Volume 5

Capítulo 173: Manutenção

Decidimos parar em uma das ferrarias dos anões antes de seguir para a mansão de Aurel.

— Ó, ei. Aquela é a garotinha que Gallus me disse para tomar conta. Você precisa de algo?

— Quero reparar equipamento.

Nós realmente não nos incomodamos em consertar o Conjunto da Gata-Negra até agora por causa de sua função de autorreparo, nós nunca precisamos fazer isso. Nós tecnicamente também não precisávamos disso agora, mas o tatuzinho danificou tanto o equipamento que ele ainda não tinha se reparado por completo. Nós também nunca nos incomodamos em conservar a armadura de nenhuma maneira e imaginamos que estaríamos bem.

O Torneio de Artes Marciais estava chegando, então devia ser uma boa ideia para nós deixarmos nossos equipamentos no melhor estado possível.

— Com certeza! Eu, Zerld, vou consertar tudo isso. Eles não me chamam de o melhor ferreiro de Ulmut à toa.

Zerld pegou um cristal mágico e começou a preparar um círculo mágico após passar algum tempo inspecionando o equipamento de Fran. A maioria do trabalho parecia ser mais difícil no início, já que ele consertou tudo em um instante ao invocar Reparar após preparar tudo.

O preço de cem mil Gorudo que ele cobrou pelo serviço foi muito justo; todas as coisas de Fran estavam de volta em suas melhores condições.

— Isso é tudo. Me empreste sua espada a seguir.

— Nn?

— Bem, só pensei que sua espada poderia estar danificada considerando quão arrebentada sua armadura com autorreparo estava.

Ó, verdade. Acho que isso seria o normal em uma situação dessas, hã? No meu caso, todo o dano que recebi era anulado com o tempo pelas minhas habilidades Autorreparo e Regeneração.

— Aqui.

“Es-estou perfeitamente bem. Não preciso de nenhum reparo.”

Pensei que eu estava bem, mas Fran me tirou de suas costas e me entregou para Zerld, apesar de meus protestos.

“Mas é melhor um ferreiro habilidoso analisar só por precaução.”

Parecia que as palavras de Zerld acabaram deixando Fran um pouco ansiosa. Ela própria não era tão habilidosa para discernir minha condição e, em geral, não tinha escolha além de acreditar no que eu a dizia.

“Ah, bem. Vai dar tudo certo, eu acho.”

Quer saber, ser verificado de vez em quando poderia na realidade não ser uma má ideia. Havia sempre a possibilidade de que algo estivesse errado comigo e eu apenas não percebi.

— Hmmm, esta espada é feita de um metal incrível.

Zerld me olhou de vários ângulos diferentes antes de me colocar no topo de uma mesa e me acertar de leve algumas vezes com um pequeno martelo.

Ele continuou a me atingir com o martelo, enviando vibrações pela minha lâmina em intervalos regulares. Era uma sensação que eu não poderia me fazer desgostar. Eu podia sentir a seriedade e sinceramente das ações do artesão anão, e essa era mesmo uma sensação muito confortável.

Ele então me colocou dentro de uma caixa cheia de água e a balançou de leve antes de enfim me polir com um pano muito limpo.

Uou, isso foi ótimo. Mal consegui me impedir de suspirar pelo quão bem eu me senti. A razão para eu conseguir me segurar não foi algo tão mundano quanto querer manter minha identidade em segredo de Zerld. Ao invés disso, foi porque eu não queria gemer em resposta a ter minha lâmina esfregada por outro homem. Eu preferia me matar.

Por sorte, fui capaz de segurar esse desejo porque o prazer que senti não foi sexual em nenhuma forma. Foi algo mais parecido com o que você sentiria quando recebe uma massagem. Acho que você poderia dizer que isso não importava de verdade, mas a parte dentro de mim que era um homem de meia-idade insistiu que importava sim.

Não tinha muita certeza de como isso aconteceu, porém, Fran conseguiu perceber o fato de que eu estava internamente cerrando meus dentes e me segurando.

“Mestre, algo errado?”

“Nã-não, nada errado.”

“Agindo… esquisito.”

Decidi me explicar para Fran após perceber que a deixei preocupada por uma razão que não poderia deixar de chamar de ridícula.

Ainda assim, eu tinha mesmo que admitir que esta sensação foi boa demais. Fran sempre me esfregava também, então eu nunca ficava muito sujo, mas ela nunca conseguiu fazer isso de forma tão agradável.

Se eu tivesse que adivinhar, diria que a diferença na sensação se originava de uma diferença nos níveis de habilidade. Motivo para a diferença no toque de Zerld, que parecia o de um verdadeiro ferreiro, enquanto Fran mostrava que ela era uma amadora.

— E isso é tudo. Sua lâmina não estava torta ou arranhada, então eu apenas a deu uma boa polida.

Puxa, esse foi um polimento incrível. Isso foi relaxante pra caramba. Senti como se tivesse visitado uma casa de banho de altíssima qualidade, fiquei de molho por metade de um dia antes de receber uma massagem e dormir a noite toda. Era como se eu estivesse totalmente radiante e rejuvenescido, tudo de uma vez.

Em primeiro lugar, eu já estava em perfeita condição, assim, essa massagem apenas me empurrou para mais além disso. Senti como se estivesse no meu absoluto ápice e pronto para dar 120% de mim. Mesmo assim, meus status não mudaram nada, então imagino que isso foi algo mais psicológico. Senti que o fluxo interno de minha energia mágica melhorou, e que era um pouco mais fácil do que o normal usar minhas habilidades, mas não estava certo se isso era uma certeza ou apenas algum tipo de placebo¹.

— Nn. Ferraria incrível.

— Gahahaha. De onde saiu isso?

Fran falou em um tom cheio de admiração enquanto olhava para quão reluzente minha lâmina se tornou. Quer saber, eu realmente me sentia melhor do que o usual. Devia ser uma boa ideia fazer isto com mais frequência, e não porque eu me senti bem!

Tá legal, talvez seja porque me senti bem, mas sabe de uma coisa? Eu estando em boa forma também significava que seria capaz de fazer mais por Fran.

— Até.

— Claro. Vou cuidar de toda a manutenção que você precisar, em especial ao ver como o torneio está próximo.


Pouco tempo se passou, apesar do fato de que muitas coisas diferentes aconteceram. Ainda estava muito cedo, então nos movemos na direção da mansão de Aurel com um ritmo bem vagaroso.

Na verdade, Fran começou a comprar itens aleatórios e apenas comia enquanto lentamente caminhava para a colina na qual a mansão estava situada.

“Essas barracas com certeza estão vendendo muita carne de fera demoníaca. Acho que é assim que é a vida quando você mora em uma cidade com dois calabouços em seu interior.”

Carne de fera demoníaca era tratada como um produto de luxo em Barbola, mas aqui, ela estava por toda a parte, no sentido literal. Ela estava sendo tratada como… bom… carne comum.

— Nn. Saboroso.

Au.

Ao que parecia, muitas das feras demoníacas que você encontraria nos calabouços indicados para novatos eram na realidade comestíveis. Não podia evitar de me perguntar se isso era um retrato da realidade, ou isso só acontecia por causa dos acordos feitos com os mestres dos calabouços da cidade?

Fran e Urushi basicamente pegaram a comida de todas as barracas de comida de rua que eles encontraram. Eu estava esperando que eles fizessem o mesmo de sempre, comprando uma enorme quantidade de produtos, mas eles não fizeram isto desta vez. Ao invés disso, eles consumiam em um instante tudo o que compravam.

Não levou muito tempo para que nós passássemos pelo distrito residencial e colocássemos os olhos na mansão de Aurel.

“Parece que há muitas pessoas por aqui”

— Nn. Muitas.

Au.

Parecia que umas dez pessoas estavam reunidas no portão frontal da mansão.


Nota

[1] Placebo é como se denomina um fármaco que apresenta efeitos terapêuticos devido aos efeitos psicológicos da crença do paciente de que está sendo tratado.



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