Velho Mestre Brasileira

Autor(a): Lion

Revisão: Bczeulli e Delongas


volume 4

Capítulo 108: Estabelecendo suas fundações. Parte 2.

Durante a madrugada Tyler se considerou um artista. Ele calculou tudo com cuidado, tendo todas as medidas da cidade ele pôde planejar as ruas, o porto, a área de comércio e indústria, a sede do governo, um campo de treinamento para o exército e o instituto de pesquisa.

O local onde ele montaria sua casa, seria mais afastado, ele ainda estava se decidindo sobre isso. Quanto a planta que seria exibida hoje, ela era apenas um esboço rústico. No desenho não havia nenhuma ilustração de como seriam os prédios, apenas nomes e um espaço reservado.

Junto com as primeiras luzes da manhã, Tyler mandou avisar que ao meio-dia se encontraria com os moradores da cidade e com os aventureiros vindos de fora.

Depois de tomar um café reforçado, ele partiu até o pequeno porto.

Por sorte, essa cidade estava bem posicionada estrategicamente, ela era bem no interior do recém-criado Império Atlantis e tinha acesso fluvial aos dois grandes reinos humanos.

Isso era muito importante tanto para o comércio, bem como para futuras intervenções militares.

“Pensei que fosse um pouco maior...” Tyler ficou decepcionado com o tamanho do porto.

O “porto” era apenas um trapiche que se estendia por no máximo uns 10 metros para dentro das águas, Tyler não sabia qual era o tamanho das embarcações que atracavam ali, contudo isso não dava nem para o começo.

“Desculpe majestade, mas nós só temos dois barcos, e esse tamanho era o suficiente.” O lorde Waz respondeu.

“Que seja, existe alguma pedreira aqui por perto?” Ele quis saber.

“Rio acima existe uma.” O homem informou.

“Qual a distância?”

“Meio-dia a pé.”

“Ótimo, podemos ir e voltar, e ainda vai sobrar tempo para a reunião.”

“Senhor, a pedreira não tem nenhuma estrada de acesso, o senhor não pode usar as suas carruagens.”

“Podemos ir pelo rio?”

“Sim, mas será contra a correnteza e isso faz com que demore mais.”

“Não importa, chame uns cinco homens, vamos ser rápidos.” Tyler ordenou e foi até um dos contêineres.

Ele já sabia que a cidade tinha um rio grande como acesso principal, então trazer um barco moderno era algo de extrema necessidade. Não era uma lancha de luxo ou algo do tipo, era apenas um barquinho de casco de alumínio e um motor de popa.

“Mestre, seu barco é de ferro?” Waz estava espantado.

“O certo é alumínio, mas ele é de metal sim.” Tyler esclareceu.

“Ele bóia?” O homem franziu o cenho.

“Claro, na verdade qualquer coisa pode boiar, tudo depende do empuxo que ela produz. Até uma bola de canhão.”

“Empuxo, bola de canhão?” Waz que era um homem simples e inteligência não era o seu ponto forte,mas falando francamente Tyler apelou quando usou essa expressão.

“Não é nada, apenas vamos, você sabe onde a pedreira fica, não é?”

“Claro.”

Ambos os homens subiram no barco e Tyler ligou o motor fazendo-os disparar nas águas calmas.

No começo da viagem Waz ficou com medo e se agarrou nas bordas do barco. Tyler não pôde deixar de rir com aquela reação, tudo era novo para essas pessoas.

“É aqui!” Waz gritou depois de se recuperar um pouco.

“Aqui?” Tyler estava desconfiado, não havia nada mais que uma pequena clareira .

“Sim, tenho certeza.”

Tyler olhou novamente e só viu uma floresta bem densa na sua frente. “Quem cuida dessa pedreira?”

“Ninguém, essas terras não têm dono. Aqui a população de feras é alta, então para se extrair as pedras também é necessário enviar muitos homens para a segurança.”

“Certo, vamos olhar.” Tyler pôs seu fuzil em prontidão e saiu de dentro do barco, depois do lembrete sobre as feras ele reforçou o pensamento de sempre andar armado nesse mundo.

Como as árvores que ficavam na margem eram muito altas, Tyler foi incapaz de ver a pequena montanha que existia a poucas centenas de metros dali.

“Muito bom, é granito.” Tyler ficou feliz ao encontrar uma boa pedra.

“Não é só pedra?” O lorde Waz estava curioso, vendo Tyler ficar contente em ver essa pedra.

“Sim, eu apenas fiquei contente porque ela é muito boa para construção.”

Tyler sabia muito bem da resistência do granito, ele é extremamente duro, mas isso traz uma desvantagem. Ele fica quebradiço se você seguir o veio natural.

Com simples marretas e cinzéis é possível retirar placas e pedras relativamente uniformes. Tanto que é possível fazer calçamentos e meios-fios, e as que por acaso não saíssem boas seriam trituradas e transformadas em brita.

“Toda essa mata perto não tem dono?” Tyler perguntou.

“Se contar dois dias subindo o rio e um descendo a partir de Colina Azul, é terra não reclamada. Estamos bem isolados para falar a verdade, se os tanzões não fossem tão dóceis, seria difícil viver aqui.”

“Nossa, é uma grande distância. Espere, que bicho é esse.” Hoje em dia Tyler não era mais nenhum caipira quando se tratava de feras, embora ele tenha visto poucas com seus próprios olhos. Macal tinha lhe ensinado muito e ele mesmo tinha lido vários livros sobre o assunto, contudo ele nunca ouviu falar dessa fera.

“O tanzão é uma bicho da família do boi, só que maior e mais manso. Ele nasce naturalmente nessas terras, só o criámos pois ele sabe se defender contra as outras feras.” Waz informou.

“É dele que vocês fazem o queijo e a carne seca para vender?”

“Sim, isso mesmo.”

“Eu posso ver?”

“Claro, agora o gado é todo seu mesmo.” Waz deu de ombros.

‘Meu?’ Tyler ainda estava confuso com esse método de governo, ele agora era oficialmente o príncipe herdeiro. Ele era o herdeiro de todas as terras do reino.

Era complicado para ele como um homem livre que incentivava o liberalismo econômico, saber que na prática nenhuma pessoa tinha direito a sua propriedade, deixava-o de estômago embrulhado.

‘Pelo menos eu vou poder trabalhar mais livre...’ Tyler tranquilizou-se com pensamentos felizes.

“Quantas pessoas o mestre vai mandar para cá?”

“Não sei, umas 150 ou 200.” Tyler falou como se não fosse nada, além dele ter muito dinheiro, a maior parte do pagamento seria dado em ferramentas, assim como ele fez em Mil.

“Tudo isso? Pelo visto o mestre não está brincando.”

“Aqui teremos dois trabalhos diferentes, teremos que extrair madeira para as balsas de transporte e construção, bem como a própria pedreira.”

Tyler planejou fazer grandes balsas com quatro ou cinco troncos inteiros e juntá-los com pranchas de madeira. Depois de carregá-los com as pedras, é só deixar descer corrente abaixo até a cidade.

Uma vez vazio, um rebocador os puxaria rio acima.

 

***

 

“Olá a todos, obrigado por virem.” Tyler se apresentou na frente de uma grande multidão.

Pelas suas contas, tinha umas 100 pessoas. Isso era quase o dobro da população da cidade. “Em primeiro lugar eu quero dizer que a cidade de Colina Azul vai mudar, mudar muito.”

“...” Algumas pessoas tinham expressões boas, outras ruins, mas todos estavam um pouco surpresos.

“Eu quero logo adiantar que Colina Azul será a minha cidade. Eu planejo me mudar e construir minha casa aqui, também é minha vontade fazer uma escola, um quartel do exército e muitas indústrias. Mas para que isso aconteça é preciso derrubar e refazer a cidade por completo.”

“Ah!” Um e outro morador exclamou, para eles aquela tinha sido uma carta de despejo.

“Não entrem em pânico, cada morador só se mudará quando outra casa melhor estiver pronta para ele. Que haverá mudanças eu não posso negar, mas tentaremos deixar esse processo o mais tranquilo possível.” Com essas poucas palavras a atmosfera ficou visivelmente mais relaxada.

“Por favor, olhem essa figura aqui.” Tyler projetou na parede um slide do mapa que tinha feito na madrugada. “Como podem ver, esse é um mapa básico da cidade, esse é como ela está hoje e esse é o que eu planejo para os próximos meses.” Tyler passou a imagem.

“Aqui podem ver que teremos um grande porto e um armazém. As áreas destacadas em verde serão as residenciais, as em azul serão os de comércio e em rosa são as indústrias. Como podem ver, também existe uma parte em amarelo e por toda a cidade existem vários desses pontos, o amarelo representa prédios do governo.”

Agora a plateia estava dividida entre descrença e ceticismo. O que na prática era a mesma coisa, essa cidade era isolada e a fama de Tyler como gestor milagroso não tinha chegado.

“Alguma pergunta?”

“Eu...” Um jovem aventureiro levantou a mão.

“Sim, pode dizer.” Tyler o encorajou.

“Como será o nosso pagamento?” Ele parecia envergonhado ao perguntar.

“Boa pergunta, o salário mínimo será 50 moedas de prata por mês, é claro que quem for mais competente e estiver em um cargo mais alto, receberá mais. Entretanto, ninguém que trabalhe corretamente receberá menos.”

Dessa vez sorrisos e expressões alegres tomaram de conta da multidão. Os mais felizes eram os moradores locais, não era preciso dizer que pelo fato deles morarem em uma região afastada era difícil encontrar trabalho remunerado, eles não passavam fome, pois aqui eles tinham comida em abundância, mas dinheiro para comprar itens básicos vindos de fora… era outra história!

Tyler estava oferecendo quase o dobro que as pessoas comuns recebiam nas grandes cidades do reino.

“Quem pode trabalhar?” Dessa vez uma moça perguntou.

“Quem puder. É claro que haverão trabalhos mais duros e outros mais fáceis, entretanto eu creio que sempre tem lugar para encaixar quem queira trabalhar.”

“E qual será o primeiro trabalho?” Outro aventureiro perguntou.

“Temos que abrir uma clareira na pedreira rio acima e fazer um porto decente.”

“Quando vamos começar?”

“A madeira pode começar a ser cortada amanhã, mas o porto só pode começar a ser feito quando alguns sábios que tenham experiência em construção cheguem da capital.” Tyler podia muito bem gerenciar ambos os projetos, mas ele tinha que ficar indo e vindo por um tempo, trazendo as coisas da montanha. “Em no máximo uma semana eles chegarão aqui.”

O resto da tarde foi gasto explicando detalhes na obra geral. Um e outro serviço de abertura de estrada já poderia ser feito, além de selecionar e distribuir os cargos as pessoas mais preparadas.

“Outra coisa que eu gostaria de falar, a partir de hoje o nome da nossa cidade mudou. Ela se chama Atlantis D.C.”



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