Se der Ruim, Viro Ferreiro Japonesa

Tradução: Rudeus Greyrat

Revisão: Ma-chan


Volume 7

Capítulo 102

“Que lugar é esse?”

Ao acordar, eu estava coberto por um casulo feito de uma fina membrana. Talvez meu sonho de me tornar uma crisálida finalmente tivesse se realizado. Apesar de que não me lembro de um dia ter sonhado com um absurdo desses. Usando minhas mãos para rasgá-la, o que se revelou para mim foi um teto desconhecido.

Sério, onde é que estou?”

Minhas memórias não estavam claras e eu não conseguia pensar direito. Tentei piscar um pouco e me concentrar, mas não importava o quanto tentasse, nada me vinha à cabeça. Onde é que diabos fui parar e por que estou aqui?

Quando olhei para o lado, um outro casulo estava ali e havia alguém visivelmente preso entre as camadas da fina membrana. Eu não sabia quem era aquela pessoa… não, estava mais para “eu não consigo me lembrar” do que “eu não conheço”. Quem quer que fosse, essa pessoa tinha uma expressão determinada e era incrivelmente bonita, muito bonita. Tanto que nem me importaria de passar a eternidade toda olhando para ela. Sério.

…Não sei que lugar é esse, mas estou começando a achar que não seja tão ruim assim.”

Eu não tinha ideia de quando a garota ao meu lado acordaria, portanto, tentei olhar os arredores da construção em que estávamos. De relance, dava a impressão de ser uma casa normal, mas não havia qualquer mobília e nem dava a sensação de ter alguém morando aqui. Será que ela havia sido abandonada já há algum tempo? Mas tudo parecia limpo demais para ser isso. Pergunto-me se alguém viria limpar periodicamente enquanto estávamos dormindo. Pode ser que essa pessoa retornaria em breve? Se sim, eu adoraria ouvir em detalhes o que está havendo. O meu sentimento era que as minhas memórias simplesmente houvessem desaparecido e tudo o que eu mais queria agora era poder preenchê-las.

Olhando para fora, o sol estava bem lá no alto. Queria saber se já era meio dia, mas, como não tinha nada para fazer, fiquei apenas admirando a paisagem e ouvindo as vozes que vinham de longe. Talvez houvesse algum mercado nas proximidades.

Após um tempo, fiquei entediado e decidi sair da casa, indo em direção de onde vinham aquelas vozes animadas, chegando até a estrada principal depois de caminhar um pouco. Como pensei, tratava-se de um mercado e estava bem movimentado. Tinha vários tipos diferentes de lojas nos dois lados da estrada e, no meio, uma multidão ia e vinha.

— Ei moço, você aí de aparência rica. Que tal comprar umas coisas aqui na minha barraca?

Moço de aparência rica… ele está falando de mim?”

— É, você aí do cabelo vermelho, estou falando contigo.

Vendo a minha cara perplexa, ele apontou para mim. Certamente o meu cabelo era vermelho e, pelo visto, eu aparentava ter dinheiro.

— Foi mal, tio. Estou sem qualquer tostão aqui.

Ou ao menos era isso que achava, já que não conseguia encontrar uma carteira mesmo depois de vasculhar os bolsos.

— É mesmo uma pena. Mas sabe, a minha torta é bem gostosa, sabe? Prove um pedaço antes de ir embora. Se tu gostar, venha de novo um outro dia, tá ok?

— Você sabe bem como ganhar um cliente, não é?

Pegando o pedaço de torta que aquele senhor legal me deu, imediatamente o coloquei na boca.

— […]

— E aí, gostou, não foi?

Agora que penso nisso, eu estava dormindo dentro de um casulo, não era? E por quanto tempo? Se estou tendo problemas em me lembrar das coisas, significa que deve ter se passado um longo período. O que significava que não comi nada desde então. No entanto, pelo que podia ver, meu corpo não sofreu qualquer efeito de ter passado fome. Poderia ser que estivesse recebendo nutrição por uma via diferente. Deixando isso de lado, a única coisa que poderia dizer com clareza era que não tinha comido nada havia um bom tempo. Afinal, a torta estava tão deliciosa que me dava vontade de mastigá-la para sempre.

Levei o resto dela à boca, deixando minhas bochechas inflarem, e então a comi. Antes que percebesse, lágrimas começaram a cair dos meus olhos, meu nariz também encheu de água e fui inundado por uma profunda felicidade.

— Ei, ei, ei, meu jovem de aparência nobre. Nunca pensei que tu fosse gostar tanto…

— …Maimi muma…

— Hã? O quê? Fale depois que tiver engolido, tá ok?

Ouvindo o conselho do velho, decidi fazer como ele disse para poder pedir mais um pedaço.

— Posso pegar outro?

— Hahaha!

Provavelmente isso foi algo inesperado para o velho, já que ele riu durante um bom tempo. Após se acalmar, pegou a faca e cortou mais um pedaço da torta para mim.

— Pra falar a verdade, hoje é que comecei os meus negócios. Eu tava nervoso se ia dar tudo certo, mas se um nobre como tu gostou tanto assim, acho que dá pra ter alguma confiança na minha própria culinária.

Hmm? Pelo visto passei de ‘moço de aparência’ para ‘nobre’ em um instante. Será que sou um mesmo? Se não, foi mal aí.”

— Definitivamente virei um dia para te pagar.

— Nah, sem problema. Pra mim isso é como um serviço especial de grande inauguração!

Velho, irei tomar suas palavras a sério, tudo bem?”

Mais uma vez, coloquei o pedaço inteiro de torta na boca, fazendo minhas bochechas inflarem e então a comi. Embora, no momento, o meu futuro possa ser muito mais ambíguo do que o do velho, apreciei aquele instante de felicidade. Depois disso, dei meus agradecimentos a ele e voltei a caminhar pelo mercado.

Enquanto andava, comecei a pensar que gostaria que aquela garota bonita que estava na casa comigo pudesse provar da torta também. Ela provavelmente a acharia deliciosa e ficaria comovida, assim como eu. Minha vontade era de voltar até a barraquinha do velho e pedir mais um pedaço, mas seria errado voltar logo depois de sair. Ou melhor, se os meus bolsos não estivessem vazios, isso não seria problema algum e até ajudaria no crescimento dos seus negócios.

Sendo assim, eu precisava conseguir algum dinheiro. Quando a garota na casa acordaria era incerto, mas ganhar alguns trocados antes disso não faria mal nenhum. Ótimo, meu próximo objetivo estava definido!

Agora que já decidi meu próximo passo, o que farei quando minha memória retornar? O velho havia me chamado de nobre, mas, como exatamente os nobres ganham dinheiro? Será que o dia em que poderei pagá-lo chegará?”

Passei algum tempo pensando nisso com seriedade, porém, nada bom viria se continuasse me preocupando. Como resultado, continuei a explorar o mercado. Não, eu não tinha quaisquer segundas intenções como “filar” um pedaço de torta em outra barraca, ficou claro? Mas no final, acabei recebendo mais um pedaço, obviamente contra a minha vontade. Aparentemente, se você se parecer com um nobre, as pessoas lhe darão comida de graça. Preciso anotar isso.

Conforme ia avançando mais pela rua principal, a multidão foi lentamente se tornando mais escassa. Após atravessar a seção onde roupas estavam sendo vendidas, cheguei ao que parecia ser onde os artesãos se reuniam. Havia até mesmo lojas que vendiam artigos de couro ou trabalhos com metal. Com tantas lojas na ativa, vários discípulos estavam reunidos para fazer as vendas, tornando o lugar bastante vívido. Tinha até mesmo lojas com um único funcionário, fazendo seu trabalho lento e silenciosamente.

Não havia qualquer coisa aqui que pudesse encher a minha barriga, mas estranhamente me sentia calmo e confortável neste lugar. Ao mesmo tempo, uma excitação invadia o meu peito, a medida que ia caminhando pelas lojas. O que exatamente era este sentimento? Algo de extraordinário aconteceria do nada? Não parecia ser o caso.

E por fim, minhas orelhas captaram um som decisivo.

*Clang*, *Clang*, *Clang*, o breve som de metal colidindo contra metal. Na sessão onde me encontrava, parecia ser onde os ferreiros se reuniam. Enquanto me aproximava, pude vê-los batendo no ferro com muito entusiasmo. Meu coração acelerou, batendo junto com o ferro. Talvez eu tivesse sido um ferreiro também.

Estranhamente comecei a pensar que, caso estivesse com um de seus martelos em mão, uma sensação muito familiar poderia correr por mim. Além disso, pela forma como poderia dizer se este ou aquele não estavam fazendo o trabalho direito, não havia dúvidas de que aquela era a minha profissão.

— Desculpe-me interromper o seu trabalho, mas você se importaria em me responder se sou um ferreiro também?

— Hã!? Como se eu soubesse! Hmm, espera aí, um nobre? Por favor, não interrompa o meu trabalho!

“Pelo visto a minha pergunta foi um pouco estranha. Acho que ele não sabe me dizer se sou um ferreiro ou não. De qualquer forma, todo mundo pensa que sou um nobre, hein? Bem, talvez eu realmente seja, então.”

Por um tempo, andei em volta olhando-os trabalhar. Para ser honesto, tinha tanta gente ali que precisava praticar mais, ou ao menos foi este o meu pensamento. Eu não tinha qualquer confiança para dizer que estava certo, mas ao menos era como me sentia.

Depois de olhar em todas as lojas, acabei achando o que pensava ser o melhor deles bem no centro da região. Tratava-se de um homem velho, que não tinha qualquer discípulo, fazendo todo o trabalho por si mesmo.

— Por acaso até mesmo nobres sentem vontade de ver esse tipo de coisa de vez em quando?

Deixando de lado essas palavras, ele apenas me ignorou e continuou o seu trabalho silenciosamente. Eu me sentia calmo assistindo-o e me dava até mesmo vontade de martelar algumas espadas.

Não sei por quanto tempo fiquei o observando, mas antes que percebesse, um espadachim estava de pé ao nosso lado. Julgando pela sua figura e ar intimidante ao seu redor, podia-se dizer claramente que ele era forte.

— Barol-san, estou precisando que conserte a minha espada.

— Como é? De novo?

Pelo visto os dois se conheciam.

— Um cliente? — O espadachim me notou.

— Não, é só um visitante incomum. Não precisa se preocupar com ele.

— É verdade, estou só assistindo. — Eu concordei com a afirmação do velho.

— Compreendo. Nesse caso, eu gostaria que você aceitasse o meu pedido. Aqui, pegue.

O espadachim passou ao velho, que se chamava Barol, a espada que estava em sua bainha. Apesar de fazer uma expressão de desagrado, Barol-san pegou a espada e a sacou. Tratava-se de um espada de duas lâminas. Só de olhar, já podia-se dizer que era uma excelente espada e, em seu corpo, podia-se ver o nome do ferreiro que a forjou. Estava inscrito: “Kururi Helan”.

— Então mesmo aventureiros renomados conseguem pôr as mãos em itens de primeira classe, hein? Quem imaginaria que um dia eu seria capaz de ver um dos trabalhos da série “Kururi” com meus  próprios olhos…

O rosto do velho se encheu de alegria, mas logo sumiu.

— Só que, de novo, as espadas sempre acabam assim quando vão parar nas suas mãos.

Era apenas natural que o velho acabasse ficando triste. Mesmo que a espada fosse excelente, o seu estado estava horrível com uma enorme rachadura bem no centro da lâmina.

— Não vou dizer que você é um cara inábil. Caso fosse, então 90% de todos os aventureiros seriam completamente incompetentes. Mas isso também não tira a sua parcela de culpa. Para fazer uma relíquia como esta chegar a este estado…

— …Eu sinto muito.

Os dois podiam ter este tipo de conversa porque ambos amavam espadas. Embora o velho estivesse reprimindo o espadachim, ele reconhecia sua força e o último ouvia atentamente o sermão. Na minha opinião, aquele era o relacionamento ideal entre o criador e o usuário.

O velho colocou de lado a espada em que estava trabalhando e inspecionou cada polegada da lâmina que o espadachim trouxe. Após uma longa pausa refletindo, ele finalmente abriu sua boca.

— Não, não há nada que eu possa fazer com ela neste estado. Ao menos não com minha habilidade atual.

— O quê!? Se o melhor ferreiro da região não pode, quem mais conseguiria!?

— Provavelmente ninguém nesta cidade. As chances são pequenas, mas, se você realmente quiser que esta espada seja arrumada, sua única opção é ir para a Capital. Se quiser, posso te dar uma carta de recomendação. Afinal, é uma espada da série Kururi e seria uma pena desistir dela assim.

— Uugh… Depois de todo o trabalho que tive para por minhas mãos nisto, eu acabei a estragando…

— É realmente uma pena.

Os dois estavam visivelmente desapontados. Foi então que pensei em uma coisa.

“Espera, hein? Acho que posso ajeitar.”

Como eu poderia dizer isso a eles? Parecia se tratar de uma espada famosa, então provavelmente não permitiriam que um estranho a tocasse tão facilmente. No entanto, eu poderia conseguir algum dinheiro dessa forma. Caso seja um sucesso, poderia convidar aquela garota no casulo para comer quantas tortas ela quisesse.

“Sendo assim, minha única escolha é perguntar.”

— Tudo bem se eu a consertar?

— Como é!?

O espadachim me encarou de de maneira intimidante. Bem, não era mais do que o já previsto, portanto nada de bom viria se eu o encarasse de volta ou coisa assim.

— Jovem nobre, você não pode sair por aí dizendo coisas tão descuidadas.

O tom de voz do velho era o mesmo de um pai aconselhando a uma criança. Pelo visto, ele estava tentando amenizar o clima antes que o espadachim se alterasse.

— Eu entendo. Minha mente está um pouco confusa, mas sei que tenho de assumir a responsabilidade por tudo aquilo que falo.

— Então o quê? Está tentando dizer que um pirralho como você conseguiria restaurar uma das famosas relíquias da série Kururi sendo que nem mesmo o senhor Barol consegue?

O espadachim usou seu tom arrogante usual. Ele provavelmente odiava pessoas que ficam agindo de maneira pretensiosa e, neste exato momento, eu parecia justamente isso em seus olhos.

— Eu estou dizendo que posso e já que não tem mais ninguém capaz de consertá-la, porque não fingimos que seja um caso perdido e me deixam cuidar disso? Você não tem nada a perder, certo?

— As chances podem ser baixas, mas posso acabar encontrando alguém na Capital. Não há a menor chance que eu deixe você mexer nela.

— Ah, cara, deixa de ser chato e me dê uma chance! Vamos fazer o seguinte, eu conserto ela em uma hora e até mesmo só vou te cobrar dois pedaços de torta. Que tal?

— Hmm, ao invés de ajudar, isso deixa as coisas ainda mais suspeitas. Esqueça, não vou te deixar tocar na espada. Barol-san, isso é tudo por hoje. Na próxima vez, vou lhe pedir por uma carta de recomendação.

— Ah, claro. Quer que eu cuide da espada enquanto isso?

— Se puder, eu adoraria.

— Tudo bem.

O espadachim foi embora, mas ele ainda parecia não ter se acalmado.

— Aquele homem é mais apaixonado por espadas do que qualquer um. Dizendo aquilo do nada, ainda mais quando sua arma acabou de quebrar, não é atoa que ele ficou com raiva. Não faço ideia do que você estava pensando, mas, mesmo sendo um nobre, não faça isso.

O velho me deu mais um aviso.

Ei, espera, a culpa é minha? Mesmo?”

— Mas eu realmente sei consertar o que consigo consertar…

— Você é insistente, hein? O fato de que você ficou todo esse tempo olhando o meu trabalho, significa que tem algum conhecimento sobre espadas, mas eu não tenho como te deixar pegar um serviço daqueles. Em primeiro lugar, você ao menos é um ferreiro?

Eerrr… não dá para simplesmente dizer ‘eu não lembro de nada’ agora.”

A expressão que o velho fez diante do meu silêncio foi praticamente um “Viu? O que foi que eu disse?”.

— Tu provavelmente nem conhece a série Kururi.

— Uugh…

Não pude deixar de gemer dessa vez.

— Mas consigo dizer que era uma boa espada só de olhar.

Ao menos isso era verdade. Eu conseguia dizer que se tratava de uma boa arma mesmo estando naquele estado.

— É claro, qualquer um ficaria fascinado com a série Kururi. Até mesmo uma criança.

Sério? Eu não sabia. Afinal, não tenho qualquer memória.”

— Apesar de tudo, é lamentável quando uma espada acaba naquele estado. Ainda assim, tratava-se de uma da série Kururi. Sabe, ela faz parte do conjunto de espadas criado pelo ferreiro lendário, Kururi Helan. Cada uma delas tem características únicas. Qualquer ferreiro meia-boca acabaria apenas arruinando-a caso tentasse consertá-la.

— Oho, este tal de Kururi deve ter sido um homem e tanto. Você disse alguma coisa sobre serem relíquias não foi?

— É claro que ele foi um homem incrível. Apesar de ter deixado apenas algumas espadas neste mundo, todas elas estão ao nível de um tesouro nacional. Ele foi um ferreiro de que ninguém ouviu falar, mas subitamente criou um nome para si até que desapareceu misteriosamente por volta de três anos atrás. Dizem que a morte dele é certa e há vários rumores sobre isso, mas não sei se são verdadeiros ou não. Há inclusive uma teoria dizendo que ele era um nobre. Que piada!

Oho-ops, quase deixei minha voz escapar de novo.”

— Quantas dessas espadas existem?

— Três de nível Divino. Dez de nível Celestial e trinta de nível Santo. Estas são as já conhecidas criações de Kururi Helan. A que foi trazida aqui por aquele Aventureiro é uma de nível Santo, Amatsu.

“Apenas agi como se dissesse, “Ah, legal.”. Se esse tal de Kururi estivesse vivo, ele teria uma fortuna. É realmente uma pena.”

— Ah, tudo bem. Se você não quer me deixar consertar essa espada, então pelo menos me deixe forjar alguma coisa. Estou querendo comprar um pedaço de torta na volta para casa.

— Eu não aceito discípulos.

— Não precisa ser como discípulo, qualquer coisa simples já serve.

— Mas que nobre mais chato. Não tenho qualquer serviço que possa confiar à você. Façamos o seguinte, tente terminar a espada que eu estava forjando agora a pouco. Depois de toda essa insistência, você pode ao menos fazer isso, certo?

Desse modo, o velho Barol me confiou a espada em que ele estava trabalhando. Isso poderia soar rude, mas a espada que ele estava criando não era das melhores. Eu preferiria fazer tudo de novo, mas ele poderia acabar me colocando para fora caso reclamasse, então não tive outra escolha senão terminar o serviço. Meu único desejo era alguns trocados para comprar a torta, então quando acabasse ele provavelmente não me negaria.

Estranhamente eu fui capaz de finalizar o trabalho mesmo sem saber como fazê-lo. Minha cabeça não lembrava de nada, mas o meu corpo sim. Ele passou a se mover sozinho e, antes que percebesse, a espada estava pronta. A base não era boa, ou ao menos era o que achava, mas a finalização estava perfeita. Sentia que poderia ter uma boa disputa com aquele tal de Kururi que o velho Barol estava elogiando tanto.

Quando fui avisá-lo de que tinha terminado, o notei parado ao meu lado, observando tudo. Da mesma forma que me concentrei apenas na espada, ele parecia ter se concentrado apenas no meu trabalho também.

— Bem, aqui está.

— Ah, ah…

A impressão era de que sua alma havia sido sugada.

— Ei, eu sinto um pouco de vergonha em pedir isso do nada, mas…

— Ah, ah…

“A alma dele não tinha voltado ainda?”

— Tudo bem se eu receber algum dinheiro por isso? Só o bastante para comprar alguns pedaços de torta, pode ser? Quero dizer, eu fiz o seu trabalho, não foi?

— Ahh… pode pegar. Eu tenho um cofre lá nos fundos. Pode pegar o quanto quiser…

O velho Barol tomou a espada em mãos e ficou olhando para ela como se sua alma estivesse vagando para ainda mais longe. Mesmo quando o disse, “Obrigado, mas vou pegar só o bastante para as tortas e sair, ok?”, ele continuou apenas olhando para a espada com o queixo totalmente caído.


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