderação me levou a perceber que o nome do grupo, Orgulho Azul, indicava que ele devia ser composto apenas por Gatos-Azuis, o que significava que poderia ser melhor para nós ficarmos o mais longe possível deles.

Minha hipótese foi sustentada pela forma com que eles olhavam para Fran. Seus olhos estavam repletos com desprezo; era óbvio que eles não pensavam coisas boas dela.

— Então você está dizendo que esta Gata-Negra é mais importante do que nós?

— Só para ser claro, a raça dela não tem nenhuma relação com o fato de que estamos permitindo sua entrada.

— Ela é simplesmente uma das honoráveis visitantes de nosso mestre. Por extensão, insulta-la não é diferente de insultar nosso mestre.

Os dois guardas falaram na sequência, com um apoiando o argumento feito pelo outro.

— O que vocês estão dizendo!? Você não podem ver que ela é uma Gata-Negra!

Caramba, quer saber, é por isso que eu odeio Gatos-Azuis. Não consigo me lembrar de encontrarmos um que não menosprezasse os Gatos-Negros. Todos pareciam acreditar que cada um dos integrantes da Tribo dos Gatos-Negros era inútil, e que os Gatos Negros só existiam para que pudessem ser vendidos como escravos e coisas do tipo. Além disso, nenhum dos Gatos-Azuis que encontramos até agora parecia se opor nenhum pouco a essa ideia. Quase parecia que isso era algo natural para eles.

“Vamos apenas ignora-los e entrar.”

“…”

Ah, merda.

Isso não estava aparecendo em seu rosto, mas Fran estava fervendo por dentro e estava pronta para mostrar o inferno para eles. Ela deveria chegar a seu limite de tolerância se eles dissessem mais alguma coisa.

“Urushi, leve Fran para dentro!”

Au.

— Mmph…

Eu puxei Fran para dentro com a Telecinésia, enquanto Urushi a puxou por trás; nós dois trabalhamos juntos para fazê-la se mover antes de ela perder sua calma. Infelizmente, nossos esforços não serviram para muito, já que Fran e a Gata-Azul se encararam.

“Vamos lá, vamos apenas dar o fora daqui.”

Au, au!

— Nn.

Com relutância, Fran concordou em se mover após Urushi e eu realizarmos mais algumas tentativas desesperadas.

Ufa.

Começar uma luta aqui e agora não era bem o que eu chamaria de boa ideia.

Isso, no entanto, não significava que ela iria ignorar aqueles que menosprezasse ela e sua raça. Fran se virou assim que passou pelo portão e ativou Coerção, Intimidação e Dominação, todas de uma vez, enquanto também direcionava a garota e ao homem de pé ao lado dela uma poderosa onda de sede de sangue.

— Hiii!

— Kuh…

O rosto da garota empalideceu enquanto ela caía de bunda no chão, enquanto o homem acabou dando vários passos para trás. Todos os companheiros deles na mesma hora se levantaram depressa com surpresa antes de enviarem olhares furiosos na direção de Fran. Apesar de tentarem, eles foram incapazes de esconder o medo que sentiam da garota.

Como mercenários, e portanto pessoas experientes na arte do combate, eles conseguiram reconhecer o poder esmagador de Fran.

— Qu-quê…

Ela calmamente atravessou o portão enquanto notava que a Gata-Azul ofegante atrás dela murmurou algo com um tom sem vida.

“Olhe só você, toda convencida…”

— Heheh.

“Isso não foi um elogio, entendeu?”

— Nn?



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