Soul Eye Brasileira

Autor(a): ReaderBecameWriter

Revisão: Delongas


Volume 3

Capítulo 164: Muito escura

Toni olhou em choque enquanto Baijian colhia as vidas de cada um dos muitos cultivadores que estavam simplesmente deitados em posição fetal no chão.

Ele repetiu o mesmo processo com cada um, estendendo a mão e lentamente a fechando. O homem no chão gritava a cada momento antes de finalmente morrer soltando um último grito agoniante.

A cada morte, Toni sentiu calafrios por todo o corpo, sentindo tudo isso muito surreal. Baijian matava essas pessoas sem sequer as tocar.

Toni não sabia o que pensar.

Depois que matou todos os cultivadores no prédio, Toni pareceu lembrar-se de algo quando exclamou:

“E os Deuses Marciais que estão sempre seguindo Roman?”

Se aproximando de Roman, Baijian pegou o chip que caiu ao lado do corpo depois que ele havia se ajoelhado no chão, e respondeu indiferentemente:

“Os matei antes de entrar.”

O rosto de Toni piscou em choque e, assim que ia falar alguma coisa, Baijian perguntou:

“Sobre esse chip… Eu escutei a conversa inteira, mas me fale mais sobre ele.”

Assentindo lentamente com a cabeça, Toni então começou a falar:

“Noventa anos atrás, quando o legado do Clã Dong foi vazado e a China o conseguiu, os outros países descobriram isso, e forçaram a China, que nem teve tempo de criar os próprios cultivadores, a vender o legado para eles.”

“A China não podia fazer nada, então negociou com esses países. A negociação levou semanas antes de finalmente conseguirem se acertar. Embora a China tenha ganhado muito com o acordo, no final, a melhor coisa que podia ter acontecido para a China seria se eles pudessem ter conseguido o legado sem os outros países saberem.”

“Afinal, mesmo que todos esses grandes países tivessem pago preços enormes, a China seria o único país com cultivadores, e isso seria uma vantagem enorme…”

“Assim que terminou essa negociação, aconteceu uma outra negociação que foi tão importante quanto. Como os países conseguiram o legado, e estavam habilitados a criar cultivadores, eles tinham medo de que houvesse uma guerra nuclear no futuro.”

“Afinal, contra os cultivadores, a melhor arma desses países eram armas nucleares. Quando conseguiram o legado, tiveram medo de, no futuro, se houver guerra, usarem as armas nucleares uns nos outros.”

“No final, eles são inteligentes. Se houvesse guerra nuclear, ninguém sairia ganhando. O mundo seria destruído, e não haveria mais países, ia se tornar uma anarquia sem leis.”

“Por isso, eles fizeram um pacto em que trancariam completamente todas as armas nucleares que tinham, e as senhas para a tranca seriam um chip, que seria guardado num lugar de segurança máxima.”

“Era um lugar seguro, que tinha grandes quantidades de soldados de cada um dos países, tudo para que seja justo e impossível de roubar o chip.”

Ouvindo isso, Baijian perguntou intrigado:

“Aonde foi trancada as bombas nucleares?”

Como se tivesse esquecido de explicar, Toni respondeu:

“Elas não foram de fato trancadas. Todas as bombas continuam em seus respectivos países, mas eles criaram uma trava interna que, ao menor sinal de arrombamento ou uso sem o chip, desarma a bomba e destrói os componentes principais, impedindo que a bomba exploda ao mesmo tempo que destrói os materiais principais para que a bomba desarmada não possa ser usada para criar outra bomba.”

Assentindo lentamente com a cabeça, Baijian então perguntou:

“Então por que eles têm esse chip? Não era para estar sendo vigiado?”

Toni sorriu ironicamente enquanto falava:

“Obviamente, eles roubaram… Dentro do alto escalão da aliança dos países, todos estão furiosos.”

Baijian ficou em silêncio enquanto olhava para o chip, e então o destruiu com o dedo, amassando-o até se tornar nada mais que uma fina plaquinha de metal destruída.

Observando isso, Toni suspirou, pensando que o chip que ele teve que arriscar a vida para defender foi destruído assim desse jeito.

“Você o copiou mesmo?”

Toni balançou a cabeça e falou:

“Claro que não, é quase impossível copiá-lo, ainda mais que ele tem um selo que, se copiado, vai se romper.”

“Para copiá-lo e não romper o selo… Eu nem sei se é possível. Sem falar que, só para copiá-lo, eu precisaria de uma máquina extremamente avançada e uma pessoa que saiba fazer isso… Eu passei o último mês em fuga. Onde quer que eu ia, era rastreado, e a Alemanha, usando ajuda do governo americano, me impedia de enviar mensagens para fora, não tinha como eu conseguir o aparelho e nem encontrar uma pessoa capaz disso.”

“Mesmo essa cidade… Minha última parada. No caminho, você deve ter percebido, certo? A cidade está deserta.”

Baijian assentiu com a cabeça e falou:

“Eu li um jornal no caminho pra cá que o governo americano disse que havia um furacão se aproximando… Com o poder do governo americano, até esvaziar uma cidade assim é fácil, sem levantar nenhuma suspeita.”

Toni suspirou enquanto assentia. Para uma luta entre cultivadores de Sistema de Energia de pico como ele, prédios inteiros seriam destruídos se não derem sorte, então para coisas assim, existem técnicas de evacuação de pessoas… Usando desculpas, as pessoas são evacuadas de lugares que tenha uma luta entre cultivadores.

“Mas como você conseguiu enviar a mensagem? Parece que eles usaram ondas para atrapalharem o sinal de telefone, rádios e até da internet. Logicamente, não teria como você contatar a família Ye.”

Toni assentiu com a cabeça e respondeu com um sorriso amargo:

“Eu também não sei. Eu continuei usando o telefone via satélite que o Mestre Ye me deu, e teve alguns segundos que conectou, e finalmente consegui falar algumas palavras.”

Baijian perguntou curiosamente:

“Mestre Ye? Se refere ao Ye Chonghu?”

Toni assentiu com a cabeça, não sabendo o porquê dessa pergunta, e Baijian respondeu:

“Entendo. Você está infiltrado faz quanto tempo? Não entrou em contato com a família Ye esse tempo todo?”

Toni novamente assentiu e respondeu:

“Sim. Para não haver qualquer erro, eu não entrei em contato com a família Ye em todos os vinte anos que estive infiltrado.”

Ficando em silêncio por um tempo, Baijian falou:

“Entendo… Você é bem leal.”

Toni sorriu e falou:

“Eu tenho uma enorme divida com a família Ye, é por isso que a minha lealdade é tão alta.”

Assentindo com a cabeça, Baijian olhou em volta antes de começar a sair da delegacia. Enquanto andava, ele começou a perguntar casualmente:

“Você foi colocado infiltrado para quê?”

Um pouco surpreso, Toni perguntou:

“Me desculpe ser rude, mas você é… Eu acho que não posso falar de algo assim com o senhor.”

Baijian sorriu despreocupadamente e falou:

“Não precisa falar. Você já falou demais, e nem sabe a minha identidade direito, só respondeu até agora por medo de mim. Eu sei que por sua lealdade você não vai responder coisas muito comprometedoras, então se achar que não deve, não precisa responder.”

Toni assentiu com a cabeça e ficou em silêncio. Alguns momentos depois, Baijian perguntou:

“Você tem família?”

Toni sorriu amargamente enquanto respondia:

“Sim… Eu os deixei por vinte anos.”

Baijian parecia ligeiramente surpreso enquanto falava:

“Você não falou nem com a família? Você é bem cuidadoso.”

Toni, com o mesmo sorriso amargo, respondeu:

“Se enquanto estava infiltrado eu acabar sendo descoberto, posso ser morto, e isso não valeria nada do meu trabalho… Para um agente infiltrado como eu, a discrição é a coisa mais importante.”

Baijian assentiu com a cabeça, concordando com esse pensamento. Se ele der mesmo que uma brecha pequena, ou se seus superiores duvidarem mesmo que um pouco por o acharem suspeito, ele pode acabar sendo executado mesmo sem haver provas.

Enquanto andavam pelas ruas lentamente, Toni, que estava completamente machucado e mancando, falou:

“Desculpa o trabalho. Não posso correr direito, estou muito machucado.”

Baijian assentiu com a cabeça despreocupadamente e falou:

“Não tem problema.”

Olhando estranhamente para esse menino que não devia ter nem quinze anos, Toni falou com admiração:

“Seu alemão é muito bom.”

Baijian sorriu indiferentemente. Anos atrás, ele basicamente aprendeu todas as línguas do mundo. Ele nunca aprendeu a fala, mas por causa da conversa na delegacia, ele mais ou menos entendeu como pronunciar alemão.

De repente, seu olhar caiu sobre uma igreja onde, com sua incrível audição, ele ouviu uma voz de um homem que falava baixinho:

“… a vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje. Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tenha ofendido. E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém.”

Ouvindo essa oração, Baijian olhou em dúvida para a igreja, e então perguntou para Toni:

“Eles deram um alerta aqui para todos evacuarem, certo?”

Toni assentiu com a cabeça, e Baijian então falou:

“Mas tem alguém rezando ali dentro daquela igreja.”

Toni pensou:

Eu sei, mas e daí que tem alguém aqui?

Mas por algum motivo, Baijian estava curioso sobre a pessoa que ficou para trás. Obviamente, o governo tomou muito cuidado ao esvaziar uma cidade assim, e provavelmente usou diversas formas para avisar as pessoas.

Então é impossível que alguém não saiba que um “furacão” estava vindo.

Mesmo assim, tinha alguém rezando nessa igreja nesse momento… Isso deixou Baijian um pouco curioso.

Baijian então começou lentamente a andar até a igreja, com Toni que só podia sorrir ironicamente seguindo atrás.

A igreja era bem grande até, com um sino no topo, uma arquitetura antiga, vitrais bonitos e um ar elegante.

Assim que abriu as grandes portas da igreja, dentro estava pouco iluminado, com muitos bancos longos de madeira, imagens de muitos tipos em belos vitrais coloridos, e no centro havia uma grande mesa que tinha muitos castiçais.

Toni ficou parado na entrada, e Baijian entrou lentamente. Bem na primeira fileira de assentos, um homem negro estava ajoelhado com as mãos juntas enquanto rezava em voz baixa.

O homem parecia ter uns cinquenta anos, usava uma bata de padre com um rosário no peito. Ele parecia aflito, enquanto continuava rezando sem parar com as mãos juntas e outro rosário diferente na mão.

Assim que olhou para esse homem, Baijian se sentiu estranho. Mesmo sem usar seus olhos da alma, quando ele se aproxima de uma pessoa, quando a pessoa tem uma alma relativamente branca, ele se sente relativamente bem.

Quando a pessoa tem uma alma escura, ele sente repulsa. Quando a pessoa tem uma alma nem muito branca, nem muito escura, que é o mais normal para a maioria das pessoas, ele se sente neutro, não tem nem repulsa pela pessoa, nem favorabilidade.

Por isso que, para pessoas como as meninas, ele sem sequer tentar, acaba se aproximando delas e gostando. O mesmo com Ye Hong, que quando Baijian era pequeno, acabou gostando dele justamente por causa de sua alma pura.

Para Baijian, como ele se sente sobre as pessoas depende totalmente da alma, porque isso é instintivo para ele.

Mas para esse homem… Baijian sente um sentimento diferente. Ele não sente nem favorabilidade, nem repulsa, e também não se sente neutro. Na verdade, embora não sinta favorabilidade, ele sente que esse homem é especial e impressionante.

Baijian está ainda tentando desmistificar sobre como ele se sente ao se aproximar desse homem.

Depois de o observar por um tempo, os olhos de Baijian piscaram, e ele observou a alma desse homem que continuava a rezar sem parar.

Ao olhar para a alma do homem, seus olhos alargaram em choque, porque o que viu o chocou profundamente.

A alma do homem era… muito escura.



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