Ronan Brasileira

Autor(a): Raphael Fiamoncini

Revisão: Marina


Volume 1

Capítulo 67: Duelos (3)

Após o término do torneio, a turma da sala A-102 se reuniu em frente ao pavilhão de eventos para receber os bravos colegas competidores. Do lado oposto da entrada do pavilhão, Dario surgiu mancando com a ajuda de uma muleta pega na enfermaria. Ao seu lado vinha o rapaz que o conduziu até lá, Ronan, com um desânimo melancólico no olhar.

Palmas e palavras de incentivos ecoaram no ambiente universitário, dissipando um pouco a tristeza estampada na cara dos recém-chegados.

— Que felicidade é essa gente? Nós perdemos, não passamos da segunda rodada.

Como se ignorasse as palavras do colega, Jonas se adiantou.

— Se não fossem por vocês, não teríamos ninguém nos representando este ano.

Apesar das congratulações, a atenção de Ronan estava em Karen. Agora ela estava próxima de Anna e Nathalia, mas não recordou de vê-la lá dentro, ao menos não sentada junta delas.

— Parabéns Ronan, você foi maravilhoso, uma pena que tenha parado por um acidente tão bobo, né? — Anna elogiou, envolta pelos braços da amiga de cabelo dourado.

Voltando-se para toda a turma, Nathalia sugeriu:

— Deve ter algum lugar aqui perto para irmos comemorar, o que vocês acham?

— Por mim tudo bem — disse Anna.

— Desculpa amiga, mas eu não posso — Karen respondeu.

Com desculpas semelhantes o resto da turma também justificou sua ausência.

— Que tal então nós quatro? — Nathalia tentou mais uma vez.

Os derrotados se entreolharam e com um singelo menear, Ronan aceitou o convite, seguido pela resposta do garoto com o pé machucado:

— Pode ser…

Por vinte minutos os quatro vagaram pela capital em buscava de qualquer estabelecimento minimamente adequado para passarem o tempo. Mas essa amizade insipiente causou uma desconfortável estranheza entre os quatro. Nenhuma palavra era dita. O silêncio prolongou-se a cada passo, a cada expiração, a cada encarada.

Após percorrerem mais algumas ruas o grupo avistou a Praça dos Heróis. Por um silencioso tempo admiraram a beleza do local com suas as inúmeras árvores e arbustos floridos, iluminados pela farta luz do luar da noite estrelada.

Nessa rua pouco movimentada, apenas alguns casais caminhavam enquanto pouquíssimos cavaleiros e carruagens se deslocavam despreocupados devido à ausência da multidão se aglomerando.

Uma lufada de vento uivou na janela do casebre atrás do grupo, fazendo com que ela se fechasse num baque altíssimo. Anna saltou para trás em meio a um gritinho apavorado, o corpo inteiro dela tremia, mas Nathalia ria de chorar, contagiando Ronan e Dario.

Compondo a moldura pavorosa que era o rosto de Anna, a palidez provocada pelo susto era ressaltada pelos fios do cabelo castanho que tremulavam em frente às pupilas dilatadas, imóveis. Por muito tempo ela não se mexeu. Os risos antes fartos e despreocupados foram morrendo a cada segundo. A preocupação envolveu Nathalia, que após certo ponto, temeu pela situação catatônica da amiga. Ela se aproximou de Anna, levou suas mãos aos ombros dela, olhou naqueles olhos castanhos e…

— Moooorra! — Anna gritou perto do seu ouvido.

Foi como se a palidez no rosto dela fosse transferida para Nathalia.

Alheios a aquilo tudo, Ronan e Dario observaram a cena com os seus olhos arregalados e o cenho franzido.

— Quê? — perguntou o primeiro.

— Mas hein? — disse o segundo.

Quando a cor voltou ao rosto da amiga, Anna soltou um prologando:

— He hee heee…

— Sua desgraçada…

Mas uma mão desferiu um leve tapa em sua testa.

— Pra que isso? — quis saber a Leonhart.

— Para aprender a não rir mais de mim…

— Vai nessa…

Anna sorriu de orelha a orelha, e sugeriu:

— Vamos indo?

— Mas para onde?

— Para lá. — Anna apontou para a Praça dos Heróis.

Em passos módicos Ronan e Dario haviam se aproximados das colegas.

— Fazer o que? Não tem nada lá além de pedras e plantas — disse o Zeppeli com uma cara um tanto emburrada.

— Eu apoio a ideia — começou Ronan — Afinal, qualquer coisa é melhor que ficar parado nessa rua deserta.

Os olhares de Dario e Nathalia se encontraram, mas a garota virou o rosto para o outro lado.

— Mas e você Leonhart, O que tem a dizer?

Mas ela já estava do outro lado da rua, e de lá, respondeu levantando a voz:

— Eu diria que vocês são muito lerdos.

— Francamente…

— Dario, vamos indo — disse o amigo enquanto a outra já atravessava a rua.

Lado a lado eles percorreram os seis metros até alcançarem a mureta da praça.

De onde os quatro estavam era possível ver a entrada. Saltitando as duas foram na frente, largando os derrotados para trás, caminhando um passo de cada vez. Mas eles alcançaram as colegas assim que passaram do portão em arco. Elas estavam paradas, porém atentas a algo envolto em mistério.

Nathalia virou-se para trás e com a mão ela sinalizou para eles se aproximarem devagarinho.

— Quem ela tá pensando que é? — Dario reclamou.

— Fica quieto. — Ronan havia iniciado sua caminhada até lá.

— Francamente…

Reunidos embaixo das folhagens esparramadas do salgueiro, o quarteto tentava decifrar os gritos e risadas entoados pelo que parecia ser um grupo adolescente. Nathalia saiu da estradinha e invadiu o gramado onde uma placa dizendo “proibido pisar” se encontrava encravada no limiar. Sob o olhar dos colegas ela foi em frente até se esconder atrás do tronco do maior dos salgueiros, um monumento à parte, espontâneo, plantado sem pretensão de ser o que viria a se tornar.

De onde se escondia, Nathalia pôde espiar o pátio onde as figuras barulhentas estavam a vinte metros dela. O farfalhar da grama denunciou a aproximação dos três colegas que seguiram o seu péssimo exemplo de cidadania. Reunidos mais uma vez, os quatro tentaram discernir as silhuetas em meio ao pátio envolto em sombras.

— Não adianta. A gente precisa chegar mais perto — disse Dario ao dar uma espichada.

Os três assentiram, mas…

— Será que é uma boa ideia? A gente não sabe que tipo de gente eles são — Anna perguntou um tanto encabulada.

A resposta veio quando Nathalia virou-se para trás e conjurou uma diminuta chama em sua palma direita virada para a amiga, a fim de evitar que os desconhecidos vissem a luz emanada da minúscula chama, que na escuridão presente se assemelharia a uma pira.

O grupo regressou à estradinha e após dez metros, testemunharam ela se abrir em uma espaçosa área circular, pavimentada e com bancos dispostos ao redor das bordas. Em torno de um destes bancos, três rapazes conversavam com suas vozes elevadas. O mais alto e encorpado deles empunhava uma espada de lâmina delgada e guarda ornada enquanto disparava finíssimas, mas poderosas rajadas de vento contra o tronco de um pequeno salgueiro. A dez metros deles, o quarteto do segundo semestre reuniu coragem e caminhou para perto, até as duas reconhecerem dois dos três rapazes.

— Reiner? — Nathalia questionou ao vislumbrar o bicampeão do torneio.



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