Dominação Ancestral Brasileira

Autor(a): Mateus Lopes Jardim

Revisão: Bczeulli


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 4: Krima Honrada

Mais tarde naquele dia, Namhr e Mythro voltaram à casa de Fashr para cultivar, ambos estão sentados de pernas cruzadas no quarto de Namhr. Só que dentro de Mythro, coisas que ele antes não conhecia começaram a aparecer.

”A energia deste lugar… Ela parece tão ruim, o que será que aconteceu? E por que eu sinto que se tivesse mais energia eu iria entender mais do meu corpo? É como um chamado… um chamado para dar mais um passo… E esse passo tem direção, eu sinto que tem algo lá fora, me esperando.”

– Namhr, por que a energia daqui é tão lenta para ser absorvida, e fria. Mas mesmo assim tem um lugar lá fora que parece não sofrer destas condições?

– É devido a fenda, como você deve saber aqui tem algo chamado ”abismo” e somos o povo que vive na maior influência do abismo. Nossa terra é um oitavo do nosso continente, segundo o que eu ouvi falar na cidade imperial, mas ninguém tem interesse nela porque a energia dela é completamente yin.

– Yin?

– Sim, tudo deve ter um balanço de Yin-Yang, bem e mal, negativo e positivo. E Yin-Yang também pode ser visto como mulher e homem, lua e sol.

– Mas isso não quer dizer que você é uma energia negativa?

– Sim e não, mulheres têm mais energia Yin dentro delas, por isso o domínio de artes Yin são mais propícias para mulheres, a menos danos colaterais no corpo e um avanço mais rápido, é como se o seu corpo fosse feito para isso, sabe?

– Quer dizer que se eu treinar uma técnica Yin serei sempre deixado para trás por mulheres?

– Sim e não, embora o corpo seja mais apropriado, o esforço e o talento da pessoa para uma coisa também definem quão longe ela vai.

– Entendi.

Mythro então fecha os olhos e volta a cultivar quieto.

– Ora, sem mais perguntas?

– Você sempre reclama.

– Hoje eu estou de bom humor, então fala.

– Quando poderei sair da vila?

– Quando você for maior de idade!

– Vai demorar demais!

– E vai demorar mais se você continuar reclamando!

– Namhr!

– Tá bom, quando você alcançar o primeiro nível do primeiro estágio, eu vou deixar você sair!

– Feito! Então espera só um pouco.

– Como assim?

Então alguns minutos depois, uma fina camada de azul cobre Mythro…

– Isso…

Namhr fica muito surpresa e espantada, alguém alcançar o primeiro estágio aos 7 anos? Isso era realmente possível no abismo?

Por um momento tudo fica quieto, até o barulho de porta abrindo vem do outro lado.

Namhr olha a fonte cinza de luz e vê alguém entrando com uma mulher nos braços. É Fashr carregando Krima.

– Pai, Mythro vai entrar no primeiro reino!

– Namhr…

Fashr cai de joelhos e então começa a chorar.

Namhr se levanta rapidamente para ver o que acontece, ela logo chega perto de seu pai e vê sangue em suas roupas. E inspecionando o corpo de Krima, ela vê marcas de punhos, mãos, diversos cortes e perfurações.

– Mataram minha Krima…

– Não!!! Mãe!!!

Namhr se atira no corpo frio de Krima, sua pele estava quebrando devido ao árduo frio, seus lábios perderam o vermelho-rosado, seus olhos…. não são mais.

– Até seus olhos… arrancaram seus olhos…

Fashr chora e treme ao mesmo tempo, a alguns homens atrás dele que também choram.

– Chamem todos da vila, vamos honrar a Senhora Krima!

– Sim, Josom, bem lembrado, nossa Senhora morreu, mas deve ser honrada!

Então vários dos homens atrás de Josom, correm e vão de porta em porta dizendo o acontecido, poucos minutos se passam até que todos são reunidos no pátio central, a frente da casa de Fashr, lágrimas e chuva acompanham a todos.

O frio árduo do ambiente torna tudo ainda mais angustiante…

– Mythro!

Namhr grita por Mythro, que nesse momento estava focado em entrar no caminho do cultivo…

Ela o chama, mas a concentração para entrar no primeiro reino toma todos seus sentidos, ele permanece imóvel de olhos fechados.

Dentro da mente de Mythro, algo começa a se formar, ele vê um rio deslizando e revigorando seu corpo. E deste rio uma densa névoa também começa a se formar, diversas estrelas nascem e dançam, uma árvore toma silhueta, e há uma sensação forte de mistérios profundos nela, Mythro começa a entender seus mistérios e a viajar na forte sensação, neste momento, ele não sente mais frio…

**

No fundo cosmos, duas pessoas, um homem e uma mulher encaram a toda situação que Mythro passa.

– Ele acordou e irá direto ao segundo reino, como todos de nosso sangue.

– Sim

Estes são Lucem e Xaemi.

No entanto…

– Mythro!

Namhr grita o nome de Mythro mais uma vez, e ondas invisíveis saem de sua boca e acertam Mythro, que acorda instantaneamente. E então uma forte onda negativa começa a tomar seu corpo! Uma energia escura invade seus olhos, e obscurece seu dourado.

No espaço Xaemi toma uma passo e viaja centenas de milhares de quilômetros.

– Xaemi!  – Lucem grita e também dá um passo, ele para bem a frente dela.

– O que foi aquilo? Como um humano normal parou a ascensão de um NOVA?

– Eu também não sei, mas não devemos interferir!

– Como não? Você já interferiu!

– Não há o que ser feito, se ele tivesse ido direto ao segundo reino, poderíamos ir buscá-lo, mas agora a energia negativa da fenda já o atacou, as fadas podem reconhecer a existência dele se interferirmos, o que posso fazer é selar seu poder arfoziano, e deixá-lo crescer…

– Deixá-lo crescer? Naquele lugar? Eles mal sabem o que é cultivo! O sistema de cultivo daquele lugar é ultrapassado, 1 em 1 bilhão saem daquele planeta, a cada 10 mil anos!

– Então, Xaemi, se ele for valoroso, ele será o próximo a sair!

Xaemi fica emanando sua forte aura, esmagando tudo ao seu redor, pequenos planetas e estrelas viram pó.

– Ao menos me diga como, como o selo das 12 constelações foram jogados ao pó pelo chamado de uma humana mortal?

– Ela não é humana…

– Então o que ela é? Pois, meu filho não ficará jogado no planeta lixo!

Lucem a encara quieto, então fecha seus olhos. Xaemi o encara, mas se acalma pouco a pouco.

Somente minutos depois sua aura retrocede e então ela desaparece.

– Uma pena pequeno… Você terá que solucionar as tramas do destino você mesmo. Este planeta… por que tinha que ser ele… As fadas descobriram algo? Seja o que for… Agora você e tudo que aí foi jogado terão união.

Lucem aponta seu dedo e então um selo aparece no coração de Mythro, imperceptível a todos e a ele mesmo.

Na pequena casa de L’s opostos Namhr encara Mythro chorando bastante.

Mythro conseguira entrar no primeiro reino, e ele se encontra no primeiro estágio e primeiro nível, há um rio bem transparente e fraco acima de si. É sua imagem espectral.

– Namhr, entrei no primeiro reino! Foi estranho… Mas acho que foi tudo bem! Por que você está chorando?

– Mythro, a Krima!

Ele então se levanta e vê Krima deitada, completamente ensanguentada. E um rosto de desespero e angústia em Fashr.

– Krima…

– Honrem nossa senhora! Com sangue!

No abismo, toda  a pessoa deve voltar a terra em cinzas, mas antes, deve ser batizada com o sangue de seu povo. Da terra tudo provém, então no fim, tudo que ela proveu, a ela deve retornar.

Fashr se levanta e leva Krima ao meio do pátio, lá tem um pequeno altar onde são lecionados aos jovens em sua maioridade, seus respectivos trabalhos para com a vila.

Josom busca rapidamente na casa do senhor Fashr, a adaga cerimonial que serve para que todos possam cortar a palma de suas mãos e tocar seu sangue no corpo do falecido membro de sua comunidade. Ele vê Mythro abraçado com Namhr que chora sem fim, ele se aproxima agressivamente, e então, puxa seus cabelos.

– Por que, por que você tinha que vir para cá? – O rosto de Josom está retorcido, há raiva, frieza e loucura em seus olhos.

– Do que você ta falando Josom? Me solta!

– Isso é culpa sua!

– Eu não a matei!

– Matou… Quando você pisou nessa vila você a matou! Você não pertence a esse lugar!

Josom então o solta e sai da casa. Ele levanta a adaga e mostra uma de suas mãos cortadas, ele vai no altar e toca na testa de Krima.

Logo todos pegam a adaga e repetem o mesmo. Porém somente aqueles considerados adultos pela passagem da cerimônia podem honrar em sangue.

Após todos terem batizado Krima, seu corpo é enrolado em panos azuis e laranjas, as cores do imperador do continente ”Caelum Dominum”, se coloca fogo nos panos, e em seu corpo sem vida.

Instantes depois, alguns homens trazem um caixão de madeira de mais alta qualidade, que possui fortes tons vermelhos, então Fashr pega o corpo de Krima, que está envolto de chamas e a leva ao caixão.

– Pai! – Namhr grita, vendo seu pai sendo queimado e tenta correr para seu lado.

– Não, você não pode atrapalhar ele Namhr, é o dever de seu pai, ele fará com Krima, o mesmo que fez com Zila. É nossa cultura, quando a esposa de um homem morre prematuramente, em seu funeral, o homem também deve compartilhar a dor da mulher em deixar seu povo, filhos, filhas e familiares!

Devido ao forte frio do abismo, o fogo não chega a ser letal, apenas os braços e o peito de Fashr começam a queimar, mas ele logo deixa Krima no caixão. Depois disso, ele se senta em um dos bancos do pátio e lá mesmo ele cai.

Enquanto isso a procissão para levar Krima ao cemitério continua, apenas alguns curandeiros ficam para cuidar de Fashr.

Namhr também logo chega, correndo, ela se atira ao peito de seu pai, queimado e ensanguentado.

– Pai!

– Não se preocupe, eu ficarei bem, o importante… é que sua mãe foi honrada…

Ele então desmaia.

– Pai!!!

 



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