Lana – Uma Aventura de Fantasia Medieval Brasileira

Autor(a): Breno Dornelles Lima

Revisão: Matheus Esteves


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 31: Lembranças

Mais um dia passou em Polaris e durante a refeição matinal a rainha Sabrina procurava convencer o príncipe Ricardo de que conversasse com o irmão.

— Não digo que na idade dele, ele não tenha impulsos ou mesmo cometa erros, mas eu ficaria muito agradecida de que você conversasse com ele — dizia a rainha em tom de sermão. — As responsabilidades com o reino vêm em primeiro lugar.

— Ele é muito responsável, sempre foi, quanto a isso a senhora não que tem o que se preocupar.

Karine apenas observava em silêncio enquanto comia.

— E ainda tem essa história da garota — continuou a rainha.

— Será que eles se apaixonaram? — perguntou Karine empolgada.

— Nem sequer considere isso! — exclamou Sabrina. — Ele sabe que não pode ficar por aí se envolvendo com qualquer garota que apareça pela frente.

— Pelo que ele disse não era qualquer garota. — Acrescentou a princesa.

— E a senhorita pare de pôr lenha nessa fogueira.

Inconformada a princesa cruzou os braços e aquietou-se.

— Rafael já é adulto — respondeu Ricardo se levantando da mesa.

— Isso não o impede de cometer erros — respondeu a rainha.

— Não, não impede. Mas garante que ele tenha responsabilidade para assumi-los e tenho certeza de que ele está ciente disso.

— Aonde você vai? — perguntou Karine surpresa.

— Atrás do meu irmão.

Do alto da torre o vento castigava o rosto de Rafael que sozinho vislumbrava a cidade. Ele observava a magnífica capital de gelo altamente fortificada e imaginava se um dia as tropas invasoras do Leste poderiam chegar a estas terras. Via os caminhos do alto e imaginava os posicionamentos das infantarias. Quais as melhores estratégias funcionariam tanto para a defesa quanto para o ataque.

Enquanto apoiava os cotovelos na murada, repousava o queixo sobre as mãos. Lá embaixo via pequenos pontos quase imperceptíveis se movimentando, eram pessoas na praça central aquecidas apenas pelo calor do comércio.

Ricardo ao saber que o irmão estava na torre dirigiu-se para lá.

— Não está frio demais para apreciar a paisagem?

— Bom dia irmão — respondeu Rafael.

— Bom dia. Já desjejuou? O que faz tão cedo aqui em cima? — perguntou Ricardo.

— Já sim. Apesar de não estar com muita fome — respondeu desanimado.

— E o que o traz aqui em cima então? — insistiu o irmão mais velho.

— A tranquilidade e um pouco de ar puro.

Rafael encarou o irmão por um segundo e então voltou seu olhar ao longe.

— Sua mãe está preocupada com você.

— Comigo? Ora existe razão para isso? — perguntou surpreso.

— Durante toda a refeição ela não parava de falar de você, disse que foi descuidado no seu retorno e chegou até a mencionar uma tal garota. Tenha paciência. Eu acharia estranho é se não houvessem garotas.

— Sei! — disse desanimado.

— Que foi irmão, aconteceu algo? Agora você está começando a me deixar preocupado — disse aos risos batendo nas costas de Rafael.

O jovem príncipe então passou a encarar o irmão por alguns e segundos, tomou fôlego, mas hesitou. Olhou para os lados, respirou fundo novamente, criou coragem e então disse:

— Uma certa noite enquanto descansávamos, recebemos a visita de duas ladras. Após um mal-entendido nós percebemos que se tratavam de duas refugiadas da guerra, por isso oferecemos um pouco de comida e fogo para que se aquecessem a noite. Confesso que a achei atraente logo que a vi, pele clara, olhar profundo, cabelos longos, mas o seu temperamento. O que era aquilo? Quanta raiva poderia caber numa garota e ainda tão jovem?

— Com o tempo você vai perceber que isso é um padrão, não a exceção — interrompeu Ricardo aos risos.

Rafael fitou o irmão em silêncio em sinal claro de desaprovação.

— Foi uma piada. Desculpe, não vou mais te interromper. Prometo.

— Só sei que ela nos culpava por omissão, e juro que aquilo soava para mim mais como convite, se ela tivesse claramente me pedido ajuda não teria surtido mais efeito e quando eu me dei conta estava cavalgando a toda velocidade para resgatá-la.

— Você a salvou?

— Curiosamente não.

— Tarde demais? — tentou adivinhar Ricardo.

— Não. Quando eu a encontrei novamente ela já havia dominado um capitão inimigo utilizando uma espada inerte. E não foi só isso, aquela garota conseguiu trocar a vida daquele homem pela liberdade dos refugiados de um campo de concentração. É verdade que um monge havia participado das negociações, mas isso só ocorreu graças a ela e quanto mais eu a via, mais curioso eu ficava para saber como aquilo ia terminar.

— Continue irmão — disse Ricardo se interessando pela história.



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