Velho Mestre Brasileira

Autor(a): Lion

Revisão: Bczeulli e Delongas


Volume 3

Capítulo 87: Apenas um cãozinho.

“Está me dizendo que tem um nobre que cria cães de caça?” Tyler perguntou a Macal depois quando eles estavam a sós, ele já havia entregado o restante dos presentes que tinha trago, eram várias roupas e objetos de decoração. Todos eles feitos em escala e muito bem detalhados.

“Não, na cidade de Krem, onde o lorde Trél governa, existe um famoso clã de caçadores. A maioria deles vivem como aventureiros e ganham a vida completando missões nas guildas.” Macal tentou explicar.

“Entendo, como é o nome desse clã?” Tyler estava curioso.

“Eles são os Timbiras, parece que eles estão aqui nessa região muito antes do próprio reino ser formado. No começo havia muitas desavenças com o exército, foi preciso o próprio rei ir lá e formar um acordo, eles moram em uma vila afastada das muralhas de Krem.”

“Não é perigoso viver longe das muralhas?” Tyler ficou confuso por alguns instantes.

“Sim, muito! Mas o mestre se esqueceu que eles são caçadores talentosos? A mais ou menos cinco gerações atrás eles de alguma forma começaram a andar acompanhados de cães imensos, muito parecidos com os lobos gigantes, contudo esses são menores, mais dóceis e inteligentes. Os timbiras os chamam de cadejos.”

“Eles são feras, digo como aquelas outras, com núcleos e tudo mais?” Ele quis saber.

“Não posso falar que eles são feras que possuem núcleos, ninguém nunca caçou um cão desses, e nem viu um deles morto. O fato é que apenas os timbiras têm esses animais.”

“E esses cadejos, são realmente bons na caça?” Tyler perguntou.

“Todo aventureiro experiente já viu como esses cães são incríveis. Os timbiras não são muito numerosos e se realmente fosse o desejo do rei dar um fim neles, seria possível, contudo a questão é que eles são mestres em conseguir completar as missões que mais ninguém pode, principalmente entrar na mata e encontrar ervas medicinais!” Macal estava empolgado enquanto falava.

“Parece que você já usou os serviços deles antes.” Tyler supôs.

“Sim, muitas das minhas ervas foram pegas pelos timbiras, todos os nobres tentam manter um bom relacionamento com eles. Afinal nunca se sabe quando irá precisar de uma planta medicinal para salvar a vida de um familiar seu… ”

“É verdade, eles já venderam ou deram algum de seus cães antes?” Ele quis saber.

“Nunca, na verdade é impossível que alguém de fora do clã tenha um, só estou dizendo isso ao mestre, pois o mestre tem o dom de fazer as coisas impossíveis acontecerem.” Macal falou com uma admiração sincera.

“Hahaha, nem tanto, eu sou igual a qualquer um, apenas tenho um pouco mais de cabelos brancos e livros lidos que a maioria das pessoas. Porém não vou mentir que fiquei muito intrigado com essa história, quero ver pessoalmente esses animais.” Tyler tinha um brilho nos olhos enquanto falava, toda essa atmosfera desse mundo o deixava excitado.

Tudo aqui era novo e místico, sua vida inteira tinha girado em torno de adquirir conhecimento, ele nunca fez algo novo. Sempre aprendeu o que outras pessoas descobriram. Estar nesse mundo era como explorar terras virgens.

Ele era como Colombo descobrindo o novo mundo!

Por mais dois dias eles ficaram juntos com as fadas, Tyler conseguiu firmar um acordo com as fadas para ajudar Macal e seus futuros encarregados de recolher as ervas medicinais.

O próprio rei Oberon cedeu um espaço ainda dentro do alcance de yggdrasil para o plantio delas. Parece que toda planta cultivada perto da árvore sagrada crescia muito mais rápido e saudável.

Indiretamente Tyler deu bastante poder e condição financeira às fadas, como elas estavam ajudando no processo da localização e plantio de ervas muito preciosas. Ficou claro que as fadas seriam um grande pilar na nova sociedade que Tyler estava tentando criar.

 

***

 

‘Estou no caminho certo?’ Tyler se perguntou.

Macal tinha voltado com ele até o reino onde começaria a reunir as pessoas para cuidar do plantio das ervas com as fadas. Antes de sair ele deu a Tyler um mapa onde teoricamente estava localizada a vila do clã timbira.

No entanto, ele não conseguia achar o local exato da vila, a cidade de Krem com as suas muralhas já tinha ficado para trás e o caminho tinha se estreitado até sumir.

A camionete até que poderia forçar a entrada nessa vegetação, mas que sentido tinha se embrenhar fundo numa mata se você não soubesse para onde tinha que ir?

Tyler desceu do carro, pegou seu fuzil, colete tático e entrou na mata. Seu objetivo era entrar uns 100 metros na frente e depois fazer um círculo, assim ele teria mais sorte de encontrar o caminho correto.

Tyler seguiu para frente e então começou a virar à direita. Depois de alguns minutos andando ele sentiu os pelos do seu corpo se eriçarem.

“Que merda está acontecendo?” Ele cuspiu, depois de ser batizado com dezenas de combates intensos, seu sexto sentido era muito afiado e lhe avisaria sobre qualquer perigo eminente.

Normalmente ele teria alguma pista sobre o que era, mesmo se fosse através da visão com algum mato se mexendo, ou o som de um galho se partindo ou até mesmo o cheiro de um animal no ar.

Mas dessa vez, nada.

Tyler subiu o fuzil para a posição de combate e cuidadosamente andou de costas para uma grande árvore, assim ele eliminaria possíveis ataques pela retaguarda.

Depois de angustiantes 15 segundos ele não viu e nem ouviu nada.

Nada!

O pior não era ver nada, muitas feras e animais eram mestres em se camuflar, se não se movessem, poderiam passar despercebido até pelos olhos mais treinados.

O problema ali era a ausência de sons. Normalmente numa floresta, a cacofonia de pássaros, besouros, sapos e pequenos animais é quase ensurdecedora.

Agora havia um silêncio total!

Os animais se calaram por completo, isso quer dizer apenas uma coisa. Medo! Um predador está à espreita.

Se um dia você estiver numa mata densa e de repente os animais se calarem, saiba que você está ferrado!

Ou falando em um linguajar mais técnico, “Deu merda!”.

“Quem está aí?!” Tyler gritou depois de um tempo.

“…” ninguém respondeu de volta.

“Eu vou dar um último aviso, eu já matei goblins, ogros e trolls. Se acham que eu não mato tudo que estiver na minha frente, tente a sorte.”

“...” mais uma vez ninguém respondeu.

“Lembrem-se foi escolha de vocês, 10… 9… 8...” Tyler começou a fazer sua contagem regressiva. “4… 3...”

“Está bem, nós vamos sair.” uma voz masculina soou atrás da vegetação.

“Bom.” Tyler saiu da posição de tiro e deixou o fuzil descansar na bandoleira, para quem olhar de fora ele parecia que tinha adotado uma postura relaxada, porém mal sabiam eles que Tyler poderia sacar do seu quadril e descarregá-la totalmente em apenas 2.8 segundos.

Depois de alguns instantes uma sombra se moveu revelando um homem. Ele tinha uma estatura mediana, mas compensava em sua composição física.

Era estranho ver como uma pessoa forte poderia ter tanta agilidade e leveza. É claro que o homem na frente de Tyler não estava fazendo grandes coisas aos olhos comuns, contudo Tyler tinha visto como ele caminhava na mata sem fazer barulho ou deixar pegadas.

O método mais simples de se andar sem deixar pegadas era escolher locais firmes ou então quando estiver em solo macio, você espalhar a terra no fim da passada.

Esse último é muito difícil de se fazer automaticamente.

“Meus parabéns, já fazia muitos anos que eu não via alguém andar assim na mata fechada.” O que Tyler falou era verdade, os melhores caçadores em florestas que ele já viu eram os índios da Amazônia. Quando ele trabalhou como piloto de avião nos garimpos brasileiros ele teve a oportunidade de visitar algumas aldeias indígenas lá, aqueles homens eram como espíritos nas matas.

“Para nós, conhecer alguém que pudesse perceber nossa presença em meio às árvores é uma grande surpresa.” O homem falou.

“Então acho que temos uma admiração mútua.” Tyler estirou a mão.

“Pode ser.” O homem sorriu e cumprimentou Tyler. “Meu nome é Piatã.”

“Tyler Newman, vocês estão me seguindo desde que eu saí do carro, não é?” Tyler quis saber.

“Carro?” Piatã estava confuso.

“Aquela carruagem de metal, sem cavalos.” Ele explicou.

“Ah!” Piatã exclamou entendendo. “Sim, é verdade. Em pensar que você nos perceberia tão cedo.”

“Na verdade eu percebi a presença de vocês faz pouco tempo, mas sem dúvidas vocês estavam me seguindo a muito tempo. Vai me apresentar o resto de seus amigos?” Tyler perguntou.

Piatã tinha um misto de admiração e ressentimento nos olhos, era difícil mesmo para os timbiras perceberem outros dos seus na mata, porém esse velho tinha percebido.

* Assovio *

Piatã deu um assovio leve, depois cinco sombras distintas se revelaram. Eram três homens e duas mulheres, todos tinham corpos nos ápices das excelências físicas, tinha a pele cor vermelha bronzeada e os cabelos muito negros. Todos vestiam roupas de peles feitas com peles de feras e estavam bem armados.

“Não vai me mostrar seus cães?” Tyler perguntou com um sorriso.

Piatã ficou chocado por um instante, e depois balançou a cabeça em derrota.

* Assovio * * Assovio *

Cada pessoa deu dois pequenos silvos rápidos e agudos.

A vegetação começou a balançar e então Tyler finalmente pôde ver os cadejos!

Os olhos de Tyler brilhavam, seu biólogo interior estava saltando de alegria. Os cinco animais eram extremamente parecidos com lobos da terra, não eram tão grandes quanto um boi como os lobos gigantes, estava mais para um bezerro ou um potro jovem, contudo nada tirava o mérito de ter um lobo de mais de 100 quilos na sua frente.

Tirando o lobo negro, que veio ficar ao lado de Piatã, cada um tinha a pelagem colorida. Eles eram na maior parte branca, e depois grandes manchas negras, caramelo e cinza.

Cada um tinha no máximo duas cores, branco e mais outra, mas todos tinham os olhos no mesmo tom âmbar.

‘Não eram cães?’ Tyler pensou confuso por um instante, porém depois de analisar um pouco ele encontrou uma meia resposta.

Segundo a zoologia, existe apenas uma espécie de lobo, o lobo cinzento e essa espécie tem três subdivisões.

Então no geral não existem diferenças entre cães e lobos, um husky siberiano por exemplo, ele é apenas menor e mais dócil que um lobo, mas não importa o quanto você olhe, ele é um lobo.

Os lobos e os cães têm os mesmos hábitos alimentares e sociais, latem, rosnam e uivam da mesma maneira. Acreditasse que historicamente não existia nenhum cão, a hipótese mais aceita era que os homens das cavernas pegaram filhotes de lobos e criaram, e assim depois de muitas gerações surgiu o cão moderno.

Vendo de perto, Tyler estava supondo que os cadejos eram o cruzamento dos lobos gigantes com alguma outra fera.

‘Tenho que descobrir isso!’ Tyler pensou animado.



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