Velho Mestre Brasileira

Autor(a): Lion

Revisão: Bczeulli e Delongas


Volume 3

Capítulo 83: Pai real.

Tyler percorreu todo o caminho da cidade de Mil até a capital, eram três dias de viagem. Ele se lembrou da primeira vez que fez esse caminho, no máximo ele se encontrou com duas ou três pessoas, mas agora a cada poucos quilômetros havia uma caravana de comerciantes.

Quando chegou perto das muralhas da capital os guardas vieram escoltá-lo.

“Majestade!”

“Majestade!”

“Majestade!”

Novamente Tyler foi recebido com saudações e reverências que mostravam respeito máximo.

“Príncipe herdeiro, o rei deixou um recado, ele disse que assim que o senhor chegasse na cidade deveria ir direto falar com ele.” O chefe dos guardas passou a mensagem.

“Obrigado.”

***

“Príncipe herdeiro, o rei lhe aguarda em seus aposentos pessoais.” Um servo veio lhe atender.

Tyler seguiu o servo por uma ala completamente nova, onde Tyler nunca tinha estado.

“Pode entrar.” O servo indicou e saiu.

Tyler abriu a porta, ele viu uma espécie de escritório e biblioteca. O rei estava sentado em uma mesa enquanto olhava alguns papéis.

“Boa tarde!” Tyler cumprimentou.

“Boa...” O rei absorto nos papéis nem percebeu que era Tyler. “Ah, é você, bem-vindo de volta, filho real.” Ele riu.

“Isso quer dizer que eu deveria chamar o senhor de pai real?” Tyler riu também.

Se você apenas julgasse pelas aparências ambos os homens tinham a mesma idade, só que a verdade era bem distante.

“Na frente dos demais, seria bom. Ajuda a maquiar um pouco as coisas.”

“Então, pai real eu tenho um presente.” Tyler disse e puxou uma pequena caixa.

“O que é?” O rei perguntou curioso.

Essa caixa era muito semelhante a que ele tinha ganhado de Amom, mas os conteúdos eram bem diferentes.

A muito tempo atrás ele tinha ganhado de um amigo uma Colt 1911. Essa era uma das poucas armas de colecionador que Tyler tinha.

Ela era cromada com detalhes em ouro e o cabo era branco feito de madrepérola. Mesmo na Terra ela era sem dúvidas um belo item de colecionador.

O rei abriu a caixa e seus olhos brilharam. “É linda!” Ele disse passeando os dedos sobre ela.

“É apenas um presente, não é nada de mais.”

“Como se usa?” Ele perguntou curioso.

“Vamos para fora, eu vou lhe ensinar.”

Seguindo para os jardins Tyler pediu para que os criados colocassem jarros e potes de barro para servirem de alvos.

Depois disso ele ensinou o rei passo a passo. Desde de como empunhar corretamente, até como mirar e recarregar com eficiência.

É claro que ele passou pelas regras básicas de segurança, como nunca levar o dedo até o gatilho antes de estar pronto para disparar como a outra regra de nunca apontar a arma para um amigo seu, nem de brincadeira.

Essa última regra parece fútil, mas Tyler sabia bem como acidentes sérios aconteceram por causa disso. Outra coisa era sempre tratar a arma como carregada e pronta para ação.

Não importa se ela está descarregada e sem o pente. As pessoas são feitas de hábitos, se você é sempre descuidado, um dia pode se matar por um erro bobo. Se você tratar ela com respeito, sempre estará seguro.

“Phoww!” O rei atirou e ficou feliz em acertar o vaso a 20 metros de distância.

“Muito bom.” Tyler elogiou.

“É muito mais simples do que parece, eu nunca fui um arqueiro notável, mas usar essa arma parece ser mais fácil que as demais.” Otaviano contou.

“Também não sou lá essas coisas com o arco.” Tyler confessou.

“Existem arcos no seu mundo?” O rei ficou curioso.

“Sim, mas ninguém os usa em batalha, eles são usados apenas em recreação ou para caçar.” Ele explicou.

“Para caçar, não é melhor caçar com essas armas aqui?” Otaviano ficou confuso.

“No meu mundo, tecnicamente ninguém precisa caçar para comer. Então quando eles vão caçar, apenas o fazem por diversão, a emoção de caçar com um arco é bem maior que com uma arma de fogo.”

“Entendo. Ninguém precisa caçar para comer?” O rei franziu o cenho.

“Ok, algumas pessoas ainda precisam caçar para comer, mas esse número é muito baixo se você comparar com o resto da população.”

“Então vocês não comem muita carne?”

“Claro que comemos e muito. Dos mais variados animais, só que nós os criamos ao invés de caçar.”

“Aqui nós só criamos, ovelhas, bois, porcos e galinhas.”

“No meu mundo, esses animais também representam grande parte dos nossos alimentos, mas a quantidade não se pode nem comparar.”

“Vocês têm grandes criações?”

“Grandes?” Tyler riu. “Uma criação com 1 milhão de frangos não é quase nada, um fazendeiro que tem 500 cabeças de gado não é considerado digno de grande nota. Iguais a esse existem outros milhares.” Tyler explicou.

“Todos que criam são tão grandes assim?” Otaviano estava boquiaberto.

“Claro que não, sempre tem aqueles que têm um ou dois de cada, mas o que eu quero dizer é que existem pessoas que são realmente grandes lá, e quem é profissional mesmo, tem números absurdos.”

“Entendo, deve ser um mundo muito interessante esse seu.”

“A seu modo sim, mas mudando de assunto, me disseram que o senhor tem uma criatura marinha.” Tyler falou.

“Um nobre que cuida de uma cidade na costa tinha guardado uma das carcaças, eu pedi que trouxessem para que você pudesse ver.”

“Obrigado, eu realmente estou curioso.”

Indo para uma sala afastada, o rei foi até uma grande massa disforme coberta por um pano vermelho.

“Essa, é uma das feras.” Otaviano disse enquanto puxava o tecido.

Involuntariamente Tyler deu dois passos para trás, sem dúvidas aquilo era um caranguejo, porém nada na Terra poderia se comparar com aquilo. E graças a Deus por isso!

Medindo quase 2 metros de altura e, com certeza, tendo o dobro de circunferência, o animal era uma máquina de matar.

O biólogo interior de Tyler estava excitado. Ele começou a analisar metodicamente.

Um caranguejo comum tem ao todo 5 pares de patas, esse parecia, pelo menos exteriormente seguir essa classificação.

O primeiro par eram as garras, com quase 1,5 metro de comprimento, elas eram grossas e poderosas, tendo espinhos se projetando por todos os lados de forma ameaçadora.

“Aposto que isso fazia um estrago e tanto quando estava vivo.” Tyler suspirou.

“Você nem imagina o quanto, ele parece desajeitado e lento quando se olha assim, porém a verdade é o contrário. Eles são tão rápidos quanto cavalos, as garras se fecham em um piscar de olhos. Elas podem cortar uma árvore pequena ou um homem como se não fosse nada!” Otaviano tinha um olhar estranho enquanto falava.

“Como vocês venceram essas coisas?” Tyler perguntou.

“Eu já disse, não vencemos, eles entraram na terra e avançaram imparáveis por um mês inteiro, depois voltaram para o mar, muitos deles morreram na praia sem que ninguém fizesse nada.” Ele explicou.

“Agora eu entendo melhor.” Tyler continuou a examinar. Os quatro pares posteriores de patas são usados para locomoção. Essas eram mais grossas que a coxa de um homem adulto e o final era afiado como uma lança.

Tyler supôs que eles deviam ser exímios escaladores, e pela ausência de pelos supôs que eram das profundezas marinhas.

É claro que toda regra tem sua exceção, mas os caranguejos com pelos são mais comuns nos manguezais e os sem pêlos ficam no fundo dos oceanos. Com base nos dados obtidos, Tyler imaginou que essa invasão fosse algum ritual de acasalamento em massa.

Em algumas cidades australianas esse fenômeno ocorria, mas é claro que com caranguejos comuns e inofensivos, contudo mesmo assim eles cobriam o solo até onde a vista alcançava.

“Quão dura é essa carapaça?” Tyler perguntou.

“Uma espada comum não faz muito dano, às vezes usávamos um machado para cortar as pernas menores e deixá-los sem poder se mexer.”

“E era fácil?” Tyler quis saber.

“Nem um pouco, precisávamos de dois homens de machados de guerra e um para ficar distraindo a fera, mesmo assim perdemos muitos homens.”

“Posso testar a dureza?” Tyler perguntou.

“Fique à vontade.” Otaviano deu espaço.

Tyler foi até o canto da sala e pegou uma espada de ornamentação que estava pendurada na parede. Ele a empunhou e deu dois balanços para sentir o equilíbrio. Depois avançou com um golpe rápido e forte.

“Peng!!!” A lâmina vibrou um pouco e retrocedeu.

Tyler olhou onde tinha golpeado. Havia uma lasca no osso, não era profunda nem tinha perfurado todo o exoesqueleto, mas, com certeza, dava para saber onde Tyler tinha atingido. “Quão grosso é isso?” Ele exclamou.

“Depende muito da região do corpo. Nas garras é quase três dedos de espessura e nas patas apenas um, nas costas é em média dois dedos.”

“Entendo...”

Tyler pegou a Glock e atirou diversas vezes. Os disparos que pegaram na carapaça do corpo e das pernas traseiras, conseguiram penetrar, porém os que foram nas garras, não.

“Isso vai ser complicado!” Tyler exclamou.

“Não se preocupe, agora que já sabemos como eles agem, podemos evacuar as cidades com bastante tempo. As perdas serão mínimas.” Otaviano falou.

“Não, além de ser uma boa oportunidade de treinar o exército, temos que mandar um recado para as outras nações.”

“Bom, pode ser uma boa oportunidade mesmo.” O rei concordou.

“Aconteceu uma coisa estranha na cidade de Mil, o que o senhor pode me dizer sobre o reino central?” Tyler perguntou.

“O reino central? Isso não cheira bem, me conte mais.” Otaviano tinha uma expressão estranha.

Tyler contou sobre a visita de Amom e suas próprias conclusões a respeito dos garotos que os acompanhava.

“Bom, você deve ter cuidado com eles, o reino central é ardiloso, todo ano eles provocam nossas defesas para testar as forças fronteiriças. Se não fosse por minha aliança com o Reino Oeste, acho que já teríamos sucumbido.”

“Eles querem as armas, aposto que vão tentar roubá-las se eu demorar a vender.”

“Possivelmente eles devem ter ferreiros prontos para imitar suas armas, Caligas é um porco ardiloso, já vi muitos homens maus na minha vida, mas esse é daqueles que você tem nojo de ser da mesma espécie.” O rei disse e cuspiu no chão.

Tyler não sabia das histórias sombrias que percorriam o Reino Central, se ele soubesse era capaz de declarar guerra naquele momento.



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