A Lâmina da Imortalidade Brasileira

Autor(a): Kanino

Revisão: Eduardo Jesus


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 41: Segunda vez subindo a montanha

— Hoje, eu subo essa montanha de uma só vez! — Kishito estava bastante animado enquanto seguia andando em direção ao topo da montanha. Atrás, Alicia o seguindo de perto. 

— Você está bastante confiante dessa vez. — A voz da Alicia soou.

— É claro que estou, eu vim preparado. 

— Se está tão confiante, por que não fazemos uma corrida?

— Você acha que sou burro? Na última vez, fui descuidado, mas não vai acontecer de novo. 

Alicia não disse nada e apenas sorriu. Kishito tinha se virado e a viu sorrindo. Apesar de achar que poderia ter algo errado, preferiu ignorar e seguir. 

Os dois continuaram subindo a montanha, com cada metro de subida se tornando mais complicado. A tempestade ficava mais forte e ficava mais difícil resistir, no entanto, Kishito andava normalmente pelo caminho e a tempestade mal o atrapalhava. 

Alicia olhava as costas do Kishito impressionada com o bom controle que ele tinha sobre a mana, tornando aquela tarefa muito simples. Se não fosse por ainda não ter uma condição física boa, no dia anterior, ele já teria subido a montanha na primeira tentativa. 

Para ela, resistir a tempestade era muito simples, suas habilidades necessitavam de controle preciso de mana, então controlar a mana para se proteger não seria nenhum problema. 

— Eu nunca pensei que até mesmo o Donavan-san tem admiradoras. — Kishito comentou enquanto continuava a andar, em uma tentativa de quebrar o silêncio.

— É claro que tem. Ele é bonito e tem garotas que gostam de garotos com ar misterioso. 

— Igual aquela Aya Ogawa?

— Você percebeu? — Alicia indagou levantando uma das sobrancelhas, evidentemente surpresa. 

— Quem não perceberia? Ela ficou o tempo todo olhando pra ele sempre que podia. 

Alicia não disse nada e continuou andando. Quando viu que Alicia não ia falar nada, prosseguiu.

— Não me diga que você não percebeu que o Donavan parecia um pouco estranho perto dela.

Kishito se lembrou que, durante o almoço, Donavan parecia inquieto. Normalmente, Donavan não falava muito, entretanto, estava sempre focado nos arredores. Porém, durante o almoço, foi diferente. Ele estava agitado e seu olhar parecia distraído, com um toque de nervosismo.

Ouvindo Kishito falar, ficou curiosa. Para Alícia, ele era uma pessoa que não prestava tanta atenção e por isso era sempre enganado, como quando lidava com sua irmã ou mesmo em suas interações. No entanto, o ouvindo falar agora, percebeu que ele não era tão distraído como pensou e até mesmo percebia as mudanças no Donavan - Notar mudanças no comportamento do Donavan não era simples. 

“Um garoto com uma boa percepção do seu arredor, com um controle que nunca vi sobre a mana, poderia estar acima daqueles chamados gênios e mesmo assim, nada disso podia ser notado. Faz poucos dias que ele se juntou a Makuredan e sua evolução já é tão alarmante...”

Alicia suspirou quando refletiu sobre e pôs de lado esses pensamentos, voltando sua atenção para a conversa.

— É por que eles já tinham se encontrado antes e ela se declarou. — Alicia disse depois de um breve momento. 

Kishito foi pego de surpresa e se virou, observando Alicia que mantinha um olhar triste. Porém, ela continuou andando como se o que tivesse dito não fosse nada.

— Ele a rejeitou? Não parecia que estava apenas com vergonha por estar ao lado dela hoje. 

— Sim, ele a rejeitou. 

— Ele gosta dela? — Kishito ainda achava estranho o modo que Donavan agiu no almoço, então, não pode deixar de perguntar. 

— Ele gosta dela. 

“Se ele gosta dela, por que a rejeitou?” Kishito ficou ainda mais confuso pela resposta da Alicia.

— Se ele gosta dela, não há motivo para ele rejeita-la, certo?. Por que ele faria isso? 

— Por que ela é uma comum! — Alicia enfatizou a última palavra. 

"Comum? Qual é o problema dela ser uma pessoa comum?" A dúvida continuava na cabeça do Kishito. "Só por ser uma pessoa comum, não deveria ser um problema. Ela apenas pode parecer comum por não querer ser notada. Será que ele procura um tipo de pessoa específica? Mas ele não gosta dela também?" 

Alicia percebeu a confusão na mente do Kishito e explicou. — Uma comum não quer dizer que ela não se destaca entre as pessoas, mas é uma forma que nós, guerreiros, chamamos alguém que não consegue utilizar a mana. 

Chegando a um entendimento, ainda tinha uma dúvida. — Entendi... Tem alguma regra que o impede de ter algo com ela?

— Não há nenhuma regra, mas, em nossa situação, se relacionar com um comum só irá trazer problemas. 

“...” Kishito ficou em silêncio pelas umas palavra da Alicia. 

— Ah! Tanto faz. Eles vão ter que te falar uma hora ou outra mesmo. — Alicia estava confusa se deveria falar, mas, seguiu mesmo assim. — A Makuredan é uma organização subsidiária que veio para o Japão por dois motivos, sendo a primeira para encontrar o sucessor da Fênix, ou seja, você.

Ser uma organização subsidiária não pegou Kishito desprevenido, se parasse para pensar, era meio óbvio algo assim.

Para uma organização no porte e com as responsabilidades que tem a Makuredan, é normal haver organizações maiores que a apoiam. E sobre o primeiro objetivo deles no Japão, já haviam contado para ele.

— O segundo motivo foi para fugir das organizações que estavam nos caçando e prepararmos o grupo do Portador da Lâmina que, nesse caso, somos nós. 

"A Makuredan estava sendo caçada?" Kishito estava assustado e surpreso quando ouviu Alicia falar. Para ele, a Makuredan era apenas uma pequena organização que competia por território no Japão, mas agora, viu que isso era apenas a ponta do iceberg. 

Kishito já tinha feito alguns planos mas agora com essa nova informação, teria que repensar tudo que idealizou. No entanto, agora não era tempo de pensar nisso. 

— Eu ainda não entendo. Que relação isso tem com o fato de Donavan rejeitar a Aya Ogawa?

— Aya Ogawa é uma comum. Pessoas como nós, guerreiros, um comum é tão frágil quanto um graveto. Um simples movimento com nossas mãos é suficiente para levar a vida deles. 

“...”

Alicia olhou para Kishito e calmamente continuou: —  Nós viemos para o Japão há alguns anos atrás e, quando estivermos preparados, vamos voltar. Então, eu te pergunto: Você levaria uma pessoa que ama para viver fugindo de pessoas que poderia matá-la com apenas um aceno de suas mãos? 

Kishito parou onde estava e seu rosto estava pálido pensando na pergunta dela. Essa foi a primeira vez que ele tinha parado desde que começaram a começaram a subir a montanha. 

"Se o que Alicia disse é verdade, então..." 

— Parece que você entendeu. — Alicia passou pelo Kishito ficando a frente dele enquanto continuava a subir a montanha. — Pense bem sobre isso, pois você e o Donavan estão na mesma situação. No entanto, Donavan já fez sua decisão. 

Olhando para as costas dela, Kishito estava afetado por aquelas palavras. Quando escutou sobre a Makuredan estar sendo caçada, se assustou, mas não se importou tanto, pois a única coisa que ele precisava fazer é mudar um pouco seus planos

Mas agora, outro problema tinha aparecido e apenas uma coisa veio a sua mente

"A Rika também é uma comum!" Um frio na barriga e uma sensação de urgência o invadiu.

Se quando a Makuredan saísse do Japão e ele fosse com eles, então, como poderia levar a Rika? Se a levasse, teria como mantê-la a salvo? Várias perguntas passaram em sua cabeça.

Voltando a andar, Kishito chegou perto da Alicia. Ele parecia preocupado e seus passos não estavam firmes. 

— Se eu for forte o suficiente, posso protegê-la, não é?! — Mesmo tentando parecer que acreditava nessas palavras, quando falou, ainda era perceptível a dúvida sem seu semblante.

Alicia o encarou com tranquilidade. Seus lábios tremeram quando começou a falar: 

— Meu pai era um homem considerado um gênio da sua geração. Ele era o guerreiro mais forte da organização e podia lutar contra a elite das grandes organizações. Seu poder e sua taxa de crescimento, junto com nossas habilidades de família, eram o suficiente para abalar o mundo dos guerreiros. 

Ela fez uma pausa. Sua voz tinha um traço de reverência e tristeza. Após um momento, continuou:

— Minha mãe... — Os lábios da Alicia tremeram de novo com um olhar triste. — Minha mãe era uma comum. Ela era tão linda que até mesmo guerreiros que endureceram seu coração seriam atraídos por ela. Meu pai foi um deles e, para sua sorte, foi escolhido pela minha mãe. Eles ficaram juntos por um tempo antes dele a levar para viver com ele na organização. 

— ... — Kishito permanecia em silêncio, com até mesmo sua respiração estava quase parando quando ele percebeu que a história que Alicia estava contando estava chegando ao fim.

— Quando ele a levou para a organização, muitos discordaram, mas meu pai não se importou, pois achava que, enquanto estivesse ali, não teria ninguém que poderia ameaçar minha mãe. — Alicia deu uma pequena pausa antes de continuar. — Quando... quando minha mãe morreu... meu pai estava a dois metros dela e não pôde fazer nada para salvá-la.

Quando terminou de falar, Alicia se virou e continuou a subir a montanha em silêncio. Depois dessa conversa mais nenhuma palavra foi dita enquanto os dois seguiram subindo a montanha.



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