Ronan Brasileira

Autor(a): Raphael Fiamoncini

Revisão: Marina


Volume 1

Capítulo 22: A Conferência de Antares (1)

O tortuoso chão pedregoso e irregular, que tanto atrasou o progresso da comitiva de Lince, chegou ao fim. Para o alívio geral, uma larga estrada de tijolos bem conservados trouxe o merecido descanso aos pés dos soldados, as patas dos equinos e as nádegas dos condutores e passageiros das carruagens e carroças.

O início do caminho pavimentado era uma descida suave, poupando esforços dos servos, cavaleiros e demais integrantes da comitiva da rainha Triss Loboprata.

Em frente às suntuosas carruagens, liderando a formação dos 50 melhores de Lince, Eric Tormensson fixou seu olhar nas belíssimas muralhas da Cidade Livre de Avska, eram paredões amarelados cujas torres em abundância eram dispostas em intervalos regulares.

Cavalgando ao lado de Eric estava o seu companheiro de aventuras, Ivar, o seu braço direito, cujos olhos acompanharam o crescer do paredão conforme desciam o vale e se aproximavam do centro.

Ao observá-las mais de perto, Eric não pôde deixar de constatar.

— Devem ter uns quinze metros de altura.

— E de espessura? — inquiriu Ivar.

— Só saberemos ao passar por ela.

— Valendo uma rodada, qual é o seu palpite, capitão?

— Sete metros, sete e meio, no máximo.

— Aposto que passa de oito.

— Fechado. — Entusiasmou-se Eric.

No alto de seus cavalos eles selaram a aposta com um aperto de mãos.

Ao passar dos portões o grupo foi recebido pelo porta-voz do governador somado a um destacamento de guardas que o rodeava. Empostando a voz, aquele senhor calvo e barrigudo os recebeu com os braços abertos:

— Sejam todos bem-vindos à Avska, a Cidade Livre. Fico feliz em anunciar que vocês são a primeira comitiva a chegar nesta sexta-feira. Devo-lhes informar que em virtude de possíveis atrasos nós adiamos a conferência em um dia. Em vez de acontecer amanhã, ela foi remarcada para o domingo. Espero que isto não os incomode de forma alguma.

Batidas vindas da carruagem da rainha, ressoaram. Já sabendo o que fazer o cocheiro real conduziu o veículo até emparelhar com a comitiva do porta-voz.

Sem rodeios a rainha do Reino de Lince saltou para fora ostentando seu majestoso vestido azul marinho. Acompanhada pelos cinco fiéis cavaleiros, ela se aproximou da figura corpulenta. Quando parou em frente ao porta-voz, ele fez uma respeitável reverência.

— Vossa majestade.

— Sem pieguices ou títulos desnecessários. Não sou sua majestade, e caso fosse, essa não seria a Cidade Livre.

— É claro. Perdoe-me, Triss Loboprata — desculpou-se com uma segunda reverência — Por favor, me acompanhem. Guiar-vos-ei até a estalagem designada para a comitiva.

Aquele linguajar a fez querer incendiar a cidade inteira.

— Vamos! — ela ordenou virando-se para seus vassalos.

Em questão de segundos todos se puseram em movimento. Triss havia voltado para a carruagem enquanto seus cavaleiros, Guardas Reais e Corvos da Tormenta montaram em seus respectivos cavalos para retomarem a marcha.

Ivar tinha algo a falar para seu superior.

— Oito metros e meio de espessura, capitão — anunciou sorridente.

— Sério? Jurava que a muralha tinha por volta dos sete.

— Não, não, não! Acabei de perguntar para um dos moradores.

— Tudo bem. Eu pago sua bebida outra hora, mas espero que não esteja mentindo.

— Não estou não, chefe.

Com o fim da discussão, os dois voltaram a seus postos e acompanharam o resto da companhia.

 

 

Domingo, 6h da tarde.

 

Estava na hora de Triss e seus mais confiáveis companheiros partirem para a Fundação Arcana, local onde seria realizada a conferência com os maiores líderes do continente, com exceção de Alexandre Griffhart, que por algum motivo não compareceu até o presente momento. Felizmente, tamanha ausência não cancelaria o evento, mas infelizmente, ele era a peça do tabuleiro por trás dos conflitos a serem discutidos.

Triss Loboprata nomeou o capitão da Guarda Real, o líder dos Corvos da Tormenta e Tricia, sua feiticeira, como acompanhantes. Nota-se que em Lince e demais reinos o termo “feiticeiro(a)” não caíra em desuso como na Cidade Livre e no Império de Leon, locais que tratam essa nomenclatura como demasiado lúdico e infantil.

Os cavaleiros, assim com os Corvos da Tormenta, faziam a segurança da rainha e seus acompanhantes no trajeto até o local que sediaria a conferência. Todos notaram como as ruas de Avska eram limpas e bem planejadas. A população andava num passo acelerado. Todos pareciam muito ocupados para se preocuparem com os conflitos de reinos que não os importavam. Esta era uma cidade que aparentava viver em outro mundo. Assim Eric se sentia, em outro mundo.

As construções eram altas, retangulares e com diversos andares para economizar o limitado espaço horizontal ainda disponível. Avska é uma cidade em contínua expansão, que vive se reinventando para abrigar novos moradores e viajantes vindos de todos os reinos.

Após muitas ruas percorridas eles em fim, chegaram. Estavam em frente à secular sede da Ordem dos Magos de Antares, conhecida também por: Fundação Arcana. Localizada no centro da cidade e ocupando uma vasta extensão, este era o local onde o Arquimago e os membros do conselho passam os dias e muitas noites trabalhando.

Assim como a muralha externa da cidade, o muro externo da Fundação era circular. No meio se estava a Torre Central, um edifício com trinta metros de altura, servindo como ambiente de trabalho para o Arquimago e seus Grão-Mestres, além de sediar os eventos mais importantes, como a Conferência de Antares.

Triss desceu da carruagem e caminhou com graça pela extensa rua da Fundação enquanto era escoltada por seus guerreiros, sua feiticeira e o líder da tropa de elite.

Eric Tormensson parecia uma criança ao entrar em uma padaria repleta de doçuras pela primeira vez. Por isso a Cidade Livre é a capital da manipulação, surpreendeu-se ao caminhar pela extensa linha reta que o levaria até a Torre. Os demais prédios como: a Biblioteca Principal, o Quartel dos Guardiões Rúnicos, a Oficina de Runas, o Laboratório de Alquimia e muitos outros, estavam dispostos em uma formação anelar de três camadas que circundavam a Torre Central.

O marchar da numerosa comitiva fez os inúmeros magos abrirem caminho. E como criaturas celestes, eles olharam atravessado para o séquito escolhido a dedo pela rainha de cabelo cinza. A vinte metros do destino, um grupo de guerreiros e figuras trajadas em extensos robes brancos faziam a guarda da entrada.

Um cavaleiro ostentando uma armadura peculiar os recebeu.

— Rainha Triss Loboprata?

— Eu mesma.

— Seja bem-vinda à Conferência de Antares. Me chamo Eduardo Belmonte, sou o comandante da Ordem dos Guardiões Rúnicos. Peço para que apenas os seus três companheiros lhe acompanhem daqui para frente.

— É claro. — Ela virou-se para sua Guarda Real, Cavaleiros e Corvos. — Ouviram rapazes?

Todos com exceção dos escolhidos deram um passo para trás.

Ao observar atentamente aquela armadura, Eric percebeu quem era esse tal Eduardo. Seus olhos brilharam em admiração.

Satisfeito pela cooperação, o comandante dos Guardiões, prosseguiu.

— Poderia nomear e dizer a função de cada um dos acompanhantes?

— Edmundo, Capitão da guarda; Eric, líder dos Corvos da Tormenta e Tricia, minha feiticeira e conselheira pessoal.

— Ótimo, anotou tudo recruta? — Eduardo perguntou para um rapaz ao seu lado esquerdo, segurando uma prancheta.

O jovem assentiu em rápidas sucessões.

Após analisar a situação, Eduardo concluiu:

— A conferência acontecerá no quarto andar. Como são os últimos a chegar, eu lhes acompanharei pessoalmente. Por favor, me sigam.



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