Fenrir Brasileira

Autor(a): Marcus Antônio S. S. Gomes

Revisão: Bczeulli e Heaven


Volume 1

Capítulo 4: A antagônica da morte

Minha última visão de meu irmão foi dele sendo dilacerado por lâminas enquanto eu caia em um grande abismo no qual o fundo não podia ser visto.

Meu grito de negação foi a frase final que meu irmão Natã ouviu de mim antes de sua morte.

Enquanto mergulhava na escuridão daquele fosso meu coração se encheu de desespero, eu perdi tudo, minha família, meu lar e meus dias de paz.

As lágrimas em meus olhos caiam sem pausa, naquele momento eu percebi que a esperança havia morrido e a sensação da falta de chão devido a minha longa descida ao fosso em que fui lançado destruiu a minha perseverança.

O tempo desaparece junto a meus sentimentos confusos, minha queda do abismo foi igual a descender para o inferno.

A queda não tinha fim, até que meu corpo deu de encontro com uma falha na parede do fosso.

Senti o impacto destruir vários de meus ossos e gritei de dor:

“AAAAAAAAAAAAAAAAARGH!”

Naquela hora percebi que todo sofrimento que passei aqui foi apenas o começo, sem conseguir me segurar eu colidi novamente.

Como não havia modo de controlar a queda eu bati diversas vezes nas paredes do abismo criado pela máquina de Sillas, com isso meus braços, pernas, assim como a maioria de meus ossos se partiam.

A dor foi tanta que quase desmaiei em alguns momentos, as lacerações em meu corpo não podiam ser contadas, eu perdi muito sangue, entretanto parece que a velocidade de minha queda diminuiu graças ao atrito entre a parede e o que sobrou do meu corpo.

Ainda caindo eu sinto meu corpo sendo parado por uma infinidade de galhos de secos e cipós, ainda sim os impactos eram dolorosos, por sorte quase no fim de minha queda meu debilitado corpo foi parado por muitas ramas de cipós e galhos e assim finalmente cheguei ao chão.

— Arf! Arf! Arf!

Eu respirava pesadamente, minha visão ficou turva, com dificuldades eu tentei averiguar a situação de meu corpo só para ver minhas pernas dobradas de forma anatomicamente impossível.

— Aha!… Ahahahaha!

Com o resto de minha força eu ria em ironia de mim mesmo, eu vou morrer aqui, isso é um fato.

Com o rosto para o alto eu procurei com meus olhos algum vestígio de luz, no entanto o abismo foi feito tão profundo que a luz jamais chegaria até aqui, ainda que não estivesse escuro, eu queria a luz do sol.
Senti que o chão em que estava deitado molhado e morno, virei-me com dificuldade e descobri que estava sobre um líquido vermelho viscoso, no começo achava que era meu sangue, mas essa quantidade exorbitante foi impossível para alguém do meu tamanho.

Olhando com mais calma eu percebo que meu corpo ficou embaixo de um lago, literalmente um grande lago de sangue.

Eu já nem me preocupei com isso, eu iria morrer e nada vai impedir esse acontecimento.

Depois de recobrar um pouco meus sentidos eu escuto uma poderosa respiração no lado oposto de onde estou focado.

Fiz um esforço enorme para me virar e ver o outro lado.

E mais uma vez percebi que tratei esse mundo com leviandade, achei que nada mais aqui me surpreenderia, contudo ao contemplar a figura espantosa de uma criatura colossal em frente à minha vista me fez tremer na base, mesmo sabendo que morreria a qualquer momento.

Uma poderosa figura de um gigantesco lobo negro, seu tamanho foi tão ridículo, que compará-lo a uma montanha seria eufemismo, os grandes olhos amarelos dourados da criatura focava em mim, do mesmo jeito que um humano observaria uma formiga.

Percebi então que o sangue em que estava “nadando” pertencia a essa criatura, mesmo um idiota como eu sabia quem era esse ser, trata-se do mestre da masmorra divina de Ferus, o poderoso Fenrir.

Sua pelagem negra azeviche junto a seus olhos amarelos dourados lhe davam um aspecto imponente, em suas costas estavam cravadas na sua carne duas gigantescas estacas de aço, que funcionavam como grilhões presas a enormes correntes, foram estes grilhões em forma de estacas enterrados na sua carne que provavelmente o mantinha nessa masmorra.

Mesmo assim essa imponente criatura estava gravemente ferida, não pelos Grilhões em sua carne, mas por um buraco enorme que foi aberto em seu abdômen, provavelmente foi o disparo executado pela máquina de Sillas, o raio azul foi o revide de Fenrir.
Com seus grandes olhos dourados o Fenrir focou em mim, ao abrir suas mandíbulas e exibir seus colmilhos brancos, sentia de longe o calor de seu hálito.

O Fenrir então proferiu:

— EU SOU O GRANDE FENRIR, AQUELE QUE ATÉ MESMO OS DEUSES TEMERAM, SOU UMA DAS CRIATURAS DO FIM, O CAUSADOR DO RAGNAROK, POR MILÊNIOS ESPERO QUE O ESCOLHIDO VENHA RECLAMAR OS SEGREDOS DESSA MASMORRA, PORÉM DE FORMA NENHUMA DAREI OS SEGREDOS A QUEM TENTA VENCER A MASMORRA DE UM JEITO TÃO COVARDE! …

— HUMANO! VOCÊ PODE TER CHEGADO ATÉ AQUI, MAS NÃO MERECE A SABEDORIA DESSA MASMORRA! EU O MATAREI ANTES QUE OS CONSIGA!

O ferir me lança um olhar mortal, a forma que ele me mirou poderia ter matado qualquer ser humano que estivesse medo da morte, mas esse não era meu caso, não porque eu não temia morrer e sim por que já me conformei com a morte, sobreviver com meus ferimentos é impossível.

— Ahahahahahahaha!…. AHAHAHAHAHAHAHAHA!

— QUAL A RAZÃO DO RISO HUMANO? DESDENHAS DA TUA DESGRAÇA?

— Me mate se quiser! Eu nunca quis nada desse mundo, as coisas que queria nunca voltarão para mim, esses malditos me tiraram de meu mundo e me roubaram minha família, já não tenho nada! Ter caído aqui foi apenas uma aposta desesperada de meu irmão que tentou salvar minha vida antes de morrer pela espada do inimigo.

O Fenrir me observa em silêncio por um tempo e diz depois:

— EU VEJO! REALMENTE NÃO PERTENCES A ESTE MUNDO, MEUS OLHOS ME MOSTRAM ISSO.

— Eu não posso mais vê-los!

Levantando minha mão com todo meu esforço eu declaro com lágrimas enquanto forço minha mão para o ar.

— Eu não queria estar aqui, eu só queria minha família viva outra vez!

Mesmo falando sozinho o Fenrir me respondeu:

— IMPOSSÍVEL! NEM NESTE MUNDO E NEM EM OUTROS UMA VIDA PODE SER RESTAURADA, POR ISSO DEVE-SE TER CUIDADO AO TIRAR UMA VIDA, POIS NADA VALE MAIS DO QUE UMA, MESMO EU QUE SOU UM SER COMPARADO A UM DEUS ESTOU MORRENDO E VOU DESAPARECER DESTE MUNDO.

— Então até você está morrendo?

— SIM! A FERIDA FOI MUITO PROFUNDA, REGENERAÇÃO A ESSE GRAU É IMPOSSÍVEL MESMO PARA MIM, MUITOS ÓRGÃOS VITAIS FORAM DESTRUÍDOS, JUNTO COM VOCÊ AQUI EU MORREREI E LEVAREI OS SEGREDOS DA MASMORRA DE FERUS COMIGO!

— Entendo! … Sabe! Eu não tenho mais nada a perder, a morte pode ser o melhor conforto que a vida sem minha família, mas… mesmo assim….

Meus olhos se enchem de lágrimas, as imagens de meus pais preenchem minha mente, meu irmão dizendo-me para viver no final, isso me atacou com toda a força e como a criatura fraca que eu sou, gritei em prantos:

— Eu… EU QUERO VIVER! MESMO QUE SOFRA SEM NINGUÉM DA MINHA FAMÍLIA EU QUERO VIVER, MESMO QUE NUNCA MAIS VOLTE PARA MEU MUNDO EU QUERO VIVER, EU AINDA SOU UMA CRIANÇA NUNCA TIVE UMA NAMORADA, EU QUERIA CONHECER O AMOR ANTES DA MORTE, POR QUE? POR QUE? …Eu só quero seguir vivendo não importa o custo!

Eu recuperei minha compostura e ri de mim mesmo com minha declaração covarde perto do meu fim, eu me senti idiota.

— Ahahaha! Me desculpe por isso Fenrir, eu o fiz escutar uma coisa tola.

— EU NÃO ENTENDO?

— Hum?

— POR QUE VIVER SE NÃO TEM MAIS NADA?

— Hum! Mesmo que não tenhamos nada agora podemos conseguir alguma coisa se seguirmos em frente, mas para isso é preciso viver!

— EU ENTENDO!

Eu estava tendo minha conversa final com uma criatura lendária, talvez eu possa me gabar disso quando encontrar meu irmão.

— Fenrir, não tem nada que você deseje?

— …EU NUNCA FUI DESEJADO, PASSEI MINHA VIDA ME SUBMETENDO AS VONTADES DOS DEUSES PARA QUE ESTES NÃO ME ODIASSEM, COMO RESULTADO FUI PRESO AQUI POR MINHA ESCOLHA, MAS SE PUDESSE EU QUERIA DESFRUTAR DO MUNDO COMO VOCÊS MORTAIS, DEPOIS DE MILHARES DE ANOS EU ESQUECI COMO ERA A LUZ DO SOL, ME PERGUNTO SE OS CAMPOS AINDA SÃO VERDES E SE A BRISA DA MONTANHA É AGRADÁVEL COMO ANTIGAMENTE…

— Se eu pudesse fazer algo no meu último suspiro, eu queria pelo menos te livrar dessas correntes, já que seu desejo é tão puro.

— AHAHAHA! PARECE QUE VIVI BASTANTE! ATÉ MESMO PARA RECEBER A SIMPATIA DE UM HUMANO.

Minha visão estava ficando turfa, eu sabia que o anjo da morte já caminha me espreitando, esperando o momento certo para colher minha alma, mesmo assim desejava falar mais com o Fenrir:

— A visão dos bosques verdes que você descreveu, eu queria vê-los também!

Eu percebo que o fenrir também encontra dificuldades para se manter, provavelmente está às portas da morte como eu.

— É uma pena, foi um prazer conhecer o lendário Fenrir.

— HUMANO… QUAL É SEU NOME?

Eu fiquei surpreso com a pergunta do Fenrir, todavia fico feliz em saber que alguém vai me reconhecer nesse mundo depois de minha morte.

— Willian Greives.

Respondo sorrindo a pergunta do fenrir.

O lendário fenrir mostra força em sua face e me propõe:

— HUMANO, NÃO! WILLIAN GREIVES, COMO EU HAVIA DITO NÃO EXISTE FORMAS DE VENCER A MORTE, AQUELES QUE MORREM JAMAIS RETORNARÃO, NO ENTANTO HÁ MEIOS DE ENGANÁ-LA!

— Enganar a morte? Isso é possível?

— PARA UM RELES MORTAL NÃO, MAS EU SOU O FENRIR AQUELE QUE ATÉ OS DEUSES TEMERAM, COM SUA AJUDA PODEREMOS SAIR DO ABISMO DA MORTE E NOS ATARMOS A VIDA, NO ENTANTO HAVERÁ UM CUSTO!

— Uma chance de viver! Não brinque! É claro que quero viver, morrer virgem é uma merda!

— AHAHAHA! VOCÊ É UM HUMANO INTERESSANTE, MAS OUÇA-ME PRIMEIRO, PARA QUE AMBOS POSSAMOS VIVER EU TEREI QUE UNIR NOSSAS ALMAS, USAREI SEU CORPO FÍSICO EM VEZ DO MEU PARA ME LIVRAR DA MALDIÇÃO DESSAS CORRENTES, NO ENTANTO SE SUA ALMA FOR FRACA, AMBOS DESAPARECEREMOS NO VAZIO DO ESQUECIMENTO.

— Se falharmos nossa alma morrerá?

— EXATO! ENTRETANTO SE POR SORTE OBTERMOS ÊXITO, RENASCEREMOS COMO UM NOVO SER, CLARO QUE VOU MANTER NOSSAS CONSCIÊNCIAS, PORÉM SEREMOS UMA NOVA CRIATURA É COMO UM RENASCIMENTO, COM ISSO TODAS AS FERIDAS SERÃO CURADAS.

— Nossas consciências vão se misturar?

— NÃO! APESAR DE PARTILHARMOS A MESMA ALMA VAMOS POSSUIR DOIS EGOS NO MESMO CORPO, COMO USAREI UMA QUANTIDADE GRANDE DE PODER, MINHA CONSCIÊNCIA VAI ENTRAR EM UM SONO POR UM LONGO TEMPO, QUANDO ACORDAR SEREI COMO SEU ALTER EGO, PODEREMOS TER CONVERSAS EM PENSAMENTO. E ENTÃO ACEITARIA FORMAR COMIGO CONTRATO DE ALMA?

— Hum? Claro que vou aceitar! não vou jogar fora a chance de sobreviver.

— MAIS UMA COISA! COM ISSO VOCÊ SE TORNARIA UM SER DESSE MUNDO, HAVERÃO MUDANÇAS FÍSICAS EM VOCÊ, SUA RAÇA COM CERTEZA NÃO SERÁ MAIS HUMANA, ENTÃO NÃO PODERÁ REGRESSAR A SEU MUNDO DE ORIGEM!

— Não me importo! Não possuo mais nenhum vínculo com meu mundo original, no entanto eu serei sincero com você Fenrir, se estiver no meu alcance usarei tudo que puder para me vingar daqueles que me tiraram minha família.

O Fenrir me olhou nos olhos e viu a seriedade de minhas palavras, no final respondeu:

— ACEITO!

Uma enorme quantidade de energia azul índigo emanou do corpo do Fenrir, essa misteriosa energia formou um círculo mágico no chão.

Uma música celestial foi ressoada em toda volta do que sobrou na masmorra e o Fenrir avisa para mim:

— ESPERO QUE A PARTIR DE HOJE POSSAMOS NOS DAR BEM PARCEIRO! POR FAVOR ME MOSTRE OS CAMPOS VERDES!

A misteriosa luz azul índigo tomou todo local e levou minha consciência com um clarão.



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