Dominação Ancestral Brasileira

Autor(a): Mateus Lopes Jardim

Revisão: Bczeulli


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 3: Trovões, Relâmpagos e Raios

Depois de decidirem ficar com Mythro, algumas regras foram impostas à Namhr. Sendo Mythro um homem, ele teria que aprender a fortalecer seu corpo e logo cultivar, pois ele teria que trabalhar como qualquer outro na vila, isso é algo que não podia ser discutido.

Ela teria que ensiná-lo a falar, escrever e os costumes das pessoas no abismo.

– Tudo isso será feito pai, agora, Mythro, vamos brincar!

Fashr entrega Mythro no colo de Namhr e ela sai correndo pelo corredor que dá passagem à sala, e eventualmente à saída.

Ela finalmente abre a porta, e dá de cara com um homem.

– Namhr, seu pai está?

– Senhor Mitri. Sim, ele está.

Namhr se vira para ir buscar seu pai, mas o encontra, já atrás.

– Pode sair Namhr, eu resolverei as coisas aqui.

Namhr sem demora então passa da porta e sai correndo pela terra da vila.

– Fashr, como foi a viagem?

– Recompensante. Finalmente poderei pagar aquela velha dívida.

– Eu recebi esta carta ontem. –  Mitri tira uma carta do bolso de seu casaco de pele de lobo.

– Sim, eu a mandei, enviei por meio de Josom, um bom homem.

– Ele me entregou com lágrimas nas mãos.

Ambos riem.

– Entre, venha. Krima, faça chá, temos um convidado.

Krima aparece rapidamente na sala e quando confirma quem é o convidado, sai aos fundos para preparar algo no pequeno fogão a lenha.

Fashr leva Mitri até as cadeiras da sala, ambos sentam e começam a conversar.

 

**

 

Namhr leva Mythro pelos caminhos de terra e eventualmente outras crianças começam a segui-los.

– Srta Namhr, quem é esse?

– É o Mythro, ele vai morar com a gente.

Eles correm e conversam, cheios de energia.

– Ele não tem as marcas no pescoço!

– Eu ainda vou lhe ensinar.

– Mas nós não somos marcados desde nascença? Como ele ainda não tem?

– Eu não sei, mas não se preocupem, Mythro é homem e vai cultivar para poder trabalhar como todos nós quando crescermos!

– Eu quero cuidar do numial!

– Eu quero caçar animais!

Na vila de Fashr, todos começam a cultivar desde jovens, mas todos tem pouco talento. Então eles se focam nos trabalhos do dia-a-dia. Tudo foi implementado para que eles entendam que trabalhar para melhorar a vila é equivalente a viver melhor e aproveitar melhor a vida.

Namhr, finalmente para quando eles sobem um pedaço de terra vermelha com diversas árvores, e então ela coloca Mythro no chão.

– Primeiro vamos ensinar você a andar!

– Ele não sabe andar?

– Com essa idade?

As crianças começam a rir.

– Parem de rir, Mythro vai tirar isso de letra. Na verdade, eu e Mythro seremos os adultos mais fortes da vila no futuro!

– Isso eu quero ver!

– Hmph!

As crianças então se dispersam e começam a brincar em seus respectivos grupos.

– Mythro, você não pode deixar que ninguém fale assim com você, todos eles são bobos! Vem.

Ela coloca o pequeno Mythro em uma posição ereta e começa a guiá-lo sobre como andar.

Em apenas alguns minutos Mythro já está andando normalmente.

– Isso… Parece que você só tinha esquecido.

– Talvez.

– Hm?

Namhr então começa a encarar Mythro fundo nos olhos, ela olha para ele inteiro e então pergunta:

– Você falou?

– Sim.

– Ora seu!

Ela começa a bagunçar os cabelos dele.

– Namur, para, para!

– Não é Namur, é Namhr, Namhr!

Então gotas de chuva começam a cair.

– O que é isso?

– Chuva, vamos indo.

– Chuva? Machuca?

– Não, mas você pode ficar molhado e se resfriar, e pode pegar alguma doença séria.

– Doença?

– É quando você fica ruim.

– Não to entendendo nada. Por que eu ficaria doente se é algo que vem do céu?

– Ai, você pergunta demais!

Diversos relâmpagos e trovões começam a soar e Namhr pega Mythro pela mão e ambos correm para a casa de Fashr.

– Namhr, Mythro!

Krima já está na porta os esperando. Eles chegam rapidamente e lhe são dados panos para se secarem.

Namhr se vira para o céu e fica olhando os relâmpagos.

– O que foi?

– Veja, Mythro, se um dia virarmos super experts, eu quero praticar o poder de relâmpagos!

– Por quê?

– Porque o sol é uma fonte enorme de luz, que nos faz esquecer de qualquer escuridão. Isso deixa a todos com um sentimento maior de segurança. Mas somente os relâmpagos no céu, em um dia nublado e escuro, que iluminam os caminhos. Eu quero ser uma luz na escuridão, um brilho forte que todos iriam reconhecer, e eu serei aguardada, como a acompanhante da chuva. Eu quero ser os trovões, para intimidar meus inimigos, os relâmpagos que dão luz, e os raios que castigam!

– Então eu também vou ser assim!

– Então vamos nos esforçar!

Namhr ri enquanto abraça o pequeno pescoço de Mythro. Krima olha ambos com grande ternura.

Para Namhr, essas não eram palavras jogadas ao vento, se ela puder ser, ela será. E principalmente para Mythro, ele sente em seu ser que algumas palavras não batem bem em eloquência, mas a vontade de ser os trovões, relâmpagos e raios. Isso é algo que pode ser conquistado.

E assim dois anos se passaram, nesses dois anos toda a vila foi completamente mudada. Mais casas se ergueram, novos materiais, mais fortes e úteis foram comprados para fortalecer a vila e toda sua agricultura e pecuária. Mais jovens conseguiam cultivar e mulheres que antes eram deixadas de lado para tarefas do lar também entraram no ranque de experts de cultivação. Até o momento, somente Namhr conseguia cultivar, pois ela era a que tinha mais acesso ao conhecimento que seu pai tinha em relação a cultivo; livros e histórias que foram passadas de seus ancestrais.

Mythro aprendeu rapidamente a fazer tudo, e logo começou a ajudar na casa de Fashr, pois Namhr não gostava que ele trabalhasse com os outros rapazes e homens, pois eles sempre o irritava por ele só ter aprendido a andar com a altura de alguém de cinco anos.

E Mythro sempre os rebatia com as mesmas palavras.

– Eu serei os trovões, relâmpagos e raios dos céus! Eu serei o mais forte do abismo, junto com Namhr! Vocês vão me reconhecer!

E eles sempre riem dessas palavras.

– Você vai ter que começar a cultivar primeiro né? E isso só vai acontecer daqui a 3 anos, quando você tiver 10 e seu corpinho conseguir aguentar um pouco de energia cósmica.

– Eu já suporto energia cósmica, meu talento é superior! Vejam.

Mythro então se concentra e na sua mão, um pouco de brilho azul transparece.

– Isso!

Todos se assustam, começar a cultivar aos 7 anos, isso é algo que nenhum deles jamais conseguiu fazer!

– Isso só pode ser bruxaria, ninguém do abismo consegue fazer isso, nossos corpos são poluídos pela energia negativa que emana da fenda!

– Eu vim de fora, Namhr me disse que é por isso.

– Sim… você também não tem as marcas de método de cultivação, devia ser impossível, será que você é um meio-humano… um Markho?

– Há boatos que Markhos já nascem com cultivação!

– Verdade, eu nunca vi e nem ouvi ninguém dizer de Mythro cultivando, será que isso já estava dentro dele e ele escondeu de nós?

– Do que vocês estão falando? Eu não sou meio-humano!

– Isso mesmo! Mythro é diferente de nós, mas não é um assassino como os Markhos, parem de confundir o certo e o errado baseado no pouco que vocês sabem!

Uma voz feminina viaja, é Namhr, vindo proteger Mythro.

– Namhr! –  Mythro fica alegre ao vê-la, momentos atrás ele tinha ficado muito nervoso com a conversa.

– Srta…

Os outros ficam mais repreensivos.

– Eu não quero mais ouvir vocês falando de Markhos, no abismo não há Markhos e nem jamais haverá!

Namhr então pega no ombro de Mythro e o leva para a casa improvisada pelos dois.

– Tch, embora a Srta diga isso, quem nos garante segurança se ele for?

Ainda assim, quando uma ideia falsa de perigo é implantada em mentes pequenas, elas assombram aqueles poucos cultos.

– O que são esses meios-humanos chamados Markhos?

– Eles são monstros que dividem genes humanos com monstros. O problema não é nem eles serem meio-humanos, mas sim a mente selvagem deles, eles matam tudo o que vêem. Então todos vieram a temê-los.

Mythro fica quieto enquanto escuta, ele se compara aos Markhos.

– Você não é um Markho, embora seu talento para cultivo seja enorme, você não é um assassino.

– Mas… E se um dia eu virar um? Eu vi em algumas lendas que um cultivador deve ascender em meio de muitos corpos.

– O caminho da cultivação é longo, se você matar quem quer te matar, é você o assassino?

– Não!

– Então, se os corpos se amontoarem atrás do caminho que você trilhou, azar o deles, mas se você buscar a morte de boas pessoas por poder, então isto é um outro caso.

– Sim, Namhr!

 



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